Denice Santiago

Denice Santiago Santos do Rosário, conhecida como Major Denice, nasceu em Salvador, em 17 de abril de 1972.

Policial militar do estado da Bahia, é graduada em Psicologia pela Faculdade da Cidade do Salvador, pós-graduada em Gestão em Direitos Humanos e em Segurança Pública pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), mestre em Desenvolvimento Territorial e Gestão Social pela Faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutoranda em Gênero e Diversidade pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (NEIM), também na UFBA.

Nas eleições municipais de 2020, é pré-candidata à prefeitura de Salvador pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Denice Santiago
Denice Santiago Denice Santiago
Dados pessoais
Nome completo	Denice Santiago Santos do Rosário
Nascimento	1972 (52 anos) Salvador, Bahia
Nacionalidade	Brasileira
Progenitores	Mãe: Cleonice Pai: Doberval
Alma mater	Universidade Federal da Bahia
Filhos(as)	João Paulo
Partido	PT (2020-presente)
Ocupação	Policial Militar
Residência	Salvador, Bahia

Filha do petroleiro Doberval Santos do Rosário e da dona de casa Cleonice Santiago do Rosário, Denice nasceu e foi criada em São Gonçalo do Retiro, na periferia da capital baiana. Mulher, negra e feminista, é a terceira filha do casal, que também são pais de Doranice, Doberval, Débora e Dennison.

Mãe de João Paulo Santiago, de 18 anos, é casada com Rafael Campos Costa.

Ingressou como sargenta na primeira turma de mulheres da Polícia Militar do Estado da Bahia, aos 18 anos.

Em 1992, passou a integrar a 1ª Turma para Oficialato Para Mulheres da PM-BA, aos 20 anos.

É idealizadora e co-fundadora da Ronda Maria da Penha, patrulha da Polícia Militar do Estado da Bahia (PM-BA) responsável pelo combate à violência doméstica contra mulheres. Foi por meio desse projeto, que implementou a partir de 2015, que tornou-se conhecida nacionalmente e até internacionalmente, tornando-o referência para a implementação de políticas públicas anti-machistas e de promoção de igualdade de gênero. Tornou-se Major da PM-BA em 2016.

Coordenadora e co-fundadora do Núcleo de Gênero Maria Felipe, da PM-BA, também trabalhou no Departamento Estadual de Trânsito do Estado da Bahia (DETRAN), implementando e coordenando o projeto de Educação para o Trânsito ‘AME Trânsito’, quando trabalhou cuidando de crianças e adolescentes que atuavam em sinaleiras.

No percurso acadêmico, estudou temáticas como o papel do discurso dos instrutores dos cursos de formação da Polícia Militar para a formação do perfil dos suspeitos utilizados no exercício da atividade policial. No mestrado, deu continuidade ao tema, com a dissertação “Branco correndo é atleta; preto correndo é ladrão”, defendida no ano de 2017.

Em 2020, ela se afastou da PM e ingressou na disputa do Palácio Thomé de Souza pelo Partido dos Trabalhadores.

Major da PM-BA, Denice Santiago é formada em Psicologia, mestra em Desenvolvimento Territorial e Gestão Social e doutoranda do NEIM/UFBA

Major da PM-BA, Denice Santiago é formada em Psicologia, mestra em Desenvolvimento Territorial e Gestão Social e doutoranda do NEIM, da Universidade Federal da Bahia - UFBA

Carreira, Academia e Vida Pública

Oriunda de uma família de baixa renda, Denice Santiago foi estimulada por seu pai a ingressar na carreira militar depois de concluir o ensino médio em 1990. Foi assim que deu início à sua vida profissional e trajetória pública.

● Estudou o Ensino Fundamental no Instituto Central Isaías Alves (ICEA) e o Ensino Médio como bolsista na Escola de Engenharia Eletromecânica da Bahia, onde cursou Processamento de Dados.

● Graduada em Psicologia pela Faculdade da Cidade do Salvador (2011, é também pós-graduada em Gestão em Direitos Humanos e Em Segurança Pública pela Universidade do Estado da Bahia (2013), mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia (2017) e doutoranda no Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (Neim), da Universidade Federal da Bahia.

