Iluminismo nas Terras Médias

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Um filósofo dando aquela palestra sobre o minério, em que uma lâmpada é colocada no lugar do sol, por Joseph Wright of Derby

O Iluminismo nas Terras Médias (em inglês: Midlands Enlightenment) foi uma manifestação científica, econômica, política, cultural e legal na Era do Iluminismo que se desenvolveu em Birmingham e nas terras médias inglesas mais amplas durante o segunda metade do século XVIII.[1][2]

No centro do movimento estavam os membros da Sociedade Lunar de Birmingham, que incluíam Erasmus Darwin, Matthew Boulton, James Watt, Joseph Priestley, Josiah Wedgwood, James Keir e Thomas Day.[3] Outras figuras notáveis incluíram a autora Anna Seward,[4] o pintor Joseph Wright de Derby,[5] a colonizadora, botânica e poeta americana Susanna Wright, o lexicógrafo Samuel Johnson,[6] o tipógrafo John Baskerville,[7] o poeta e paisagista William Shenstone[8] e os arquitetos James Wyatt e Samuel Wyatt.[9]

Embora o iluminismo nas Terras Médias tenha atraído menos estudo como movimento intelectual do que o iluminismo europeu de pensadores como Jean-Jacques Rousseau e Voltaire, ou o Iluminismo escocês de David Hume e Adam Smith, ele dominou a experiência do Iluminismo na Inglaterra e seus principais pensadores tiveram influência internacional.[1][3] Sendo assim, o iluminismo nas Terras Médias formou um elo fundamental entre a Revolução Científica anterior e a Revolução Industrial posterior, facilitando a troca de ideias entre a ciência experimental, cultura escolar e a tecnologia na prática que permitiram que as pré-condições tecnológicas para o rápido crescimento econômico fossem alcançadas.[10]

Seus participantes, como Boulton, Susanna Wright, Watt e Keir, estavam totalmente integrados ao intercâmbio de ideias científicas e filosóficas entre as elites intelectuais da Europa, as colônias americanas britânicas e o novo Estados Unidos, mas estavam simultaneamente engajados na solução dos problemas práticos da tecnologia, economia e manufatura.[11] Assim, eles formaram uma ponte natural através da divisão ciência-tecnologia, onde o "conhecimento abstrato" da química e da mecânica newtoniana poderia se tornar o "conhecimento útil" do desenvolvimento tecnológico, cujos resultados poderiam, por sua vez, voltar à base de conhecimento científico mais ampla, criando uma "reação em cadeia da inovação".[12][13] Susanna Wright estava envolvida no pensamento análogo das ciências biológicas, na lei das colônias americanas no início dos Estados Unidos, principalmente no Meio-Atlântico, ao norte da Linha Mason–Dixon. Susanna nasceu em 1697 na cidade de Warrington, em Lancashire, e mudou-se para a Pensilvânia colonial no final da adolescência em 1718 (seguindo seus pais quatro anos antes) depois de estudar em Midlands.

Os pensadores do iluminismo nas Terras Médias não se limitaram a assuntos práticos de valor utilitário, muito pelo contrário, sua influência não se limitou a importância no desenvolvimento da sociedade industrial moderna.[14] As idéias do iluminismo de Terras Médias tiveram uma grande influência desde o nascimento do romantismo britânico com os poetas Percy Shelley, William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge, e William Blake, ou seja, todos tiveram conexões intelectuais com seus principais pensadores.[15][16][17][18][19] Além disso, o pensamento do iluminismo de Terras Médias também foi influente nas esferas da educação, biologia evolutiva, botânica e medicina.[20][21][22]

