Gazette d'Amsterdam

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Gazette d'Amsterdam (também conhecido como Gazette d’Hollande ou Nouvelles d'Amsterdam)[1] foi um dos mais importantes jornais europeus internacionais do período iluminista e uma importante fonte de informação política.[2][3] Foi um jornal bissemanal de língua francesa publicado em Amsterdã a partir da segunda metade do século XVII até 1796, durante a República Batava.[4]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

No século XVIII, a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos era muito tolerante em matéria de liberdade de imprensa e liberdade religiosa. Ao contrário da maioria dos países contemporâneos, como a França, a Grã-Bretanha ou os estados do Sacro Império Romano, houve pouca interferência do governo em questões de censura ou monopólios protegidos no país.[5] Muitos huguenotes fugiram para os Países Baixos durante o reinado de Luís XIV, e o número de refugiados franceses aumentou com a revogação do Édito de Fontainebleau em 1685. Vários deles começaram a publicar jornais em diversas cidades europeias cobrindo notícias políticas na França e na Europa. O francês era tanto a língua nativa quanto a língua franca da diplomacia europeia. Lidas pelas elites europeias, esses jornais eram chamados na França de gazettes étrangères, as "gazetas estrangeiras".[5]

Conteúdos e história[editar | editar código-fonte]

Há alguma confusão em relação ao ano em que o Gazette d'Amsterdam começou a publicar: fontes dão datas a partir de 1663,[6] 1668[7][8] ou 1691;[9][10] todas elas concordam que o Gazette cessou suas publicações em 1796. A confusão sobre o ano de sua criação pode ser explicada pelo fato de que no século XVII muitos leitores não distinguiam entre diferentes títulos de periódicos publicados em Amsterdã (e na Holanda em geral), e diferentes publicações eram frequentemente chamadas de "d'Amsterdam" (de Amsterdã) ou "d'Hollande" (da Holanda).[9]

Jean Tronchin Du Breuil (Dubreuil) é comumente visto como o fundador do jornal e seu primeiro editor (dada a data de estabelecimento em 1691).[9][11] Seus descendentes controlaram o jornal até seu fechamento no final do século XVIII.[9]

Como muitos outros jornais antigos contemporâneos, o Gazette publicou uma justaposição de notícias de várias fontes, apresentadas em ordem de ponto geográfico de origem, sem discurso unificador ou editorial aparente.[12] Confusamente, por exemplo, em tempos de guerra os termos "nossos exércitos" ou "inimigos" podem designar o mesmo assunto, dependendo de quem escreveu uma determinada peça para o jornal.[12] A maioria dos autores eram emigrantes franceses.[12] Era relativamente caro, visto como um bem de luxo, e estima-se que sua circulação nunca tenha sido superior a aproximadamente 1.250.[9][12] Também era relativamente pequeno: geralmente composto por 6 páginas de 12x20 cm, impressas em duas colunas.[12]

O jornal tinha alcance internacional, e foi distribuído em toda a Europa, incluindo a França, onde era geralmente tolerado.[12] Não foi nem excessivamente solidário nem excessivamente opositor ao governo francês, embora certamente muito mais liberal que o oficialista Gazette de France.[9] Isso foi tolerado e até incentivado pelas autoridades, que muitas vezes o usavam para seus próprios fins, quando por exemplo desejavam divulgar informações que não podiam ser divulgadas pelos canais oficiais.[13] O jornal deu voz às instituições que estavam encontrando dificuldades para publicar no jornal oficialista Gazette de France, como o Parlamento de Paris.[14] A independência não foi completa; como muitos outros de sua época, os editores do Gazette d'Amsterdam concordaram em ser censurados, ou pelo menos "aconselhados" em muitas ocasiões pelas autoridades francesas.[9][6]

O Gazette d'Amsterdam começou seu declínio na segunda metade do século XVIII, quando o governo francês facilitou a concorrência de outros títulos no mercado do país.[9] Como o Gazette era visto como sendo muito próximo da posição oficial do governo francês, seu número de leitores diminuiu, e foi ultrapassado pelo Gazette de Leyde, que era visto como muito mais independente.[9][15] Em 1789, já não era considerado um jornal europeu relevante.[9]

Em seus pontos de vista, no final do século XVIII, o Gazette d'Amsterdam se opunha aos orangistas holandeses, apoiadores do estatuder, e com relação à França, inclinou-se para visões antiaristocráticas e pró-revolucionárias.[6]

Nota[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Anne-Marie Enaux e Pierre Rétat (1993). «La « Gazette d'Amsterdam », journal de référence : la collection du Ministère des Affaires étrangères». Persee. Consultado em 26 de junho de 2018 
  2. Jeremy D. Popkin. «LA GAZETTE D'AMSTERDAM: MIROIR DE L'EUROPE AU XVIIIE SIÈCLE». California State University. Consultado em 26 de junho de 2018 
  3. Roberto Darnton (21 de julho de 2002). «Fronteiras imaginárias». Folha de S. Paulo. Consultado em 26 de junho de 2018 
  4. «GAZETTE D'AMSTERDAM (12 CD-ROMS)». Voltaire Foundation. Consultado em 26 de junho de 2018 
  5. a b John Christian Laursen, New essays on the political thought of the Huguenots of the Refuge, Brill:Leiden, 1995, ISBN 90-04-09986-7, Google Print, p.73, 94-5
  6. a b c Hanna Barker, Simon Burrows, Press, Politics and the Public Sphere in Europe and North America, 1760-1820, Cambridge University Press, 2002; Asa Briggs, Peter Burke, A social history of the media: from Gutenberg to the Internet, Wiley-Blackwell, 2002, ISBN 0-7456-2375-1, Google Print, p.59
  7. Netherlands Press, Media, TV, Radio, Newspapers, Press Reference
  8. Gazette d'Amsterdam Arquivado em 19 de julho de 2011, no Wayback Machine., ICON: International Coalition on Newspapers
  9. a b c d e f g h i j Jeremy D. Popkin, Review of La Gazette d'Amsterdam: Miroir de l'Europe au XVIIIe siècle by Pierre Rétat, 2009
  10. Francois R. Velde, Government Equity and Money: John Law’s System in 1720 France, Federal Reserve Bank of Chicago, 2004
  11. Georges Bonnant, Le livre genevois sous l'Ancien Régime, Librairie Droz, 1999, ISBN 2-600-00306-1, Google Print, p.192
  12. a b c d e f (em francês) Denis Reynaud, Trévoux, L’année 170, 2004
  13. Jeremy Popkin, "The Prerevolutionary Origins of Political Journalism'", in Jack R. Censer (ed.), The French Revolution and Intellectual History, The Dorsey Press, IOSBN 0256068569, p.119
  14. Jeremy Popkin, "The Prerevolutionary Origins of Political Journalism", in Jack R. Censer (ed.), The French Revolution and Intellectual History, The Dorsey Press, IOSBN 0256068569, p.118
  15. (em francês) Présentation de la Gazette de Leyde Arquivado em 17 de setembro de 2008, no Wayback Machine.

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Popkin, Jeremy D, The Eighteenth-Century French Periodical Press, Eighteenth-Century Studies - Volume 37, Number 3, Spring 2004, pp. 483–486
  • Retat, Pierre. LA GAZETTE D'AMSTERDAM Miroir de L'Europe Au Xviiie Siecle. Voltaire Foundation, Oxford, 2001. ISBN 0-7294-0769-1
  • Retat, Pierre, Les collections, la diffusion », dans La ‘Gazette d’Amsterdam’ miroir de l’Europe au XVIIIe siècle

Ligações externas[editar | editar código-fonte]