João Lúcio Pousão Pereira

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João Lúcio Pousão Pereira
João Lúcio Pousão Pereira
Nascimento 4 de julho de 1880
Olhão
Morte 27 de outubro de 1918
Olhão
Cidadania Portugal, Reino de Portugal
Ocupação poeta advogado, poeta
Causa da morte gripe espanhola
Assinatura

João Lúcio Pousão Pereira (Olhão, 4 de Julho de 1880 - 26 de Outubro de 1918) foi um poeta português, sobrinho do pintor Henrique Pousão.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vulgarmente relegado para a categoria de poeta local (considerado o expoente maior da poesia olhanense) ou de poeta regional (nomeadamente devido à sua obra O Meu Algarve), João Lúcio esteve, porém, à altura dos grandes nomes da Renascença Portuguesa, embora o seu voluntário afastamento dos grandes centros culturais do país tenha contribuído para tais definições limitadoras.

Figura prolífica, começou com apenas 12 anos a publicar os seus primeiros versos (no extinto periódico O Olhanense). Enquanto estudante no Liceu de Faro, fundou e dirigiu um jornal literário intitulado O Echo da Academia. Acabados os estudos em Faro, decidiu ir para Coimbra estudar Direito, em 1897, onde conhecerá e se tornará amigo de figuras brilhantes como Teixeira de Pascoaes, Augusto de Castro, Alfredo Pimenta, Afonso Lopes Vieira, Fausto Guedes Teixeira e Augusto Gil. Destacando-se no meio de tal plêiade, João Lúcio colabora com poesias suas em diversos jornais e revistas literárias nacionais (fundando inclusive, em 1899, um quinzenário intitulado O Reyno do Algarve), até conseguir finalmente, em 1901, publicar o seu primeiro livro, Descendo, aclamado com louvor pela crítica da época.

Regressando a Olhão em 1902, João Lúcio torna-se rapidamente um advogado famoso, dados os seus dotes argumentativos e orais. Segundo os jornais regionais de então, cada vez que o poeta ia advogar, as salas de tribunais enchiam, e ainda hoje, é considerado como um dos mais distinguidos advogados algarvios de sempre.

É então que o poeta, monárquico, torna-se editor literário do semanário farense O Sul, jornal ligado ao Partido Regenerador Liberal de João Franco, em cujas listas concorre e ganha um lugar, em 1906, para a Câmara dos Deputados, chegando ainda a ser nomeado, embora brevemente, como presidente da comissão administrativa da Câmara Municipal de Olhão. Entretanto, em 1905, publicara O Meu Algarve, obra que acaba por imortalizar João Lúcio como um dos maiores vultos da poesia algarvia.

Com a instauração da República, o poeta abandona a política e decide viajar com a sua família pela Europa, tendo publicado, em 1913, Na Asa do Sonho. Provavelmente inspirado pelas suas viagens, João Lúcio projecta então um chalé completamente original, no isolamento dos Pinheiros de Marim, nos arredores de Olhão, para onde pensava retirar-se depois de abandonar a advocacia, a fim de buscar a inspiração para a sua poesia.

Em 1914, o poeta aceitava o convite de Teixeira de Pascoaes, para se associar à Renascença Portuguesa, tendo publicado um único poema na revista A Águia. Também se encontra colaboração da sua autoria na Revista nova [1] (1901-1902).

Em Agosto de 1918, João Lúcio decide ir habitar o chalé com a sua família, apesar de este se encontrar ainda inacabado. É aí mesmo que vem a contrair o fatídico vírus da pneumónica que assolou a região, e que lhe acabaria por ceifar a vida na manhã de 26 de Outubro de 1918, com apenas 38 anos de idade.

Postumamente, em 1921, foi publicado o livro de poemas Espalhando Fantasmas.

Nota: João Lúcio aparece frequente e erroneamente confundido com Marcos Algarve, pseudónimo de outro escritor olhanense, Francisco Marques da Luz.

Obras Seleccionadas[editar | editar código-fonte]

Entre as suas obras encontram-se: [2]

Galeria de imagens[editar | editar código-fonte]

O Chalé de João Lúcio[editar | editar código-fonte]

Após a morte do seu filho varão (vítima de acidente trágico enquanto criança, no qual a avó, senil, o deixou cair pela janela), João Lúcio idealizou e mandou construir um chalé escondido no pinhal da sua Quinta do Marim, num local rico de lendas seculares sobre encantamentos de mouras, e com presença atestada de romanos.

O isolamento espiritual numa Torre de Marfim seria a finalidade do poeta, que teria mandado construir o chalé entre 1914 e 1916. É este um edifício quadrangular com três pisos e quatro fachadas, cada uma delas comunicando com o exterior através de quatro escadarias, cada uma destas, por sua vez, virada para um ponto cardeal primário (Norte, Sul, Oeste e Este) e cada uma representando os 4 elementos naturais (Água, Terra, Fogo e Ar) através das representações de um peixe estilizado, uma serpente, uma guitarra portuguesa e um violino. [4]

Actualmente, o chalé serve de instalações à Ecoteca de Olhão , conservando alguns objectos pessoais do poeta e documentação variada. [5][6]

Bibliografia Passiva[editar | editar código-fonte]

Sobre ele escreveram: [7]

