José Artigas

José Artigas
José Artigas Artigas na Cidadela, 1884, por Juan Manuel Blanes, óleo sobre tela.
Conhecido(a) por	Karaí-Guasú
Nascimento	19 de junho de 1764 Montevidéu, Vice-reino do Prata
Morte	23 de setembro de 1850 (86 anos) Ybyray, Paraguai
Ocupação	Político
Serviço militar
País	Banda Oriental do Uruguai
Serviço	Exército
Anos de serviço	1797 - 1830s
Patente	General
Conflitos	Revolução Oriental Invasões Britânicas Campanha Cisplatina Segunda Campanha Cisplatina

José Gervasio Artigas (Montevidéu, 19 de Junho de 1764 — Ibiray, 23 de Setembro de 1850) foi um político e militar uruguaio, sendo o herói nacional de seu país. Recebeu os títulos de "Chefe dos Orientais " e "Protetor dos Povos Livres".

Carreira

Assinatura de José Gervasio Artigas.

Estudou no Convento de São Francisco, sendo depois mandado pelo pai para o interior, onde passou a juventude entre gaúchos, índios e tropeiros. Dedicou-se ao comércio de couro e gado, percorrendo todo o Uruguai e adquirindo influência junto à população rural.

Em 1797 ingressou no Regimento de Lanceiros como tenente. Durante a guerra hispano-portuguesa, combateu os ingleses no Prata, aliados dos portugueses. Nessa época iniciou-se o movimento de libertação das colônias espanholas e Artigas juntou-se aos insurretos, sendo nomeado tenente-coronel pela junta de Buenos Aires. Derrotou os espanhóis na batalha de San José, em 1811, obrigando o chefe da guarnição espanhola a retirar-se com suas tropas para Montevidéu. Derrotou novamente os espanhóis na batalha de Las Piedras e sitiou a cidade. Divergindo do governo de Buenos Aires, retirou-se para o interior.

Após as resoluções do Congresso de Tucumán, Artigas uma vez mais entrou em guerra contra o exército luso-brasileiro que invadira a Banda Oriental. Derrotado na batalha de Catalán, em 1817, Artigas iniciou movimentos de guerrilha que duraram três anos. Não podendo mais resistir, após a derrota na Batalha de Tacuarembó em 1820, asilou-se no Paraguai, onde morreu trinta anos depois, sem haver retornado a seu país.

De 1810 a 1820: a etapa revolucionária de sua vida

Entrada tardia para a Revolução de Maio

Em 1808 Napoleão aproveitou as disputas pelo trono entre o rei Carlos IV da Espanha e seu filho, o futuro Fernando VII , para intervir no Império Espanhol e impor as abdicações de Bayonne , pelo que ambos renunciaram sucessivamente ao trono da Espanha em favor de por Joseph Bonaparte , após o qual Ferdinand foi capturado. Mas a intervenção da França desencadeou uma revolta popular conhecida como Guerra da Independência Espanhola (1808-1814) que trouxe incerteza sobre a autoridade efetiva que governava a Espanha.

Na ausência de uma certa autoridade na Metrópole e no cativeiro de Fernando VII, os povos da América Latina , sob a liderança dos crioulos , iniciaram uma série de insurreições ignorando as autoridades coloniais . A primeira insurreição ocorreu em 25 de maio de 1809 na cidade de Chuquisaca , no Vice-Reino do Río de la Plata, a que se seguiram levantes em todo o continente para formar juntas autogovernadas, dando origem à Guerra Hispano-Americana de Independência.

Em 25 de maio de 1810, o povo de Buenos Aires , capital do vice- reinado do Rio da Prata , depôs o vice -rei Baltasar Hidalgo de Cisneros e elegeu a Primeira Junta para substituí-lo, dando início à Revolução de Maio.

Imediatamente, o poder espanhol instalou sua sede em Montevidéu, importante porto concorrente de Buenos Aires, e exigiu que o Conselho de Regência espanhol enviasse um novo vice-rei, tropas e armas para reprimir o levante.

