Liga Nobiliária

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Rei Henrique IV

O termo Liga Nobiliária (em castelhano: Liga Nobiliaria ou Gran Liga Nobiliaria) é geralmente usado para designar movimentos políticos de nobres do Reino de Castela que surgiram nos séculos XIV e XV, equivalentes aos partidos atuais, e motivados sobretudo pela oposição às tentativas de diminuição dos seus poderes e privilégios por parte dos reis.

Em sentido lato, o termo "Liga Nobiliária" ou "Liga da Nobreza" aparece associado às associações mais ou menos voláteis formadas pelos nobres castelhanos da Idade Média para se oporem às tendências de centralização e concentração de poder por parte dos reis e das forças que lhe estavam mais próximas.

É comum que o termo se aplique especificamente ao grupo de nobres formado em meados do século XV que participou na Farsa de Ávila, nome pelo qual ficou conhecida a cerimónia ocorrida naquela cidade a 5 de junho de 1465 durante a qual foi encenada a deposição de Henrique IV e proclamado rei o seu irmão Afonso. Essa liga nobiliária foi fundada oficialmente em 16 de maio de 1464 para defender os direitos do infante Afonso ao trono e impedir que a infanta Isabel se casasse sem consentimento da liga,[1] mas anteriormente já tinham formado uma "liga para o 'Bem do Reino' e 'reconhecimento do príncipe Afonso'" em 1460, à qual aderiu João II de Aragão e Navarra em 1 de abril de 1460.[2]

Esta liga teve um papel fulcral nos conflitos político-militares que que marcaram a segunda metade do século XV em Castela, nomeadamente na tentativa de deposição de Henrique IV (Farsa de Ávila) e na Guerra de Sucessão de Castela, durante a qual a liga apoiou Joana de Trastâmara, "a Beltraneja",[a] e o seu marido Afonso V de Portugal contra os Reis Católicos.[3]

Embora a maior parte dos nobres das ligas de nobres acima referidas tenham apoiado a sucessão de Joana ao trono de Castela após a morte do seu pai Henrique, por vezes o termo "liga nobiliária" também é usado para referir os nobres que apoiaram Isabel, liderados pelos Mendoza, cujo chefe era então Pedro González de Mendoza.[4][5][a]

Visão geral[editar | editar código-fonte]

O Infante Afonso de Castela

A liga foi fundada oficialmente em 16 de maio de 1464, para defender os direitos do infante Alfonso ao trono e impedir que a infanta Isabella se casasse sem o consentimento da liga.[6] Eles já haviam formado uma "liga para o 'Bem do Reino' e 'reconhecimento do Príncipe Alfonso'" em 1460, à qual João II de Aragão e Navarra se juntou em 1º de abril de 1460.[7]

O grupo desempenhou um papel fundamental nos conflitos político-militares que marcaram a segunda metade do século XV em Castela e na Guerra da Sucessão Castelhana, durante a qual a liga apoiou Joanna la Beltraneja e seu marido Afonso V de Portugal contra os católicos Monarcas.[8]

Embora a maioria dos nobres nas ligas nobres apoiasse a sucessão de Joanna ao trono de Castela após a morte de seu pai Henrique, às vezes o termo "liga nobre" também é usado para se referir aos nobres que apoiaram Isabella, liderada pelos Mendoza, cujo cabeça era então Pedro González de Mendoza.[9][10]

História[editar | editar código-fonte]

Isabel I de Castela, "a Católica"

Os séculos XIV e XV foram marcados em Castela por uma luta de poder entre os apoiantes de um poder real mais forte e os grandes senhores feudais. A Primeira Guerra Civil de Castela (1366-1369) foi ganha por Henrique II com o apoio dos nobres, mas estes perderam alguma da sua influência durante o reinado de Henrique III (r. 1390–1406), voltando a recuperá-la no reinado de João II (r. 1406-1454), principalmente quando a chamada Gran Liga Nobiliaria conseguiu eliminar Álvaro de Luna,[11] condestável e valido de João II.[12]

O reinado do sucessor de João II, Henrique IV é marcado por sucessivos conflitos entre o rei e os nobres mais poderosos, que tentam controlar a nomeação do herdeiro/a real e diminuir a influência de Beltrán de La Cueva, condestável e valido do rei e, segundo as más línguas, amante da rainha Joana.[13]

O acordo de casamento entre Isabel e Afonso V de Portugal celebrado entre este e Henrique IV em abril de 1464, leva os nobres a formalizar uma liga em 16 de maio de 1464 para defenderem os direitos de sucessão do infante Afonso e e impedir que Isabel se casasse sem o consetimento dos nobres. Joana tinha então apenas dois anos de idade e circulavam rumores de que era filha, não do rei, mas de Beltrán de La Cueva, o que está na origem da sua alcunha "a Beltraneja".[14]

Joana de Trastâmara, "a Beltraneja"

A 5 de junho de 1465, a liga organiza o que ficou conhecido como a Farsa de Ávila, onde aclamam Afonso como rei. Ainda antes da morte prematura deste em 5 de junho de 1468, há divisões na liga; um dos seus líderes mais destacados, Álvaro de Zúñiga y Guzmán, conde de Plasencia e chefe da influente Casa de Zúñiga, reconcilia-se com o Henrique em 1467[15] e o rei passa os primeiros quatro meses de 1468 no palácio de Álvaro em Plasencia.[16] O casamento sem consentimento real de Isabel com Fernando II, rei da Sicília e sucessor ao trono de Aragão,[17] contribui para que a liga nobiliária passe a apoiar o rei, que reabilita a sua filha Joana como sua legítima sucessora a 26 de julho de 1470.[18]

