Greenwashing

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A British Petroleum faz uso da cor verde no seu logótipo, nos seus produtos e nos seus postos de abastecimento, sendo o logótipo constituído por um girassol estilizado, sendo que a cor típica amarelada dos girassóis também está presente no referido logótipo. Considerando que se trata de uma empresa do setor dos produtos petrolíferos, sendo estes conhecidos por serem nefastos para o ambiente, a empresa BP alinha assim de certa forma, na prática de greenwashing.[1][2]

O anglicismo greenwashing (do inglês green, verde, e whitewash, branquear ou encobrir) ou banho verde[3][4][5] indica a injustificada apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações (empresas, governos, etc.) ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. Tal prática tem como objetivo criar uma imagem positiva, diante a opinião pública, acerca do grau de responsabilidade ambiental dessas organizações ou pessoas (bem como de suas atividades e seus produtos), ocultando ou desviando a atenção de impactos ambientais negativos por elas gerados.

O greenwashing é uma ação que empresas realizam para "maquiar" os seus produtos e tentar passar a ideia de que eles são ecoeficientes, ambientalmente corretos, provêm de processos sustentáveis, entre outros. Assim, termos e expressões como “eco”, “ecológico”, “menos poluente” e “sustentável” começam a aparecer nas embalagens e rótulos de diversos produtos, na tentativa de indicar que as empresas são ambientalmente responsáveis.[6]

Essa demanda muitas vezes gera procedimentos incorretos, em que se incluem informações falsas, irrelevantes ou confusas, que fazem com que o consumidor tenha ceticismo para com os produtos "verdes" e se mostre confuso aquando da escolha ou avaliação entre produtos de empresas realmente "verdes" e outras que primam pelas ações do greenwashing. Logo, o greenwashing, além de não fornecer qualquer contributo positivo para o meio ambiente, ainda gera desconfiança nos consumidores, afastando-os dos produtos, de facto, ambientalmente corretos.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O termo greenwash surge em 1989, em um artigo da revista New Scientist,[7] sendo logo substantivado como greenwashing em 1991,[8] por analogia com brainwashing.[9] O termo se difunde amplamente nos anos 2006 e 2007,[10][11] paralelamente à difusão do próprio fenômeno. A cor é em referência ao movimento ambientalista.

Sinais[editar | editar código-fonte]

  • Malefícios esquecidos. Ex.: equipamento eletrônico eficiente energeticamente, mas que contenha materiais prejudiciais à saúde e ao meio ambiente;
  • Paradoxos. Ex.: combustível de origem fóssil alegadamente verde como gasolina eco; ou automóveis verdes quando qualquer automóvel polui muito mais que qualquer transporte público ou modo ativo para mobilidade.
  • Produtos verdes x empresa suja. Ex: como lâmpadas eficientes feitas em uma fábrica que polui rios;
  • Falsa analogia. Ex.: uso injustificado de cenários naturais para vender produtos ambientalmente inadequados. Ex: veículos poluidores do ar trafegando em florestas preservadas.
  • Falta de clareza. Ex.: uso de expressões vagas, como "ecologicamente amigável" (eco-friendly);
  • Falta de provas. Ex.: xampu, sabão ou detergente que afirma ter certificação ambiental, mas que não se pode confirmar a veracidade.
  • Promessas vagas. Ex.: produtos que se anunciam como 100% naturais, como garantia de segurança, embora muitas substâncias que ocorrem na natureza sejam prejudiciais ou tóxicas, como o arsênio e o formaldeído.
  • Irrelevância. Ex.: ênfase sobre um insignificante atributo que é "verde", quando todos os demais atributos não o são. Ex.: informar que o produto é livre de CFC[desambiguação necessária], substância proibida há vinte anos.
  • Mentira. Ex.: uso de certificados ambientais que parecem ser emitidos por uma entidade reconhecida (EcoLogo, Energy Star etc.) mas que, de fato, não o são.
  • Uso de jargão "científico" e de informações que a maioria das pessoas não é capaz de entender.
  • "Demônios Maquiados" . Ex.: cigarros orgânicos ou pesticidas "ambientalmente amigáveis".[12]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Falta de integridade[editar | editar código-fonte]

