Os Humores Artificiais

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Os Humores Artificiais
Título internacional The Artificial Humors
Portugal Portugal
2016 •  cor •  29 min 
Género comédia, ficção científica
Direção Gabriel Abrantes
Produção Gabriel Abrantes
Produção executiva Raquel da Silva
Roteiro Gabriel Abrantes
Elenco Margarida Lucas
Patrícia Soso
Amanda Rodarte
Música Ulysse Klotz
Aamourocean
Cinematografia Jorge Quintela
Direção de arte Dayse Barreto
Tatiane Takahashi
Diogo Hayashi
Figurino Gabriella Marra
Edição Margarida Lucas
Lançamento
  • 7 de setembro de 2016 (2016-09-07) (Bienal de São Paulo)
  • 11 de agosto de 2017 (2017-08-11) (Portugal)
Idioma português

Os Humores Artificiais é uma curta-metragem de comédia e ficção científica portuguesa de 2016, realizada, escrita e produzida por Gabriel Abrantes.[1][2] O filme é protagonizado pelo robô Andy Coughman (voz de Margarida Lucas e Patricia Soso)[3] que, ao desenvolver um sentido de humor, se apaixona pela adolescente indígena Jo (interpretada por Amanda Rodarte).[4]

A obra estreou na Bienal Internacional de Arte de São Paulo a 7 de setembro de 2016. Os Humores Artificiais foi distribuído comercialmente em Portugal, integrado na antologia Quatro Contos de Gabriel Abrantes, tendo estreado nas salas de cinema a 29 de outubro de 2020.[5]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Entre o grupo Yawalapiti na Bacia do Amazonas, Claude Laroque e uma jovem indígena de 16 anos, chamada Jo, testam metodologias de transmitir emoções a robôs. Juntas, ensinam ao robô Andy Coughman linguagem, pensamento conceptual e um guia para identificar uma variedade de estados emocionais humanos.[6] O programa de inteligência artificial de Coughman reconhece a vantagem de transmitir boa educação, ao fingir compreender quando na realidade não está a entender algo.[7]

Ao tentar criar laços com a população indígena, Coughman assimila a natureza do humor e apaixona-se por Jo. Este amor é correspondido. Inicia-se uma jornada na qual a indígena se une ao robô enquanto este se torna um emergente comediante de stand-up e conquista a fama na indústria cultural de massa brasileira. O poder do amor de Coughman e Jo supera cada reinicialização do software.[8]

Elenco[editar | editar código-fonte]

  • Margarida Lucas e Patricia Soso, como Andy Coughman (voz);[9]
  • Amanda Rodarte, como Jo Yawalapiti;
  • Gilda Nomacce, como Claude Laroque;
  • Ivo Müller, como Hans;
  • Jeann Segundo, como Apresentador do "Papo Furado";
  • Mateus Rolim Rodrigues, como Criança do Youtube;
  • Rafaela Rocha, como Rafaela.

Equipa técnica[editar | editar código-fonte]

  • Realização: Gabriel Abrantes.
  • Argumento: Gabriel Abrantes.[10]
  • Direção de fotografia: Jorge Quintela.
  • Montagem: Margarida Lucas.
  • Guarda-roupa: Gabriella Marra.
  • Caracterização: Roger Ferrari.
  • Som: Marcel Costa.
  • Mistura de som: Carlos Abreu.
  • Música: Aamourocean e Ulysse Klotz.
  • Direção de arte: Dayse Barreto, Diogo Hayashi e Tatiane Takahashi.
  • Direção de produção: Gabriel Abrantes.
  • Criação gráfica: IrmaLucia.

Produção[editar | editar código-fonte]

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Os Humores Artificiais foi comissionado pela 32ª Bienal de São Paulo[8] e desenvolvido em paralelo com a pré-produção da primeira longa-metragem de Gabriel Abrantes (Diamantino), para a qual o realizador estava a estudar comédias românticas clássicas de Preston Sturges ou Howard Hawks. Para além desta influência, os avanços científicos nas áreas da robótica e cibernética serviram de inspiração ao autor para o argumento da curta-metragem: "Estou muito interessado nos mais recentes desenvolvimentos no campo da inteligência artificial, e este filme partiu desse interesse".[11] Para o argumento de Os Humores Artificiais, o realizador procurou unir estas duas influências, de modo a "tentar indagar se a comédia poderia ser a última fronteira, e se a poderia conciliar com a inteligência artificial".[12]

O projeto foi desenvolvido pela produtora Hermaphrodite Films, com o apoio financeiro da Fundação de Serralves (Portugal), Bienal de São Paulo (Brasil), Colección Inelcom (Espanha) e Instituto do Cinema e do Audiovisual (Portugal).