● Tem curso de Extensão Universitária em SUPERA (2014), Perícia Psicológica e Criminal e Psicologia Jurídica (2010) pela Universidade Federal de São Paulo; Extensão Universitária em Análise Criminal pela Universidade de Salvador (2009)

● Coordenou o Grupo de Teatro da PMBA

● Em 2003, idealizou, implantou e coordenou o projeto AME o Trânsito, com crianças e adolescentes que atuavam em sinaleiras de Salvador, junto ao Departamento Estadual de Trânsito do Estado da Bahia(Detran-BA)

● Em 2012, participou do Assessoramento Técnico na Área de Prevenção e Enfrentamento à Violência Contra a Mulher

● Em 2015, idealizou e co-fundou a Ronda Maria da Penha, da PMBA, onde esteve à frente, como comandante, até março de 2020

● Ao se afastar da ronda especializada, em março, deu início à disputa, pelo Partido dos Trabalhadores, do cargo de prefeita.

Major Denice com a senadora Lídice da Mata no Senado Federal

Títulos e premiações

• Comenda Maria Quitéria - Câmara Municipal de Salvador, 2017
• Diploma Muller Bertha Lutz - Senado Federal, 2017
• Comenda Dois de Julho - Assembleia Legislativa da Bahia, 2018
• Possui os títulos de Cidadã das cidades baianas de Itabuna e Jacobina
• Maria Felipa da Contemporaneidade - Associação Casa Maria Felipa, 2013
• Mulheres Guerreiras Maria Felipa - Câmara de Vereadores de Salvador, 2011
• Mulheres Negras - EDIALEDA Salgado - Secretaria Municipal de Reparação, 2011
• Maria Bonita - Secretaria de Políticas para Mulheres, 2011
• Primeira vencedora do Prêmio Práticas Inovadoras no Enfrentamento a Violência
• Contra Mulher do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2017
• Medalha do Mérito Policial Militar dos estados da Bahia e Sergipe
• Medalha do Mérito Militar Brigadeiro Falcão - Polícia Militar do Estado do Maranhão, 2017
• Medalha do Mérito do Ministério Público da Bahia
• Prêmio Claudia - Categoria Políticas Públicas - Editora Abril, Revista Claudia, 2017
• Barra Mulher - Shopping Barra, 2017

História de vida

Major Denice Santiago, pré-candidata do PT à Prefeitura de Salvador, gravando vídeo em bairros periféricos da cidade

Com seis anos de idade, Denice entra no ônibus, rumo à escola, em um dia chuvoso na periferia de Salvador. Da janela, vê sua mãe parada no ponto de ônibus, toda encharcada e com barro até a cintura. O ônibus sacoleja e se distancia aos poucos, enquanto o olhar obstinado e determinado daquela que ficou transmite a sensação de dever cumprido.

“Ela não teve medo”, pensou a pequena Denice.

Nesse dia, a casa da família amanheceu alagada.

Dona Cleonice, serenamente, acordou as crianças que ficavam na parte de baixo, levou todas para a parte de cima, trocou a roupa, deu café da manhã, e levou no braço um a um dos cinco filhos, de casa até o ponto de ônibus para não perderem a escola.

Denice Santiago é a terceira de uma família da periferia de Salvador, do bairro São Gonçalo do Retiro.

Ela dividiu a vida em três bairros: o de origem, Barros Reis e Cabula, onde construiu suas amizades, pariu seu filho e o cria até hoje.

Filha de Doberval Rosario, o homem mais inteligente que conhece, embora tenha completado até a quarta série; e filha de Cleonice Rosario, a mulher mais forte e determinada que já cruzou por sua existência. É assim que a pré-candidata a prefeita de Salvador define as raízes e a origem da própria força.

Foi com a quarta filha, recém-nascida nos braços, que a mãe de Denice voltou para a escola e concluiu o Ensino Fundamental II. O motivo? Não conseguia mais acompanhar os deveres da escola das mais velhas — tão determinada em seu projeto de vida de fazer o acesso à educação a melhoria da qualidade de vida de seus frutos.  

