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George Wickham

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George Wickham
Personagem de Orgulho e Preconceito

Ilustração de George Wickham por Hugh Thomson (1894).
Informações gerais
Criado por Jane Austen
Informações pessoais
Nascimento Pemberley, Derbyshire, Inglaterra
Língua original inglês
Características físicas
Sexo Masculino
Informações profissionais
Ocupação Oficial da milícia
Afiliações anteriores Sr. Darcy (padrinho)

George Wickham é um personagem fictício de Orgulho e Preconceito (1813), o segundo romance publicado pela escritora britânica Jane Austen.

Wickham é um oficial da milícia, ele cresceu ao lado do protagonista Fitzwilliam Darcy e de sua irmã Georgiana, tendo sido apadrinhado no passado pelo pai dos irmãos Darcy. Wickham possui um comportamento charmoso e de presença calorosa, o que atrai rapidamente a simpatia da protagonista Elizabeth Bennet. Entretanto, sua verdadeira natureza é de uma pessoa manipuladora e sem princípios, um mentiroso e jogador compulsivo, além de ser um sedutor e viver o estilo de vida de um libertino.

Um personagem secundário, Wickham desempenha um papel crucial no desenrolar de Orgulho e Preconceito como um contraponto a Darcy. Além disso, é pouco delineado por Austen a fim de encorajar o leitor a compartilhar da mesma primeira impressão que Bennet teve dele. A inspiração para o enredo desenvolvido em torno de Wickham foi Tom Jones, um romance de Henry Fielding, onde dois meninos — um rico, um pobre — crescem juntos e têm um relacionamento de confronto quando se tornam adultos.

A influência de Henry Fielding pode ser sentida no desenvolvimento do personagem de Wickham. Ele tem traços dos principais protagonistas de The History of Tom Jones, a Foundling, sendo eles o herói Tom Jones, e seu meio-irmão, Blifil.[1] Há uma semelhança entre o relacionamento de confronto entre os dois personagens no romance de Fielding e naquele criado por Austen entre Wickham e Darcy. No início de sua obra, Austen dá a Wickham a aparência de um herói por sua boa aparência e maneiras distintas: ele lembra o enjeitado Tom Jones, que cresceu na mesma propriedade e recebeu a mesma educação e carinho que Blifil.[2] Mas enquanto Jones, que tem uma alma íntegra, supera seus infortúnios e mostra nobreza de caráter, Wickham não se corrige porque esconde uma alma corrupta sob sua bela aparência. Como o traiçoeiro Blifil, Wickham é banido permanentemente do "paraíso" de sua infância, Pemberley.[3]

É possível também que Austen tenha sido influenciada para estabelecer a relação entre Wickham e Darcy, segundo Laurie Kaplan, por Proteu e Valentine, dois personagens de Os Dois Cavalheiros de Verona de William Shakespeare, pois ela lembra o quão sutilmente Austen toma emprestado da comédia shakespeariana. Proteu, embora filho de um cavalheiro, está embriagado pelas facilidades e pelo luxo da Corte de Milão, para onde foi enviado por seu pai, e se comporta mal com seu amigo de infância, Valentim, traindo e caluniando-o, causando seu exílio, enquanto Valentine nunca para, mesmo na adversidade de se comportar nobremente.[4] Outro paralelo da juventude de Wickham e Darcy pode se dar pelas figuras bíblicas Jacó e Esaú.[5]

Além destes, Henry Austen é considerado uma inspiração óbvia para Wickham por Claire Tomalin, que cita a incapacidade de Henry e Wickham de se decidirem por uma carreira ou uma noiva, e como Wickham assim como Henry, "mostra-se mais agradável do que confiável".[6]

Sheryl Craig sugere que Wickham recebeu este nome do espião contemporâneo William Wickham (1761–1840), que era uma figura de alguma notoriedade na época. Segundo ela, "os primeiros leitores de Jane Austen teriam imediatamente conectado o sobrenome Wickham a engano, segredos, espiões e desaparecimento de dinheiro".[7]

Edward Ashley-Cooper (esquerda) e Rupert Friend (direita) interpretam George Wickham nas adaptações cinematográficas de Orgulho e Preconceito de 1940 e 2005, respectivamente.

Adaptações de Orgulho e Preconceito surgiram no rádio, teatro e televisão ao longo das décadas. Em 1938, foi exibida através da emissora BBC, a primeira adaptação da obra para a televisão, com André Morell no papel de George Wickham. Em 1952, uma nova adaptação televisiva foi exibida pela BBC.[8][9] com Richard Johnson como o personagem.[10]

A primeira representação de Wickham em adaptações para o cinema, ocorreu no filme Orgulho e Preconceito de 1940 , o qual Edward Ashley-Cooper interpreta Wickham. Na obra, assim como nas comédias do tipo screwball em geral, a psicologia dos personagens não é investigada,[11] e Wickham é um personagem muito secundário e superficial. Mais tarde, em 1958, uma adaptação televisiva de Orgulho e Preconceito foi produzida pela BBC, o qual Colin Jeavons interpreta Wickham.[12] Em 1967, outra adaptação televisiva de Orgulho e Preconceito foi produzida pela BBC, contendo Richard Hampton como Wickham.[13]

A partir da adaptação televisiva de 1980 de Orgulho e Preconceito, esta em uma coprodução da BBC com Australian Broadcasting Corporation, se dá mais atenção a Wickham,[11] com Bennet tendo mais simpatia por ele. Nesta obra o mesmo é interpretado por Peter Settelen. Na década de noventa, Adrian Lukis interpreta Wickham na adaptação televisiva de Orgulho e Preconceito (1995) pela BBC, o qual destaca-se ainda mais a natureza de duas faces do personagem. Ele aparece como uma figura muito mais sombria do que na versão anterior, o que pode explicar por que a atração que ele exerce sobre Bennet é menos enfatizada do que na série de 1980.[14]

