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Crise do subprime: diferenças entre revisões

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[[Image:Birmingham Northern Rock bank run 2007.jpg|thumb|250px|Em [[Birmingham]], no início de [[2007]], fila de clientes diante do Banco Northern Rock, o primeiro banco a sofrer intervenção na Grã-Bretanha, desde [[1860]].]]
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A '''Crise do ''Subprime''''' ou '''crise do [[crédito]] [[hipoteca|hipotecário]] de alto [[Risco (administração)|risco]]''' é uma [[crise financeira]] desencadeada em [[2006]], caracterizada pela [[falência|quebra]] de instituições de crédito que concediam empréstimos hipotecários de alto risco (em [[língua inglesa|inglês]]: ''subprimes'') nos [[Estados Unidos]], arrastando vários [[banco]]s para uma situação de [[insolvência]] e repercutindo fortemente sobre as [[Bolsa de valores|bolsas de valores]], em todo o mundo. A crise foi revelada ao mundo a partir de Fevereiro de [[2007]], configurando-se como uma crise financeira global.<ref>[http://www.msia.org.br/assuntos-asuntos-estrat-gicos/367.html Instituto europeu vê agravamento da crise sistêmica]</ref> <ref>[http://www.leap2020.eu/LEAP-2020-Annonce-Speciale-Crise-Systemique-Globale-Septembre-2008_a2140.html?PHPSESSID=d74a3cfd26cda6d16bf957ad516a15dc LEAP/2020 : Annonce Spéciale Crise Systémique Globale Septembre 2008] </ref>
A '''Crise do ''Subprime''''' ou '''A crise do [[crédito]] [[hipoteca|hipotecário]] de alto [[Risco (administração)|risco]]''' é uma [[crise financeira]] desencadeada em [[2006]], caracterizada pela [[falência|quebra]] de instituições de crédito que concediam empréstimos hipotecários de alto risco (em [[língua inglesa|inglês]]: ''subprimes'') nos [[Estados Unidos]]. Empréstimos ''subprimes'' eram principalmente empréstimos hipotecários concedidos a clientes ''ninja'', (do acrônimo em inglês ''"no income, no job, no assets"'' - sem renda, sem trabalho, sem patrimônio), e cujos pagamentos só poderiam ser honrados, mediante sucessivas renovações, enquanto o preço dos imóveis permanecesse em alta contínua. A queda nos preços de imóveis, a partir de 2006, arrastou vários [[banco]]s para uma situação de [[insolvência]], repercutindo fortemente sobre as [[Bolsa de valores|bolsas de valores]], em todo o mundo. A crise foi revelada ao mundo a partir de Fevereiro de [[2007]], configurando-se como uma crise financeira global.<ref>[http://www.msia.org.br/assuntos-asuntos-estrat-gicos/367.html Instituto europeu vê agravamento da crise sistêmica]</ref> <ref>[http://www.leap2020.eu/LEAP-2020-Annonce-Speciale-Crise-Systemique-Globale-Septembre-2008_a2140.html?PHPSESSID=d74a3cfd26cda6d16bf957ad516a15dc LEAP/2020 : Annonce Spéciale Crise Systémique Globale Septembre 2008] </ref>


Os ''[[subprime]]s'' são créditos bancários de alto risco. Incluem desde empréstimos hipotecários até cartões de créditos e aluguéis de carros, e eram concedidos, nos Estados Unidos, a clientes sem comprovação de renda e com histórico ruim de crédito. As taxas de concessão são pós-fixadas, isto é, são determinadas no momento do pagamento das dívidas. Por esta razão, com a disparada dos [[juros]] nos [[Estados Unidos]], muitos mutuários ficaram inadimplentes, isto é, sem condições de pagar as suas dívidas aos bancos.
Os ''[[subprime]]s'' são créditos bancários de alto risco. Eram basicamente financiamentos hipotecários de casas, muitas vezes conjugados com a emissão de [[cartão de crédito|cartões de crédito]] e de aluguéis de carros, e foram concedidos, nos Estados Unidos, a clientes ''ninja'', sem comprovação de renda, sem patrimônio, e com histórico ruim de crédito. As taxas de concessão são pós-fixadas, isto é, são determinadas no momento do pagamento das dívidas. Sua "racionalidade" baseava-se sobretudo na valorização contínua do preço dos imóveis, o que permitia a concessão de novos empréstimos, maiores, para liquidar os anteriores, em atraso. Por esta razão, com a disparada dos [[juros]] nos [[Estados Unidos]], e a consequente queda do preço dos imóveis, os mutuários ''ninja'' tornaram-se inadimplentes em massa, isto é, sem condições de renovar seus empréstimos para pagar as suas dívidas vencidas aos bancos.
;Securitização
Como esses empréstimos ''subprime'' são altamente ilíquidos, isso é, não geravam nenhum [[fluxo de caixa]] para os bancos que os concediam, esses bancos arquitetaram um instrumento para securitização desses créditos, criando um instrumento negociável que englobava lotes desses empréstimos, de forma a poder negociá-los no mercado financeiro internacional. Foi a venda e compra, em enormes quantidades, desses instrumentos de securitização de hipotecas ''subprime'' o que provocou o alastramento da crise, de origem estadunidense, para os principais bancos do [[Mundo]].


