Espectro obsessivo-compulsivo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O espectro obsessivo-compulsivo é um modelo de classificação médica em que várias condições psiquiátricas, neurológicas e/ou médicas são descritas como existindo num espectro de condições relacionadas ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).[1] "Acredita-se que os distúrbios se situem num espectro de impulsivo a compulsivo, onde a impulsividade persiste devido a déficits na capacidade de inibir o comportamento repetitivo com consequências negativas conhecidas, enquanto que a compulsividade persiste como consequência de déficits no reconhecimento de conclusão de tarefas."[2] O TOC é um transtorno mental caracterizado por obsessões e/ou compulsões.[3] Uma obsessão é definida como "um pensamento, imagem ou desejo recorrente que o indivíduo não pode controlar".[4] A compulsão pode ser descrita como um "comportamento ritualístico que a pessoa se sente obrigada a realizar". O modelo sugere que muitas condições se sobrepõem ao TOC no perfil sintomático, demografia, história familiar, neurobiologia, comorbidade, curso clínico e resposta a várias farmacoterapias.[1] As condições descritas como pertencentes ao espectro são às vezes chamadas de transtornos do espectro obsessivo-compulsivo .

Condições[editar | editar código-fonte]

As seguintes condições foram hipotetizadas por vários pesquisadores como existentes no espectro.

No entanto, recentemente, há um apoio crescente a propostas para reduzir esse espectro para incluir apenas o transtorno dismórfico corporal, a hipocondria, os transtornos de tiques e a tricotilomania.[2]

Transtorno dismórfico corporal[editar | editar código-fonte]

O transtorno dismórfico corporal é definido por uma obsessão com um defeito imaginário na aparência física e rituais compulsivos na tentativa de ocultar o defeito percebido. As queixas típicas incluem falhas faciais percebidas, deformidades percebidas em partes do corpo e anormalidades no tamanho do corpo. Alguns comportamentos compulsivos observados incluem olhar-se constantemente ao espelho, aplicação ritualizada de maquilhagem para esconder a falha percebida, penteado ou corte excessivo do cabelo, visitas excessivas ao médico e cirurgias plásticas. O transtorno dismórfico corporal não é específico ao género e o início geralmente ocorre em adolescentes e jovens adultos.

Hipocondria[editar | editar código-fonte]

A hipocondria é a preocupação excessiva em ter uma doença grave. Esses pensamentos causam grande ansiedade e stress na pessoa. A prevalência desse transtorno é a mesma para homens e mulheres. A hipocondria é normalmente reconhecida no início da idade adulta. Aqueles que sofrem de hipocondria estão constantemente pensando nas suas funções corporais, pequenos inchaços e hematomas, bem como na imagen corporal. Os hipocondríacos vão a vários médicos para a confirmação do seu próprio diagnóstico. A hipocondria é a crença de que algo está errado, não sabendo que é uma ilusão.

Transtornos de tique[editar | editar código-fonte]

A síndrome de Tourette é um distúrbio neurológico caracterizado por movimentos involuntários recorrentes (tiques motores) e ruídos involuntários (tiques vocais). A razão pela qual a síndrome de Tourette e outros transtornos de tiques estão sendo considerados para inclusão no espectro obsessivo-compulsivo é por causa da fenomenologia e comorbidade dos transtornos com o transtorno obsessivo-compulsivo. Dentro da população de pacientes com TOC, até 40% têm história de transtornos de tiques e 60% das pessoas com síndrome de Tourette têm obsessões e/ou compulsões. Além disso, 30% das pessoas com síndrome de Tourette têm TOC clinicamente diagnosticável. O curso da doença é outro fator que sugere correlação porque foi descoberto que os tiques exibidos na infância são um preditor de sintomas obsessivos e compulsivos no final da adolescência ou início da idade adulta. No entanto, a associação de Tourette e transtornos de tiques com TOC é desafiada pela neuropsicologia e pelo tratamento farmacêutico. Enquanto que o TOC é tratado com SSRI, os tiques são tratados com bloqueadores de dopamina e agonistas alfa-2

Tricotilomania[editar | editar código-fonte]

