Eurico Silva

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura o político português Eurico Silva Teixeira de Melo, veja Eurico de Melo.
Eurico Silva
Nome completo Eurico António Crispim da Silva
Nascimento 16 de setembro de 1900
Melgaço, Portugal
Morte 6 de novembro de 1973 (73 anos)
Rio de Janeiro, Brasil
Ocupação tradutor, dramaturgo, ator, produtor de teatro e diretor de cinema

Eurico António Crispim da Silva (Melgaço, Portugal, 16 de setembro de 1900 - Rio de Janeiro, Brasil, 6 de novembro de 1973) foi um ator, produtor, roteirista ou argumentista de rádio e cinema, dramaturgo e autor de peças teatrais e telenovelas português, naturalizado brasileiro. Foi também um célebre autor de radionovelas no Brasil, durante os anos 40 e 50 do século XX, na chamada era do rádio.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido na vila minhota de Melgaço, Portugal, a 16 de setembro de 1900, Eurico António Crispim da Silva era filho de Francisco Crispim, carpinteiro, natural de Roussas, e de Maria Teresa Trancoso da Silva, lavradeira, natural de Paços, ambos melgacenses de raízes humildes. Emigrou de Portugal com 16 anos de idade para perseguir o sonho de uma vida melhor no Brasil, após receber o convite de um parente que também havia emigrado e era bem sucedido nos negócios, sendo proprietário de três padarias.[2]

Em 1919, já a viver no Rio de Janeiro com amigos portugueses, iniciou a carreira de ator ao estrear-se na Companhia Eduardo Pereira com a peça "O Mártir do Calvário" de Eduardo Garrido, apresentada no Teatro Carlos Gomes.[3] Nos seguintes anos, percorreu várias cidades brasileiras com diferentes companhias e peças teatrais, enquanto aprendia a arte do seu ofício e ganhava nome no meio artístico. Nos seus tempos livres, escrevia histórias e peças teatrais, sem no entanto as publicar ou encenar.[4]

Anos mais tarde, em 1932, apresentou a primeira das quinze peças que escreveu até então, "Um Caso de Polícia", estreando-se como dramaturgo na companhia de Procópio Ferreira, notório ator e produtor, filho de pais portugueses, ainda hoje considerado um dos grandes nomes do teatro brasileiro.[5] Com a mesma companhia, percorreu as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, apresentou as peças "Delicadeza" (1933), "Pense Alto" (1933),[6] "Divorciados" (1934),[7] "Um Homem" (1936) e "Frederico Segundo" (1936),[8] todas da sua autoria, ao lado dos atores Darci Cazarré, Abel Pêra, Elza Gomes e Zezé Fonseca, e traduziu outras nove obras, a pedido do próprio Procópio Ferreira.[2][9]

No ramo das adaptações, durante a década de 30 e 40, realizou a tradução de várias peças escritas em francês, italiano e espanhol, muitas vezes em parceria com Djalma Bittencourt, futuro administrador da Revista de Teatro da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.[10] Os autores que escolhia, geralmente, eram comediógrafos espanhóis ou da América Latina, como Enrique Suarez de Deza, Pedro Muñoz Seca, Pérez Fernández, ou ainda autores ingleses, como Harry Paulton e Oscar Wilde.

Em 1937, Eurico Silva fundou e dirigiu a companhia teatral Cazarré - Elza Delorges, continuando a actuar, escrever e encenar inúmeras peças. Nos seguintes anos, iniciou uma nova fase na sua vida: estreou-se na rádio, atuando no programa "Teatro em Casa" (1939) da Rádio Nacional como ator e produtor,[11] e no cinema, ajudando Luiz de Barros com a adaptação do seu roteiro em "O Samba da Vida" (1937),[12] escrevendo os diálogos dos filmes "Asas do Brasil" (1940), "Céu Azul" (1941), que contava com a participação de Chianca de Garcia, e "Não Adianta Chorar" (1945), com o comediante Oscarito e o compositor de samba português J. Rui, sendo o argumento inteiramente da sua autoria.[13][14]

Entre 1947 e 1950, foi roteirista do programa "Poemas e Canções", que teve continuação com "Poemas Sonoros", da Rádio Nacional,[3] e desde então, como produtor tornou-se responsável por vários programas famosos à época, como "Versos e Melodias", "Paisagens de Portugal", "Casa da Sogra" e "Neguinho e Juraci". Foi ainda autor de radionovelas,[3] como "Boa Noite, Saudade" (1962) ou "A Noite do Meu Destino" (1957), além de ter traduzido outras, como "O Direito de Nascer" (1951) de Félix Caignet,[15] transmitida em 273 capítulos,[16] tornando-se no caso de maior sucesso do género já registado no país.[2][17]

Durante a década de 50, estreou-se na televisão, adaptando a peça de sua autoria "O Grande Marido" para um episódio da série televisiva Grande Teatro Tupi, sendo novamente adaptado para o cinema como "Um Marido Barra-Limpa" (1957),[2] que marcou a estreia do ator comediante Ronald Golias (embora o seu lançamento tenha ocorrido dez anos depois).[18] Mais tarde, em 1965, escreveu as novelas "Olhos que Amei" para a Rede Tupi, e "E a Primavera Chegou..." para a TV Rio.[19]

No total, escreveu 33 peças de teatro, mais de 40 radionovelas[20], 2 telenovelas, 3 filmes, traduziu 34 peças estrangeiras, atuou e encenou dezenas de peças, produziu inúmeros programas de rádio e ainda dirigiu alguns filmes.

