Frente de Libertação dos Açores
Frente de Libertação dos Açores | |
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Bandeira da FLA, uma adaptação da primeira bandeira da autonomia. Note-se a simbologia da proteção das estrelas pelo milhafre. | |
Área de atividade | Açores, Portugal |
Ideologia | Separatismo Nacionalismo Anticomunismo |
Status | Movimento ativo[1][2] |
A Frente de Libertação dos Açores (FLA) foi um movimento que, no contexto da Revolução dos Cravos em Portugal, pleiteou a independência dos Açores com relação àquele país. Foi uma organização similar à Frente de Libertação do Arquipélago da Madeira.
História[editar | editar código-fonte]
O seu antecessor foi o Movimento para a Autodeterminação do Povo Açoriano, surgido em 6 de junho de 1974. Após a Revolução do 25 de Abril, em Portugal, alguns dos militantes do MAPA criaram a FLA, abertamente separatista, em Londres a 8 de abril de 1975. Declarava a sua liderança: “Ser independentista é concordar sem reservas com a resolução Nº 1514 da Assembleia Geral das Nações Unidas que afirma que os povos podem, para seus próprios fins, dispor das suas riquezas e recursos naturais sem prejuízo das obrigações resultantes da cooperação económica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo e do direito internacional.“[3]
Destacou-se como líder da organização o antigo deputado da Ação Nacional Popular à Assembleia Nacional do Estado Novo, José de Almeida, que desempenhava funções no dia 25 de Abril de 1974. Na sua génese, o movimento apresentou-se marcadamente contra alguns partidos de extrema esquerda, não que “fossem anticomunistas, mas sim porque eram contra o Partido Comunista Português”7 e todas as organizações que pactuavam ativamente com o Governo de Lisboa. A sua base de apoio era muito diversificada verificando-se apoios de agricultores, trabalhadores de escritório e outro tipo de profissionais, havendo muitos que manifestavam abertamente simpatia pela social democracia 6 . Alguns defendem que a FLA teve um forte apoio da "burguesia" da ilha de São Miguel - proprietários e latifundiários receosos de uma possível nacionalização das suas terras, à semelhança do que sucedia em Portugal na época, porém, de acordo com o jornalista Duarte Figueiredo a FLA tinha "real implantação" no arquipélago dos Açores, “nomeadamente nas ilhas de S. Miguel, Terceira e Pico”7 , não sendo exclusivamente apoiada por um pequeno grupo de privilegiados.
Sociologicamente esse grupo, "teve uma ampla base de apoio, que inclui socialistas e classe trabalhadora rural" (Tavares, 2017, p. 29), para além dos sociais-democratas e centristas, que desde a primeira hora estiveram ao lado do independentistas.
José de Almeida tentou repetidas vezes negociar com o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América as condições para uma presumida independência do arquipélago. Em caso de um sucesso da extrema-esquerda no Verão Quente em Portugal, certas figuras de estado, como Jesse Helms, defendiam o apoio à independência dos Açores.[4] Todavia, foi rejeitado qualquer apoio pelo governo, principalmente depois da estabilização da situação política em Portugal a partir do 25 de Novembro.
Do ponto de vista económico, os independentistas propuseram como principais meios de subsistência do seu projectado Estado, a renda que deveria vir da base das Lajes, na Terceira, e o recurso à energia geotermal, para suprir as necessidades energéticas que adviriam de um isolamento inicial face a Portugal.
Apesar de todas as ações desenvolvidas no âmbito do plano de acção da FLA [5], não se conhece um seu responsável que tivesse sido condenado.
Ideologia[editar | editar código-fonte]
A FLA é considerada por diversas personalidades regionais, como o historiador José Medeiros Ferreira, os escritores Manuel Barbosa, Cristóvão de Aguiar e João de Melo como tendo sido de "ideologia fascista", mais não pretendendo que a perpetuação do fascismo nas ilhas.
Cronologia[editar | editar código-fonte]
- 8 de abril - criação da FLA em Londres.
- 6 de junho – "manifestações quentes" do 6 de junho em Ponta Delgada que culminam com a demissão do governador civil António Borges Coutinho, conotado com o MDP/CDE, por falta de apoio do governador militar Altino Pinto de Magalhães. Foi ainda invadido o emissor regional.[6] FLA reinvidica esta manifestação como sendo independentista.[7]
- 12 de agosto – a FLA assegura que vai recorrer à violência para conseguir os seus objectivos de independência para os Açores
- 18 de agosto – aprovadas moções exigindo a transferência para fora dos Açores dos militantes do PCP e "seus satélites", incluindo um padre.
- 19 de agosto – destruição das sedes do PCP em Ponta Delgada e as sedes do PCP MDP/CDE e do MES em Angra do Heroísmo.[8]
- Agosto - é criado o Exército de Libertação dos Açores, braço armado da FLA. Numa reunião das FLA nas Canárias é decidido que o caminho para a independência pode ser abandonado se em Portugal se consolidar a linha do Grupo dos Nove.[8]
- 21 de outubro – É denunciado que a FLA actua impunemente nas ilhas Terceira e São Miguel, com apoio ou tolerância das autoridades civis e militares.
- Outubro – são difundidos pela primeira vez pelo Rádio Clube de Angra, os princípios programáticos da FLA.[9]
Referências
- ↑ «FLA critica comemorações do 10 de junho». RTP Açores. 18 de junho de 2018. Consultado em 29 de outubro de 2019
- ↑ «Jantar recorda o 6 de junho (Vídeo)». RTP Açores. 7 de junho de 2019. Consultado em 29 de outubro de 2019
- ↑ «Em 1975, EUA estavam dispostos a apoiar independência dos Açores». JTM (em inglês). 6 de junho de 2022. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ «Frank Carlucci (1930-2018): "Se os comunistas têm sido mais inteligentes, teriam conquistado o poder"». Jornal Expresso. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ Rainer Daehnhardt recorda o deslocamento de jovens açorianos a Lisboa, a içarem a bandeira da FLA num mastro no Aeroporto da Portela, no Castelo de São Jorge e no monumento ao Marquês de Pombal naquela capital à época (in: Feitos dos Portugueses na Índia Consultado em 8 fev. 2009.
- ↑ «Cronologia pulsar da revolução». Universidade de Coimbra. Consultado em 27 de fevereiro de 2011
- ↑ Lusa (1 de dezembro de 2014). «Morreu o líder histórico da Frente de Libertação dos Açores». PÚBLICO. Consultado em 11 de julho de 2024
- ↑ a b «Cronologia pulsar da revolução». Universidade de Coimbra. Consultado em 27 de fevereiro de 2011
- ↑ «Cronologia pulsar da revolução». Universidade de Coimbra. Consultado em 27 de fevereiro de 2011
Ligações externas[editar | editar código-fonte]