A tricotilomania é um distúrbio do controle dos impulsos que faz com que um indivíduo arranque os cabelos de várias partes do corpo sem um propósito. A causa da tricotilomania permanece desconhecida. Como o TOC, a tricotilomania não é uma condição nervosa, mas o stress pode desencadear esse hábito. Para algumas pessoas, arrancar os cabelos devido a tédio é normal, mas não é o caso de quem está a lidar com tricotilomania. As emoções não afetam o comportamento, mas esses comportamentos são mais prevalentes em quem sofre de depressão.  Artigos de revisão recomendam intervenções comportamentais, como treinamento de reversão de hábitos[16] e desacoplamento.[17]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g h i j k l m McElroy SL; Phillips KA; Keck PE Jr. (October 1994). "Obsessive compulsive spectrum disorder". The Journal of Clinical Psychiatry. 55 Suppl: 33–51, discussion 52–3. PMID 7961531.
  2. a b Brakoulias, V; Starcevic, V.; Sammut, P.; Berle, D.; Milicevic, D.; Moses, K.; et al. (2011). "Obsessive-compulsive spectrum disorders: a comorbidity and family history perspective". Australasian Psychiatry. 19 (2): 151–155. doi:10.3109/10398562.2010.526718. PMID 21332382.
  3. Mayo Clinic Staff. "Obsessive-compulsive disorder (OCD)". Mayo Clinic. Retrieved 2013-05-02.
  4. "Quizlet: Abnormal Psych Ch 6 vocab". Retrieved 2013-05-02.
  5. Díaz Mársá M, Carrasco JL, Hollander E (1996). "Body dysmorphic disorder as an obsessive-compulsive spectrum disorder" [Body dysmorphic disorder as an obsessive–compulsive spectrum disorder]. Actas Luso-españolas de Neurología, Psiquiatría y Ciencias Afines (in Spanish). 24 (6): 331–7. PMID 9054204.
  6. Phillips KA, McElroy SL, Hudson JI, Pope HG (1995). "Body dysmorphic disorder: an obsessive–compulsive spectrum disorder, a form of affective spectrum disorder, or both?". The Journal of Clinical Psychiatry. 56 Suppl 4: 41–51, discussion 52. PMID 7713865.
  7. a b Bellodi L, Cavallini MC, Bertelli S, Chiapparino D, Riboldi C, Smeraldi E (April 2001). "Morbidity risk for obsessive–compulsive spectrum disorders in first-degree relatives of patients with eating disorders". The American Journal of Psychiatry. 158 (4): 563–9. doi:10.1176/appi.ajp.158.4.563. PMID 11282689.
  8. Bradford JM (1999). "The paraphilias, obsessive compulsive spectrum disorder, and the treatment of sexually deviant behaviour". The Psychiatric Quarterly. 70 (3): 209–19. doi:10.1023/A:1022099026059. PMID 10457546.
  9. Blaszczynski A (February 1999). "Pathological gambling and obsessive–compulsive spectrum disorders". Psychological Reports. 84 (1): 107–13. doi:10.2466/PR0.84.1.107-113. PMID 10203933.
  10. Stein DJ, Le Roux L, Bouwer C, Van Heerden B (1998). "Is olfactory reference syndrome an obsessive–compulsive spectrum disorder?: two cases and a discussion". The Journal of Neuropsychiatry and Clinical Neurosciences. 10 (1): 96–9. doi:10.1176/jnp.10.1.96. PMID 9547473.
  11. Hergüner S, Ozyildirim I, Tanidir C (December 2008). "Is Pica an eating disorder or an obsessive–compulsive spectrum disorder?". Progress in Neuro-psychopharmacology & Biological Psychiatry. 32 (8): 2010–1. doi:10.1016/j.pnpbp.2008.09.011. PMID 18848964.
  12. Swedo SE, Leonard HL (December 1992). "Trichotillomania. An obsessive compulsive spectrum disorder?". The Psychiatric Clinics of North America. 15 (4): 777–90. doi:10.1016/S0193-953X(18)30208-9. PMID 1461795.
  13. a b Danielle C. Cath; Natalie Ran; Johannes H. Smit; Anton J.L.M. van Balkoma; Hannie C. Comijsa (2008). "Symptom Overlap between Autism Spectrum Disorder, Generalized Social Anxiety Disorder and Obsessive-Compulsive Disorder in Adults: A Preliminary Case-Controlled Study". Psychopathology. 41 (2): 101–110. doi:10.1159/000111555. PMID 18033980.