Faleceu a 6 de novembro de 1973, na cidade do Rio de Janeiro, com 73 anos de idade.

Carreira[editar | editar código-fonte]

Peças Teatrais[editar | editar código-fonte]

No arquivo Miroel Silveira, constam 33 peças escritas por Eurico Silva:[2]

  • Um caso de polícia – 1933 – Companhia Procópio Ferreira;
  • Pense alto (Viva o amor) – 1933 – Companhia Procópio Ferreira;[21][22]
  • Delicadeza – 1933 – Companhia Procópio Ferreira;
  • Entrou aqui uma mulher (adap.) – 1933 - Companhia Procópio Ferreira;
  • Divorciados – 1934 – José Soares; 1944 – Cia. Procópio Ferreira; 1944 – Teatro Escola de Campinas; 1953 – Escola Técnica de Teatro Tiradentes;
  • A mulher que eu achei - 1935 - Moderna Companhia de Comédia;
  • Frederico Segundo – 1935 – Companhia Procópio Ferreira;
  • Um homem – 1935 – Moderna Companhia de Comédia; 1944 – Circo Teatro Liendo e Simplício; 1946 - Circo Teatro Di Lauro;
  • A mulher que se vendeu - L Navarro e A Torrado - 1937;
  • O pai que eu inventei – 1942 – Cia. Procópio Ferreira, Empresa Pereira da Costa e Gioso Ltda;
  • A felicidade pode esperar – 1944 – Rádio Difusora SP; 1945 - Pavilhão Teatro Mazzaropi;[23][24]
  • Veneno de cobra – 1945 – Circo Teatro Mazzaropi;
  • Acontece que eu sou baiano – 1947 – Circo Teatro Piolim;
  • A felicidade pode esperar – 1949 – Circo Teatro Piolim;[25]
  • Filhos de ninguém – 1950 – Circo Teatro Piolim; 1962 – Circo Teatro Irmãos Liendo;[26]
  • O grande marido – 1956 - Companhia Jayme Costa;
  • O grande Alexandre – 1964 – Grupo Experimental Flamingo de Artes.

Traduções[editar | editar código-fonte]

Peças traduzidas por Eurico Silva:[2]

  • A filhinha do papai - Francisco Serrano Anguita - 1933 – Companhia Procópio Ferreira;
  • O irmão do felizardo – Oscar Wilde - 1933 - Cia de Comédias Procópio Ferreira;
  • Tudo para você – Pedro Muñoz Seca; 1934 - Cia de Comédias Procópio Ferreira;
  • Rainha de Thebas – Harry Paulton - 1934 – Companhia Procópio Ferreira;
  • O amor envelheceu – Enrique Suárez de Deza - 1934 - Companhia Procópio Ferreira;
  • Precisa-se de um pai - Pedro Muñoz Seca e Perez Fernandez - 1934 e 1945 - Cia de Comédias Procópio Ferreira;
  • O dinheiro do leão – Carlos Arniches e Antonio Estremera – 1935 - Moderna Companhia de Comédia;
  • Casado sem saber – A Vallescá - 1935 - Moderna Companhia de Comédia;
  • Precisa-se de um filho – Antônio Paso - 1935 - Moderna Companhia de Comédia;
  • Não sejas mentirosa – Ferenc Molnár - 1935 - Moderna Companhia de Comédia;
  • Não me olhes assim - Pedro Muñoz Seca e Perez Fernandez - 1936 - Cia de Comédias Procópio Ferreira;
  • Adeus nobreza – Jacinto Capela e José de Lucio - 1936 e 1945 - Cia de Comédias Procópio Ferreira;
  • O automóvel do rei – Natanson e Orbok -1937 -Cia Cazarré Elza Delorges;
  • Uma conquista difícil - Rafael López de Haro – 1943 – Companhia Procópio Ferreira; Cine Teatro Boa Vista;
  • O Direito de Nascer (radionovela cubana de Félix Caignet, 1951).