Para diluir o risco dessas operações duvidosas os bancos americanos credores juntaram-nas aos milhares, e transformaram a massa daí resultante em ''"derivativos negociáveis no mercado financeiro"'', cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas originais. Essa etapa do processo é chamada de securitização. Por uma razão que se desconhece, e que hoje, após o estouro, ainda deixa pasmos muitos analistas, tais papéis lastreados em quase nada obtiveram o aval das agências de risco internacionais, que deram a ele sua chancela máxima de ''AAA'', o que significa títulos tão sólidos quanto os do Tesouro dos EUA, e muito mais confiáveis do que os bônus do governo brasileiro. Com essa classificação benevolente de risco investidores, fundos de investimento e bancos passaram a disputar a aquisição esses títulos, no mundo todo.
; O castelo de cartas

Num episódio que, hoje revelado, mais parece ficção de qualidade duvidosa, esses ''"derivativos negociáveis no mercado financeiro"'', graças à sua classificação ''AAA'', obtida junto a agências mundias de classificação de crédito - de renome até então inquestionável - passaram a servir como garantia para tomada de novos empréstimos bilionários, alavancados na base de 20 para 1.

; A hora da verdade
A partir do [[18 de Julho]] de [[2007]], a crise do crédito hipotecário provocou uma [[crise de confiança]] geral no [[sistema financeiro]] e falta de [[liquidez]] bancária (falta de dinheiro disponível para saque imediato pelos correntistas do banco).
A partir do [[18 de Julho]] de [[2007]], a crise do crédito hipotecário provocou uma [[crise de confiança]] geral no [[sistema financeiro]] e falta de [[liquidez]] bancária (falta de dinheiro disponível para saque imediato pelos correntistas do banco).


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Na seqüência, temendo que a crise tocasse a esfera da economia real, os [[Banco Central|Bancos Centrais]] foram conduzidos a injetar [[liquidez]] (dinheiro) no mercado interbancário, para evitar o [[efeito dominó]], com a quebra de outros bancos, em cadeia, e que a crise se ampliasse em escala mundial.
Na seqüência, temendo que a crise tocasse a esfera da economia real, os [[Banco Central|Bancos Centrais]] foram conduzidos a injetar [[liquidez]] (dinheiro) no mercado interbancário, para evitar o [[efeito dominó]], com a quebra de outros bancos, em cadeia, e que a crise se ampliasse em escala mundial.


