Manuel Vicente Alfredo da Costa

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Dr. Alfredo da Costa
Manuel Vicente Alfredo da Costa
Nome completo Manuel Vicente Alfredo da Costa
Conhecido(a) por Introduzir em Portugal técnicas de obstetrícia, assim como a colecistectomia, a operação de Estlander e o método de Volkmann para o tratamento do hidrocelo
Nascimento 28 de fevereiro de 1859
Margão, Goa, Índia Portuguesa
Morte 2 de abril de 1910 (51 anos)
Lapa, Lisboa, Portugal
Alma mater Escola Medico-Cirúrgica de Lisboa
Ocupação Médico, professor e obstetra
Notas Pioneiro da Obstetrícia em Portugal
Maternidade Alfredo da Costa.

Manuel Vicente Alfredo da Costa (Margão, Goa, 28 de fevereiro de 1859Lapa, Lisboa, 2 de abril de 1910), mais conhecido por Alfredo da Costa, foi um médico e professor de Medicina, pioneiro da obstetrícia em Portugal. O seu nome é recordado na designação da Maternidade Alfredo da Costa. Foi sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa e da Sociedade das Ciências Médicas.[1][2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Margão, na então Índia Portuguesa, filho de Bernardo Francisco Henriques da Costa (Margão, 12 de fevereiro de 1821 - Diu, 17 de fevereiro de 1896), goês católico, advogado, de ascendência brâmane, e de sua mulher (Lisboa, 15 de Abril de 1858) Luísa Melina Mazoni (Santiago do Chile, c. 1827 - fevereiro de 1881), filha de pai italiano e de mãe francesa. Jutamente com os pais, fixou-se em Portugal quando tinha 9 anos de idade.

Alfredo da Costa licenciou-se em Medicina, em 1884 na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Nesse mesmo ano apresentou a sua tese inaugural e três anos mais tarde, a sua tese de doutoramento: Sobre a natureza da febre puerperal.

Em 1885 foi nomeado cirurgião de banco no Hospital de São José, onde foi também director da enfermaria de Santa Maria Ana e onde instalou provisoriamente uma maternidade, iniciando uma orientação para esta área da medicina, a qual lhe veio a conferir o maior reconhecimento público. Entre 1887 e 1897, desempenhou várias funções na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa como a de demonstrador de cirurgia, de lente substituto e de regente de Anatomia Patológica e de Obstetrícia, sucedendo ao Dr. Abílio Mascarenhas, que fora seu professor.

A 21 de dezembro de 1889, aos 30 anos, contraiu matrimónio na Igreja dos Mártires, e, simultaneamente, na Igreja Luterana e Reformada Alemã, devido à diferença religiosa dos noivos, com Inês Andresen, protestante, natural do Porto, filha de Hans Heinrich Andresen, armador naval de origem dinamarquesa, e de sua mulher, Maria Leopoldina Guimarães de Amorim de Brito. Desta união nasceram dez filhos, nomeadamente: Maria Inês (1891), Luísa e Margarida, gémeas (1892), Alfredo Henrique (1893), Palmira (1897), Raquel (1898), Susana (1900), Jorge Henrique (1902), Guilherme Henrique (1905) e Carlos Henrique Andresen da Costa (1907).[3]

Foi Presidente e sócio-fundador da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, entre 1905 e 1906, organização onde foi também Vice-presidente e membro benemérito.

Desde sempre procurou ser um interveniente activo na sociedade científica da sua época, dando conferências e fazendo apresentações, entre as quais se destaca, pela sua actualidade e importância do conteúdo: A protecção às mulheres grávidas pobres. Foi um dos fundadores da Revista de Medicina e Cirurgia e sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. Como cultor do jornalismo médico colaborou também no Jornal da Sociedade das Ciências Médicas.

