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Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
Coluna do dicionário
Autor(es)Antônio Houaiss
IdiomaLíngua portuguesa
PaísBrasil
GêneroDicionário
EditoraInstituto Antônio Houaiss
Editora Objetiva
FormatoLivro/digital
Lançamento2001

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é um dicionário da língua portuguesa compilado pelo lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss. Concebido como uma obra de referência para o mundo lusófono, tem como objetivo fornecer o registro mais completo do vocabulário português globalmente e é considerado um dos projetos lexicográficos mais ambiciosos já realizados na língua.

História

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O projeto foi idealizado em 1985 pelo filólogo, diplomata e lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss, que pretendia produzir o dicionário mais completo da língua portuguesa.[1] A iniciativa previa a criação de um "Dicionário Geral da Língua Portuguesa", documentando o vocabulário utilizado na Europa, América Latina, África e Ásia.[2]

Os trabalhos avançaram por oito anos até 1992, quando foram suspensos devido a dificuldades financeiras.[1][3] O projeto foi retomado em 1995 por meio de uma parceria entre o Instituto Antônio Houaiss e a editora Objetiva,[4] com apoio do diretor do instituto, Francisco Melo Franco, e do lexicógrafo-chefe Mauro Villar.[5][6] Foi organizada uma equipe editorial de grande porte, composta por cerca de 140[5] a 150 especialistas, incluindo lexicógrafos, etimologistas, redatores, professores, datadores e revisores do Brasil, Portugal, Angola e Timor-Leste.[1][4][7]

Houaiss morreu em 7 de março de 1999,[7] após 15 anos de trabalho, com aproximadamente 70% do dicionário concluído. Para orientar a conclusão da obra, Houaiss deixou um manual editorial detalhado de cem páginas. A parte restante foi finalizada pela equipe editorial, auxiliada por um banco de dados computadorizado que facilitou a coordenação.[1]

A primeira edição do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa foi publicada no segundo semestre de 2001.[1] O volume continha cerca de 228 500 entradas, 382 mil definições, 415 500 sinônimos e 26 400 antônimos,[5] superando outros dicionários em escala por dezenas de milhares de entradas. Comparado aos dicionários Aurélio e Michaelis, oferecia substancialmente mais material lexical,[8] com estimativas sugerindo que continha 93% mais informações que seu concorrente mais próximo.[4]

O dicionário foi concebido como uma obra lusófona, registrando vocabulário regional do português falado no Brasil, Açores, Portugal, Madeira, Timor Leste, Macau, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.[3][5] Aproximadamente 45 mil entradas eram tinham origem no Nheengatu ou no Tupi.[9] Além do material linguístico, a obra possui caráter enciclopédico, abrangendo temas científicos, artísticos e humanísticos, bem como entradas biográficas.[8]

Fisicamente, a edição de 2001 consistia em um único volume de 3 008 páginas, pesando 3,8 quilos. Foi impressa na Itália, já que nenhuma editora brasileira possuía os recursos técnicos para produzir um volume de tamanho tão grande.[8] O projeto envolveu investimentos de aproximadamente 7 milhões de reais pelo Instituto Antônio Houaiss[3] e 4 200 000 de reais pela editora Objetiva.[6] Entre as inovações estavam o registro sistemático do uso mais antigo conhecido de palavras, a documentação da evolução semântica e informações completas de conjugação para mais de 15 mil verbos.[10][4] Além disso, o dicionário fornecia listas de formantes gregos e latinos para usuários interessados na criação de neologismos.[6]

Uma versão adaptada para o português europeu foi desenvolvida em Lisboa sob a direção de João Malaca Casteleiro, com a edição brasileira apresentado como informação suplementar, invertendo a apresentação da versão original. Uma versão em CD-ROM foi planejada imediatamente após o lançamento impresso, assim como uma edição escolar avançada, programada para outubro e novembro, respectivamente.[1][3] Em janeiro de 2003, volumes complementares foram publicados, incluindo um dedicado a sinônimos e antônimos, o Dicionário Houaiss – Sinônimos e Antônimos, e outro voltado à conjugação de verbos e ao uso de preposições, Dicionário Houaiss Verbos – Conjugação e Uso de Preposições.[11]

A versão eletrônica, conhecida como Dicionário Eletrônico Houaiss (DEH), foi lançada no início dos anos 2000 e rapidamente se tornou amplamente utilizada. Introduziu a navegação por hipertexto e ofereceu múltiplos modos de consulta, incluindo visualizações tradicionais, expressas e interativas. Uma edição online foi lançada no portal brasileiro Universo Online em agosto de 2004, permitindo aos assinantes acesso completo ao conteúdo do dicionário.[4] Em 2005, o jornal português Diário de Notícias distribuiu uma edição multivolume em Portugal.[5] Uma edição especializada em Música Popular Brasileira, o Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira, surgiu em 2006 em parceria com o Instituto Cravo Albin, contendo 5 322 entradas.[12]

Uma edição condensada, com cerca de 146 mil entradas foi publicada em 2009,[13] adaptada para refletir as mudanças introduzidas pelo Acordo Ortográfico de 1990.[10] Desde então, a edição online continua a ser atualizada, com novas palavras como mensalão e mensaleiro incluídas em 4 de dezembro de 2012, após o escândalo político homônimo. O lexicógrafo-chefe Mauro Villar afirmou que o principal critério para a inclusão de novas entradas é o número de referências online de uma palavra. Segundo ele, uma vez que um termo atinge um limite fixo de ocorrências, ele é considerado para inclusão, embora o número exato não tenha sido divulgado, e outros critérios adicionais também são levados em consideração.[14]