Nesse mesmo ano, José Artigas, que na época permanecia nas tropas do vice-rei e que havia sido promovido a capitão de Blandengues em 5 de setembro de 1810 por Joaquín de Soria, comandante geral da campanha da Banda Oriental, foi enviado a Entre Ríos como comandante de um contingente militar monarquista, em uma tentativa de recuperação para os cinco povos insurgentes de Entre Ríos, mas foi derrotado pelos caudilhos locais .

Em janeiro de 1811, o novo vice-rei, Francisco Javier de Elío, chegou a Montevidéu . A Primeira Junta de Buenos Aires ignorou sua autoridade e declarou guerra a ele em 13 de fevereiro.

A ala radicalizada da revolução de Buenos Aires estava de olho em Artigas. No discutido Plano Revolucionário de Operações, atribuído a Mariano Moreno, secretário da Primeira Junta e redigido em agosto de 1810, constava o seguinte:

Seria muito apropriado atrair dois sujeitos por qualquer interesse e promessas, tanto por seus conhecimentos, que sabemos ser muito extensos na campanha, quanto por seus talentos, opiniões, conceito e respeito; como as do Capitão de Dragões Dom José Rondeau e as do Capitão de Blandengues Dom José Artigas; que, colocando a campanha neste tom e concedendo-lhes amplos poderes, concessões, graças e prerrogativas, farão progressos tão rápidos em pouco tempo, que antes de seis meses poderá tratar-se de formalizar o local da praça. 10

Em 15 de fevereiro de 1811 Artigas abandonou o Corpo Blandengues em Colonia del Sacramento e mudou-se para Buenos Aires para oferecer seus serviços militares ao governo revolucionário, o que lhe deu o posto de tenente-coronel, 150 homens e 200 pesos para iniciar o levante da Banda Oriental contra o poder espanhol. A data em que Artigas abandonou o exército monarquista em Colônia do Sacramento é hoje precisamente estabelecida com base em uma nota na revisão de tropas do Corpo de Blandengues de Montevidéu feita no mês seguinte. Dantes de conhecer esta nota, os historiadores fixaram o 2 ou o 11 de fevereiro como datas da deserción. A nota afirma:

José Artigas, capitão da 3ª Companhia, e Rafael Ortiguera, fugiram para Buenos Aires em 15 de fevereiro. 11

Os povos da América espanhola lutaram por sua liberdade e Artigas quis defender essas ideias na Banda Oriental, e após o evento conhecido como Grito de Asencio em 28 de fevereiro daquele ano, a população rural oriental comandada por Pedro José Viera junto com Venâncio Benavides , que havia tomado as cidades de Santo Domingo de Soriano e Mercedes no dia seguinte , solicitou assistência à Junta de Buenos Aires, que o enviou para casa com a patente de tenente-coronel e cerca de 180 homens, no início de abril, e a quem Viera entregou seu trabalho, juntando-se à revolução e lançando uma revolta bem sucedida contra o Reino da Espanha.

Em 11 de abril, ele emitiu a Proclamação de Mercedes e assumiu o comando da revolução na Banda Oriental e em 18 de maio, derrotou os espanhóis na Batalha de Las Piedras. Então ele começou o cerco de Montevidéu e foi aclamado "Primeiro Chefe dos Orientais".

Em 1812 conseguiu convocar um congresso nacional em Maroñas e ali proclamou a Província Oriental com governo federal , como modelo a ser seguido pelas demais Províncias Unidas do Rio da Prata .

Participaram das fileiras artiguistas personagens e líderes tão importantes para a história posterior do Uruguai, como Dámaso Antonio Larrañaga , Juan Antonio Lavalleja , Manuel Oribe , Fernando Otorgués , Fructuoso Rivera e Pablo Zufriátegui .

O êxodo do povo oriental

Como consequência do armistício assinado com o vice-rei Francisco Javier de Elío pela Primeira Junta de Buenos Aires, as tropas enviadas à Banda Oriental tiveram que deixar aquele território, levantando o cerco de Montevidéu.

