Ajuda:Guia de edição/Acordo ortográfico
Este artigo explica como usar as regras do Acordo Ortográfico de 1990 na redação de artigos na Wikipédia.
Introdução
Como é sabido, na língua portuguesa têm coexistido duas formas de escrita diferentes: uma usada no Brasil[1] e outra nos restantes países.[2] Não sendo profundamente divergentes, as duas regras ortográficas apresentam algumas diferenças importantes que, segundo foi considerado, têm prejudicado a unidade essencial da língua portuguesa e o seu prestígio internacional.[3]
Em 1990, representantes de todos os países que têm o português como língua oficial reuniram-se em Lisboa e assinaram um tratado internacional para unificar a escrita do idioma: o Acordo Ortográfico de 1990. Apesar de inicialmente se ter dado 1994 como a data para a sua efetivação, sucessivos atrasos foram adiando até aos dias de hoje a verdadeira implementação das novas normas.
Algumas advertências
O Acordo Ortográfico de 1990, tal como todas as regras ortográficas, define exclusivamente a forma como as palavras são escritas. Nada mais. Assim:
- A pronúncia das palavras não é alterada: Até agora, no Brasil tem-se escrito idéia, pingüim e enjôo; com o Acordo Ortográfico passa a escrever-se ideia, pinguim e enjoo, mas isso em nada altera a pronúncia brasileira de tais palavras. O Acordo Ortográfico não muda a forma como as palavras são pronunciadas.
- As regras de sintaxe não são alteradas: Os brasileiros vão continuar a preferir usar o gerúndio (estou lendo este artigo) e os portugueses o infinitivo (estou a ler este artigo); o mesmo se passa com a colocação pronominal, onde brasileiros e portugueses manterão os seus hábitos. Nada disto é alterado pelo Acordo Ortográfico que tem a ver somente com a maneira de escrever as palavras.
- Os significados das palavras não são alterados, nem serão eliminadas ou criadas novas palavras: A palavra registrar não é hoje usada em Portugal, preferindo-se registar, que é pouco usada no Brasil. Os brasileiros designam por ônibus, o que para os portugueses é autocarro. Todas estas formas fazem parte da língua portuguesa e em nada são mudadas pelo Acordo Ortográfico. O Acordo não elimina palavras, nem interfere no uso ou significado de palavras, mas apenas na maneira como elas se escrevem.
- Todas as letras que se leem numa pronúncia culta da língua são mantidas: Ninguém passa a escrever fição, batéria, egício, oção ou adeto. Tudo o que se diz continua a escrever-se, pelo que a grafia continua a ser: ficção, bactéria, egípcio, opção e adepto. Quando há diferenças de pronúncia, por exemplo entre Portugal e o Brasil, admitem-se grafias duplas. Por exemplo, no Brasil o segundo c de cacto é pronunciado; em Portugal não é. Assim, os brasileiros escrevem cacto e os portugueses cato. O oposto se passa em relação a facto que é assim pronunciado em Portugal (pelo que se continua a escrever o c), enquanto no Brasil se diz e escreve fato (e assim continua a ser).
- Uma norma única para regulamentar a escrita em todos os países lusófonos: Até agora escrever cômico, tênis ou anistia em Portugal era considerado erro ortográfico. O mesmo se passava no Brasil para cómico, ténis e amnistia. Com o Acordo Ortográfico ambas as formas de escrever cada palavra passam a ser consideradas corretas em toda a Lusofonia, porque elas refletem uma dada pronúncia culta da língua.
O que se altera para todos os utilizadores da língua portuguesa
- Usam-se em antropónimos e topónimos originários de línguas estrangeiras e seus derivados; em siglas, símbolos e unidades de medida; em palavras correntes de origem estrangeira:
- Exemplos: Kant e kantiano; kg (quilograma); km (quilómetro); Kosovo e kosovar; kwanza; W (watt, tungsténio, oeste); Wagner e wagneriano; Washington e washingtoniano; windsurfe e windsurfista; Yd (jarda); yoga.
- Supressão de acentos
- Em palavras graves com ditongos tónicos oi na penúltima sílaba:
- Exemplos: asteroide; boia, heroico; espermatozoide; jiboia; joia; paleozoico. Nota: o acento continuará a ser usado em palavras oxítonas e monossílabas: herói, constrói, dói.
