Operação Punho de Ferro

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Operação Punho de Ferro
Parte de MINUSTAH
Operação Punho de Ferro
Soldados brasileiros da MINUSTAH saudando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Localização Bois Neuf, partição da Cité Soleil, Porto Príncipe, Haiti
Comandado por Augusto Heleno
Objetivo Neutralização de Emmanuel Wilmer.
Data 6 de julho de 2005.
Executado por 440 capacetes azuis, com apoio de outros 1,000 soldados, 41 veículos blindados e um helicóptero.
Resultado
  • Morte de Emmanuel Wilmer
  • Morte de diversos civis
  • Afastamento de Agusto Heleno do comando da MINUSTAH
Mortos
  • 7 (números oficiais da ONU)
  • Ao menos 70 (estimativa feitas por organizações de direitos humanos)

A Operação Punho de Ferro (do inglês: Operation Iron Fist), também conhecida como Massacre de Cité Soleil, foi uma operação dos capacetes azuis da MINUSTAH liderada por Augusto Heleno, que ocorreu em 6 de julho de 2005 em Bois Neuf, partição da Cité Soleil, a maior favela do Haiti.[1] A MINUSTAH, liderada por brasileiros, estava sendo pressionada pelos Estados Unidos, França, Canadá e a elite haitiana a pacificar o país mais rapidamente.[2][3] Já havia acontecido outras operações da Polícia Nacional do Haiti na região para neutralizar membros da Lavalas, um movimento de apoio ao ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.[4] A operação foi descrita como a mais sangrenta feita pela Organização das Nações Unidas (ONU) no país.[5]

Operação[editar | editar código-fonte]

Seu objetivo era a neutralização de Emmanuel "Dread" Wilmer, e contou com 440 soldados, com apoio de 41 veículos blindados e um helicóptero, além de outros mil soldados no perímetro.[1][6] A ONU e a imprensa o classificou como um líder de gangue apoiador do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide, mas ele era visto em Bois Neuf como um lider comunitário.[5][4] A operação durou do amanhecer ao entardecer. As tropas bloquearam as saídas da área com veículos armados e contêineres, e não levaram unidades médicas ou transportaram os feridos para hospitais.[1][6] Oficialmente, a ONU declarou que durante as sete horas de operação, foram disparadas 22.700 balas, 78 granadas e 5 bombas de morteiro, que resultou na morte de sete membros de gangue, incluindo Wilmer.[7][2]

No dia 9, Wilmer foi enterrado pela comunidade. Havia rumores que as tropas da ONU fariam um segundo ataque, e muitos fugiram quando viram soldados fazendo trabalho de rotina em pontos de vistoria na favela.[5]

Denúncias de mortes arbitrárias[editar | editar código-fonte]

Porém, surgiram muitas denúncias de mortes arbitrárias. A população denunciou que o exército teria matado civis desarmados. Suspeitava-se que, pela quantidade de munição gasta, deveria haver muito mais vítimas. Várias das casas possuiam marcas de tiro de armas de fogo e tanques de guerra, além de tiros no teto, provavelmente disparados pelo helicóptero.[5] Muitas das mortes foram capturadas em fotos e vídeos. O Médicos Sem Fronteiras também denunciou que havia tratado de 27 pessoas com marcas de bala em seus corpos. 20 delas eram mulheres e crianças, além de uma mulher grávida que perdeu seu filho durante a cirurgia. Um porta-voz do governo haitiano se negou a comentar sobre a operação. Ainda, o embaiador dos Estados Unidos no Haiti James Foley afirmou que os soldados da MINUSTAH não ficaram no local para verificar as casualidades e o vice-embaixador Douglas Griffiths afirmou que as acusações que a missão matou vinte mulheres e crianças era crível. Uma delegação americana de trabalho e direitos humanos visitou Cité Soleil e hospitais da região no dia 9 de julho, e não encontrou evidências que a MINUSTAH tenha ido em qualquer hospital até o momento. Outros relatos afirmam que os soldados que estavam sobrevoando a partição com helicópteros atiraram nas residências civis. No dia 29 de julho, o Sub-Secretário das Operações Pacificadoras Jean-Marie Guehenno afirmou que "[...] pode ter havido casualidades civis".[1][4][6][7]

