Fiel da Fonseca Viterbo

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Fiel da Fonseca Viterbo (Porto, Vitória, 25 de Abril de 1873 - Lisboa, 18 de Abril de 1954), foi um matemático, que optou por ser arquitecto, jardineiro e decorador.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Em 15 de outubro de 1888 matriculou-se na Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra[1] e o qual foi concluído o seu 3.º ano de bacharel, em 1893, com distinção[2] e o 4.º no ano de 1894.[3] Tendo ainda frequentado o curso do 3.º ano de Filosofia na mesma universidade.[4]

Terá projectado e decorado uma ampla residência em Coimbra, iniciada em 1923 e concluída em 1925, num num "estilo eclético com acentuadas sugestões do barroco joanino português", para o médico cirurgião Fernando Bissaya Barreto (1886-1974), aquela que é hoje a sede da Casa Museu Bissaya Barreto.[5][6]

O banqueiro Augusto Carreira de Sousa, em 1929, ao adquirir a Casa da Quinta de Santa Clara, na Ameixoeira, em Lisboa, manda fazer profundas remodelações na casa e jardim, encomendando o projecto a João Eugénio Duarte e a Fiel Viterbo.[7][8]

O edifício da sede do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (1933-1937), na Rua de Ferreira Borges, no Porto, terá sido renovado por ele num estilo neoclássico de influência inglesa que tinha sido impulsionado pelos irmãos Adam (os escoceses Robert Adam e James Adam criadores do "estilo Adam") quando já "era famoso pelo seu gosto requintado e atenção aos detalhes".[9]

Em 1934, sob sua direcção arquitectónica, deu-se início às obras de reconstrução do piso inferior do Palácio da Mitra, na Rua do Açúcar, em Lisboa, para instalação da Biblioteca Municipal do Poço do Bispo.[10]

O Club Portuense após se instalar na sua actual sede na Rua Cândido dos Reis quem projectou a sua reestruturação arquitectónica e decoração foi Viterbo, que decorreu entre 1931 e 1937, que foram ao seu gosto revivalista neoclássico e em muito semelhante ao que o mesmo decorador introduziu na Casa de São Miguel dos Viscondes de Villar d`Allen, na Rua de António Cardoso, ambas no Porto[11][12]-

As suas intervenções pautavam-se por uma noção de elegância e equilíbrio, abarcando não só a reestruturação dos espaços, mas também o aconselhamento e fornecimento de mobiliário e assessórios decorativos que adquiria em antiquários ou mandava executar segundo desenhos próprios.[13]

Assim compreendemos que uma das suas fontes de rendimento fosse a transacção de obras de arte e assim vemo-lo a vender uma pinturas para serem colocadas no Palácio da Assembleia Nacional com a aprovação do arquitecto Raul Lino.[14]

Assim como, provavelmente pela mesma necessidade de satisfazer as suas propostas decorativas, esteve ligado ao ramo da olaria nomeadamente tentou fazer renascer a Fábrica da Torrinha, em Vila Nova de Gaia, "onde criou belos exemplares".[15] E quando, em 1930, a Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, na mesma cidade, se associou à Real Fábrica de Louça de Sacavém e esta sofre a sua Idade de Ouro, era o Dr. Viterbo o intermediário entre os seus dois sócios-gerentes: Herbert Gilbert e António Augusto Pinto Dias de Freitas.[16]

Tinha escritório na Rua Augusta, mas, em Maio de 1934, transferiu a sua morada profissional para a Rua dos Bacalhoeiros, ambas em Lisboa.[11]

Morou no Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Rua da Junqueira,[17] e a seguir na Quinta Fonte do Anjo, nos Olivais, ambas em Lisboa, que pertenciam à família de sua mulher. Foi nessa sua última residência que além de lhe ter feito obras de decoração, que ainda mantém o seu cunho. Cultivou lá as flores que o fizeram ganhar alguns primeiros prémios nos concursos onde concorreu com elas.[18][19] Na Praia da Granja, em São Félix da Marinha, tinha uma moradia de férias numa das casas que tinha desenhado a sua remodelação,[20][21][13] onde chegou a se encontrar com o Príncipe D. Luís Filipe de Bragança, acompanhado do seu aio o major Mousinho de Albuquerque, onde lhe terá oferecido uma curiosas pedras da região.[22] Aí igualmente tinha a particularidade de entrar em campeonatos de ténis onde participava como jogador[23] e desporto esse que já lhe tinha permitido granjear um primeiro prémio e onde tinha participado o mesmo príncipe e seu irmão futuro rei D. Manuel II, entre outros.[24]