Recepção

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Aquando do seu lançamento, foi imediatamente reconhecido como um marco na lexicografia portuguesa pela sua amplitude e orientação internacional.[7][8] Dieter Messner [de], linguista e especialista na área, argumentou que ele poderia ser comparado aos melhores dicionários de outras línguas românicas, superando alguns deles em vários aspectos.[15] O jornal brasileiro Estadão enfatizou o alcance sem precedentes do dicionário, descrevendo-o como "um lançamento para criar um novo conceito" e destacando a "amplitude e precisão de cada verbete". No entanto, seu revisor também observou os sacrifícios que vieram com essas inovações, apontando que ele "não apresenta citações literárias, ou seja, exemplos do uso de palavras por escritores, como seus concorrentes ainda fazem".[1]

Em fevereiro de 2012, o Ministério Público Federal (MPF) em Uberlândia, Minas Gerais, ajuizou ação civil pública contra a editora Objetiva e o Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, solicitando a suspensão da publicação e circulação do dicionário. O MPF alegou que o dicionário continha definições pejorativas e discriminatórias da palavra cigano, que considerou ofensiva à população cigana do Brasil, estimada em cerca de 600 mil pessoas. A ação teve origem em uma denúncia de 2009 apresentada por Cleiber Fernandes Machado, brasileiro de ascendência cigana, que alegou que os dicionários de língua portuguesa retratavam seu grupo étnico de forma preconceituosa. O MPF solicitou o recall de todas as edições contendo as definições contestadas e solicitou 200 mil reais em danos morais coletivos, alegando que a publicação feria a dignidade da comunidade cigana.[16]

Em decorrência da ação do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, foi revogada a entrada de cigano foi temporariamente removido da edição eletrônica do dicionário. Na edição atual do Dicionário Houaiss, o verbete foi reintegrado e as definições contestadas foram mantidas, assim como a explicação (em vigor desde 2008) sobre os usos da palavra cigano com uma conotação depreciativa: “resultam de uma antiga tradição europeia, pejorativa e xenófoba porque assenta em ideias erróneas e preconcebidas sobre as características deste povo que, no passado, levou uma existência nómada”.[17]

Referências

  1. a b c d e f g «Dicionário Houaiss chega batendo recordes». Estadão. 28 de agosto de 2001. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  2. Estenssoro, Hugo (1 de dezembro de 1999). «Antonio Houaiss: Adventures of a lexicographer». Duke University Press. Hopscotch: A Cultural Review. 2 (1): 84–85. ISSN 1527-800X. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  3. a b c d «"Dicionário Houaiss" sai este ano». Estadão. 31 de março de 2001. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  4. a b c d e «Dicionário Houaiss estréia no UOL com recorde de verbetes». Universo Online. 23 de agosto de 2004. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  5. a b c d e «'Dicionário Houaiss' vai acompanhar o DN à quarta-feira». Diário de Notícias. 20 de fevereiro de 2005. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  6. a b c Castello, José (31 de março de 2001). «"Dicionário Houaiss" unifica língua portuguesa». Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. ISCTE – University Institute of Lisbon. Consultado em 3 de outubro de 2025 
  7. a b c Veiga, Edison (7 de março de 2024). «Há 25 anos, morria o dicionarista Antônio Houaiss». Deutsche Welle. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  8. a b c d «Alcântara destaca valor do novo Dicionário Houaiss». Senado Federal. 28 de setembro de 2001. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  9. Tupan, Nicolau (20 de março de 2004). «A política da língua no Brasil». Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  10. a b Noll, Volker (2 de julho de 2012). «Para uma revisão do Dicionário Houaiss – Vocabulário e datações». Confluência: 67–77. ISSN 2317-4153 
  11. «"Dicionário Houaiss" ganha versões de sinônimos e de verbos». Folha de S.Paulo. 25 de janeiro de 2003. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  12. Vianna, Luiz Fernando (8 de novembro de 2006). «Música popular ganha seu "Houaiss"». Folha de S.Paulo. Consultado em 25 de setembro de 2025 
  13. Alves, Ieda Maria; Maroneze, Bruno Oliveira (7 de setembro de 2021). «The presence of Brazilian neologisms in dictionaries». International Journal of Lexicography (em inglês). 34 (3): 315–335. ISSN 0950-3846. doi:10.1093/ijl/ecab011 
  14. Balza, Guilherme (26 de novembro de 2013). «Dicionário Houaiss inclui verbetes "mensalão" e "mensaleiros"». UOL Notícias. Consultado em 26 de setembro de 2025 
  15. Barme, Stefan (12 de abril de 2006). «O Dicionário Houaiss da língua portuguesa: etimologias, datações e brasileirismos». Zeitschrift für romanische Philologie (ZRP). 122 (2): 237–246. ISSN 0049-8661. doi:10.1515/ZRPH.2006.237 
  16. Reis, Flávia (27 de fevereiro de 2012). «MPF em MG move ação para retirar de circulação o dicionário Houaiss». G1. Consultado em 26 de setembro de 2025 
  17. Possenti, Sírio (23 de março de 2012). «Censurar dicionários?». Ciência Hoje. Consultado em 26 de setembro de 2025 

Ver também

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Ligações externas

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