Raul Leal

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Raul Leal
Raul Leal
Raul Leal
Nome completo Raul d'Oliveira Sousa Leal
Pseudónimo(s) Henoch
Nascimento 1 de setembro de 1886
Lisboa, Portugal
Morte 18 de agosto de 1964 (77 anos)
Lisboa
Nacionalidade português
Ocupação poeta
Movimento literário modernismo
Magnum opus Sodoma Divinizada

Raul d'Oliveira Sousa Leal (Henoch) (Lisboa, 1 de Setembro de 188618 de agosto de 1964), foi um escritor, poeta e ocultista português.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Concluiu o curso de direito na Universidade de Coimbra em 1909. Em 1914 exila-se em França por motivos políticos.

Para uma autobiografia
Na casa de meus pais recebi uma educação luxuosíssima, conhecendo bem todas as sumptuosidades e elegâncias; natural era portanto que quisesse manter essa vida ainda que para isso descesse às maiores ignomínias, tanto mais que intensíssimas foram sempre as minhas ambições de luxo, desenfreados os meus apetites e a minha cobiça; pois tudo isso esmaguei em mim porque só ignominiosamente poderia satisfazer tais ambições, tais apetites delirantes, e eu não queria de modo algum esfacelar a minha dignidade, sempre intacta, sempre imaculada. A despeito de tudo preferi a miséria e a fome![1]

Foi um dos introdutores do futurismo em Portugal, publicando no segundo número da revista Orpheu, a "novela vertígica" "Atelier", a qual planeava integrar num livro inédito intitulado Devaneios e Alucinações. Caso único na literatura portuguesa, escreveu toda a sua obra poética em francês. Projectou também escrever, em 1923, o "drama metafísico" O Incompreendido[2].

Em 1916 publicou na revista Centauro "A Aventura dum Sátiro ou a Morte de Adónis" e em 1917, na revista Portugal Futurista, o artigo "L'Abstraccionisme Futuriste", sobre um quadro de Santa-Rita Pintor. Colaborou também na revista Pirâmide[3] (1959-1960), na Athena, publicada por Fernando Pessoa, e pela revista dirigida por Almada Negreiros, Sudoeste [4] (1935).

Vida digníssima de sacrifício
Durante quatro anos horríveis de fome e miséria nunca conseguia abandalhar-me, e através dos meus sofrimentos encontrava sempre a força de alma necessária para trabalhar na minha Obra. Quantas vezes, cheio de frio e mal me podendo suster, por falta absoluta de alimentos, eu subi a escadaria sumptuosa da Biblioteca de Madrid, tão pouco aquecida no inverno, para procurar no estudo da metafísica o esquecimento vago dos meus males, e dando assim uma expressão superior à minha existência! [5]

Com a publicação de Sodoma Divinizada em 1923, pela editora Olisipo, de Fernando Pessoa, Raul Leal entra voluntariamente no escândalo conhecido por «Literatura de Sodoma», a propósito da 2.ª edição do livro de poesia Canções, de António Botto, publicado no ano anterior também da editora Olisipo. Iniciada com a recensão de Fernando Pessoa «António Botto e o Ideal Estético em Portugal», inserida no n.º 3 da revista Contemporânea, de Julho de 1922, a polémica envolveu, para além de Pessoa e Leal, o jornalista Álvaro Maia e Pedro Teotónio Pereira.

Em Março de 1923, as edições de Canções e Sodoma Divinizada, bem como Decadência de Judith Teixeira, seriam apreendidos e posteriormente queimados por ordem do governador civil de Lisboa. Raul Leal volta à polémica publicando o panfleto Uma Lição de Moral aos Estudantes de Lisboa e o Descaramento da Igreja Católica.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • (1909) A Apassionáta de Beethoven e Viâna da Móta (a propósito da audição da Apassionáta no Teátro-Circo Príncipe Reál de Coimbra, em 7 de Junho de 1909). Coimbra: França Amado.
  • (1913) A Liberdade Transcendente. Lisboa: A. M. Teixeira.
  • (1915) "Atelier. Novela vertígica" in Orpheu n.º 2.
  • (1916) "A Aventura dum Sátiro ou a Morte de Adónis" in Centauro n.º 1.
  • (1917) "L'Abstraccionisme Futuriste. Divagation outrephilosophique-Vertige à propos de l'oeuvre géniale de Santa Rita Pintor, "Abstraction Congénitale Intuitive (Matière-Force)", la suprème réalisation du Futurisme" in Portugal Futurista n.º único.
  • (1920) Antéchrist et la Gloire du Saint-Espirit: hymne-poëme sacré. Lisboa: Portugalia.
  • (1923) Sodoma Divinisada: leves reflexões teo-metafísicas sobre um artigo de António Botto na Revista Contemporânea (n.º 3 e 4), criticando um outro sobre Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal. Lisboa: Olisipo.
  • (1923) Uma Lição de Moral aos Estudantes de Lisboa e o Descaramento da Igreja Católica.
  • (1943) Repetidor de Filosofia: para o curso dos liceus e aptidão às Universidades. Porto: Livraria Educação Nacional.
  • (1960) Sindicalismo Personalista: plano de salvação do mundo. Lisboa: Editorial Verbo.
  • (1961) Sodoma Divinisada, 2.ª edição. Lisboa: Contraponto.

Edições póstumas[editar | editar código-fonte]

  • (1970) O Sentido Esotérico da História, coordenação, prefácio e notas de Pinharanda Gomes. Lisboa: Livraria Portugal.
  • (1970) Problemas do Desporto: ensaios de filosofia desportiva, coordenação, apresentação e notas de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães.
  • (1977) Textos de Raúl Leal, Natália Correia, Lima de Freitas, organização Mário Cesariny. Lisboa: Secretaria de Estado da Cultura.
  • (1989) SODOMA DIVINIZADA: uma polémica iniciada por FERNANDO PESSOA a propósito de ANTÓNIO BOTTO, e também por ele terminada, com a ajuda de Álvaro Maia e Pedro Teotónio Pereira (da Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa), 3.ª edição, organização, introdução e cronologia de Aníbal Fernandes. Lisboa: Hiena Editora.
  • (2007) O Caso Mental Português, Fernando Pessoa, seguido de A Loucura Universal, Raul Leal. Almargem do Bispo: Padrões Culturais Editora.
  • (2010) Jorge de Sena / Raul Leal: Correspondência 1957-1960, prefácio de José Augusto Seabra, Lisboa: Guerra & Paz.

Referências

  1. Leal, Raul (1989). Sodoma Divinizada. Lisboa: Hiena. p. 109 
  2. Leal, Raul (1989). Sodoma Divinizada. Lisboa: Hiena. p. 111 
  3. Daniel Pires (1999). «Ficha histórica: Pirâmide : antologia (1959-1960)» (pdf). Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1941-1974). Lisboa, Grifo, 1999: Hemeroteca Municipal de Lisboa. p. 46. Consultado em 20 de março de 2015 
  4. Rita Correia (18 de maio de 2011). «Ficha histórica: Sudoeste : cadernos de Almada Negreiros (1935)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 5 de novembro de 2015 
  5. Leal, Raul (1989). Sodoma Divinizada. Lisboa: Hiena. p. 108-109 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]