Pelas suas convicções políticas monárquicas e por ser tomado por capitalista,[25] após a Implantação da República Portuguesa,[26] foi preso na Prisão do Limoeiro, onde era visitado pelo seu amigo Padre Cruz.[27]

Dados genealógicos[editar | editar código-fonte]

Pelo lado materno, segundo a tese do investigador de história e genealogista José de Lima, era o representante genealógico de Pêro da Covilhã.[28]

Filho de:

  • Boaventura da Fonseca e Silva de Viterbo, natural de Valongo, bacharel formado de Direito pela Universidade de Coimbra[29] e de,
  • Maria Henriqueta Virgínia Pereira de Almeida (Porto, 11 de Março de 1838 - Porto, 17 de Agosto de 1917), casada no Porto em 22 de Outubro de 1859,[28] filha herdeira de Fiel Pereira de Almeida, natural de Coimbra e igualmente formado de Direito pela Universidade de Coimbra,[30] advogado no Porto, casado em 29 de Dezembro de 1827, com Maria Plácida Martins de Carvalho, filha de José Martins de Carvalho, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e negociante de grosso trato no Porto e de sua mulher D. Clara Cândida Ribeiro de Sampaio[28].

Casou no Palácio da Junqueira, a 8 de Abril de 1896 (ou em 11 de Maio[31]), com:

Filhos:

Referências

  1. Fiel da Fonseca Viterbo, Índice de alunos da Universidade de Coimbra, 15.10.1888, Código de referência: PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/V/004261
  2. O Instituto, Instituto de Coimbra, 1894, pág. 135
  3. O Defensor do Povo, n.º 203, Coimbra, 28 de Junho de 1894
  4. PHILOSOPHIA SEGUNDO ANNO. 2." Cadeira de Philosophia Chimica organica e Analyse chimica, 1.a parte.
  5. Casa Museu Bissaya Barreto, Associação Portuguesa Casas Museu
  6. Projecto de casa de habitação para o Ex.mo Sr. Professor Dr. Bissaya Barreto na Alameda do Jardim Botânico em Coimbra, fl. 1, da autoria do arquiteto Fiel Viterbo, Documento do mês – Janeiro de 2017
  7. Casa da Quinta Nova / Casa da Quinta de Santa Clara / Instituto Superior de Gestão (ISG), por Joaquim Gonçalves, IPA.00021044, SIPA, 2004
  8. Jardim da Quinta de Santa Clara / Parque de Santa Clara, Pereira de Lima 2005 / Mafalda Jácome (no âmbito da parceria do IHRU / APAP), SIPA, 2013
  9. O edifício do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (1933-1937): Percurso da renovação decorativa dos seus interiores. Revista de Artes Decorativas, por Maria de São José Pinto Leite, ISSN 1646-8756. N.º 6 (2012-2014), p. 223-255
  10. Palácio da Mitra, Coordenação: Isabel Mendonça / Helder Carita, A Casa senhorial, Julho de 2014
  11. a b O edifício do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (1933-1937). Percurso da renovação decorativa dos seus interiores, por Maria de São José Pinto Leite, Revista Artes Decorativas n.º 6, Universidade Católica Editora, Porto, 2012-2014
  12. Rua Cândido dos Reis, por T D, ruas da minha terra - Porto, 10.9.06, pág. 227
  13. a b O edifício do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (1933-1937). Percurso da renovação decorativa dos seus interiores, por Maria de São José Pinto Leite, Revista Artes Decorativas n.º 6, Universidade Católica Editora, Porto, 2012-2014, p. 227
  14. Aquisição de quatro gravuras para a Assembleia Nacional (1939), Referência PT/MESG/AAC/JNE/G-A/02531, Entidade detentora: Secretária Geral do Ministério da Educação e Ciência
  15. Lusída: revista ilustrada de cultura, arte, literatura, historia, critica, Volume 2, 1954, pág. 130
  16. Fábrica Cerâmica do Carvalhinho - História e acção social, desportiva e cultural, por Hugo Silveira Pereira, Comunicação apresentada ao 1º Encontro de História e Investigação, organizado pelo Departamento de História e Estudos Políticos e Internacionais da Faculdade de Letras da Universidade do Porto nos dias 23 e 24 de Março de 2007.
  17. Memorias da Condessa de Mangualde: incursões monárquica, 1910-1920, Teresa de Souza Botelho e Mello, Quetzal Editores, 2002, página 37
  18. Exposição de Flores, na Associação Central de Agricultura Portuguesa, O Ocidente, 36º ano, , nº 1237, 10 de maio de 1913, pág. 127
  19. Lavoura Portuguesa, Volumes 14-15, 1912, pág.s 274 e 275
  20. Projecto na Praia da Granja de autoria do Arquitecto Fiel Viterbo e assinado por ele
  21. Processo de Obras Particulares em nome de Fiel da Fonseca Viterbo, Documento/Processo, 1930 – 1930, referência: 448/1930, Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner, Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
  22. Províncias, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 27 de Outubro de 1901
  23. Na Granja, Diario Illustrado, Lisboa, 25 de Agosto de 1910
  24. No Parque da Pena, O Tiro Civil, ano IX, n.º 267, pág. 10, Lisboa, 15 de Setembro de 1903
  25. Ilustração Portuguesa, n. 402, 3.11.1913, pág. 520
  26. Pela Restauração da Monarchia em Portugal, Uma tentativa que mallogra apesar de ser planeada sobre planos habilmente traçados, Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 13 de Novembro de 1913
  27. Testemunhos da Vida do Padre Cruz, Graças do Padre Cruz S.J., Província Portuguesa da Companhia de Jesus, ano LXVII Nº 346, Outubro/Dezembro 2015, Lisboa, pág. 113
  28. a b c "Pero de Covilhã e a sua descendência", por José de Lima, Tipografia Porto Médico, Porto, 1954, pág. 46
  29. Boaventura da Fonseca e Silva Viterbo, Índice de alunos da Universidade de Coimbra, 1849-10-26 a 1854-05-30, Código de referência: PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/V/004259
  30. Boaventura da Fonseca e Silva Viterbo, Índice de alunos da Universidade de Coimbra, 1822-10-08 a 1827-07-18, Código de referência PT/AUC/ELU/UC-AUC/B/001-001/A/003053
  31. a b "Pero de Covilhã e a sua descendência", por José de Lima, Tipografia Porto Médico, Porto, 1954, pág. 47
  32. Livro de oiro da nobreza: apostilas à Resenha das famílias titulares do reino de Portugal de João Carlos Feo Cardoso Castelo Branco e Torres e Manoel de Castro Pereira da Mesquita, por Domingos de Araújo Affonso, Ruy Dique Travassos Valdez, João Carlos Feo Cardoso de Castelo Branco e Torres, Manoel de Castro Pereira da Mesquita, Volume 3, J.A. Telles da Sylva, pág. 53, 1934
  33. “Últimas Gerações de Entre Douro e Minho”, de José Sousa Machado, Tipografia da «Paz», Braga, 1931, p. 30
  34. Livro de Oiro da Nobreza, Apostilas à Resenha das Famílias Titulares do Reino de Portugal de João Carlos Fêo Cardoso Castelo Branco e Tôrres e Manoel de Castro Pereira de Mesquita, pelos Domingos de Araújo Affonso e Ruy Dique Travassos Valdez, Tomo III, Academia Nacional de Heráldica e Genealogia, Braga, 1933, pág. 52
  35. "Pero de Covilhã e a sua descendência", por José de Lima, Tipografia Porto Médico, Porto, 1954, pág. 73
  36. "Pero de Covilhã e a sua descendência", por José de Lima, Tipografia Porto Médico, Porto, 1954, pág. 75
  37. "Pero de Covilhã e a sua descendência", por José de Lima, Tipografia Porto Médico, Porto, 1954, pág. 76