Após a morte de Henrique a 12 de dezembro de 1474, Isabel é no dia seguinte proclamada rainha em Segóvia.[19] Em março de 1475, Álvaro de Zúñiga vai buscar Joana a Madrid e leva-a para Trujillo, onde é aclamada a legítima sucessora de Henrique IV.[20] O rei português Afonso V decide casar com Joana, então com 13 anos de idade, e reclama para si a coroa de de Castela. No início de maio de 1475, Afonso V entra com o seu exército em Castela e é recebido em Plasencia por Álvaro de Zúñiga e outros membros da liga que apoiam as pretensões do rei português. Afonso e Joana são proclamados reis de Castela e Leão em Plasencia a 25 de maio de 1475 e casam-se na mesma cidade a 30 de maio do mesmo ano.[21]

O rei português abandona a guerra após ser derrotado na Batalha de Toro (1 de março de 1476).[22] Os Zúñiga, que se contavam entre os principais apoiantes de Afonso V e Joana, apesar de alguns dos seus membros lutarem ao lado das forças de Isabel, já tinham adotado uma posição estritamente neutral em janeiro, descontentes com a pouca ajuda prestada pelo rei de Portugal, que deixou cair o castelo de Burgos, uma possessão dos Zúñiga, sem arriscar uma marcha de curta distância.[23]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

[a] ^ Devido a ter havido uma fação de nobres, liderada pela Casa de Mendoza, chefiada então por Pedro González de Mendoza que, tendo-se mantido relativamente neutrais,[b] após a morte do infante Afonso, passaram a apoiar Isabel como sucessora ao trono.[5]


[b] ^ A neutralidade dos Mendoza em relação à disputa de poder entre os nobres e o rei esteve longe de ser total, pois muitos Mendoza foram apoiantes de Beltrán de La Cueva.[4]
  1. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 256-257
  2. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 236
  3. López Márquez, Ángel. «La Península Ibérica en la Baja Edad Media - 1. La Corona de Castilla» (pdf). personal.us.es/magdalen (em espanhol). Universidade de Sevilha. Consultado em 1 de setembro de 2011 [ligação inativa]
  4. a b «Los Reinos Ibéricos (1450-1512)». Revista digital arteHistoria (www.artehistoria.jcyl.es) (em espanhol). Junta de Castela e Leão. Consultado em 1 de setembro de 2011. Arquivado do original em 25 de junho de 2010 
  5. a b «Isabel I de Castilla». www.cecilgoitia.com.ar (em espanhol). Cecil Goitia. Consultado em 1 de setembro de 2011. Arquivado do original em 18 de junho de 2009 
  6. Menéndez y Pidal (1986, pp. 256-257)
  7. Menéndez y Pidal (1986)
  8. López Márquez, Ángel. «La Península Ibérica en la Baja Edad Media - 1. La Corona de Castilla» (PDF). University of Seville. Consultado em 1 de setembro de 2011 [ligação inativa] 
  9. «Los Reinos Ibéricos (1450-1512)». arteHistoria (em espanhol). Junta de Castille y León. Consultado em 1 de setembro de 2011. Cópia arquivada em 25 de julho de 2010 
  10. Goitia, Cecil. «Isabel I de Castilla». www.cecilgoitia.com.ar (em espanhol). Consultado em 1 de setembro de 2011. Cópia arquivada em 18 de junho de 2009 
  11. «Isabel de Portugal». www.biografiasyvidas.com (em espanhol). Biografías y Vidas. Consultado em 1 de setembro de 2011. Cópia arquivada em 21 de Agosto de 2008 
  12. Leralta 2008, p. 322.
  13. Sánchez Loro 1959, p. 95
  14. Franco Silva 1995, p. 77-88.
  15. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 277-278
  16. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 281
  17. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 297
  18. Menéndez y Pidal, tomo XV, p. 300
  19. Menéndez y Pidal, tomo XVII, vol. 1, p. 85
  20. Menéndez y Pidal, tomo XVII, vol. 1, p. 116
  21. Menéndez y Pidal, tomo XVII, vol. 1, p. 125-127
  22. Menéndez y Pidal, tomo XVII, vol. 1, p. 167-169
  23. Menéndez y Pidal, tomo XVII, vol. 1, p. 150-152

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Franco Silva, Alfonso; Iglesias Rodríguez, Juan José; García Fernández, Manuel (1995). Osuna entre los tiempos medievales y modernos (siglos XIII-XVIII) (em espanhol). Sevilha: Fundación de Cultura Antonio María García Blanco. Ayuntamiento de Osuna. Universidade de Sevilha. p. 77-88. 489 páginas. Consultado em 1 de setembro de 2011 
  • Menéndez y Pidal, Ramón (1986). Historia de España, Tomo XV, Los Trastámaras de Castilla y Aragón en el siglo XV (em espanhol). Madrid: Editorial Espasa-Calpe SA. ISBN 84-239-4817-X 
  • Menéndez y Pidal, Ramón (1983). Historia de España. Tomo XVII, La España de los Reyes Católicos (em espanhol). 2. Madrid: Editorial Espasa-Calpe SA. ISBN 84-239-4819-6 
  • Sánchez Loro, Domingo (1959). El Parecer de un Deán (Don Diego de Jerez, Consejero de los Reyes Católicos, Servidor de los Duques de Plasencia, Deán y Protonotario de su Iglesia Catedral) (em espanhol). Cáceres: Biblioteca Extremeña, Publicaciones del Movimiento edición, Tipografía, El Noticiero