José Artigas foi nomeado "vice-governador, chefe de justiça e capitão do departamento de Yapeyú ", então na província de Misiones , atual Argentina .

Artigas, enojado com o armistício e diante da evacuação das tropas de Buenos Aires, cumpriu sua nova posição ao se mudar para o território missionário, para o qual decidiu se mudar com seus seguidores para a margem ocidental do rio Uruguai , evento conhecido como o êxodo oriental . Atravessou o rio Uruguai com mil carroças e cerca de 16.000 pessoas com seu gado e pertences, na primeira semana de janeiro de 1812, instalando seu acampamento próximo ao córrego Ayuí Grande , alguns quilômetros ao norte da atual cidade Entre Ríos de Concordia , então pertencentes à jurisdição de Misiones. 12

Lá ele se estabeleceu em um enorme acampamento, de onde organizou um governo sui generis sobre o território que seus homens conseguiram controlar. Manteve correspondência com pequenos caudilhos locais de Entre Ríos e Corrientes , aumentando assim o círculo daqueles que compartilhavam de suas idéias e que seriam a base de sua futura influência na costa argentina .

No início de 1812, rompido o armistício com a retirada de Elío, as tropas de Buenos Aires retomaram o cerco de Montevidéu. Mas o líder político da mesma, Manuel de Sarratea , fez todo o possível para enfraquecer as forças de Artigas, o que levou a um violento conflito com o caudilho. Somente após a retirada de Sarratea Artigas se juntou ao cerco de Montevidéu com suas tropas.

As instruções para a Assembleia do ano XIII

No campo de José Artigas, foram eleitos os deputados orientais que deveriam participar da Assembléia Geral Constituinte do XIII ano a ser realizada em Buenos Aires. Artigas deu instruções  a seus deputados, que foram emitidas em 13 de abril de 1813.

Basicamente, Artigas afirmou:

• Independência das províncias do poder espanhol.
• Igualdade das províncias através de um pacto recíproco.
• Liberdade civil e religiosa.
• Organização governamental como república .
• O federalismo, com um governo supremo que compreendia apenas os negócios gerais do estado, e a confederação referiam-se à proteção que as províncias deviam umas às outras.
• Soberania da Província Oriental sobre as sete cidades das Missões Orientais .
• Localização do governo federal fora de Buenos Aires.

Os diplomas dos deputados orientais foram rejeitados pela Assembleia, tendo como argumento jurídico a nulidade da sua eleição por se ter realizado num acampamento militar e também porque Artigas lhes dera instruções, apesar de a Assembleia se ter declarado soberana.

Em seguida, o general José Rondeau convocou um segundo congresso, que elegeu novos deputados para a Assembleia, em uma capela próxima ao seu próprio acampamento, tendo o cuidado de eleger deputados contrários à influência de Artigas.

Diante dessa indignação contra a vontade popular, Artigas abandonou o cerco de Montevidéu em meados de janeiro de 1814. Dirigiu-se para a costa do rio Uruguai, de onde seus partidários lançaram uma série de campanhas para controlar o interior da Banda Oriental e Entre Rios. . A expedição enviada do Paraná para enfrentá-lo foi derrotada em Entre Ríos por seu tenente Eusebio Hereñú .

Após a retirada de Artigas do cerco de Montevidéu, o Diretor Supremo unitário das Províncias Unidas do Rio da Prata , Gervasio Antonio Posadas , assinou um decreto em 11 de fevereiro de 1814, declarando Artigas um "traidor da Pátria ". Ele foi acusado de conspirar contra a unidade dos patriotas rioplatenses que lutavam para tomar Montevidéu, o principal reduto monarquista do Rio da Prata, e assim contrariar os planos revolucionários de continuar a guerra contra os monarquistas no Alto Peru .

Art.1 - O Sr. José Artigas é declarado infame, destituído de seus empregos, foragido e inimigo do país.

Art. 2º - Como traidor da Pátria, será perseguido e morto em caso de resistência.

