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Judas Iscariotes

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Judas Iscariotes (em hebraico: יהודה איש־קריות; romaniz.: Yehudhah ish Qeryoth; em grego bíblico: Iouda Iskariôth[1] ou Iouda Iskariotes[2]) foi um dos doze apóstolos de Jesus Cristo, que, de acordo com os evangelhos canônicos, veio a ser o traidor que entregou Jesus aos seus captores por trinta moedas de prata e, entrando em desespero, enforcou-se, segundo a tradição cristã.[3] Judas, em grego Ioudas, uma helenização do nome hebraico Judá (יהודה, Yehûdâh, palavra que significa "abençoado" ou "louvado"), sendo, por sinal, o nome de apóstolo que mais vezes aparece nos Evangelhos (vinte vezes) depois do de Simão Pedro.

Judas Iscariotes
Judas Iscariotes
Remorso de Judas de José Ferraz de Almeida Júnior, 1880. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Nascimento
Queriote, Judeia, Império Romano
Morte 30 d.C. ou 33 d.C.
Jerusalém, Judeia, Império Romano
Causa da morte Suicídio por enforcamento
Etnia judeu

Historicidade

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Embora a existência histórica de Judas Iscariotes seja em geral amplamente aceita entre os historiadores seculares,[4][5][6][7] esse consenso relativo não passou totalmente incontestado.[5] A alusão mais antiga possível a Judas vem da Primeira Epístola aos Coríntios 11: 23-24, na qual o apóstolo Paulo não menciona Judas pelo nome,[8][9] mas usa a forma passiva da palavra grega paradidōmi (παραδίδωμι), que a maioria das traduções da Bíblia traduz como "foi traído":[8][9] "... o Senhor Jesus na noite em que foi traído tomou um pedaço de pão ..."[8] No entanto, muitos estudiosos da Bíblia argumentam que a palavra paradidōmi deveria ser traduzida como "foi entregue".[8][9] Esta tradução ainda poderia se referir a Judas,[8][9] mas também poderia se referir a Deus metaforicamente "entregando Jesus" aos romanos.[8]

Em seu livro Antisemitism and Modernity (2006), o estudioso judeu Hyam Maccoby sugere que, no Novo Testamento, o nome "Judas" foi construído como um ataque aos judeus ou ao sistema religioso judaico responsável pela execução de Jesus.[10][11] Em seu livro The Sins of Scripture (2009), John Shelby Spong concorda com esse argumento,[12][13] insistindo, "Toda a história de Judas tem a sensação de ser inventada ... O ato de traição por um membro dos doze discípulos não são encontrados nos primeiros escritos cristãos. Judas é o primeiro colocado na história cristã pelo Evangelho segundo Marcos (3:19), que escreveu nos primeiros anos da oitava década da Era Comum."[12]

A maioria dos estudiosos rejeita esses argumentos pela não-historicidade,[6][14][15][16] observando que não há nada nos evangelhos que associe Judas com os judeus, exceto seu nome, que era extremamente comum para os judeus durante o primeiro século,[14][17][9] e que numerosas outras figuras chamadas "Judas" são mencionadas em todo o Novo Testamento, nenhuma delas é retratada negativamente.[14][17][9] Figuras positivas chamadas Judas mencionadas no Novo Testamento incluem o profeta Judas Barsabás (Atos 15: 22-33), o irmão de Jesus, Judas (Marcos 6: 3; Mateus 13:55; Judas 1), e o apóstolo Judas Tadeu, o filho de Tiago (Lucas 6: 14-16; Atos 1:13, João 14:22).[14] B. J. Oropeza argumenta que os cristãos não devem repetir a tragédia histórica de associar Judas Iscariotes com os judeus, mas sim considerá-lo como um apóstata cristão emergente e, portanto, um deles.[14] Sua traição por causa de uma soma de dinheiro alerta os auditores contra o vício da cobiça.[14]

Outras perspectivas

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De acordo com alguns estudiosos, Judas de Iscariotes teria sido membro da seita dos zelotes. No quadro de um Messianismo Político do 1.º Século, estaria convencido de que ele, com todo o seu poder, concretizaria a chegada do Reino tão desejado por Israel. Mas, com o tempo, terá começado a sentir-se desiludido, porque Jesus não terá correspondido aos seus ideais e expectativas. Desencantado com Jesus, o terá entregue ao Sinédrio, para assim unir o povo judeu numa revolta contra Roma e desencadear o estabelecimento imediato do Reino de Deus.[18]