Ao utilizar o greenwashing, as empresas podem apresentar os seus negócios como mais ecologicamente sustentáveis ​​do que realmente são. De acordo com um relatório político, o greenwashing inclui riscos como publicidade e comunicações públicas enganosas, credenciais ESG [13] [14](Governança Ambiental, Social e Corporativa) enganosas e reivindicações de créditos de carbono falsas ou enganosas. Após uma análise jurídica profunda, o relatório Riscos de corrupção e integridade em soluções climáticas mostra que as regulamentações são significativamente mais fracas para credenciais ESG enganosas do que para padrões de publicidade e lavagem climática. Apesar das obrigações impostas, as agências de classificação ESG ou os auditores ESG não são regulamentados em nenhuma jurisdição analisada. Fatores como a falta de supervisão por parte de prestadores de serviços ambientais terceiros, a opacidade das metodologias de pontuação interna e a falta de alinhamento e consistência em torno das avaliações ESG podem criar oportunidades para alegações enganosas ou infundadas e, no pior dos casos, suborno ou fraude. [15]

Efeitos psicológicos[editar | editar código-fonte]

O greenwashing é uma área de investigação relativamente nova dentro da psicologia e há pouco consenso entre os estudos sobre como o greenwashing afecta os consumidores e as partes interessadas. Devido à variação entre países e geografia em estudos publicados recentemente, a discrepância entre o comportamento do consumidor nos estudos pode ser atribuída a diferenças culturais ou geográficas.

Efeito na percepção do consumidor[editar | editar código-fonte]

Os investigadores descobriram que os consumidores favorecem significativamente os produtos ecológicos em detrimento dos seus homólogos pintados de verde.  Uma pesquisa realizada pela LendingTree descobriu que 55% dos americanos estão dispostos a gastar mais dinheiro em produtos que consideram mais sustentáveis ​​e ecológicos. As percepções dos consumidores sobre o greenwashing também são mediadas pelo nível de greenwashing a que estão expostos.  Outra investigação sugere que poucos consumidores reparam no greenwashing, especialmente quando consideram a empresa ou marca respeitável. Quando os consumidores percebem a publicidade verde como credível, desenvolvem atitudes mais positivas em relação à marca, mesmo quando a publicidade é lavada de verde. [16]

Outra investigação sugere que os consumidores com mais preocupação ecológica são mais capazes de distinguir entre o marketing verde honesto e a publicidade verde; quanto mais preocupação verde, mais forte é a intenção de não comprar de empresas das quais percebem um comportamento publicitário de greenwashing. Quando os consumidores usam o boca-a-boca para comunicar sobre um produto, a preocupação verde fortalece a relação negativa entre a intenção de compra do consumidor e a percepção do greenwashing. A pesquisa sugere que os consumidores desconfiam das empresas que fazem lavagem verde porque consideram o ato enganoso. Se os consumidores perceberem que uma empresa se beneficiaria realisticamente com a veracidade de uma afirmação de marketing verde, então é mais provável que a afirmação e a empresa sejam vistas como genuínas. A disposição dos consumidores em comprar produtos verdes diminui quando percebem que os atributos verdes comprometem a qualidade do produto, tornando o greenwashing potencialmente arriscado, mesmo quando o consumidor ou as partes interessadas não são céticos em relação às mensagens verdes. Palavras e frases frequentemente usadas em mensagens verdes e lavagem verde, como “gentil”, podem levar os consumidores a acreditar que o produto verde é menos eficaz do que uma opção não verde. [17]

Propaganda[editar | editar código-fonte]

Os rótulos ecológicos podem ser atribuídos a um produto de uma organização externa e da própria empresa. Isto suscitou preocupações porque as empresas podem rotular um produto como verde ou amigo do ambiente, divulgando selectivamente os atributos positivos do produto, sem revelar os danos ambientais.  Os consumidores esperam ver rótulos ecológicos de fontes internas e externas, mas consideram os rótulos de fontes externas mais confiáveis. Pesquisadores da Universidade de Twente descobriram que rótulos ecológicos internos não certificados ou com lavagem verde ainda podem contribuir para a percepção dos consumidores de uma empresa responsável, com os consumidores atribuindo motivação interna à rotulagem ecológica interna de uma empresa.  Outra pesquisa que conecta a teoria da atribuição e o greenwashing descobriu que os consumidores muitas vezes percebem a publicidade verde como greenwashing quando as empresas usam anúncios verdes, atribuindo a mensagem verde ao interesse próprio corporativo. A publicidade verde pode sair pela culatra, especialmente quando a alegação ambiental anunciada não corresponde ao compromisso ambiental da empresa. [18]

Implicações para negócios verdes[editar | editar código-fonte]