Art. 3º - É dever de todos os povos e juízes, dos comandantes militares e dos cidadãos das Províncias Unidas, perseguir o traidor por todos os meios possíveis. Qualquer assistência prestada voluntariamente será considerada crime de alta traição.

Seis mil pesos serão recompensados ​​a quem entregar a pessoa de Dom José Artigas viva ou morta. 14

Em relação à vida pessoal, em 1813, Artigas gerou outros dois filhos naturais: uma menina, María Escolástica (nascida em 10 de fevereiro de 1813), cuja mãe era missionária guarani, e um menino, Roberto (nascido no final de 1813). ) , filho de María Matilda Borda, viúva de Antonio Altacho (falecido em 1808) e proprietário de uma mercearia e armazém geral .  Enquanto María Escolástica foi adotada pelo casamento de Lorenzo Centurión e Francisca Basualdo e leva seu sobrenome,  Roberto é reconhecido por Artigas, conforme consta em sua certidão de batismo em Las Piedras. 7

A Liga dos Povos Livres ou Liga Federal

Ver artigo principal: Liga dos Povos Livres

Em 1814 José Artigas organizou a União dos Povos Livres , da qual foi declarado "protetor". Para continuar com o cerco de Montevidéu, que estava nas mãos dos monarquistas, o Diretor Supremo, Posadas, nomeou o general Carlos María de Alvear comandante do exército das Províncias Unidas para substituir José Rondeau. Alvear assumiu o comando de suas tropas após a vitória naval do patriota Guillermo Brown contra Montevidéu, e negociou com rapidez e sucesso a entrega da praça, que foi entregue a seu critério em 20 de junho de 1814. A queda de Montevidéu em poder do O Diretório produziu uma alteração muito importante da geografia da revolução na região do Rio da Prata que beneficiou os revolucionários. Após vários meses de confrontos militares entre o Diretório , em umguerra civil desenvolvida em Corrientes, Entre Ríos e Província Oriental , a vitória de Fructuoso Rivera na batalha de Guayabos em janeiro de 1815, obrigou o Diretor Supremo Carlos María de Alvear a evacuar Montevidéu, entregando-o ao segundo de Artigas, Fernando Otorgués .

Alvear, determinado a governar as províncias do Rio da Prata sem oposição, ofereceu a Artigas a independência da Província Oriental. Artigas o rejeitou e ajudou os federais de Corrientes e Santa Fé a lutar contra a tutela do Diretório, tentando impor uma nova forma de estado: o federalismo, que até então era alheio ao sistema existente no Rio da Prata.

As vitórias de Artigas facilitaram o levante de Fontezuelas comandado por Ignacio Álvarez Thomas e a queda de Alvear, em 3 de abril daquele ano. Mas as relações com seu sucessor, o Diretor Supremo Álvarez Thomas, permaneceram tensas e violentas. No entanto, ele não tentou devolver seu governo à Província Oriental.

Em maio de 1815, Artigas montou seu Campo de Purificação, a cerca de cem quilômetros ao norte da cidade de Paysandú , próximo à foz do córrego Hervidero , que deságua no rio Uruguai, e a cerca de sete quilômetros do chamado Planalto de Artigas. O Campo de Purificação foi de fato transformado da Liga Federal . O comerciante escocês John Parish Robertson , que estava visitando na época, descreveu o local assim:

Ele tinha cerca de 1.500 seguidores esfarrapados em seu acampamento que atuavam na dupla capacidade de pé e cavalo. Eram índios oriundos principalmente dos decadentes estabelecimentos jesuítas, cavaleiros admiráveis ​​e endurecidos por todo tipo de agruras e penúrias. As colinas e planícies férteis da Banda Oriental e Entre Ríos forneciam pastagens abundantes para seus cavalos e numerosos gados para se alimentar. Eles precisavam de pouco mais. Casaco e poncho apertados na cintura como um kilt escocês , enquanto outro pendia de seus ombros, completo com o chapéu de fajina e um par de botas de potro , esporas grandes , sabre, bacamarte e faca ., o traje artigueño. Seu acampamento era formado por fileiras de toldos de couro e cabanas de barro ; e estes, com meia dúzia de barracos mais bonitos, formavam o que se chamava Villa de la Purificación.  16