É-lhe atribuída a primeira colecistectomia e a operação de Estlander em Portugal, bem como a introdução do método de Volkmann na cura do hidrocelo. Distinguiu-se pela notável colaboração médico-social que deu à Rainha D. Amélia na luta contra a tuberculose, tendo presidido à Comissão Técnica de Assistência Nacional aos Tuberculosos.

Consciente dos problemas da sociedade em relação à saúde da grávida, projectou a criação de uma unidade hospitalar, que fosse responsável pelos partos e pela saúde preventiva das futuras mães, que lhes ensinasse os cuidados a ter com o bebé e que prestasse ainda assistência aos quadros mais graves dos recém-nascidos. Para além disso, desenhou algumas medidas de prevenção para a patologia das puérperas, ganhando um lugar de destaque perante a medicina social da época.

A sua morte precoce impediu-o de concluir o seu grande sonho – o de dotar Lisboa com uma maternidade exemplar e moderna. Essa maternidade viria, de facto, a ser inaugurada 22 anos após a sua morte (1932), sendo-lhe atribuído o nome de Maternidade Alfredo da Costa, em sua homenagem. Um facto revelador da importância da criação desta maternidade é de que, quase um século depois, ainda estamos longe da multiplicação adequada de instituições deste género, para cobrir as necessidades do país.

O Dr. Alfredo da Costa falece aos 51 anos, às 14h15 de 2 de abril de 1910, na sua residência, o número 4 da rua de São Félix, na fregueisa da Lapa, em Lisboa, vítima de cancro da língua e da laringe, tendo já perdido dois dos seus dez filhos, constando deixar apenas oito filhos menores. Não deixa testamento e é sepultado em jazigo de família, no Cemitério do Alto de São João, na mesma cidade.[4]

O acontecimento é noticiado na maioria dos jornais da época, podendo ler-se na edição de 3 de abril de 1910 do Diário Illustrado: "É com todo o sentimento que escrevemos as presentes linhas para noticiar — a vida jornalística tem d'estas dôres! — o fallecimento do sr. dr. Manuel Vicente Alfredo da Costa, que foi um estudante distinctissimo, um professor notavel e um chefe de familia exemplar. Trabalhador incansavel, coração todo generosidade, estimado entre os seus collegas, que o respeitavam pelo muito que sabia e pela sua bondade, dedicou-se á sua profissão que abraçara, e o doente convertia-se para elle n'um amigo, a quem se dedicava por completo. (...) O stoicismo de que deu mostras na sua horrivel doença, uma cyrrose na lingua, de que ha muito vinha soffrendo, mas que ultimamente se aggravou de maneira que se viu forçado a recorrer á intervenção cirurgica do professor Gluck, de Berlim, chega a assombrar (...) Outra vez partiu para Berlim... Nova operação mais profunda, mais radical... mas tudo inutil! O cancro invadira-lhe rapidamente a larynge... (...) Possuindo avultados bens de fortuna, cercado d'uma familia amantissima, respeitado e querido, parecia que a vida lhe parecia sorrir... (...) Na manhã d'hontem pediu para ver sua virtuosa esposa, os irmãos, cunhados, e o seu afilhado Dr. Álvaro Lopes, a quem era em extremo dedicado. De todos se despediu; e elle, que tantas provas de coragem dera, no derradeiro transe, succumbiu... (...) O seu funeral realiza-se hoje ás 2 horas da tarde."[5]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Infopédia. «Alfredo da Costa - Infopédia». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 24 de fevereiro de 2021 
  2. «Alfredo da Costa, Manuel Vicente (1859-1910)». medicosportugueses.blogs.sapo.pt. Consultado em 24 de fevereiro de 2021 
  3. «Livro de registo de casamentos da Paróquia dos Mártires (1889)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Consultado em 24 de fevereiro de 2021 
  4. «Livro de registo de óbitos da Paróquia da Lapa (1910)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Consultado em 24 de fevereiro de 2021 
  5. «Dr. Alfredo Costa» (PDF). Biblioteca Nacional Digital. Diário Illustrado. 3 de abril de 1910. Consultado em 25 de fevereiro de 2021