Outros sustentam que na realidade Judas não traiu Jesus Cristo por 30 moedas. Argumentam que ele terá agido por ordem do próprio Jesus, precipitando dessa forma a morte na cruz e a redenção da humanidade. Por fim, ele não se teria suicidado como dizem os Evangelhos canónicos, mas antes retira-se para o deserto para meditar. O Evangelho sobre Judas, escrito gnóstico do 2.º Século, "não deve ser visto como a versão verdadeira sobre o destino do apóstolo de má fama, mas como mais uma peça no quebra-cabeças dos primeiros anos do cristianismo".[19]

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Em 2011, outra cantora estado-unidense, Lady Gaga, lançou uma canção de nome "Judas", contida no seu terceiro álbum de estúdio, Born This Way, como single. A canção narra uma luta pessoal da intérprete de querer amar a Jesus Cristo, porém se vê amando a Judas Iscariotes.[20][21]

Referências

  1. Marcos 3:19; Marcos 14:10; Lucas 6:16
  2. Mateus 10:4; Lucas 22:3; João 12:4
  3. Livro "Preparação para a Morte", Santo Afonso Maria de Ligório; Editora: Edição PDF de Fl. Castro. Ano: 2004, Pág. 290 "Infeliz Judas!... Há mais de mil e novecentos anos que já está no inferno e, não obstante, se diria que seu castigo apenas vai em princípio!..."
  4. Ehrman 1999, pp. 216–217.
  5. a b Gubar 2009, pp. 31–33.
  6. a b Stein, Robert H. (2009). «Criteria for the Gospels' Authenticity». In: Paul Copan; William Lane Craig. Contending with Christianity's Critics: Answering New Atheists & Other Objectors. Nashville, Tennessee: B&H Publishing Group. p. 93. ISBN 978-0805449365 
  7. Meier, John P. (2005). «Criteria: How Do We Decide What Comes from Jesus?». In: Dunn, James D.G.; McKnight, Scot. The Historical Jesus in Recent Research. Warsaw, Indiana: Eisenbrauns. pp. 127–28. ISBN 978-1575061009 
  8. a b c d e f Gubar 2009, p. 29.
  9. a b c d e f Stanford 2015.
  10. Maccoby, Hyam (2006). Antisemitism And Modernity. Londres, Inglaterra: Routledge. p. 14. ISBN 978-0415553889 
  11. Gubar 2009, p. 27.
  12. a b Spong, John Shelby (2009). The Sins of Scripture. Nova Iorque: HarperCollins. ISBN 978-0060778408 
  13. Gubar 2009, pp. 27–28.
  14. a b c d e f Oropeza, B.J. (2010). «Judas' Death and Final Destiny in the Gospels and Earliest Christian Writings». Neotestamentica (44.2). pp. 342–61 
  15. Tropenza, B.J. (2011). In the Footsteps of Judas and Other Defectors: Apostasy in the New Testament Communities Volume 1:The Gospels, Acts, and Johannine Letters. Eugene, Oregon: Cascade/Wipf & Stock. pp. 149–50, 230 
  16. Gubar 2009, p. 28.
  17. a b Gubar 2009, p. 31.
  18. Diário de Noticias de 21 de maio de 2006, Secção Opinião, Anselmo Borges, Padre e Professor de Filosofia; National Geographic, Abril de 2006, pág.; História Viva, Novembro de 2003, pág. 61-5; O Processo de Judas, Dr. Remy Bijaoui, Imago, 1999.
  19. Veja de 12 de abril de 2006, ed. 1951, pág. 91.
  20. Dinh, James (23 de março de 2011). «Lady Gaga To Direct 'Judas' Video With Laurieann Gibson». MTV (em inglês). MTV Networks. Consultado em 3 de maio de 2011 
  21. Perpetua, Matthew (18 de fevereiro de 2011). «Preview Six Songs From Lady Gaga's 'Born This Way'». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2011 
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