Em 29 de junho de 1815 , o "Congresso dos Povos Livres" chamado Congresso do Oriente reuniu-se em Concepción del Uruguai , Entre Ríos . Ele foi convocado por Artigas para discutir o acordo com Buenos Aires na crença de que uma expedição naval espanhola estava prestes a chegar, mas alguns historiadores sustentam que na sessão inaugural de 29 de junho de 1815, uma declaração de independência nacional das províncias de Buenos Aires Aires , Córdoba , Corrientes, Entre Ríos, Misiones, Santa Fé e Província Oriental de todas as potências estrangeiras, embora esta posição não possa ser documentada porque os atos do congresso —se houve— teriam sido perdidos .

Artigas enviou uma delegação a Buenos Aires com a premissa de manter a unidade com base nos princípios de: «A soberania particular dos povos será declarada e ostentada com precisão, como único objeto de nossa revolução; a unidade federal de todos os povos e a independência não só da Espanha, mas de todas as potências estrangeiras (...)». Os quatro delegados foram presos em Buenos Aires, e o novo diretor ordenou a invasão de Santa Fé.

Artigas então ratificou o uso da bandeira criada por Manuel Belgrano , acrescentando um festão escarlate diagonal, sendo a cicatriz vermelha desde então o sinal do federalismo na Argentina. Artigas o chamou de "o Pavilhão da Liberdade".

Este congresso sancionou em 10 de setembro de 1815 um Regulamento Provisório da Província Oriental para a promoção de sua campanha e segurança de seus senhores ,  que foi a primeira reforma agrária da América Latina , pois expropriou as terras e as distribuiu entre os lavradores. que trabalharam "com a prevenção de que os mais infelizes sejam os mais privilegiados". 18

Segundo casamento e outros novos filhos

Foi também no Campo de Purificação onde José Artigas contraiu seu segundo casamento em dezembro de 1815 (seu primeiro relacionamento com Rosalía Villagrán havia sido anulado devido à sua demência) com Melchora Cuenca, um lanceiro paraguaio. Esta mulher, muito mais jovem que Artigas, conheceu o Prócer porque seu pai trouxe comida para Artigas enviada pela Junta do Paraguai . Como resultado da união, nasceram dois filhos: Santiago (nascido em 1816) e María (nascido em 1819). 7

A invasão luso-brasileira e a guerra contra os unitaristas

Em 9 de julho de 1816, a independência das Províncias Unidas do Río de la Plata foi declarada no Congresso de Tucumán , mas nele, com exceção de Córdoba, as províncias pertencentes à Liga dos Povos Livres, sob a qual estavam a autoridade de José Artigas.

O constante crescimento de influência e prestígio da Liga Federal assustou tanto os Unitários de Buenos Aires e Montevidéu quanto o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve . Em agosto de 1816, numerosas tropas luso-brasileiras invadiram a Província Oriental, com a cumplicidade tácita dos unitaristas que se fortaleceram em Buenos Aires e do embaixador de Buenos Aires no Rio de Janeiro . Com a intenção de destruir o líder e sua revolução, as tropas luso-brasileiras atacaram por terra e mar. Junto com Artigas, seus tenentes Juan Antonio Lavalleja, Fernando Otorgués, Andrés Latorre , Manuel Oribe, o missionário Andrés Guazurarí participaram da defesa de sua província., apelidado de "o índio Andresito". Devido à sua superioridade numérica e material, as forças luso-brasileiras sob o comando de Carlos Federico Lecor derrotaram Artigas e seus tenentes e ocuparam Montevidéu em 20 de janeiro de 1817, embora a luta tenha continuado por três anos nas áreas rurais. Indignado com a passividade dos unitaristas de Buenos Aires, Artigas declarou-lhes guerra, enquanto enfrentava os luso-brasileiros com exércitos dizimados por sucessivas derrotas.