  • AAVV, Homenagem a João Lúcio, s.l. [Olhão], s. ed. [Edição da Comissão do Monumento a João Lúcio], s.d. [1921].
  • AAVV, João Lúcio. In Memoriam, Lisboa/Porto/Coimbra, Lumen – Empresa Internacional Editora, 1921.
  • ALMEIDA, António D’, “João Lúcio. Um poeta esquecido”, in suplemento Diálogo do jornal Diário Ilustrado, n.º 45, 24 de Dezembro de 1957, pp. 37 e 39.
  • CABRITA, Fernando, “Acerca de João Lúcio, Poeta”, in suplemento A Voz de Olhão do jornal O Sporting Olhanense, Olhão, 3 de Maio, 1979, pp. 1 e 3.
  • – , “O Simbolismo e a poesia de João Lúcio”, in suplemento A Voz de Olhão do jornal O Sporting Olhanense, Olhão, 31 de Maio, 1979, pp. 1–2.
  • – , “Uma visão objectiva da poesia de João Lúcio”, in suplemento A Voz de Olhão do jornal O Sporting Olhanense, Olhão, 30 de Junho, 1979, pp. 1–2.
  • – , João Lúcio e a Poesia Simbolista, Olhão/Faro, Edição da Comissão para as Comemorações do I Centenário do Nascimento do Poeta João Lúcio, 1981.
  • – , “O Bom Humor em João Lúcio (contendo inéditos do poeta)”, in separata do suplemento A Voz de Olhão do jornal O Sporting Olhanense, Olhão, 1986.
  • – , “Personalidades do Algarve: João Lúcio,poeta”, in revista Algharb, n.º1 [1][ligação inativa].
  • CAVACO, Edgar, João Lúcio - evocação de um poeta, Évora, Casa do Sul, 1808, com prefácio de António Cândido Franco
  • COIMBRA, Leonardo, “João Lúcio”, in Pinharanda Gomes (org.), Leonardo Coimbra. Dispersos. I – Poesia Portuguesa, Lisboa, Editorial Verbo, 1984, pp. 151–157.
  • LOPES, Francisco Fernandes, Sobre o Poeta João Lúcio, Faro, Tipografia União, 1921.
  • – , “Espalhando Fantasmas”, in Correio Olhanense, Olhão, n.º 1, Ano I, 1 de Dezembro, 1921, p. 1.
  • – , “Acerca de João Lúcio”, in O Comércio do Porto, 28 de Dezembro de 1954, p. 6.
  • – , “João Lúcio (Breve escorço biográfico)”, in O Comércio do Porto, 26 de Abril de 1955 e 24 de Maio de 1955 (“Conclusão”) [Posteriormente publicado in Id., A Música das Cantigas de Santa Maria e outros ensaios, Olhão, Edição da Câmara Municipal de Olhão, 1985, pp. 241–250].
  • LOPES, Óscar, Entre Fialho e Nemésio (Estudo de Literatura Portuguesa Contemporânea). Vol. I, Lisboa, IN-CM, 1987, pp. 113–116.
  • NEVES, José, “O pensamento estético-filosófico do poeta João Lúcio”, in GEA (Revista do Grupo de Estudos Algarvios), Lagos, nº 2, Maio de 1978, pp. 23–27.
  • NOBRE, Antero, “O Poeta João Lúcio. Apontamento Biográfico”, in separata do suplemento A Voz de Olhão do jornal O Sporting Olhanense, Olhão, 1982.
  • PASCOAES, Teixeira de, “João Lúcio”, in separata da Brotéria, Lisboa, vol. 97, n.º 12, Dez. 1973, pp. 3–15.
  • RÉGIO, José, Pequena História da Moderna Poesia Portuguesa, Lisboa, Editorial Inquérito, 1941.
  • – , “Iniciação ao estudo de João Lúcio”, in suplemento Cultura e Arte do jornal O Comércio do Porto, Ano XCIX, n.º 39, 9 de Fevereiro de 1954, p. 5.
  • SANCHO, José Dias, A Paisagem, a Mulher e o Amôr nos versos de João Lúcio, Cândido Guerreiro e Bernardo de Passos, Lisboa, Livrarias Aillaud & Bertrand, 1925.
  • SIMÕES, João Gaspar (s. ass.), “João Lúcio”, in suplemento Domingo do jornal O Primeiro de Janeiro, n.º 1093, 8 de Março de 1970.
  • – , “João Lúcio”, in Perspectiva Histórica da Poesia Portuguesa (Século XX), Porto Brasília Editora, 1976, pp. 81–85

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Pedro Mesquita (25 de Junho de 2013). «Ficha histórica: Revista nova(1901-1902)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 15 de setembro de 2015 
  2. «Biblioteca Nacional de Portugal - Obras de João Lúcio». catalogo.bnportugal.gov.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021 
  3. «Poesias Completas de João Lúcio». bibliografia.bnportugal.gov.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021 
  4. Autarquia 360. «Chalé Dr. João Lúcio». www.visitolhao.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021 
  5. «Casa João Lúcio / Ecoteca». www2.cm-olhao.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021 
  6. «Ecoteca de Olhão - Olhão - oGuia». www.guiadacidade.pt (em inglês). Consultado em 15 de dezembro de 2021 
  7. «Biblioteca Nacional de Portugal». catalogo.bnportugal.gov.pt. Consultado em 15 de dezembro de 2021 
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