Na segunda adaptação para o cinema de Orgulho e Preconceito em 2005, Wickham desempenha um papel pequeno,[15] o personagem é interpretado por Rupert Friend, sendo retratado como sombrio e perturbador, até mesmo brutal como quando empurra Lydia Bennet para dentro da carruagem enquanto a mesma se despede chorosa de deixar Longbourn para sempre. Ele tem o "encanto reptiliano de um belo sociopata", o que sugere um casamento infeliz.[16]

Obras derivadas

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Diversas obras derivadas ou que se inspiram nos personagens de Orgulho e Preconceito foram sendo lançadas, o que inclui Wickham. No romance O Diário de Bridget Jones (1996), e sua adaptação cinematográfica lançada em 2001, Helen Fielding foi inspirada por Wickham para criar o personagem Daniel Cleaver, o chefe mulherengo e covarde de Bridget Jones, sendo interpretado no cinema por Hugh Grant.[17] Em 2008, uma série de televisão intitulada Lost in Austen foi exibida pela ITV, com Tim Riley interpretando um Wickham ambíguo, mas positivo e charmoso, que insere a protagonista Amanda Price nos costumes da sociedade georgiana[18]

Na websérie estadunidense The Lizzie Bennet Diaries (20212–2013) em uma versão modernizada, Wickham é o treinador de um time de natação universitário e interpretado por Wes Aderhold.[19] Ele é retratado como sendo abusivo e manipulador com Lydia. Na obra Morte em Pemberley (2011) de P. D. James, que mais tarde foi adaptada para a televisão como uma minissérie da BBC, Wickham interpretado por Matthew Goode[20] é o principal suspeito de assassinar o capitão Danny. Wickham desempenha ainda um papel central no romance de Claudia Gray, The Murder of Mr. Wickham (2022).[21]

Referências

  1. Margaret Anne Doody, "Reading", The Jane Austen companion, Macmillan, 1986 ISBN 978-0-02-545540-5 (em inglês) p. 358-362
  2. Ian Littlewood (1998), Jane Austen: critical assessments, ISBN 978-1-873403-29-7 (em inglês), 2, pp. 183–184 
  3. Jo Alyson Parker (1991), «Pride and Prejudice: Jane Austen's Double Inheritance Plot», in: Herbert Grabes, Yearbook of research in English and American Literature, ISBN 978-3-8233-4161-1 (em inglês), pp. 173–175 
  4. Laurie Kaplan (2005). «The Two Gentlemen of Derbyshire: Nature vs. Nurture». Jasna.org (em inglês). Consultado em 8 de maio de 2015 
  5. Jennifer Preston Wilson (2004). «"One has got all the goodness, and the other all the appearance of it": The Development of Darcy in Pride and Prejudice». Jasna.org (em inglês). Consultado em 8 de maio de 2015 
  6. Tomalin, Claire (1997). Jane Austen : a life (em inglês) 1 ed. Londres: Viking. pp. 164–165. ISBN 0-670-86528-1 
  7. Craig, Sheryl (2015). «Jane and the Master Spy». Persuasions On-Line (em inglês). 36 (1) 
  8. «Radio Times - Television (Sunday, May 22 to Saturday, May 28)» (PDF) (em inglês). Radio Times. p. 31. Consultado em 18 de setembro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de junho de 2021 
  9. «The Pride and Prejudice years» (em inglês). BBC. 24 de setembro de 2015. Consultado em 18 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 30 de março de 2016 
  10. Pendreigh, Brian (8 de junho de 2015). «Obituary: Richard Johnson, actor» (em inglês). Edimburgo: The Scotsman. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  11. a b Parrill, Sue (2002). Jane Austen on Film and Television: A Critical Study of the Adaptations (em inglês). [S.l.]: McFarland. p. 54. 229 páginas. ISBN 978-0786413492 
  12. «Radio Times - October 10, 1958». BBC (em inglês). Radio Times. p. 14. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  13. «Pride and Prejudice 6: Destiny». BBC (em inglês). BBC Genome. Consultado em 18 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 23 de junho de 2021 
  14. Martin, Lydia (1 de setembro de 2007). Les adaptations à l'écran des romans de Jane Austen: Esthétique et idéologie (em francês). Paris: L'Harmattan. p. 106. 274 páginas. ISBN 9782296039018 
  15. Camden, Jen (2007). «Sex and the Scullery: The New Pride & Prejudice». Jasna.org (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2022 
  16. Stewart-Beer, Catherine (2007). «Style over Substance? Pride & Prejudice (2005) Proves Itself a Film for Our Time». Jasna.org (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2022 
  17. Dallas, Janine Steffan (17 de abril de 2000). «Seen, Heard, Said» (em inglês). The Seattle Times. Consultado em 11 de setembro de 2024. Arquivado do original em 30 de dezembro de 2013 
  18. Kaplan, Laurie. «"Completely without Sense": Lost in Austen» (PDF). Jasna.org (em inglês). Consultado em 18 de setembro de 2022 
  19. «George Wickham» (em inglês). Pemberley Digital. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  20. Furquim, Fernanda (18 de junho de 2013). «Definido o elenco de 'Death Comes to Pemberley'». Grupo Abril. Veja. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  21. «The Murder of Mr. Wickham» (em inglês). Vintage Books. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  • Austen, Jane (1943) [1813]. Orgulho e Preconceito. Traduzido por Alberto de Serpa; Ersílio Cardoso Portugal ed. Lisboa: Inquérito. 396 páginas 
  • Austen, Jane (1941) [1813]. Orgulho e Preconceito. Traduzido por Lúcio Cardoso Brasil ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio. 408 páginas 
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