João António Garcia de Abranches

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João António Garcia de Abranches
Nascimento 31 de janeiro de 1769
Santiago
Morte 1845
São Luís
Cidadania Brasil, Reino de Portugal
Ocupação jornalista

João António Garcia de Abranches (Maceira, Santiago (Seia), 31 de janeiro de 1769São Luís do Maranhão, 1845), também conhecido pelo Censor, nome do jornal que editou em São Luís do Maranhão, publicista e visionário, foi um imigrante português no Brasil,[1] onde se transformou num abastado comerciante, que teve um importante papel no desenvolvimento cultural do Maranhão. Sempre à procura de novos projectos e ideias, quando exilado do Brasil devido à sua actividade política, fixou-se durante alguns anos na ilha de São Miguel, nos Açores, onde criou uma empresa que tentou, sem sucesso, construir um porto de abrigo no ilhéu de Vila Franca.[2][3][4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Garcia de Abranches nasceu a 31 de janeiro de 1769, no lugar de Maceira, freguesia de Santiago, concelho de Seia, Portugal, filho do capitão José Garcia de Abranches e de D. Maria dos Reis, abastados proprietários rurais.

Em 1789, com apenas 20 anos, partiu para o Brasil, fixando-se em São Luís do Maranhão, onde granjeou fortuna e se envolveu na defesa dos ideais liberais e da legitimidade de D. Pedro no trono português.

Casou no Maranhão com D. Anna Victorina Ottoni, falecida em 1806, tendo-lhe nascido deste casamento os filhos Frederico Magno de Abranches, João e António, estes últimos, falecidos antes de 1812. O primeiro, Frederico Magno de Abranches, era conhecido como O Fidalgote, teve papel importante na política e no jornalismo.

Aos 52 anos, Garcia de Abranches casa-se com D. Marta Alonso Veado Alvarez de Castro Abranches, conhecida por D. Martinha, então uma jovem de 17 anos nascida nas Astúrias, que viria a fundar em 1844 o primeiro colégio feminino do Maranhão. Deste casamento teve as filhas Amância Leonor, Martinha Maria da Glória e Raimunda Emília. A filha Amância Leonor de Castro Abranches, foi professora e sucessora da mãe à frente do colégio.

Este colégio, designado Colégio Nossa Senhora das Graças, mais conhecido como o Colégio das Abranches, introduziu diversas inovações pedagógicas, incluindo a educação física para as alunas, sendo um importante centro educativo e cultural. A etiqueta e a dança social eram também disciplinas ministradas no Colégio das Abranches.

Actividade política[editar | editar código-fonte]

Intelectual culto e homem dedicado às letras, embora se lhe não conheça uma educação formal, Garcia Abranches, que pertencia ao Partido Português e defendia os interesses da metrópole, travou nos jornais azedos debates com o seu adversário político Odorico Mendes acerca do futuro político do Maranhão durante a fase imperial. Os artigos publicados são um exemplo de um jornalismo vigoroso na defesa de ideias e posições cívicas.[5]

No período de 1825 a 1830 editou o jornal o Censor Maranhense, publicado pela primeira vez a 24 de Janeiro de 1825, extinguindo-se em Maio de 1830, depois de publicadas 382 páginas. Nas páginas do Censor Maranhense Garcia Abranches bateu-se em defesa das liberdades e do Imperador, em oposição aos jornais de Odorico Mendes.

Foi um dos grandes opositores à Confederação do Equador e à acção do almirante Thomas Cochrane na luta contra o colonialismo português e espanhol e pela emanicipação da América do Sul.

O exílio nos Açores[editar | editar código-fonte]

Em 1830, as posições assumidas por Garcia de Abranches na imprensa valeram-lhe, por ordem do presidente interino do Maranhão, a expulsão para Lisboa, atitude criticada pelo imperador D. Pedro. Depois de uma breve permanência naquela cidade, fixa-se na ilha de São Miguel, nos Açores, onde foi relevante a sua acção cultural.

Interessou-se pela construção de um porto de abrigo no ilhéu de Vila Franca, em Vila Franca do Campo, tendo escrito uma memória sobre o assunto e fundado uma companhia destinada à sua construção e exploração. Os seus esforços foram, contudo, infrutíferos, já que o porto acabou por ser construído em Ponta Delgada.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. LUSODAT: João Antonio Garcia de Abranches.
  2. Obras de Garcia Abranches.
  3. Memória concernente à construcção da doca do Ilheo de Villa Franca do Campo na Ilha de S. Miguel... / pelo procurador João António Garcia d'Abranches. Lisboa : Impressão a Santa Catharina, 1834.
  4. Marcelo Cheche Galves, A revolução liberal vista do Maranhão: o espelho crítico-político, de Garcia de Abranches in Almanack (30) 2022 (doi.org/10.1590/2236-463330ed00522).
  5. Dunshee de Abranches, Garcia de Abranches, o Censor (o Maranhao em 1822). Sao Paulo: Tipografia Brasil de Rothschild & Co, 1922.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ABRANCHES, João António Garcia de, Espelho crítico político da província do Maranhão, Lisboa, Typographia Rollandiana, 1822.
  • ABRANCHES, João António Garcia de. O Censor Maranhense 1825-1830. (Edição fac-similada). São Luís : SIOGE, 1980. (Periódico redigido em São Luís de 1825 a 1830, por João António Garcia de Abranches, cognominado O Censor; reedição promovida por iniciativa de Jomar Moraes).
  • ABRANCHES, João António Garcia de. Memória Concernente à Construção da Doca do Ilhéu de Vila Franca do Campo na Ilha de São Miguel, Ponta Delgada, 1834.
  • ABRANCHES, João António Garcia de. História do Ilhéu de Vila Franca do Campo da Ilha de São Miguel, Ponta Delgada, 1841.
  • ABRANCHES, Dunshee de. Garcia de Abranches, o Censor (O Maranhão em 1822), São Paulo, Typographya Brazil de Rothschild, 1922.
  • JORGE, Sebastião. Os primeiros passos da imprensa no Maranhão. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987.
  • JORGE, Sebastião A Linguagem dos Pasquins. São Luís: Lithograf, 1998.
  • JORGE, Sebastião. Política movida a paixão – o jornalismo polêmico de Odorico Mendes. São Luís: Departamento de Comunicação Social/UFMA, 2000.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]