Após três anos e meio de resistência, a batalha de Tacuarembo , em 22 de janeiro de 1820, significou a derrota definitiva de Artigas, que teve que deixar a Província Oriental , à qual nunca mais voltou. Vários de seus tenentes foram feitos prisioneiros ou desistiram da luta. Fructuoso Rivera , por sua vez, cercado pelo exército luso-brasileiro em seu acampamento próximo ao rio Queguai , comandado por Bento Manuel Ribeiro , concordou em pacificar a província, com o chamado Acordo das Três Árvores.

Conflito com Ramírez

Quase ao mesmo tempo, os membros da Liga Federal, Francisco Ramírez , governador de Entre Ríos, e Estanislao López , governador de Santa Fé, finalmente conseguiram a vitória sobre os unitaristas. A Batalha de Cepeda forçou a queda do Diretório. Mas a esperança durou pouco, pois ambos os caudilhos, sabendo da quase aniquilação das tropas de Artigas, firmaram acordos com o novo governador de Buenos Aires, Manuel de Sarratea, assinando com ele o Tratado de Pilar . Embora tal tratado considerasse pedir a aprovação de Artigas, o oriental se sentiu afrontado por não ter sido consultado pelos signatários do tratado.

Após a batalha de Tacuarembó, o derrotado Artigas se estabeleceu em Entre Ríos, onde entrou em sérios conflitos com Francisco Ramírez, que não aceitava a hegemonia do caudilho oriental em sua província. Com o apoio do governo de Buenos Aires, Ramírez iniciou uma campanha contra Artigas. Ele foi derrotado em uma pequena batalha, mas conseguiu derrotá-lo na Batalha de Las Tunas , próximo ao Paraná .

Ramírez perseguiu Artigas em direção a Corrientes, onde chegou a contar com o apoio do cacique guarani Francisco Javier Sití . Mas a vitória acabou por ser de Ramírez.

De 1820 a 1850: exílio no Paraguai

Cercado por todos os lados pelos tenentes de Francisco Ramírez e vendo sua causa definitivamente perdida, em 5 de setembro de 1820, José Artigas atravessou o rio Paraná e se exilou no Paraguai, deixando para trás sua pátria e sua família.

O ditador paraguaio José Gaspar Rodríguez de Francia deu-lhe refúgio, mas cuidou para que não retivesse nenhuma influência política, nem se correspondesse com ninguém fora do Paraguai. Seu único companheiro para o resto de sua vida foi o Negro Ansina .

A campanha dos Trinta e Três Orientais iniciou a libertação de sua província do Império do Brasil em 1825. Mas a complicada Guerra do Brasil e a intromissão diplomática da Grã-Bretanha levaram à independência do Estado Oriental do Uruguai em 1828, na qual Artigas nunca participou.

Confinado na distante e inóspita Villa de San Isidro Labrador de Curuguaty , ali viveu cultivando a terra até a morte de Rodríguez de Francia e não causou nenhum problema às autoridades paraguaias. Foi nesta cidade que Artigas conheceu Clara Gómez Alonso por volta de 1825, que foi sua companheira até a morte; Desta união nasceu Juan Simeón em 1827, o último de sua longa descendência e que se tornou tenente-coronel no Paraguai, homem de confiança do marechal Francisco Solano López . 7

Apesar de sua passividade no exílio, por mera precaução, foi preso poucas semanas após a morte do ditador, ocorrida em 20 de setembro de 1840. O novo governo de Carlos Antonio López , o primeiro presidente constitucional do Paraguai, transferiu-o para Assunção , onde desfrutou de sua plácida velhice no bairro de Assunção de Trinidad , residindo na vila Ybyray do presidente da república, cercado pelo carinho dos paraguaios. Lá ele morreu, dez anos depois, em 23 de setembro de 1850, aos 86 anos de idade.

Meu cavalo! Traga-me meu cavalo!Últimas palavras de José Gervasio Artigas.

