José dos Reis Carvalho

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[[Imagem:Retrato de José dos Reis Carvalho. jpg|right|thumb|150px|José dos Reis Carvalho, em fotografia pertencente ao arquivo do Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro.]] José dos Reis Carvalho (Ceará, ca. 1798/1800 - Rio de Janeiro, ca. 1892?) foi um pintor, desenhista e professor brasileiro. Em 1824, ingressou na primeira turma do curso de pintura da Academia Imperial de Belas Artes (AIBA), onde foi aluno de Jean-Baptiste Debret. Foi também desenhista, cenógrafo e professor de desenho da Escola Imperial de Marinha, no Rio de Janeiro.[1]

Acompanhou a Comissão Científica de Exploração, alcunhada "Comissão das Borboletas", responsável por documentar os aspectos etnográficos, zoológicos e botânicos do sertão brasileiro, sobretudo em sua terra-natal, a então província do Ceará.

Reis Carvalho integrou as duas primeiras exposições de alunos e professores da AIBA, em 1829 e 1830. Entre 1843 e 1872, participou de seis edições das Exposições Gerais de Belas Artes, sendo agraciado com a medalha de ouro em duas oportunidades. Em 1848, foi consagrado com o título de Cavaleiro da Ordem da Rosa.[2][3]

Vida e obra[editar | editar código-fonte]

Músicos negros no cortejo de São Jorge

As informações sobre a vida de José dos Reis Carvalho são relativamente escassas e, na maior parte das vezes, imprecisas ou contrastantes entre si. Ignoram-se as localidades exatas e as datas de seu nascimento e morte, bem como dados sobre sua vida no período anterior ao ingresso na Academia Imperial de Belas Artes.[4] Alguns autores, como Down Ades, situam seu nascimento no ano de 1800.[4] Para Bruno Pedrosa, a data correta seria 1798.[5] Há consenso no entanto quanto ao fato de que o pintor integrou a primeira turma de 21 alunos do curso de pintura da Academia, onde se matriculou em 1824.[2][6]

Igreja de Santana em dia de festa, 1851
Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Prainha, 1859

Na AIBA, Reis Carvalho foi discípulo de Jean-Baptiste Debret - pintor neoclássico, integrante da Missão Artística Francesa, que se estabeleceu no Rio de Janeiro a convite de Dom João VI com o objetivo de criar uma escola nacional de arte no Brasil. Foi muito provavelmente a influência de Debret que levou o artista a valorizar o uso da aquarela na execução de trabalhos rápidos, representando cenas do cotidiano. Reis Carvalho integrou a primeira Exposição da Classe de Pintura Histórica da Academia em 1828,[2] apresentando quatro telas: duas cópias de obras de Debret (Prisão e Marinha) e duas obras originais (uma derivação de Prisão e uma natureza-morta, intitulada Grupo de Frutas e Flores do País).[6]

Na segunda Exposição da Classe de Pintura, realizada em 1829, voltou a expor os trabalhos anteriores, apresentando ainda uma outra cópia de Debret (Retrato de Giulio Romano) e mais duas criações próprias (Castelo Antigo e Alegoria da Criação da Ordem da Conceição). Não obstante, seriam as suas naturezas-mortas que lhe granjeariam algum renome, em detrimento de seus retratos e paisagens: Tomás Gomes dos Santos e Gonzaga Duque elogiavam a "paciência e perfeição" com que representava flores e frutos, bem como a "imitação da verdade" demonstrada em tais obras.[6] Em sua Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, Debret se refere ao artista como "pintor de flores e decorador", e informa sua ocupação como "professor de Desenho da Escola Imperial de Marinha na vaga de José de Cristo, falecido".[5] Em 1848, cinco anos após receber sua primeira medalha de ouro, foi nomeado Cavaleiro da Ordem da Rosa.[3][4]

Moinho de vento nos arrebaldes de Aracati, 1859
Borboleta, 1859-1861

A fidelidade com que o artista executava seus temas foi provavelmente o fator que lhe rendeu uma indicação para integrar a Comissão Científica de Exploração. Organizada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro[7] e patrocinada por Dom Pedro II, a comissão tinha por objetivo proceder a um levantamento detalhado dos aspectos etnográficos, geológicos, geográficos, zoológicos e botânicos das províncias da Região Nordeste. Por falta de recursos, no entanto, acabou se restringindo ao Ceará e às suas regiões limítrofes. A expedição durou aproximadamente cinco anos, entre 1859 e 1861.[5]

O naufrágio da embarcação Palpite pôs a perder boa parte dos dados coletados in loco pela Comissão, incluindo-se aí o conjunto completo de fotografias. Dessa forma, as aquarelas e desenhos executados por Reis Carvalho constituem-se no mais importante núcleo documental da expedição que chegou aos dias de hoje. No Ceará, Reis Carvalho registrou a arquitetura local (igrejas, casebres e interiores de residências, vilarejos, moinhos de vento), as paisagens, a vegetação, os acidentes geográficos e a topografia, além do cotidiano das comunidades e suas atividades econômicas, como a pescaria e o artesanato.[4][5] Em suas aquarelas produzidas durante a expedição, Reis Carvalho volta a demonstrar seu preciocismo, em obras ricas em detalhes, construídas sob cuidadosos estudos de perspectiva e imbuídas de intensa luminosidade.[2]

De volta ao Rio de Janeiro, o artista voltou a lecionar na Escola de Marinha, assumindo também o cargo de professor de desenho da Academia de Belas Artes. Participou de mais duas Exposições Gerais da AIBA, voltando a receber a medalha de ouro em 1865.[2][3]

Segundo o historiador Gonzaga Duque, Reis Carvalho teria falecido "esquecido, no interior da província do Rio de Janeiro".[6] Apesar disso, não há registros documentais da data, local ou circunstâncias de sua morte. Heitor de Assis Júnior observa que há obras datadas pelo pintor de 1882 e que o mesmo é registrado como professor honorário da Academia no ano de 1891, o que contraria a tese de outros historiadores que situam seu falecimento no ano de 1872, quando participa de sua derradeira exposição coletiva.[3][4][5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. «Carvalho, Reis - Biografia». Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Consultado em 9 de março de 2010 
  2. a b c d e Souza, 1985, pp. 28-29.
  3. a b c d «Carvalho, Reis - Exposições Coletivas». Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Consultado em 9 de março de 2010 
  4. a b c d e Júnior, Heitor de Assis. «Ciência e arte nas pinturas de José dos Reis Carvalho» (PDF). I Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra - Instituto de Geociências da Unicamp. Consultado em 9 de março de 2010 [ligação inativa]
  5. a b c d e Viana, Karolina. «Olhar nativo e estrangeiro». Associação Artístico-Cultural Lua Cheia. Consultado em 9 de março de 2010 [ligação inativa]
  6. a b c d Victorino, Paulo. «José dos Reis Carvalho». Pitoresco. Consultado em 9 de março de 2010. Arquivado do original em 19 de maio de 2009 
  7. «Memória Cearense». Museu Histórico Nacional. Consultado em 9 de março de 2010. Arquivado do original em 4 de dezembro de 2008 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bardi, Pietro Maria & Manuel, Pedro (1979). Arte no Brasil. São Paulo: Abril Cultural 
  • Duque, Gonzaga (1988). A arte brasileira. pintura e escultura. Rio de Janeiro: s/ ed. 
  • Souza, Alcídio Mafra (ed.) (1985). O Museu Nacional de Belas Artes. São Paulo: Banco Safra. pp. 28–29. ISBN 85-7081-004-0