Pesquisadores que trabalham com percepção do consumidor, psicologia e lavagem verde observam que as empresas deveriam "fazer o mesmo" em relação à publicidade e ao comportamento verdes para evitar as conotações e percepções negativas do lavagem verde. O marketing, a rotulagem e a publicidade verdes são mais eficazes quando correspondem ao compromisso ambiental de uma empresa. Isto também é mediado pela visibilidade desses compromissos ambientais, o que significa que se os consumidores não tiverem conhecimento do compromisso de uma empresa com a sustentabilidade ou do espírito ambientalmente consciente, não poderão ter em conta o verde na sua avaliação da empresa ou do produto. A exposição significativa ao greenwashing pode tornar o consumidor indiferente ou gerar sentimentos negativos em relação ao marketing verde. As empresas genuinamente verdes devem trabalhar mais para se diferenciarem daquelas que fazem alegações falsas. Os consumidores também podem reagir negativamente a alegações válidas de sustentabilidade devido a experiências negativas com o greenwashing. [19]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «BP's Long History Of Greenwashing and Accidents» (em inglês). 18 de maio de 2010. Consultado em 23 de agosto de 2016 
  2. «Greenwash: BP and the myth of a world 'Beyond Petroleum'». The Guardian (em inglês). 20 de novembro de 2008. ISSN 0261-3077 
  3. Naime, Roberto; Klain, Simoni (2012). «ESTUDO SOBRE A CONSCIENTIZAÇÃO DO CONSUMIDOR NA PRÁTICA DOS GESTOS DE CONSUMO: ESTUDO DE CASO COM ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE FEEVALE». Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. 8 (8): 1851–1866. ISSN 2236-1170. doi:10.5902/223611707272 
  4. «Preços são mais importantes que ecologia - Portal Aprendiz». Portal Aprendiz. 18 de julho de 2007 
  5. «Greenwashing é o nome comercial da demagogia verde». exame.abril.com.br. Consultado em 24 de julho de 2018 
  6. Chen, Y.S.., & Chang, C. H . (2013). «Greenwash and green trust: The mediation effects of green consumer confusion and green perceived risk». Journal of Business Ethics. 114(3), 489-500 
  7. Aid to disaster', New Scientist, 7 de outubro de 1989.
  8. David Beers e Catherine Capellaro Greenwash!. Mother Jones, março-abril de 1991.
  9. Merriam-Webster Dictionary: "greenwashing"
  10. Le greenwashing ou la séduction entre le dit et le non-dire : études de procédés discursifs Arquivado em 31 de julho de 2013, no Wayback Machine.. Por Elodie Vargas, 2009,
  11. 6 fois plus de greenwashing en 3 ans, por Frederick Curling, GreenIT, 26 de novembro de 2009
  12. «The Greenwash Guide» (PDF). Consultado em 24 de novembro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 13 de maio de 2014 
  13. A sigla ESG vem do inglês "Environmental, Social and Governance", que significa "Governança Ambiental, Social e Corporativa"
  14. É um conjunto de critérios usados para avaliar o desempenho de uma empresa além dos resultados financeiros tradicionais. Empresas socialmente responsáveis levam em conta os impactos ambientais e sociais de suas atividades, além da forma como se governam. Veja a seguir os três pilares do ESG:
    • Ambiental (Environmental): Analisa o impacto da empresa no meio ambiente, considerando aspectos como emissões de gases de efeito estufa, consumo de energia e água, gestão de resíduos e poluição.
    • Social (Social): Aborda as relações da empresa com seus funcionários, fornecedores, clientes e a comunidade onde está inserida. Avalia aspectos como diversidade e inclusão, saúde e segurança do trabalho, direitos humanos e práticas trabalhistas justas.
    • Governança Corporativa (Governance): Diz respeito à forma como a empresa é administrada. Considera a transparência, ética nos negócios, conselho de administração diversificado, combate à corrupção e mecanismos de prestação de contas.
    Empresas que adotam práticas ESG tendem a ser mais resilientes a crises, atrair e reter talentos, obter melhores resultados financeiros a longo prazo e contribuir para a construção de um futuro mais sustentável.
  15. Chan, Tiffanie; Ford, Laura; Higham, Catherine; Pouget, Shirley; Setzer, Joana (October 2023). Corruption and integrity risks in climate solutions: an emerging global challenge (PDF) (Technical report). London School of Economics and Political Science.