==Previsões: tragédia anunciada==

Já há tempos vários acadêmicos, analistas e investidores experientes, dentre eles [[George Soros]], vinham alertando para a crise anunciada, sem que esses alertas tivessem despertado a atenção das autoridades financeiras estadunidenses. Já em março de [[2007]] um estudo publicado pela Universidade de Wharton, descreveu a crise que se avizinhava exatamente como veio a ocorrer: ''"As coisas podem piorar, adverte Wachter. Se as taxas de juros subirem, um volume cada vez maior de proprietários de casas pode ficar inadimplente, isto é, sem condições de honrar os empréstimos contratados a taxas flutuantes agressivas em anos recentes, obrigando-os a oferecer seus imóveis no mercado. A oferta abundante pressionaria para baixo os preços das casas compradas também a taxas prime, ou preferenciais. Com a estabilização ou queda dos preços, os proprietários não poderiam mais recorrer ao refinanciamento para converter em dinheiro o montante correspondente à valorização do seu imóvel, interferindo dessa forma nos gastos do consumidor"'' <ref name=WHARTON>[http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=1304&language=portuguese&specialId= UniversiaKnowledge de Wharton. ''Tremores no mercado hipotecário de crédito ''subprime'': presságios de um futuro terremoto no setor?'', 7 de março de 2007]</ref>.
==Auge==
==Auge==
Em [[agosto]] e [[setembro]] de [[2008]], a crise, acumulada deste 2007, chegou ao auge, com a [[estatização]] dos gigantes do mercado de empréstimos pessoais e hipotecas - a ''Federal National Mortgage Association'' (FNMA), conhecida como "[[Fannie Mae]]", e a ''Federal Home Loan Mortgage Corporation'' (FHLMC), apelidada de "[[Freddie Mac]]" - que estavam quebradas. Logo em seguida, veio o pedido de [[concordata]] do tradicional banco de investimentos [[Lehman Brothers]], com mais de 150 anos de existência e um dos pilares financeiros de [[Wall Street]], e a venda, ao [[ Bank of America]], da corretora [[Merrill Lynch]], uma das maiores do mundo. <ref>[http://edition.cnn.com/2008/POLITICS/09/15/wall.street.candidates/index.html CNN]</ref>
Em [[agosto]] e [[setembro]] de [[2008]], a crise, acumulada deste 2007, chegou ao auge, com a [[estatização]] dos gigantes do mercado de empréstimos pessoais e hipotecas - a ''Federal National Mortgage Association'' (FNMA), conhecida como "[[Fannie Mae]]", e a ''Federal Home Loan Mortgage Corporation'' (FHLMC), apelidada de "[[Freddie Mac]]" - que estavam quebradas. Logo em seguida, veio o pedido de [[concordata]] do tradicional banco de investimentos [[Lehman Brothers]], com mais de 150 anos de existência e um dos pilares financeiros de [[Wall Street]], e a venda, ao [[ Bank of America]], da corretora [[Merrill Lynch]], uma das maiores do mundo. <ref>[http://edition.cnn.com/2008/POLITICS/09/15/wall.street.candidates/index.html CNN]</ref>
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==Impactos no Brasil==
==Impactos no Brasil==
{{Ver artigo principal|[[Crise econômica de 2008]]}}

Logo após a Câmara de Representantes dos EUA ter rejeitado a proposta governamental de socorro ao setor financeiro, em 29 de setembro, a [[Bolsa de Valores de São Paulo]], a terceira maior do mundo em valor de mercado,<ref>[http://www.bmfbovespa.com.br/portugues/QuemSomos.asp Site da Bovespa]</ref>, chegou a cair 10,16% (a 45.622,61 pontos) e teve suas operações interrompidas.
Logo após a Câmara de Representantes dos EUA ter rejeitado a proposta governamental de socorro ao setor financeiro, em 29 de setembro, a [[Bolsa de Valores de São Paulo]], a terceira maior do mundo em valor de mercado,<ref>[http://www.bmfbovespa.com.br/portugues/QuemSomos.asp Site da Bovespa]</ref>, chegou a cair 10,16% (a 45.622,61 pontos) e teve suas operações interrompidas.


Mas, de modo geral, os economistas acreditam que seja muito cedo para determinar o impacto da crise, a longo prazo, no Brasil. A curto prazo, o país parece estar numa posição "confortável" - assim como vários outros [[países emergentes]] - já que tem obtido sucessivos [[superávit|superávits]] fiscais e o governo tem sido cauteloso, mantendo altas taxas de [[juros]] e baixas taxas de [[inflação]]. Assim, de imediato, a economia brasileira não deve sofrer impactos muito violentos.
Mas, de modo geral, os economistas acreditam que seja muito cedo para determinar o impacto da crise, a longo prazo, no Brasil. A curto prazo, o país parece estar numa posição "confortável" - assim como vários outros [[países emergentes]] - já que tem obtido sucessivos [[superávit|superávits]] fiscais e o governo tem sido cauteloso, mantendo altas taxas de [[juros]] e baixas taxas de [[inflação]]. Assim, de imediato, a economia brasileira não deve sofrer impactos muito violentos.


