Saltar para o conteúdo

Usuário(a):Zécaetanu/A Lenda de Trentren Vilu e Caicai Vilu

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Lenda de Treng Treng Vilú(Xén Xén, Ten Ten, Theg theg ou Xeg Xeg, Vilú ou Filú)e Kay Kay Vilú (Koykoy, Coycoy, Vilú ou Filú) é um mito diluviano da cultura Mapuche. A Lenda fala de como Kaykay Vilú, a serpente do mar, irritado com os humanos fez o mar inundar a terra e como Treng Treng, salvou a humanidade da inundação[1].

O Epew (narrativa lendária em Mapudungum) explica como o arquipélago de Chilóe e as montanhas do sul do Chile vieram a ter sua geografia única. A lenda também explica a formação dos Tenten, morros que os mapuche consideram sagrados, e que existem em muitas províncias[2], onde se diz que os humanos teriam subido para sobreviver ao dilúvio[1].Algumas versões dão a Treng Treng e Kay Kay Vilú a forma de lagartos.[1] O mito está presente na cultura mapuche da atualidade e é conhecido em todo o território Mapuche.[3]A lenda esclarece pontos importantes da cultura Mapuche, como origem do povo mapuche e a origem do ritual do guillatun[1].Também explica a nomeação de algumas famílias Mapuche que levam o nome de criaturas marinhas.

A história de Treng Treng Vilú e Kaykay Vilú foi documentada já em 1606 pelo jesuíta Diego de Rosales em sua História General de el Reino de Chile.[4]

representação de Kaykay Vilú e Trentren Vilú

Mito[editar | editar código-fonte]

A lenda conta que um dia um homem pobre e simples, apareceu entre os mapuche alertando sobre a grande inundação que ocorreria, mas que estes não o escutaram[1]. Alternativamente, o próprio Treng Treng teria avisado aos mapuche dos acontecimentos e que eles deveriam subir para as colinas para escapar do dilúvio.

Depois de acordar de um longo sono a serpente marinha Kaykay se indignou com a ingratidão dos homens e quis destruí-los. Agitando sua cauda em forma de peixe, Kaykay criou um maremoto que inundou a terra[5][6].

Para se salvar os humanos subiram os montes. Quando não podiam mais subir escutaram o grito "Treng Treng", a serpente da terra que vinha em seu auxílio[7]. Com o seu grito, Treng Treng fazia subir a terra. Assim começou a batalha, enquanto Kaykay sibilava e subia os mares, Treng Treng sibilava e subia a terra.[8] Kakay continuou a gritar e a fazer subir as águas e Trentren, a responder elevando a terra[9], de tal modo que os Mapuche tiveram que cobrir a cabeça com callanas(panelas) para não morrerem queimados pelo sol. Entretanto, por estarem muito perto do sol muitos morreram ou no mínimo ficaram calvos.

Muitos humanos não conseguiram se salvar da elevação das águas. Os que se afogaram foram transformados por Treng Treng em peixes, criaturas marinhas e rochas. Padre Rosales afirma que estes humanos transformados mais tarde tiveram relações com os mapuche dando origem às famílias que levam nomes como (baleia), (lobo marinho), (peixe espada), etc.[10] Treng Treng também teria salvo um humano o transformando em Cahuelche[11].

Por fim, Treng Treng venceu Kaykay, que derrotado voltou ao mar[12]

O número de sobreviventes varia segundo a versão da lenda. Algumas versões sustentam que houveram quatro sobreviventes, outras versões sustentam que apenas um casal sobreviveu. Este casal teve quatro filhos, um dos quais foi sacrificado e esquartejado em quatro partes e lançando-as ao mar para acalmar a ira de Kay Kay, este teria sido o primeiro guilatun[1]. De toda forma, esses sobreviventes seriam os lituche ( em mapundungun, os princípios das gerações dos homens).  


A lenda conta que um dia saiu do mar uma enorme cobra que gritava "kai, kai, kai". O grito da cobra provocava que as águas do mar subissem, submergindo as terras onde viviam os mapuche[13][14]. Para salvar-se os mapuche subiram nos cumes das montanhas. Em reposta do alto dos cerros a serpente auxiliadora dos homens também soava seu grito "treng, treng, treng" e fazia a terra se elevar cada vez mais[1]. E assim as duas lutavam Kaikai silvando fazendo o mar subir e Trentren silvando para elevar os montes. Os mapuche fugiam para as colinas buscando a proteção de Trentren e a lenda conta que aqueles que foram alcançados pela água se transformaram em peixes ou em pedras. Os que conseguiram fugir, estando muito perto do sol, tiveram que se proteger com pratos de madeira, ainda assim, muitos morreram queimados, ou no mínimo ficaram carecas[1].

