Escola da Biomassa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Trata-se de um grupo de pesquisadores que avaliam que o fim dos combustíveis fósseis é iminente e que aos países tropicais seria mandatória o aproveitamento da energia do sol convertida pelo processo da fotossíntese em biomassa. A energia do sol concentrada nas plantas (cana de açúcar, mandioca, dendê, milho, macaúba, girassol, babaçu etc.) é armazenada nos hidratos de carbono.

O grupo foi liderado pelo físico José Walter Bautista Vidal, criador do Proálcool, pelo geólogo Marcello Guimarães Mello, Salvo Brito, Simões Lopes Filho e pelo sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcellos.

A Escola da Biomassa infelizmente quase clandestina e preterida nas universidades mostrou na prática a eficácia do combustível made in Pró-álcool. A cidade de São Paulo hoje consegue respirar graças aos milhões de veículos a álcool que neutralizaram a quantidade d e chumbo jogado pela gasolina na atmosfera. O derivado da biomassa não se resume a álcool em automóvel, abarca os óleos vegetais e o carvão vegetal.

Fim da era dos combustíveis fósseis[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Microdestilaria.jpg
O Sistema UNIGEA (Unidade Geradora de Energia e Alimentos) é a implantação de uma MICROUSINA de baixo custo e de alto valor agregado para que microdestilarias e pequenos alambiques produzam além da cachaça, álcool combustível, açúcar mascavo, a rapadura, o melado, o adubo orgânico, biodefensivos, sementes e mudas para agroreflorestamento, gerando alimentos, energia e alimentação do gado, sem poluição e nem degradação do meio ambiente.[1]

De 1800 a 1900 foi a era do carvão mineral; de 1900 a 2000 foi a era do petróleo que se aproxima do esgotamento. Os combustíveis fósseis são o carvão mineral, o petróleo e o gás natural. Segundo Bautista Vidal, a situação das reservas de petróleo foi amplamente discutida até os anos 1980. A partir daí, houve silêncio da mídia mundial sobre o assunto. O geógrafo estadunidense David Harvey afirmou em seu livro O novo imperialismo que:

Em todo momento dado, a condição das reservas mundiais de petróleo é mera conjetura. As companhias petrolíferas são notoriamente reticentes para dizer o que sabem e de vez em quando enganam deliberadamente. As estimativas de reservas costumam exibir variações demasiado amplas. Porém, a maioria dos cálculos sugere que as taxas de exploração das reservas vêm excedendo a taxa de descoberta desde mais ou menos 1980. O petróleo vem se tornando aos poucos cada vez mais escasso. Sabemos que muitos campos estão longe do seu auge de produção e que daqui a mais ou menos uma década muitos dos atuais campos estarão esgotados. Isso se aplica (HARVEY, 2003, p. 28).[2]

Transição energética[editar | editar código-fonte]

A partir do Século XXI discute-se cada vez mais a necessidade de um processo de transição energética para a constituição de uma era de energia renovável.

O que fazer: civilização dos hidratos de carbono[editar | editar código-fonte]

A Escola da Biomassa propugna a adoção de uma Política Energética da Biomassa que representa a alternativa mais compatível com a realidade do Brasil frente à crise da energia fóssil. A produção de matéria vegetal chega a ser 100 vezes superior à das zonas temperadas. São 2.500 horas/ano de insolação captadas pelo processo de fotossíntese. Dessa forma, recomendam a ocupação do território com microdestilarias para etanol em pequenas propriedade da agricultura familiar. Tais microdestilarias poderiam produzir simultaneamente álcool, cachaça, melado, rapadura, adubo orgânico e biodefensivos.

Representantes[editar | editar código-fonte]

  • Marcello Guimarães Mello: O geólogo era exímio conhecedor das florestas e da energia agrícola. Foi um excepcional cientista dotado da capacidade de apresentar soluções para o povo e o país, indo além dos diagnósticos. Formado em geologia pela Escola Federal de Ouro Preto, trabalhou em Rondônia, Mato Grosso, Amazonas, Pará, Vale do Rio Doce. Dirigiu a Acesita Florestal e participou do Proálcool. Publicou Biomassa: energia dos trópicos em Minas Gerais[5] e Autodensevolvimento: o Brasil descobre a energia tropical.[6]
  • Sérgio de Salvo Brito: foi um engenheiro com pós-graduação em energia nuclear. Foi Secretário de Tecnologia do Ministério das Minas e Energia (MME), Coordenador Técnico para o reexame da Matriz Energética Nacional e Diretor do Departamento Nacional de Desenvolvimento Energético do Ministério da Infraestrutrua durante o Governo Sarney. Dedicou-se aos vetores energéticos para o desenvolvimento socioeconômico-ambiental do país: energia solar, energia eólica e biomassa.[7] Teve seu nome vinculado ao Centro de Referência para as Energias Sola e Eólica Sérgio de S. Brito, cuja missão é a promoção do desenvolvimento das energias solar e eólica através de conhecimento, ampliação de diálogo e do estímulo a estudos e projetos.
  • Sebastião Simões Filho (1927-1991): químico industrial formado pela Escola Superior de Química de Pernambuco. Estudou os processos fermentativos e trabalhou em várias indústrias petroquímicas inclusive na Petrobrás. Foi preso pela ditadura, junto com sua esposa argelina, por causa de suas ideias para a indústria petroquímica nacional. Preconizava o Proálcool para além da substituição de combustíveis para automóveis e defendia a química dos carboidratos baseada em recursos renováveis da biomassa.[8] Cunhou o termo "civilização dos hidratos de carbono".[9]
  • Gilberto Felisberto Vasconcellos: o sociólogo formado pela Universidade de São Paulo e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora trouxe a esperança do sol e da fotossíntese para o campo das Ciências Sociais. Analisou o potencial da biomassa como energia do futuro colocada em contraposição ao imperialismo, ao neoliberalismo e como energia do socialismo (sol e socialismo). Publicou com J. W. Bautista Vidal as obras O poder dos trópicos: meditação sobre a alienação energética na cultura brasileira[10], Petrobrás: um clarão na história e Dialética dos Trópicos: o pensamento colonizado da CEPAL.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Projeto, Guarda Sol (s.d.). «UniGea - Planta Técnica». Consultado em 23 de julho de 2023 
  2. Harvey, David (2003). The new imperialism. New York: Oxford University press 
  3. Senado Federal. Senado registra voto de pesar pela morte do professor Bautista Vidal, acessado em 16 de julho de 2019.
  4. Tribuna da Bahia. Cientista dá nome a Parque Tecnológico, acessado em 22 de maio de 2014.
  5. MELLO, Marcello Guimarães (2001). Biomassa: energia dos trópicos em Minas Gerais. [S.l.]: Labmídia, Universidade Federal de Minas Gerais 
  6. Mello, Marcello Guimarães (1993). Autodesenvolvimento: o Brasil descobre a energia tropical. [S.l.]: Companhia Ilimitada 
  7. CRESESB (11 de junho de 2008). «O Cresesb». Cresesb-Cepel. Consultado em 23 de julho de 2023 
  8. Museu Nuclear (2019). «Memorial: notáveis cientistas de Pernambuco» (PDF). Museu Nuclear. Consultado em 23 de julho de 2023 
  9. VASCONCELLOS, Gilberto Felisberto (2015). «Autodesenvolvimento: microdestilarias a álcool em Minas Gerais». UFSC. REBELA,. v.5 (n.1) 
  10. Vasconcellos, Gilberto Felisberto; Vidal, J. W. Bautista (2001). Poder dos trópicos: meditação sobre a alienação energética na cultura brasileira. São Paulo: Casa Amarela