Todavia, as exportações - que dependem de fontes externas de financiamento - podem sofrer imediatamente os efeitos da redução da oferta internacional de crédito. Uma eventual diminuição das exportações tende a repercutir negativamente sobre o setor produtivo - a famosa [[economia real]].
Todavia, as exportações - que dependiam de fontes externas de financiamento - sofreram imediatamente os efeitos da redução da oferta internacional de crédito. Para neutralizar isso o governo brasileiro vem ativamente liberando, através de seus órgãos governamentais, como o [[Banco Central]] - que liberou depósitos compulsórios de forma dirigida - do [[BNDES]], que ampliou substancialmente suas linhas de cŕedito a exportadores, e de suas empresas de economia mista, como o [[Banco do Brasil]] e a [[Caixa Econômica Federal]], cada vez mais recursos para financiamento de exportações. Uma eventual diminuição das exportações tende a repercutir negativamente sobre o setor produtivo - a famosa [[economia real]].


Espera-se, portanto, algum grau de desaceleração do crescimento do [[PIB]] do Brasil. A magnitude dessa desaceleração dependeria também, segundo analistas, do impacto dessa mesma crise sobre a [[China]]; ou seja, enquanto a economia chinesa continuar em crescimento acelerado, não deve haver abalos violentos no Brasil.<ref>[http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080916_bolsasreflexobrasil.shtml BBC Brasil: Impacto da crise na China é chave para Brasil, diz economista] </ref> No entanto, sendo a China uma grande exportadora para os Estados Unidos, é possível que haja uma desaceleração - estimada em cerca de 1% - no crescimento do [[PIB]] chinês. <ref>[http://portalexame.abril.uol.com.br/economia/m0168464.html Sem pacote, recessão pode se tornar mundial, dizem economistas ]</ref>
Espera-se, portanto, algum grau de desaceleração do crescimento do [[PIB]] do Brasil. A magnitude dessa desaceleração dependeria também, segundo analistas, do impacto dessa mesma crise sobre a [[China]]; ou seja, enquanto a economia chinesa continuar em crescimento acelerado, não deve haver abalos violentos no Brasil.<ref>[http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/09/080916_bolsasreflexobrasil.shtml BBC Brasil: Impacto da crise na China é chave para Brasil, diz economista] </ref> No entanto, sendo a China uma grande exportadora para os Estados Unidos, é possível que haja uma desaceleração - estimada em cerca de 1% - no crescimento do [[PIB]] chinês. <ref>[http://portalexame.abril.uol.com.br/economia/m0168464.html Sem pacote, recessão pode se tornar mundial, dizem economistas ]</ref>
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De acordo com o brasilianista [[Thomas Skidmore]], o [[sistema financeiro]] no Brasil está ''"muito mais sólido que nos EUA (...) O Brasil teve um período de ''[[boom]]'' extremamente bem sucedido com as exportações para a [[Ásia]] e a [[Europa]] e por isso há relativamente pouca razão para se preocupar com a crise de [[Wall Street]]." ''
De acordo com o brasilianista [[Thomas Skidmore]], o [[sistema financeiro]] no Brasil está ''"muito mais sólido que nos EUA (...) O Brasil teve um período de ''[[boom]]'' extremamente bem sucedido com as exportações para a [[Ásia]] e a [[Europa]] e por isso há relativamente pouca razão para se preocupar com a crise de [[Wall Street]]." ''


Entretanto, se o quadro atual da crise sistêmica se deteriorar dramaticamente, um eventual colapso do sistema financeiro global arrastaria não somente o Brasil mas também a [[Ásia]] e todos os [[País emergente|mercados emergentes]].
Entretanto, se o quadro atual da crise sistêmica se deteriorar dramaticamente, um inimaginável colapso total do sistema financeiro global arrastaria o [[Mundo]] para uma crise sem precedentes, que uma quebra generalizada no sistema financeiro internacional provocaria a virtual paralisação da economia real.


==Referências==
==Referências==
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== {{Ver também}} ==
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* [[Crise econômica de 2008]]
* [[Capital financeiro]]
* [[Capital financeiro]]
* [[Bolha financeira]]
* [[Bolha financeira]]

Revisão das 19h06min de 9 de novembro de 2008

Em Birmingham, no início de 2007, fila de clientes diante do Banco Northern Rock, o primeiro banco a sofrer intervenção na Grã-Bretanha, desde 1860.