- Em formas verbais graves terminadas em -eem da 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo:
- Exemplos: creem; deem; descreem; leem; veem.
- Em palavras graves homógrafas de palavras com vogal tónica aberta ou fechada:
- Exemplos: para (forma do verbo parar); pelo (forma do verbo pelar); pelo (pilosidade); polo (substantivo); pera e pero (substantivos). Nota: o acento circunflexo mantém-se nas formas pôde (3.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo) que se diferencia da correspondente forma do presente do indicativo pode, e na forma verbal pôr, para assim a distinguir da proposição por.
- Supressão do hífen
- Na maior parte das locuções:
- Exemplos: cartão de visita; casca de noz; fim de semana; frente a frente; mão de obra; testa de ferro.
- Em compostos em que se perdeu a noção de composição:
- Exemplos: mandachuva; paraquedas.
- Em compostos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, duplicando-se a consoante:
- Exemplos: antirreligioso; autorrádio; autosserviço; antirrugas; contrarregra; contrarrelógio; contrassenso; minissaia; semirreta; ultrassónico.
- Em compostos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal diferente:
- Exemplos: agroindustrial; antiaéreo; autoestrada; extraescolar; intraósseo; plurianual; semiautomático.
- Em compostos com o prefixo co-, mesmo quando o segundo elemento começa por o:
- Exemplos: coadministração; coautor; codireção; coobrigação; coocorrência; coorganizador; coprodutor.
- Emprego do hífen
- Em compostos que designam espécies botânicas ou zoológicas:
- Exemplos: abóbora-menina; andorinha-do-mar; bem-me-quer; cobra-capelo; couve-flor; ervilha-de-cheiro; feijão-verde; formiga-branca.
- Em compostos em que o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa pela mesma vogal:
- Exemplos: anti-ibérico; contra-almirante; intra-arterial; micro-ondas; semi-interno.
- Em compostos com prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, h, m ou n:
- Exemplos: circum-navegação; pan-africano.
- Em compostos com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando o segundo elemento começa por r:
- Exemplos: hiper-realista; inter-racial; super-resistente.
O que se altera para os que usam o português brasileiro
Para além das alterações indicadas no ponto anterior, os utilizadores da norma brasileira devem ter em atenção as alterações seguintes:
- Supressão do trema
- Deixa de estar graficamente indicada a pronúncia do u em contexto do tipo -gu- e -qu-.
- Exemplos: aguentar; arguente; linguista; delinquente; frequente; sequência. Nota: o trema continuará a ser usado em vocábulos de origem estrangeira e seus derivados: Müller e mülleriano.
- Supressão de acentos
- Em palavras graves (paroxítonas) com ditongos tônicos ei na sílaba tônica:
- Exemplos: assembleia; boleia; Coreia; epopeia; europeia; ideia; onomatopeico; plateia; proteico; ureia. Nota: o acento continuará a ser usado em palavras oxítonas: anéis; papéis; bem como no ditongo aberto éu: chapéu; véu; céu; ilhéu.
- Em palavras graves (paroxítonas) com i e u tônicos, quando precedidas de ditongo:
- Exemplos: baiuca; boiuno; feiura; Bocaiuva; cauila.
- Em palavras graves (paroxítonas) terminadas em -oo:
- Exemplos: abençoo; enjoo; moo; povoo; voo.
O que se altera para os que usam o português europeu
Para além das alterações indicadas no ponto "O que se altera para todos os utilizadores da língua portuguesa", acima, os utilizadores de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste devem ter em atenção as alterações seguintes:
- Supressão das consoantes mudas
- Em sequências consonânticas -cc-:
- Exemplos: abstracionismo; acionamento; colecionador; confecionar; direcional; fracionar; lecionar; selecionar; transacionado. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: faccioso, friccionar, perfeccionismo.
- Em sequências consonânticas -cç-:
- Exemplos: ação; coleção; contração; correção; deteção; direção; distração; ereção; extração; fração; injeção; objeção; projeção; proteção; reação; seleção. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: convicção, ficção, fricção, sucção.
- Em sequências consonânticas -ct-:
- Exemplos: ativar; ator; atual; adjetivo; afeto; arquitetura; coletivo; correto; detetar; dialeto; direto; diretor; elétrico; espetáculo; exato; letivo; objetivo; objeto; projeto; refletir; teto. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: bactéria, compacto, convicto, facto, intelectual, invicta, lácteo, néctar, octógono, pacto, pictórico.