Cinema[editar | editar código-fonte]

Obras escritas e adaptadas por Eurico Silva para o cinema:

Rádio[editar | editar código-fonte]

  • Teatro em Casa (1939) da Rádio Nacional, como ator e produtor
  • Para Toda a Vida (1946) da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como ator
  • Poemas e Canções , como roteirista
  • Poemas Sonoros, como roteirista
  • Versos e Melodias, como produtor
  • Paisagens de Portugal, como produtor
  • Casa da Sogra, como produtor
  • Neguinho e Juraci, como produtor
  • Manecão, o Marujo (1948) da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como roteirista
  • O Juízo Final (1951) da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, como diretor
  • Uma Noite na Ópera (1956) da Rádio Mundial, como apresentador
  • Direito de Nascer (1951), como tradutor e roteirista
  • Boa Noite, Saudade (1962), como autor e roteirista
  • A Noite do Meu Destino (1957), como autor e roteirista

Televisão[editar | editar código-fonte]

Legado e Homenagens[editar | editar código-fonte]

Postumamente o seu nome foi atribuído a ruas em Jardim Guanabara (Rio de Janeiro) e São José do Rio Preto (São Paulo).

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Suellen de Sousa Barbosa, op. cit. abaixo, pesquisando Arquivo Miroel Silveira da Biblioteca da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, sobre os processos ali arquivados e oriundos do Serviço de Censura da Divisão de Diversões Públicas do Estado de São Paulo (DDP-SP), descreve a biografia de Eurico Silva, informando o local de seu nascimento e a data aqui consignada, que difere daquela informada por Ronaldo Conde, op. cit. abaixo, que consigna 18 de setembro. Nenhum dos dois informa a data de falecimento.
  2. a b c d e f Barbosa, Suellen de Sousa (Março de 2009). «A presença portuguesa no Arquivo Miroel Silveira» (doc.) 
  3. a b c Aguiar, Ronaldo Conde. Editora Casa da Palavra, ed. Almanaque da Rádio Nacional. 2007 ilustrada ed. [S.l.: s.n.] p. 148. ISBN 8577340821 
  4. Prado, Décio de Almeida (1988). O teatro brasileiro moderno. [S.l.]: Editora Perspectiva 
  5. Ferreira, Procópio (2000). Procópio Ferreira apresenta Procópio: um depoimento para a história do teatro no Brasil. [S.l.]: Rocco 
  6. Silva, Eurico (1971). Pense alto!. (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  7. Silva, Eurico (1968). Divorciados: comédia (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  8. Augusto, Sergio (1989). Este mundo é um pandeiro: a chanchada de Getúlio a JK. [S.l.]: Companhia das Letras 
  9. Vieira, Jonas (1985). Orlando Silva, o cantor das multidões. [S.l.]: FUNARTE/Instituto Nacional de Música, Divisão de Música Popular 
  10. Gonçalves, Augusto de Freitas Lopes (1982). Dicionario histórico e literário do teatro no Brasil. [S.l.]: Livraria Editora Cátedra 
  11. A Rádio Nacional: alguns dos momentos que contribuíram para o sucesso da Rádio Nacional. [S.l.]: Editora Nova Fronteira. 2005 
  12. Barros, Luiz de (1978). Minhas memórias de cineasta. [S.l.]: Editora Artenova 
  13. Demasi, Domingos (2001). Chanchadas e dramalhões (em espanhol). [S.l.]: Min.da Cultura, FUNARTE 
  14. Lunardelli, Fatimarlei (1996). O psit!: o cinema popular dos Trapalhões. [S.l.]: Artes e Ofícios 
  15. Luiz Artur Ferraretto (2 de dezembro de 2007). «Afinal, existe uma época de ouro do rádio?». Carosouvintes.org. Consultado em 3 de abril de 2010 
  16. Carla Soares Martin (15 de janeiro de 2008). «Seção Entre Aspas». Observatório da Imprensa. Consultado em 3 de abril de 2010 
  17. Salvador,Roberto (6 de maio de 2016). A era do radioteatro: O registro da história de um gênero que emocionou o Brasil. [S.l.]: Gramma 
  18. Revista de teatro. [S.l.]: Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. 1976 
  19. Memorial da Fama. «Telenovelas da Rede Tupi». Consultado em 3 de abril de 2010 
  20. Salvador,Roberto (6 de maio de 2016). A era do radioteatro: O registro da história de um gênero que emocionou o Brasil. [S.l.]: Gramma. ISBN 9788598555980 
  21. Andrade, Almir de (1941). Cultura politica: revista mensal de estudos brasileiros. [S.l.: s.n.] 
  22. Silva, Eurico (1934). Pense alto!--: comédia simbólica com prólogo, seis quadros e epilogo : dividida em tres atos. [S.l.]: Sociedade Brasileira de Autores Teatrais 
  23. Magaldi, Sábato; Vargas, Maria Thereza (2000). Cem anos de teatro em São Paulo, 1875-1974. [S.l.]: Editora SENAC São Paulo 
  24. Silva, Eurico (1942). A felicidade póde esperar ...: novela em três capítulos, divididos em sete episódios. [S.l.]: Coelho 
  25. Costa, Licurgo (1982). O continente das Lagens: sua história e influência no sertão da terra firme. [S.l.]: FCC Edições 
  26. Júnior, Santos (1950). A ceia dos caipiras: comédia em 1 ato, em prosa rimada : paródia à Ceia dos cardeais de Julio Dantas. [S.l.]: Editôra Talmagráfica