A Crise do Subprime ou A crise do crédito hipotecário de alto risco é uma crise financeira desencadeada em 2006, caracterizada pela quebra de instituições de crédito que concediam empréstimos hipotecários de alto risco (em inglês: subprimes) nos Estados Unidos. Empréstimos subprimes eram principalmente empréstimos hipotecários concedidos a clientes ninja, (do acrônimo em inglês "no income, no job, no assets" - sem renda, sem trabalho, sem patrimônio), e cujos pagamentos só poderiam ser honrados, mediante sucessivas renovações, enquanto o preço dos imóveis permanecesse em alta contínua. A queda nos preços de imóveis, a partir de 2006, arrastou vários bancos para uma situação de insolvência, repercutindo fortemente sobre as bolsas de valores, em todo o mundo. A crise foi revelada ao mundo a partir de Fevereiro de 2007, configurando-se como uma crise financeira global.[1] [2]

Os subprimes são créditos bancários de alto risco. Eram basicamente financiamentos hipotecários de casas, muitas vezes conjugados com a emissão de cartões de crédito e de aluguéis de carros, e foram concedidos, nos Estados Unidos, a clientes ninja, sem comprovação de renda, sem patrimônio, e com histórico ruim de crédito. As taxas de concessão são pós-fixadas, isto é, são determinadas no momento do pagamento das dívidas. Sua "racionalidade" baseava-se sobretudo na valorização contínua do preço dos imóveis, o que permitia a concessão de novos empréstimos, maiores, para liquidar os anteriores, em atraso. Por esta razão, com a disparada dos juros nos Estados Unidos, e a consequente queda do preço dos imóveis, os mutuários ninja tornaram-se inadimplentes em massa, isto é, sem condições de renovar seus empréstimos para pagar as suas dívidas vencidas aos bancos.

Securitização

Como esses empréstimos subprime são altamente ilíquidos, isso é, não geravam nenhum fluxo de caixa para os bancos que os concediam, esses bancos arquitetaram um instrumento para securitização desses créditos, criando um instrumento negociável que englobava lotes desses empréstimos, de forma a poder negociá-los no mercado financeiro internacional. Foi a venda e compra, em enormes quantidades, desses instrumentos de securitização de hipotecas subprime o que provocou o alastramento da crise, de origem estadunidense, para os principais bancos do Mundo.

Para diluir o risco dessas operações duvidosas os bancos americanos credores juntaram-nas aos milhares, e transformaram a massa daí resultante em "derivativos negociáveis no mercado financeiro", cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas originais. Essa etapa do processo é chamada de securitização. Por uma razão que se desconhece, e que hoje, após o estouro, ainda deixa pasmos muitos analistas, tais papéis lastreados em quase nada obtiveram o aval das agências de risco internacionais, que deram a ele sua chancela máxima de AAA, o que significa títulos tão sólidos quanto os do Tesouro dos EUA, e muito mais confiáveis do que os bônus do governo brasileiro. Com essa classificação benevolente de risco investidores, fundos de investimento e bancos passaram a disputar a aquisição esses títulos, no mundo todo.

O castelo de cartas

Num episódio que, hoje revelado, mais parece ficção de qualidade duvidosa, esses "derivativos negociáveis no mercado financeiro", graças à sua classificação AAA, obtida junto a agências mundias de classificação de crédito - de renome até então inquestionável - passaram a servir como garantia para tomada de novos empréstimos bilionários, alavancados na base de 20 para 1.

A hora da verdade

A partir do 18 de Julho de 2007, a crise do crédito hipotecário provocou uma crise de confiança geral no sistema financeiro e falta de liquidez bancária (falta de dinheiro disponível para saque imediato pelos correntistas do banco).

Mesmo os bancos que não trabalhavam com os chamados "créditos podres" foram atingidos. O banco britânico Northern Rock, por exemplo, não tinha hipoteca-lixo em seus livros. Porém, adotava uma estratégia arriscada - tomar dinheiro emprestado a curto prazo (a cada três meses) às instituições financeiras, para emprestá-lo a longo prazo (em média, vinte anos), aos compradores de imóveis. Repentinamente, as instituições financeiras deixaram de emprestar dinheiro ao Northern Rock, que, assim, no início de 2007, acabou por se tornar o primeiro banco britânico a sofrer intervenção governamental, desde 1860. [3]

Na seqüência, temendo que a crise tocasse a esfera da economia real, os Bancos Centrais foram conduzidos a injetar liquidez (dinheiro) no mercado interbancário, para evitar o efeito dominó, com a quebra de outros bancos, em cadeia, e que a crise se ampliasse em escala mundial.

