Maomé ibne Rumais

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Maomé ibne Rumais
Morte 971
Nacionalidade Califado de Córdova
Ocupação Almirante

Maomé ibne Rumais (Muhammad ibn Rumahis) foi um oficial muçulmano do século X no Califado de Córdova do Alandalus. Era um liberto que foi nomeado pelo califa Abderramão III (r. 912–961) como almirante da frota califal centrada em Almeria, onde fixou sua residência, e governador da Cora de Baiana até sua morte em 971, quando foi substituído por seu filho Abderramão ibne Maomé ibne Rumais em ambos. A ele é creditada a fundação da cidade de Almeria em 955.

Vida[editar | editar código-fonte]

Maomé nasceu algures no norte do Alandalus (Península Ibérica), onde foi feito cativo numa razia realizada pelo califa Abderramão III (r. 912–961). Ao conhecer suas habilidades marinheiras, o califa nomeou-o almirante da frota com a qual participou em diversas ações até sua morte em 971.[1] A primeira delas ocorreu no ano 319 A.H. (931-932), quando partiu como voluntário com outros marinheiros de Pechina às costas do Magrebe com 120 navios, onde realizou operações contra o Califado Fatímida da Ifríquia e voltou a Almeria. [2] Em 939/940, foi nomeado pela primeira vez governador de Baiana (Pechina).[3] Em 940, esteve nos dois navios de guerra com tripulação de Almeria que foram a Tortosa e dali organizaram ataque contra Barcelona com um total de 10 naves, chegando ao cabo de Açalibe (Creus?), no extremo do golfo de Ambaurias (Ampúrias?), e então Barcelona. Após cobrarem tributos, passaram por Tortosa antes de voltar para Córdova.[4][5]

Pouco depois, seu filho Abderramão foi colocado como governador de Pechina e Almeria e em 20 de junho de 943, Maomé saiu de Almeria com 30 naves de guerra e seis galeras para uma campanha contra as costas da Frância (Ifrânia), onde um temporal as dispersou. Com nove embarcações restantes, saqueou algumas povoações como Alquitana (Agde, na desembocadura do Hérault) e voltou com butim. Atacou Massínia (Marselha?) e então regressou para Almeria.[6] Após novamente colocar o filho como governador, reuniu uma esquadra de 15 navios, duas galeras e um barco explorador e incursionou em julho ou agosto e novamente em 25 de outubro de 945 contra os Banu Maomé (idríssidas) de Ceuta, no Magrebe Ocidental.[7] Em 946, no contexto da revolta nucarita carijita Abu Iázide contra o poderia fatímida na Ifríquia, Maomé preparou-se para uma expedição naval na região, mas logo que soube que Abu Iázide precisou fugir perante o avanço fatímida, o almirante retornou ao Alandalus.[8][9]

Pedra fundacional de Almeria

Segundo a tese do arabista Manuel Ocaña Jiménez, pode ser o homônimo citado na pedra fundacional de Almeria datada de 955 que alude ao califa Abderramão. A julgar por sua posição de almirante, as obras deviam estar ligadas ao porto, suas defesas e estaleiros. [10] Em 955-956, convenceu o califa a converter em cidade o porto de Almeria, que até então era apenas subúrbio de Pechina, após incursão da frota siciliano-fatímida e prepará-la como base naval.[2] Além disso, seu nome árabe Almariate (al-Mariyat) pode aludir ao nome cristão Maria e estar ligado tanto a mulher favorita do califa como a Virgem Maria, cuja imagem Maomé colocou sobre a porta principal da cidade, a Porta da Imagem.[11]

Em 960, segundo a tradição talmúdica preservada pelo historiador andalusino do século XII Abraão ibne Daúde, foi enviado com uma flotilha para as costas ao sul da Itália com a missão de capturar navios que estivesse velejando da península ao Império Bizantino.[12] Certo dia, capturou um navio que partiu de Bari no qual havia 4 rabinos, coletivamente chamados Os Quatro Cativos, cuja identidade é parcialmente conhecida: três são citados pelo nome (Moisés, Semaria, Husiel), enquanto o quarto não é nomeado, mas talvez pode ser Natanael segundo a reconstituição de Heinrich Graetz. Segundo ibne Daúde, ao saber que tratava-se de rabinos, Maomé velejou junto a costa mediterrânica vendendo-os às comunidades judaicas no caminho: Semaria foi vendido em Alexandria e levado a Fostate (futura Cairo); Husiel foi vendido na costa da Ifríquia, talvez em Mádia, e levado a Cairuão; o suposto Natanael foi vendido na Frância, em Narbona (segundo a reconstituição de Graetz); e Moisés, seu filho e esposa foram vendidos em Córdova.[8][13]

O califa faleceu em 961 e seu filho e sucessor Aláqueme II (r. 961–976) confirmou Maomé como almirante e governador de Pechina e Almeria.[2] Em 966, uma frota de viquingues danos com 20 navios atacou Lisboa e foi derrotada pela frota de Maomé que havia saído de Sevilha na desembocadura do rio de Silves (Xilbe).[14] Com sua morte em 971, Maomé foi sucedido em suas funções por seu filho Abderramão.[15]

Referências

  1. Garrido 1979, p. 10.
  2. a b c Garrido 1986, p. 150.
  3. Garrido 1986, p. 146.
  4. Garrido 1986, p. 151-152.
  5. Garrido 1979, p. 10-11.
  6. Garrido 1986, p. 152.
  7. Garrido 1986, p. 152-153.
  8. a b Gîl 2004, p. 177.
  9. Stern 1986, p. 163.
  10. Garrido 1986, p. 145.
  11. Garrido 1986, p. 150-151.
  12. Keller 1971, p. 180.
  13. Graetz 2009, p. 208.
  14. Garrido 1986, p. 154.
  15. Garrido 1986, p. 154-155.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Garrido, J. A. Tapia (1979). Almería hombre a hombre. Almeria: Ed. Cajal. ISBN 84-500-3468-X 
  • Garrido, J. A. Tapia (1986). Historia General de Almería y su Provincia, Tomo III, Almería Musulmana I (711/1172). Almeria: Ed. Cajal. ISBN 84-85219-50-3 
  • Graetz, Heinrich (2009). History of the Jews. Nova Iorque: Cosimo, Inc. 
  • Gîl, Moše (2004). Jews in Islamic Countries in the Middle Ages. Leida: BRILL 
  • Keller, Werner (1971). Diaspora: The Post-Biblical History of the Jews. São Diego, Califórnia: Harcourt, Brace & World 
  • Stern, S. M. (1986). «Abu Yazid Makhlad b. Kaydad al-Nukkari». The Encyclopaedia of Islam New Edition Vol. I A-B. Leida: E. J. Brill