  14. Giulio Perugi; Hagop S Akiskal; Sandra Ramacciotti; Stefano Nassini; Cristina Toni; Alessandro Milanfranchi; Laura Musetti (1999). "Depressive comorbidity of panic, social phobic, and obsessive–compulsive disorders re-examined: is there a bipolar ii connection?". Journal of Psychiatric Research. 33 (1): 53–61. doi:10.1016/S0022-3956(98)00044-2. PMID 10094240.
  15. Allen, Andrea; King, Audrey; Hollander, Eric (September 2003). "Obsessive-compulsive spectrum disorders". Dialogues in Clinical Neuroscience. 5 (3): 259–271. ISSN 1294-8322. PMC 3181632. PMID 22033547.
  16. Himle, Michael B.; Flessner, Christopher A.; Woods, Douglas W. (2004). "Advances in the behavior analytic treatment of trichotillomania and Tourette's Syndrome". Journal of Early and Intensive Behavior Intervention. 1 (1): 57–64. doi:10.1037/h0100282. ISSN 1554-4893.
  17. Sarris, Jerome; Camfield, David; Berk, Michael (2012). "Complementary medicine, self-help, and lifestyle interventions for Obsessive Compulsive Disorder (OCD) and the OCD spectrum: A systematic review". Journal of Affective Disorders. 138 (3): 213–221. doi:10.1016/j.jad.2011.04.051.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Yaryura-Tobias JA, Stevens KP, Pérez-Rivera R, Boullosa OE, Neziroglu F (outubro 2000). «Negative outcome after neurosurgery for refractory obsessive–compulsive spectrum disorder». The World Journal of Biological Psychiatry. 1: 197–203. PMID 12607216. doi:10.3109/15622970009150592 
  • Curran S, Matthews K (abril 2001). «Response to Yaryura-Tobias et al (2000) negative outcome after neurosurgery for refractory obsessive–compulsive spectrum disorder, World J Biol Psychiatry 1: 197-203». The World Journal of Biological Psychiatry. 2. 107 páginas. PMID 12587194. doi:10.3109/15622970109027502 
  • Yaryura-Tobias JA (outubro 2001). «Response to Dr. S. Curran and Dr. K. Matthew's Letter to the editor (World J Biol Psychiatry 2001, 2: 107) concerning Yaryura-Tobias et al (2000) negative outcome after neurosurgery for refractory obsessive–compulsive spectrum disorder, World J Biol Psychiatry 1: 197-203». The World Journal of Biological Psychiatry. 2. 199 páginas. PMID 12587151. doi:10.3109/15622970109026811 
  • Hollander, Eric; Benzaquen, Stephanie D. (janeiro 1997). «The obsessive-compulsive spectrum disorders». International Review of Psychiatry (em inglês). 9: 99–110. ISSN 0954-0261. PMC 3181632Acessível livremente. PMID 22033547. doi:10.1080/09540269775628 
  • Ravindran, Arun V; da Silva, Tricia L; Ravindran, Lakshmi N; Richter, Margaret A; Rector, Neil A (maio 2009). «Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders: A Review of the Evidence-Based Treatments». The Canadian Journal of Psychiatry (em inglês). 54: 331–343. ISSN 0706-7437. PMID 19497165. doi:10.1177/070674370905400507 
  • Brakoulias, Vlasios; Starcevic, Vladan; Sammut, Peter; Berle, David; Milicevic, Denise; Moses, Karen; Hannan, Anthony (abril 2011). «Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders: a Comorbidity and Family History Perspective». Australasian Psychiatry (em inglês). 19: 151–155. ISSN 1039-8562. PMID 21332382. doi:10.3109/10398562.2010.526718 
  • Lochner, Christine; Stein, Dan J. (2010). «Obsessive-Compulsive Spectrum Disorders in Obsessive-Compulsive Disorder and Other Anxiety Disorders». Psychopathology (em inglês). 43: 389–396. ISSN 0254-4962. PMID 20847586. doi:10.1159/000321070 
  • «What Is Hair Pulling? About Hair Pulling & Skin Picking». Trichotillomania Learning Center. 17 de abril de 2013