Previsões: tragédia anunciada

Já há tempos vários acadêmicos, analistas e investidores experientes, dentre eles George Soros, vinham alertando para a crise anunciada, sem que esses alertas tivessem despertado a atenção das autoridades financeiras estadunidenses. Já em março de 2007 um estudo publicado pela Universidade de Wharton, descreveu a crise que se avizinhava exatamente como veio a ocorrer: "As coisas podem piorar, adverte Wachter. Se as taxas de juros subirem, um volume cada vez maior de proprietários de casas pode ficar inadimplente, isto é, sem condições de honrar os empréstimos contratados a taxas flutuantes agressivas em anos recentes, obrigando-os a oferecer seus imóveis no mercado. A oferta abundante pressionaria para baixo os preços das casas compradas também a taxas prime, ou preferenciais. Com a estabilização ou queda dos preços, os proprietários não poderiam mais recorrer ao refinanciamento para converter em dinheiro o montante correspondente à valorização do seu imóvel, interferindo dessa forma nos gastos do consumidor" [4].

Auge

Em agosto e setembro de 2008, a crise, acumulada deste 2007, chegou ao auge, com a estatização dos gigantes do mercado de empréstimos pessoais e hipotecas - a Federal National Mortgage Association (FNMA), conhecida como "Fannie Mae", e a Federal Home Loan Mortgage Corporation (FHLMC), apelidada de "Freddie Mac" - que estavam quebradas. Logo em seguida, veio o pedido de concordata do tradicional banco de investimentos Lehman Brothers, com mais de 150 anos de existência e um dos pilares financeiros de Wall Street, e a venda, ao Bank of America, da corretora Merrill Lynch, uma das maiores do mundo. [5]

A cascata de falências e quebras de instituições financeiras provocou a maior queda do índice Dow Jones e de bolsas de valores internacionais desde os atentados de 11 de setembro de 2001.[6]

Em 16 de setembro, o Lehman Brothers fechou um acordo para vender partes do banco para o britânico Barclays, segundo o jornal Financial Times[7].

No mesmo dia, as ações da American International Group Inc. (AIG), a maior empresa seguradora dos Estados Unidos, caíram 60% na abertura do mercado. Ao longo do dia, o Federal Reserve tentou convencer os bancos J. P. Morgan e Goldman Sachs a conceder um crédito de emergência de US$ 75 bilhões para ajudar a AIG. [8] Enquanto isso, a Moody's e a Standard & Poor's rebaixavam a classificação dos créditos da empresa, em razão das expectativas de novos prejuízos na área de seguros de hipotecas.

Segundo o analista de negócios da BBC, Greg Wood, um possível fracasso na operação para salvar a AIG seria duas vezes pior do que a quebra do Lehman Brothers. No entanto, segundo o New York Times, a AIG conseguiria rapidamente a proteção necessária para evitar a falência.[9] [10]

De fato, em 17 de setembro, o Federal Reserve anunciou um empréstimo de US$ 85 bilhões para a AIG. Em troca, o governo assume o controle de quase 80% das ações da empresa e o gerenciamento dos negócios. [11]

No Brasil, cogitou-se que o Banco Itaú viesse a absorver a filial brasileira da Merrill Lynch, e que o Unibanco pudesse vir a aumentar a sua participação na filial brasileira da AIG.[12]

Em 29 de setembro, a Câmara de Representantes dos Estados Unidos rejeitou o pacote de medidas de ajuda governamental ao setor financeiro, por 228 votos contra e 205 a favor. O pacote previa a liberação de recursos do Tesouro, de até US$ 700 bi, para a compra de títulos podres de crédito hipotecário. O governo ficaria com ações das instituições socorridas. As instituições financeiras seriam taxadas se o governo tivesse perdas por mais de cinco anos após a operação de salvamento. [13]

As análises do New York Times e do Financial Times, assim como as do Fundo Monetário Internacional, vão na mesma direção: a administração da crise deve consumir mais uns dois anos. [14]

Posteriormente, foram introduzidas algumas modificações [15] no pacote de socorro aos bancos, de modo a atenuar seu aspecto de presente a CEOs inescrupulosos' [16]. O custo total foi ampliado de US$ 700 bilhões para US$ 850 bilhões, dos quais até US$ 700 bilhões serão usados para comprar títulos podres, conforme o projeto original. Outros US$ 150 bilhões foram acrescentados pelo Senado, na forma de cortes de impostos e incentivos fiscais.[17]