A Reuters realizou uma investigação baseada em relatórios vazados pela Wikileaks escritos por integrantes da ONU e diplomatas dos Estados Unidos, e concluiu que o número de vítimas foi ao menos 70 pessoas, incluindo mulheres e crianças.[8] Outras estimativas afirmam que morreram de 30 a 40 civis.[3]

Reação da MINUSTAH[editar | editar código-fonte]

A MINUSTAH, porém, se mostrou satisfeita com a operação. Juan Gabriel Valdés, chefe civil da missão no Haiti, afirmou que os soldados de Augusto Heleno tinham o direito de revidar caso atacados, e que não havia como fazer uma investigação para determinar o número de mortos. A ONU pediu esclarecimentos, e o relatório enviado afirmava que a operação havia sido "essencialmente satisfatória".[6] Augusto Heleno questionou o motivo dos grupos de direitos humanos estarem preocupados com a vida de criminosos e considerou a operação um sucesso.[5][9]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Augusto Heleno foi afastado do comando da MINUSTAH a pedido da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

A operação foi denunciada na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) baseada em relatos dos moradores e em um relatório elaborado pelo Centro de Justiça Global e da Universidade de Harvard. A CIDH pediu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastasse Augusto Heleno do cargo de comandante. Então, em setembro de 2005, Heleno foi substituído por Urano Teixeira da Matta Bacellar. Em 25 de novembro, Heleno depôs na Câmara dos Deputados, afirmando que se houve casualidades, elas foram mínimas.[10][11]

Em 2018, a intevenção federal no Rio de Janeiro combateu o crime organizado com os mesmos métodos usados em Porto Príncipe. Heleno afirmou que as estratégias do governador Wilson Witzel eram muito parecidas com as suas durante seu comando no Haiti.[12]

Com o passar do tempo, a operação se tornou praticamente desconhecida fora do Haiti.[12]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d Wills, Siobhan (1 de agosto de 2018). «Use of Deadly Force by Peacekeepers Operating Outside of Armed Conflict Situations: What Laws Apply?». Human Rights Quarterly (3): 663–702. ISSN 1085-794X. doi:10.1353/hrq.2018.0036. Consultado em 25 de setembro de 2023 
  2. a b Gabriel Stargardter (9 de novembro de 2018). «Alvo de críticas, operação no Haiti virou glória de ministro de Bolsonaro». UOL. Consultado em 25 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 25 de setembro de 2023 
  3. a b Fabio Victor (agosto de 2019). «Terra desolada». revista piauí. Consultado em 30 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2023 
  4. a b c «Evidence mounts of a UN massacre in Haiti - July 12, 2005». Haiti Action (em inglês). 12 de julho de 2005. Consultado em 27 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  5. a b c d e «Eyewitnesses Describe Massacre by UN Troops in Haitian Slum». Democracy Now! (em inglês). 11 de julho de 2005. Consultado em 27 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  6. a b c d Gabriel Stargardter (29 de novembro de 2018). «General Augusto Heleno, futuro ministro, liderou missão polêmica no Haiti». Exame. Consultado em 27 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2023 
  7. a b Cahal McLaughlin, Ilionor Louis e Siobhán Wills (13 de outubro de 2017). «Sent to Haiti to keep the peace, departing UN troops leave a damaged nation in their wake». The Conversation (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 25 de setembro de 2023 
  8. Victor Farinelli (9 de outubro de 2020). «Haitianos pedem indenização da ONU por estupros na época em que general Heleno comandava forças de paz». Revista Fórum. Consultado em 27 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2023 
  9. «Denunciado, general Heleno já teve cargo na ditadura, COB, Amazônia e Haiti». UOL. 26 de janeiro de 2023. Consultado em 28 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  10. Yuri Ferreira (26 de setembro de 2023). «O que foi a Operação Punho de Ferro, que matou mulheres e crianças no Haiti e tinha Heleno como comandante». Revista Fórum. Consultado em 28 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  11. Plinio Teodoro (12 de dezembro de 2022). «General Heleno não vai prestar continência a Lula? Entenda por que». Revista Fórum. Consultado em 28 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 
  12. a b Gabriel Stargardter (29 de novembro de 2018). «General behind deadly Haiti raid takes aim at Brazil's gangs». Reuters (em inglês). Consultado em 28 de setembro de 2023. Cópia arquivada em 28 de setembro de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]