O iluminismo de Terras Médias estava ligado a antiga reforma religiosa radical do estabelecimento das leis e ideologia da Igreja Católica e do Sacro Império Romano, incluindo a fundação da Sociedade de Amigos em Lancashire, seguidos por Margaret Fell e George Fox, e radicalismo político não violento de Midlands que levou à documentação da Declaração de Direitos em 1689.[23]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Valsania & Dick 2004, p. 1
  2. Rees-Mogg, William (3 de outubro de 2005). «A bit of the old Adam». London: Times Newspapers Ltd. Consultado em 19 de abril de 2022. Cópia arquivada em 4 de junho de 2011 
  3. a b Budge 2007, p. 157
  4. Dick 2008, pp. 567, 577–578
  5. Baird, Olga; Dick, Malcolm (2004), «Joseph Wright of Derby: Art, the Enlightenment and Industrial Revolution», Revolutionary Players, Museums, Libraries and Archives - West Midlands, consultado em 21 de novembro de 2009 
  6. Ritchie, Stefka; Dick, Malcolm (2004), «"The occurrences of common life": Samuel Johnson, Practical Science and Industry in the Midlands», Revolutionary Players, Museums, Libraries and Archives - West Midlands, consultado em 21 de novembro de 2009 
  7. Ritchie, Stefka; Dick, Malcolm (2004), «John Baskerville and Benjamin Franklin: A Trans-Atlantic Friendship», Revolutionary Players, Museums, Libraries and Archives - West Midlands, consultado em 21 de novembro de 2009 
  8. Anon (2004), «William Shenstone, The Leasowes, and Landscape Gardening», Revolutionary Players, Museums, Libraries and Archives - West Midlands, consultado em 21 de novembro de 2009 
  9. Baird, Olga (2004), «The Wyatts, Architects of the Age of Enlightenment», Revolutionary Players, Museums, Libraries and Archives - West Midlands, consultado em 21 de novembro de 2009 
  10. Jones 2009, p. 232
  11. Jones 2009, p. 17
  12. Jones 2009, pp. 14, 232
  13. Jones 2009, p. 231
  14. Jones 2009, p. 230
  15. Budge 2007, pp. 158, 159; Valsania & Dick 2004, pp. 2–3
  16. Ruston, Sharon (2007), «Shelley's Links to the Midlands Enlightenment: James Lind and Adam Walker», Journal for Eighteenth-Century Studies, 30 (2): 227–241, doi:10.1111/j.1754-0208.2007.tb00334.x 
  17. Budge, Gavin (2007b), «Erasmus Darwin and the Poetics of William Wordsworth: 'Excitement without the Application of Gross and Violent Stimulants'», Journal for Eighteenth-Century Studies, 30 (2): 279–308, doi:10.1111/j.1754-0208.2007.tb00337.x 
  18. Barnes, Alan (2007), «Coleridge, Tom Wedgwood and the Relationship between Time and Space in Midlands Enlightenment Thought», Journal for Eighteenth-Century Studies, 30 (2): 243–260, doi:10.1111/j.1754-0208.2007.tb00335.x 
  19. Green, Matthew (2007), «Blake, Darwin and the Promiscuity of Knowing: Rethinking Blake's Relationship to the Midlands Enlightenment», Journal for Eighteenth-Century Studies, 30 (2): 193–208, doi:10.1111/j.1754-0208.2007.tb00332.x 
  20. Dick 2008, pp. 569–570
  21. Elliott, Paul (2003), «Erasmus Darwin, Herbert Spencer, and the Origins of the Evolutionary Worldview in British Provincial Scientific Culture, 1770-1850», Isis, 94 (1): 1–29, PMID 12725102, doi:10.1086/376097 
  22. Levere, Trevor H. (2007), «Dr Thomas Beddoes (1760-1808) and the Lunar Society of Birmingham: Collaborations in Medicine and Science», Journal for Eighteenth-Century Studies, 30 (2): 209–226, doi:10.1111/j.1754-0208.2007.tb00333.x 
  23. Jones, Peter M. (março de 1999), «Living the Enlightenment and the French Revolution: James Watt, Matthew Boulton, and their Sons», The Historical Journal, 42 (1): 157–182, doi:10.1017/s0018246x98008139 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]