Treng Treng fazia a terra tremer e a levantava cada vez mais. Vendo-se vencido, Kai Kai se retirou para as profundezas do mar. .


Os humanos invocaram a ajuda de Trentren, que viu que tanto os humanos quanto os animais estavam desesperados. Por ordem de seu pai, era ela quem tinha que lhes dar sabedoria e proteção, então ela decidiu ajudar a humanidade. Ela ajudou as pessoas e os animais a escapar levantando-os nas costas e levando-os para as colinas[15]; e ela transformou aqueles que estavam presos nas águas em pássaros, para que pudessem escapar voando; os que estavam se afogando em peixes e mamíferos marinhos (sendo um deles a origem do cahuelche - golfinho falante), e os que já haviam se afogado em sumpall ( sereias e tritões mapuches). Aqueles que ficaram imobilizados pelo terror que sentiram, foram transformados em mankial (petrificados). Mas como o mar continuou a subir, Trentren teve que ordenar que as colinas aumentassem de altura para neutralizar o poder de Caicai. Irritado, Caicai começou a lutar contra Trentren em uma batalha titânica que durou muito tempo, até que ambas as cobras se cansaram[16]. Caicai foi parcialmente derrotado, pois não conseguiu inundar toda a terra, porém, as águas não voltaram completamente ao seu nível antigo, dando ao Chile sua geografia atual. [17]

Segundo a tradição de Chiloé, Caicai ficou satisfeito com a porção de terra que conseguira inundar, e delegou suas funções relativas ao mar ao grande Millalobo .

Segundo a tradição mapuche, após o cataclismo, todos continuaram sua vida tranquila; até que um dia foi Trentren quem se irritou com a atitude que os homens tiveram, e fez todos os vulcões entrarem em erupção e a população teve que se deslocar para outros lugares mais seguros[18]. A partir desse momento, Trentren continua a se manifestar por meio de terremotos e erupções vulcânicas, enquanto Caicai causa maremotos e inundações quando rola durante o sono.

Variação do Vale Central[editar | editar código-fonte]

Trentren é uma grande montanha em uma cordilheira que corre entre Galvarino e Temuco . Caicai era uma grande cobra/serpente com três braços, formados por árvores, cabeça de boi e cauda enraizada no chão. Caicai também era o chefe de todos os animais. No alto de Trentren havia um lago, que era a casa de Caicai. As pessoas vinham bater no rabo do Caicai com paus. Um dia o povo incomodou muito Caicai, e Caicai levou todos os animais embora. Caicai os conduziu pelos ares, e ninguém sabe para onde foram, mas são os espíritos protetores de todos os animais vivos. [19]

Região de Tolten[editar | editar código-fonte]

Trentren era um salão e também um bom espírito que ajudava as pessoas. Caicai era uma ave marinha, um espírito maligno, que fazia mal às pessoas. Um dia Caicai decidiu exterminar todos os mapuches e fez o mar subir até a terra ficar inundada. Muitas pessoas conseguiram escalar Trentren com seus animais, e os animais selvagens seguiram. Quando Caicai chamou "cai, cai, cai" o mar subiu até quase cobrir o topo do Trentren e ameaçar tudo que estava ali em cima. Ao ver isso, Trentren subiu mais alto. Isso continuou até que Trentren atingiu sua altura atual e toda a água do mar foi usada. Caicai foi espancado e todas as pessoas e animais que escalaram Trentren estavam a salvo. Foi assim que Trentren salvou os Mapuche e venceu o mal. [20]

Outras variações[editar | editar código-fonte]

Uma variante do mito conta que a ira de Caicai contra os seres humanos começou porque uma menina rejeitou seu filho, o Trauco .

Algumas comunidades Huilliche de Chiloé dizem que a batalha se originou porque uma filha do Trauco rejeitou o pillán Peripillán, e por isso seu filho decidiu se vingar[21].

Na Argentina existem outras versões posteriores do mito, que alteram os pais originais de ambas as cobras míticas, indicando que seriam irmãos e/ou filhos dos deuses Nguenechèn e Kueyen .