  16. Lee, Jeonggyu; Bhatt, Siddharth; Suri, Rajneesh (2017-12-12). "When consumers penalize not so green products". Psychology & Marketing. 35 (1): 36–46. doi:10.1002/mar.21069. ISSN 0742-6046; Sherrier, Julie. "55% Would Spend More on Eco-Friendly Products While Willing to Boycott Less-Green Companies". LendingTree; Torelli, Riccardo; Balluchi, Federica; Lazzini, Arianna (2019-08-14). "Greenwashing and environmental communication: Effects on stakeholders' perceptions". Business Strategy and the Environment. 29 (2): 407–421. doi:10.1002/bse.2373. hdl:11380/1197669. ISSN 0964-4733. S2CID 202310493;
  17. Foreh, Mark R.; Grier, Sonya (2003). "When Is Honesty the Best Policy? The Effect of Stated Company Intent on Consumer Skepticism". Journal of Consumer Psychology. 13 (3): 349–356. doi:10.1207/S15327663JCP1303_15. ISSN 1532-7663;Newman, George E.; Gorlin, Margarita; Dhar, Ravi (2014-10-01). "When Going Green Backfires: How Firm Intentions Shape the Evaluation of Socially Beneficial Product Enhancements". Journal of Consumer Research. 41 (3): 823–839. doi:10.1086/677841. ISSN 0093-5301.
  18. Lyon, Thomas P.; Montgomery, A. Wren (2015-03-23). "The Means and End of Greenwash". Organization & Environment. 28 (2): 223–249. doi:10.1177/1086026615575332. ISSN 1086-0266. S2CID 154964909; Gosselt, Jordy F.; van Rompay, Thomas; Haske, Laura (March 2019). "Won't Get Fooled Again: The Effects of Internal and External CSR ECO-Labeling". Journal of Business Ethics. 155 (2): 413–424. doi:10.1007/s10551-017-3512-8. ISSN 0167-4544. S2CID 157638391; Nyilasy, Gergely; Gangadharbatla, Harsha; Paladino, Angela (December 2014). "Perceived Greenwashing: The Interactive Effects of Green Advertising and Corporate Environmental Performance on Consumer Reactions". Journal of Business Ethics. 125 (4): 693–707. doi:10.1007/s10551-013-1944-3. hdl:11343/282809. ISSN 0167-4544. S2CID 154101047.
  19. Berrone, Pascual; Fosfuri, Andrea; Gelabert, Liliana (August 2017). "Does Greenwashing Pay Off? Understanding the Relationship Between Environmental Actions and Environmental Legitimacy". Journal of Business Ethics. 144 (2): 363–379. doi:10.1007/s10551-015-2816-9. ISSN 0167-4544. S2CID 152869329; Szabo, Szerena; Webster, Jane (2020-02-28). "Perceived Greenwashing: The Effects of Green Marketing on Environmental and Product Perceptions". Journal of Business Ethics. 171 (4): 719–739. doi:10.1007/s10551-020-04461-0. ISSN 1573-0697. S2CID 213799479.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Catherine, P. (n.d). Eco-friendly labelling? It's a lot of 'greenwash'. Toronto Star (Canada), Retrieved from Newspaper Source database.
  • Clegg, Brian. 2009. Eco-logic: Cutting Through the Greenwash: Truth, Lies and Saving the Planet. London: Eden Project. ISBN 978-1-905811-25-0.
  • Dobin, D (2009). «Greenwashing harms entire movement». Lodging Hospitality. 65 (14): 42 
  • Greer, Jed, and Kenny Bruno. 1996. Greenwash: The Reality Behind Corporate Environmentalism. Penang, Malaysia: Third World Network. ISBN 983-9747-16-9.
  • Jenny, D. (n.d). New reports put an end to greenwashing. Daily Telegraph, The (Sydney), Retrieved from Newspaper Source database.
  • Jonathan, L. (n.d). Why 'greenwash' won't wash with consumers. Sunday Times, The, Retrieved from Newspaper Source database.
  • Lippert, I. (2011). Greenwashing. In K. Wehr, editor, Encyclopedia of Green Culture. New Delhi: Sage Publications. ISBN 978-1-4129-9693-8. doi:10.4135/9781412975711.n67
  • Lubbers, Eveline. 2002. Battling Big Business: Countering Greenwash, Infiltration, and Other Forms of Corporate Bullying. Monroe, ME: Common Courage Press. ISBN 1-56751-224-0
  • Priesnitz, W. (2008). Greenwash: When the green is just veneer. Natural Life, (121), 14-16. Retrieved from GreenFILE database.
  • Seele, P., and Gatti, L. (2015) Greenwashing Revisited: In Search of a Typology and Accusation-Based Definition Incorporating Legitimacy Strategies. Bus. Strat. Env., doi: 10.1002/bse.1912.
  • Tokar, Brian. 1997. Earth for Sale: Reclaiming Ecology in the Age of Corporate Greenwash. Boston: South End Press. ISBN 0-89608-558-9.
  • (2009). Greenwashing culprits to be foiled ahead of business summit. European Environment & Packaging Law Weekly, (159), 28. Retrieved from GreenFILE database

Ligações externas[editar | editar código-fonte]