Após uma intensa campanha de pressão, que envolveu o presidente George W. Bush, o secretário do Tesouro, Henry Paulson, e o presidente do Federal Reserve, Ben Bernankeo, além dos candidatos à Presidência dos EUA, Barack Obama (Partido Democrata) e John McCain (Partido Republicano), o Senado dos Estados Unidos aprovou o projeto, em 1º de outubro, por 74 votos a favor e 25 contra. O pacote voltou à Câmara, para ser votado novamente, sendo aprovado e sancionado pelo presidente Bush.

Mesmo aprovado, o pacote de US$ 700 bilhões, proposto pelo governo Bush, não deve dissipar as incertezas, avalia o jornal Washington Post. Na mesma linha, o Wall Street Journal afirmou que o pacote não resolveria o problema fundamental da crise do setor imobiliário. Segundo o WSJ, o preço dos imóveis continuará caindo, pois os principais sustentáculos do crescimento da economia - gastos dos consumidores, empresas e governo e as exportações - continuam se esfarelando (...). A demanda externa por bens americanos, que ajudou o setor industrial a evitar uma desaceleração mais profunda este ano, deve secar à medida que as maiores economias mundiais flertam com a recessão e nações de rápida expansão, como China e Índia perdem o pulso. Na melhor das hipótes, os analistas esperam um aumento da taxa de desemprego nos EUA, de 6,1% para 8%.

Impactos no Brasil

Ver artigo principal: Crise econômica de 2008

Logo após a Câmara de Representantes dos EUA ter rejeitado a proposta governamental de socorro ao setor financeiro, em 29 de setembro, a Bolsa de Valores de São Paulo, a terceira maior do mundo em valor de mercado,[18], chegou a cair 10,16% (a 45.622,61 pontos) e teve suas operações interrompidas.

Mas, de modo geral, os economistas acreditam que seja muito cedo para determinar o impacto da crise, a longo prazo, no Brasil. A curto prazo, o país parece estar numa posição "confortável" - assim como vários outros países emergentes - já que tem obtido sucessivos superávits fiscais e o governo tem sido cauteloso, mantendo altas taxas de juros e baixas taxas de inflação. Assim, de imediato, a economia brasileira não deve sofrer impactos muito violentos.

Todavia, as exportações - que dependiam de fontes externas de financiamento - sofreram imediatamente os efeitos da redução da oferta internacional de crédito. Para neutralizar isso o governo brasileiro vem ativamente liberando, através de seus órgãos governamentais, como o Banco Central - que liberou depósitos compulsórios de forma dirigida - do BNDES, que ampliou substancialmente suas linhas de cŕedito a exportadores, e de suas empresas de economia mista, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, cada vez mais recursos para financiamento de exportações. Uma eventual diminuição das exportações tende a repercutir negativamente sobre o setor produtivo - a famosa economia real.

Espera-se, portanto, algum grau de desaceleração do crescimento do PIB do Brasil. A magnitude dessa desaceleração dependeria também, segundo analistas, do impacto dessa mesma crise sobre a China; ou seja, enquanto a economia chinesa continuar em crescimento acelerado, não deve haver abalos violentos no Brasil.[19] No entanto, sendo a China uma grande exportadora para os Estados Unidos, é possível que haja uma desaceleração - estimada em cerca de 1% - no crescimento do PIB chinês. [20]

Alguns observadores afirmam que os Estados Unidos estão mergulhados na pior crise desde 1929. Segundo outros, na prática, a economia americana já está em recessão - embora não se saiba ao certo quão profunda será ou quanto tempo vai durar .

De acordo com o brasilianista Thomas Skidmore, o sistema financeiro no Brasil está "muito mais sólido que nos EUA (...) O Brasil teve um período de boom extremamente bem sucedido com as exportações para a Ásia e a Europa e por isso há relativamente pouca razão para se preocupar com a crise de Wall Street."

Entretanto, se o quadro atual da crise sistêmica se deteriorar dramaticamente, um inimaginável colapso total do sistema financeiro global arrastaria o Mundo para uma crise sem precedentes, já que uma quebra generalizada no sistema financeiro internacional provocaria a virtual paralisação da economia real.

Referências

Ver também

Ligações externas