No mesmo dia, uma carroça sem toldo, puxada por bois, levou seu corpo de sua fazenda ao cemitério da Recoleta, acompanhado por Benigno López, filho mais novo do presidente, os vizinhos Julián Ayala, Alejandro García e Ramón de la Paz Rodríguez. a fiel assistente Ansina . O sacerdote simplesmente registra no livro dos mortos:

“Nesta Paróquia da Recoleta da Capital, em 23 de setembro de 1850, eu, seu pároco interino, enterrei no terceiro túmulo do lanço número 26 do Cemitério Geral, o cadáver de um adulto chamado Don José Artigas, estrangeiro. , que viveu no entendimento desta igreja"

Os paraguaios e guaranis de Misiones o chamavam de Karay Guazú ('grande senhor'), título dado não só a Artigas, mas também a Rodríguez de Francia e Francisco Solano López . Por outro lado, o historiador Gonzalo Abella coleciona o apelido Oberavá Karay (senhor que brilha), título com que os Guarani da região de Curuguaty se referiam a Artigas.

Destino de seus restos mortais

Em 1855, sob a gestão do presidente Venâncio Flores, os restos mortais de José Artigas foram repatriados do Paraguai.

Já em Montevidéu permaneceram oito meses na Capitania do Porto e foram removidos em 20 de novembro de 1856 quando foram sepultados no Panteão Nacional do Cemitério Central com a solenidade correspondente aos serviços prestados ao seu país, após os funerais na Matriz Igreja . Segundo Joaquín Requena , foram sepultados "à sombra da Sagrada Bandeira do divino libertador do gênero humano" e em sua lápide foi lida a seguinte inscrição:

«Artigas: fundador da nacionalidade oriental».

Em 1859, enquanto se realizavam as obras no Cemitério Central, os restos mortais foram transferidos temporariamente para o sepulcro da família do parente de Artigas, o ex-presidente da república Gabriel Pereira . Em 24 de janeiro de 1864, os restos mortais retornaram ao Cemitério Central e foram depositados na Rotunda do Cemitério Central, cuja construção havia sido concluída no ano anterior.

Em 1877, durante o governo de Lorenzo Latorre , a urna foi trocada por outra construída “em madeira de cedro folheada a jacarandá , com incrustações de prata, com seu correspondente pedestal”.

Em 1950, por ocasião do centenário da morte de Artigas, a urna foi colocada em um altar localizado no Obelisco de Montevidéu para ser exposto.

Em 1971, sob o argumento de terem sido obtidas informações de que a urna seria roubada, foi decretada uma operação militar pela qual os restos mortais foram transferidos para o regimento de Cavalaria n.º 1 de Blandengues de Artigas, permanecendo à guarda do Exército.

Pelo decreto-lei nº 14.276, de 27 de setembro de 1974, foi estabelecida a criação de um mausoléu para o depósito de seus restos mortais, localizado na Praça Independência , no centro da cidade de Montevidéu. Seus restos mortais foram retirados do Panteão Nacional do Cemitério Central em 1972 e ficaram sob a guarda do Exército sendo vigiado pelos "moleques", enquanto a construção do mausoléu era concluída. Eles foram transferidos para lá em 19 de junho de 1977.

O mausoléu passou por uma reforma a partir de 2010. Em 26 de outubro de 2012, os restos mortais do herói finalmente retornaram à sua casa, em ato público que contou com discurso do professor Daniel Vidart . 21

Bibliografia

• FERREIRA, Fabio. A trajetória política de Artigas: da Revolução de Maio à Província Cisplatina. In: Revista Tema Livre, ed. 08. Disponível em: revistatemalivre.com
• SALMORAL, José. Artigas, gaúcho y confederado. Madrid: Ed Anaya, 1994.
• BARROSO, Gustavo. "A guerra do Artigas".

Ligações externas

• Artigas e a revolução no Rio da Prata, indagações, argumentos e polêmicas
• Entrevista com a Profa. Dra. Ana Frega (Historiadora/Universidad de la República, Uruguay) concedida à Revista Tema Livre (edição 13).