Antü e Peripillan[editar | editar código-fonte]

Algumas fontes destacam a característica dualista fortemente presente na cultura Mapuche e no mito das serpentes da água e da terra.[22] [23]Segundo os Mapuche, essa as cobra serpentes eram originalmente filhas dos dois pillans, Antü e Peripillan que foram convertidos em suas formas animais como punição. O filho de Peripillán se transformou na serpente marinha Caicai e o filho de Antu se transformou na serpente terrestre, protetora dos homens, Trentren. E assim como Antu e Peripillán são inimigos, também o são Treng Treng e Kay Kay [24]

Segundo os Mapuche, essas duas cobras eram originalmente filhas dos mais poderosos pillans, que foram convertidos em suas formas animais como punição. O filho de Peripillán se transformou em uma enorme cobra que seria Caicai e o filho de Antu se transformou em uma enorme cobra que seria Trentren. Eles seriam inimigos, assim como Antu e Peripillán[25]. Caicai foi enviado para viver no mar para ajudar a cuidar dele com os Ngen-ko (espíritos da água), e Trentren foi enviado para viver na terra para ajudar a cuidar da terra com os outros Ngen, e para ajudar a humanidade; assim, essas duas cobras foram usadas como um instrumento através do qual a vontade dos antigos espíritos Mapuche foi cumprida.

Coycoy[editar | editar código-fonte]

Alguns autores propõe uma origem externa do mito, apontando uma possível assimilação da cultura de povos vizinhos pelos mapuche. Alberto Rivera propõe uma possível origem Chono ou Cunco para o mito.[26]

Na língua mapundungun, o vocábulo Co designa água. Coy é o nome dado a seres marinhhos como o Ngenko, o Pincoy, a Pincoya. O nome Kaykay ou Koykoy estaria então relacionado à característica marítima da criatura. Alberto Trivera propõe que Kaykay pode ter sido uma divindade importante na cultura chono [27]

Tentén[editar | editar código-fonte]

Tentén também é o nome dado pelos Mapuche às colinas que teriam sido usadas para escapar das águas do dilúvio causado por Kaykay[1][28]. Segundo os Mapuche, Ten ten teria avisado aos humanos que subissem determinadas colinas para escapar da ira Kaykay(?). [29]Essas colinas seriam partes do corpo de Tentén Vilú, ou sua ruka(casa).[30]

Os morros Tenten geralmente apresentam três picos e os Mapuche os consideram insubmergíveis e por muito tempo os Mapuche continuaram se abrigando em sua nestes morros em casos de catástrofes naturais, como terremotos.[29][31]

Chiloé[editar | editar código-fonte]

Segundo os Mapuche, a formação do arquipélago de Chiloé também teria acontecido durante essa batalha entre Treng Treng e KaiKai Vilú.[30][11]

Simbolismo[editar | editar código-fonte]

a[32]

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

Na cena final do trailer de Nahuel and the Magic Book da Latido Films, o Caicai sobe ao oceano enquanto Nahuel abraça uma amiga inconsciente Fresia. [33]

Referências[editar | editar código-fonte]

[[Categoria:Mitologia mapuche]] [[Categoria:Mitologia chilota]]