Como tantas mulheres dessa geração, Denice é filha de uma feminista, mas que não necessariamente se apropria dessa alcunha. Desde pequena, dona Cleonice dizia: “primeiro vai estudar, trabalhar, ter sua casa, ter seu carro, para depois pensar em casar, pensar em homem, minha filha. Porque se o homem não prestar, você manda embora e a casa é sua. Mulher não pode depender de homem”. O que a mãe de Denice dizia, naquela época, a partir da vivência dela, é o que hoje a gente chama de “autonomia”.

Mas dona Cleonice deu muito mais do que isso.

“Ela me empoderou, me fortaleceu e não me limitou a casamentos, que era a prática da época. Ela me deu a certeza que eu não tinha limitação cognitiva, nem psicológica, portanto seria capaz de aprender qualquer coisa, tal e qual homens”. 

Essa certeza, contudo, foi construída à base da enorme capacidade dessa mulher de 1,60m de se agigantar para defender suas crias — de todo e qualquer tipo de preconceito ou discriminação. Criadora do Núcleo de Gênero da PM da Bahia ao lado de Cláudia Mara e da Ronda Maria da Penha, inspiração na Patrulha Maria da Penha do Rio Grande do Sul, colocou o serviço de enfrentamento à violência doméstica e familiar para funcionar em 18 cidades, além de Salvador.

“A Ronda não atua apenas no combate, porque prender é fácil. Está comprovado que pouco ou nada adianta encarcerar seres humanos, porque não modifica o comportamento. O homem, mesmo se preso, é possível que se relacione com outras mulheres utilizando a violência como instrumento. E é possível que essa mulher, se não tiver apoio e não for ressignificada, continue convivendo com relacionamentos abusivos”, afirma Denice.

O foco nas ações de prevenção são de práticas que dialogam com homens, mulheres, adolescentes, crianças e idosos; práticas lúdicas; diálogos de homens com homens sobre o fim da violência contra a mulher, além de palestras, campanhas de conscientização entre outras diversas iniciativas são o carro chefe da atuação de Denice.

O exemplo da Bahia serviu para formar outras sete rondas no país inteiro, além de  consultoria na Colômbia e intercâmbio de informações com a polícia metropolitana de Londres.

Mãe da Major Denice, Dona Cleonice, entregando Comenda Maria Quitéria à filha em sessão solene na Câmara Municipal de Salvador

Em sua trajetória na Ronda Maria da Penha, a Major Denice já teve que lidar com situações de mulheres que tiveram a mão decepada, o rosto queimado com ácido, duas pernas decepadas. O seu lema é que todo tipo de violência deve gerar indignação, desde a ameaça aparentemente mais banal até casos extremos como esses. Mas conquista mesmo, conta Santiago, é quando Denice consegue fazer com que a mulher saia da situação de violência antes mesmo de sofrê-la.

“Eu não atuo por mais delegacias, mais rondas, porque significa dizer que a violência continua. Eu atuo para proteger as mulheres, melhorar o acesso e a qualidade do serviço para garantir que a denúncia seja feita e tenha consequências. Mas a minha meta mesmo é por uma profunda transformação cultural que passa pela educação, não apenas formal, mas social também”.

Militante antiga do PT e defensora das políticas de inclusão que o partido colocou em prática no Brasil, na Bahia e em Salvador nos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, do ex-governador Jaques Wagner e do governador Rui Costa, a Major Denice Santiago sempre apresentou vocação para cuidar de gente.

Essas gestões, frisa a pré-candidata petista à Prefeitura da capital baiana, sempre foram inspirações para expandir seu trabalho na PM e proteger ainda mais as pessoas que mais precisam de cuidado em uma cidade ainda tão desigual. Por isso, ela diz encarar com naturalidade o novo desafio, ao ser escolhida pelo seu partido de coração para essa posição e poder sonhar mais alto por uma Salvador que tenha outras prioridades.

Ver também

• Feminicídio
• Feminismo no Brasil
• Maria Filipa de Oliveira
• Preconceito contra religiões afro-brasileiras