- Em sequências consonânticas -pc-:
- Exemplos: anticoncecional; dececionante; excecional; percecionismo; rececionista. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: capcioso, egípcio, núpcias, opcional.
- Em sequências consonânticas -pç-:
- Exemplos: aceção; adoção; deceção; interceção; receção. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: corrupção, erupção, interrupção, opção.
- Em sequências consonânticas -pt-:
- Exemplos: Egito; adotar; batismo; ótimo; otimismo, perentório. Nota: a consoante mantém-se sempre que é articulada: adepto, apto, eucalipto, inepto, rapto.
- Supressão do hífen
- No verbo haver acompanhado da preposição de:
- Exemplos: hei de; hás de; há de; heis de; hão de.
- Uso de inicial minúscula
- Nos meses e estações do ano:
- Exemplos: janeiro; fevereiro; março; abril; maio; junho; julho; agosto; setembro; outubro; novembro; dezembro; primavera; verão; outono; inverno.
- Nos pontos cardeais, colaterais e subcolaterais:
- Exemplos: norte; sul; este; oeste; nordeste; noroeste; sudeste; sueste; sudoeste; és-nordeste; nor-noroeste; oés-sudeste; su-sueste. Nota: mantém-se inicial maiúscula nas abreviaturas dos pontos cardeais e colaterais, bem como na designação de regiões com os mesmos nomes: Eu sou do Norte (de Portugal).
- Nas designações usadas para mencionar alguém cujo nome se desconhece:
- Exemplos: fulano; sicrano; beltrano.
Referências
- ↑ O Brasil tem-se regido pelas normas do Formulário Ortográfico de 1943, com as alterações introduzidas em 1971.
- ↑ Todos os países de língua portuguesa, com a exceção do Brasil, têm seguido o Acordo Ortográfico de 1945, ligeiramente alterado em 1973.
- ↑ Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - 1. Memória breve dos acordos ortográficos
Dicionários e vocabulários
- Dicionário da Língua Portuguesa - Acordo Ortográfico - dicionário em linha seguindo as regras do Acordo Ortográfico de 1990, da Porto Editora
- Vocabulário de Mudança - vocabulário com todas as palavras que mudam com o Acordo Ortográfico de 1990, do Portal da Língua Portuguesa.
Ver também
Bibliografia
- CASTELEIRO, João Malaca e CORREIA, Pedro Dinis. Atual: O Novo Acordo Ortográfico – O que vai mudar na grafia do português. Lisboa: Texto Editores, 2007. 32 p. ISBN 9789724737645
- Dicionário Editora da Língua Portuguesa 2009 - Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2008. 1728 p. ISBN 9789720014238
- GOMES, Francisco Álvaro. O Acordo Ortográfico - Exercícios práticos com propostas de soluções. Porto: Edições Flumen e Porto Editora, 2008. 255 p. ISBN 9789728895204
- Guia Prático do Acordo Ortográfico. Porto: Porto Editora, 2008. 32 p. ISBN 9789720319425
- JANSSEN, Maarten (org) et al. Ortografia em mudança. Vocabulário. As palavras que mudam com o Acordo Ortográfico. Instituto de Linguística Teórica e Computacional e Editorial Caminho, 2008. 159 p. ISBN 9789722119924
- Michaelis Dicionário Escolar Língua Portuguesa com Nova Ortografia. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008. 992 p. ISBN 9788506054505
- Novo Dicionário da Língua Portuguesa – Conforme Acordo Ortográfico. Lisboa: Texto Editores, 2007. 1653 p. ISBN 9789724734743
- Novo Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Conforme Acordo Ortográfico. Lisboa: Texto Editores, 2007. 2048 p. ISBN 9789724734750
- SILVA, Maurício. Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - o que muda, o que não muda. São Paulo: Editora Contexto, 2008. 96 p. ISBN 9788572444071
- TUFANO, Douglas. Guia Prático da Nova Ortografia. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008. 32 p. ISBN 9788506054642
- VIEIRA, Jair Lot. Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. São Paulo: Edipro, 2008. 128 p. ISBN 9788572836319
Ligações externas
- Acordo Ortográfico de 1990 - texto completo com as notas explicativas de todas as bases.