  1. a b c d e f g h i Lenz, Rodolfo (21 de julho de 2010). «Tradiciones e ideas de los araucanos acerca de los terremotos». Anales de la Universidad de Chile (0). ISSN 0365-7779. doi:10.5354/0365-7779.1912.1213. Consultado em 15 de julho de 2023 
  2. Olivares, Miguel de (1864). Historia militar, civil y sagrada de Chile (em espanhol). [S.l.]: Impr. del Ferrocarril 
  3. «La historia de Tren Tren y Kai Kai Vilú: Más que un mito y leyenda – Territorio Ancestral» (em espanhol). Consultado em 15 de julho de 2023 
  4. SSCA, Departamento de Estudios (29 de abril de 2022). «Reseña bibliográfica: Buscando a Kay y Xeng Xeng Vilú desde la teatralidad mapuche - Claudia Toro Caberletti». Observatorio Cultural (em espanhol). Consultado em 15 de julho de 2023 
  5. Uribe, Humberto Marín. «Trentren y Caicai: Cosmovisión de un país de terremotos». Sociedad Chilena de Psicología en Emergencias y Desastres (em espanhol). Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
  6. Bascur Molina, Valentina Paz (22 de dezembro de 2019). «Kümedungun: Trajetórias de vida e a escrita de si de mulheres poetas Mapuche.». Jangada: crítica | literatura | artes (14): 121–140. ISSN 2317-4722. doi:10.35921/jangada.v1i14.236. Consultado em 15 de julho de 2023 
  7. Kössler-Ilg, Bertha (2000). Cuentan los araucanos: mitos, leyendas y tradiciones (em espanhol). [S.l.]: Editorial Del Nuevo Extremo 
  8. «Kai Kai y Treng Treng – Mapuche - Chile Precolombino» (em espanhol). Consultado em 15 de julho de 2023 
  9. Lassel, Adriana (1988). «El diluvio en la tradicion indigena chilena». América. Cahiers du CRICCAL (1): 209–220. doi:10.3406/ameri.1988.936. Consultado em 15 de julho de 2023 
  10. Colombres, Adolfo (1984). Seres sobrenaturales de la cultura popular argentina (em espanhol). [S.l.]: Ediciones Del Sol 
  11. a b I Miti di Chiloé. Internet Archive. [S.l.: s.n.] 2004 
  12. Paillal, José Millalén (2006). --Escucha, winka--!: cuatro ensayos de Historia Nacional Mapuche y un epílogo sobre el futuro (em espanhol). [S.l.]: Lom Ediciones 
  13. «Xenxenfilú». www.mapuche.info. Consultado em 20 de fevereiro de 2023 
  14. «Kai Kai y Treng Treng – Mapuche - Chile Precolombino» (em espanhol). Consultado em 7 de agosto de 2022 
  15. Uribe, Humberto Marín. «Trentren y Caicai: Cosmovisión de un país de terremotos». Sociedad Chilena de Psicología en Emergencias y Desastres (em espanhol). Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
  16. «Kai Kai y Treng Treng – Mapuche - Chile Precolombino» (em espanhol). Consultado em 7 de agosto de 2022 
  17. «Kai Kai y Treng Treng – Mapuche - Chile Precolombino» (em inglês). Consultado em 9 de julho de 2022 
  18. Uribe, Humberto Marín. «Trentren y Caicai: Cosmovisión de un país de terremotos». Sociedad Chilena de Psicología en Emergencias y Desastres (em espanhol). Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
  19. Faron, Louis C. (1963). «The Magic Mountain and Other Origin Myths of the Mapuche Indians of Central Chile». The Journal of American Folklore. 76 (301): 245–248. ISSN 0021-8715. JSTOR 538527. doi:10.2307/538527 
  20. Faron, Louis C. (1963). «The Magic Mountain and Other Origin Myths of the Mapuche Indians of Central Chile». The Journal of American Folklore. 76 (301): 245–248. ISSN 0021-8715. JSTOR 538527. doi:10.2307/538527 
  21. «Xenxenfilú». www.mapuche.info. Consultado em 20 de fevereiro de 2023 
  22. Navarro-Pinto, Víctor (junho de 2022). «Corrientes de pensamiento mágico en la Nueva Canción Chilena, el caso de "Cai Cai Vilú" de Víctor Jara». Revista musical chilena (237): 197–212. ISSN 0716-2790. doi:10.4067/S0716-27902022000100197. Consultado em 15 de julho de 2023 
  23. Grebe, María Ester (1 de janeiro de 1974). «Presencia del dualismo en la cultura y música mapuche». Revista Musical Chilena (em espanhol) (126-1): 47–79. ISSN 0717-6252. Consultado em 16 de julho de 2023 
  24. Uribe, Humberto Marín. «Trentren y Caicai: Cosmovisión de un país de terremotos». Sociedad Chilena de Psicología en Emergencias y Desastres (em espanhol). Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
  25. Uribe, Humberto Marín. «Trentren y Caicai: Cosmovisión de un país de terremotos». Sociedad Chilena de Psicología en Emergencias y Desastres (em espanhol). Consultado em 24 de fevereiro de 2023 
  26. Trivero Rivera, Alberto (2007). Los Primeros Pobladores de Chiloé (PDF). [S.l.: s.n.] p. 71. ISBN 91-89629-28-0 
  27. Trivero Rivera, Alberto (2007). Los Primeros Pobladores de Chiloé (PDF). [S.l.: s.n.] p. 71. ISBN 91-89629-28-0 
  28. Carrasco Muñoz, Hugo (5 de maio de 2012). «Manifestaciones literarias mapuches en la Historia General de el Reyno de Chile. Flandes Indiano, del R.P. Diego Rosales». Cultura - Hombre - Sociedad CUHSO (1). ISSN 0719-2789. doi:10.7770/cuhso-v3n1-art155. Consultado em 15 de julho de 2023 
  29. a b «La historia de Tren Tren y Kai Kai Vilú: Más que un mito y leyenda – Territorio Ancestral» (em espanhol). Consultado em 15 de julho de 2023 
  30. a b Navarro-Pinto, Víctor (junho de 2022). «Corrientes de pensamiento mágico en la Nueva Canción Chilena, el caso de "Cai Cai Vilú" de Víctor Jara». Revista musical chilena (237): 197–212. ISSN 0716-2790. doi:10.4067/S0716-27902022000100197. Consultado em 15 de julho de 2023 
  31. Boccara, Guillaume (1998). Guerre et ethnogenèse mapuche dans le Chili colonial: l'invention du soi (em francês). [S.l.]: L'Harmattan 
  32. «Tayiñ Mapuche Kimün, Epistemología Mapuche: sabiduría y conocimientos by Cátedra Indígena - UChile Indígena - Issuu». issuu.com (em inglês). Consultado em 20 de fevereiro de 2023 
  33. Nahuel and the magic book by German Acuña - Trailer no YouTube