Os Humores Artificiais foi rodado na aldeia e com membros da tribo indígena Yawalapiti.

Rodagem[editar | editar código-fonte]

A curta-metragem foi filmada em película 16mm, no Estado do Mato Grosso: em Canarana e no Parque Indígena do Xingu (nas aldeias Yawalapiti e Kamayura), bem como em São Paulo.[13]

Pós-produção[editar | editar código-fonte]

A empresa especializada em VFX IrmaLucia colaborou nos efeitos especiais do filme. Esta é uma componente que o realizador considerou essencial: "Procuro fazer filmes que misturam um lado fantástico com temas atuais da nossa realidade contemporânea, e os efeitos especiais facilitam essa mistura".[11]

Temas e estética[editar | editar código-fonte]

A abordagem da sátira está na vanguarda do trabalho de Gabriel Abrantes e é uma das componentes transversais dos seus filmes. Particularmente em Os Humores Artificiais, o cineasta aborda o sentido de humor como componente central nas relações humanas, método de controlo social, e uma das mais complexas formas de comunicação.[14] A obra ironiza acerca de como emoções e vocabulário podem ser resultado de gestos codificados e transmitidos através de media social.[13]

A curta-metragem mistura estéticas típicas de Hollywood com as do registo documental e da telenovela, permitindo criar várias camadas de leitura invulgares. Para além desta comunhão de estilos, o argumento alterna as narrativas tradicionais com elementos absurdos e de folclore, resultando em diálogos e situações inesperadas, como quando o robô Coughman exclama à humana Jo "Vamos começar uma família".[15]

Para além dos temas de humor da premissa, o filme de Abrantes propõe uma reflexão antropológica. Com esta obra, o realizador cita Ludwig Wittgenstein ao argumentar que as grandes questões da vida que não podem ser discutidas sem humor, mesmo perante o contraste do estilo de vida da comunidade indígena e as idiossincrasias da inteligência artificial.[16] Neste conflito narrativo, Os Humores Artificiais aborda questões históricas, políticas e sociais, discutindo ao mesmo tempo temas pós-coloniais, de género e identidade.[17]

Continuidade artística[editar | editar código-fonte]

Os Humores Artificiais viria a servir de título para a própria produtora de Gabriel Abrantes.[18]

O personagem do robô-drone Andy Coughman voltaria a surgir em Coughman's Lament (2020), um programa de realidade virtual exibido na exposição do cineasta intitulada Melancolia Programada, no MAAT. Nesta obra, Coughman canta um solilóquio, lamentando o aprisionamento que sente por ser apenas um algoritmo, entre baladas de bossa nova.[19] Este trabalho desenvolve as expansivas cenas paisagísticas já exploradas em Os Humores Artificiais[20] e permite que os visitantes interajam com o robô.[21]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

Lançamento[editar | editar código-fonte]

A curta-metragem estreou a 7 de setembro de 2016 na 32ª Bienal de São Paulo (Brasil).[22] Em Portugal, a sua primeira exibição pública foi a 12 de julho de 2017, no 25° Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde. Os Humores Artificiais viria a estrear em sala apenas três anos depois, a 29 de outubro de 2020, enquadrado na antologia Quatro Contos de Gabriel Abrantes, com as curtas-metragens Freud und Friends, A Brief History of Princess X e Les Extraordinaires Mésaventures de la Jeune Fille de Pierre.[23]

Festivais[editar | editar código-fonte]

A curta-metragem foi selecionada para inúmeros festivais e mostras de cinema, de entre os quais se destacam os seguintes:

Exposições[editar | editar código-fonte]

Os Humores Artificiais integrou também várias exibições de arte, de entre as quais:

  • Incerteza Viva: Uma exposição a partir da 32ª Bienal de São Paulo (Brasil, junho de 2017);[27]
  • The Humors, Monash University Museum of Art (Austrália, outubro de 2017)[28]
  • INELCOM Colección de Arte (Espanha, fevereiro de 2018);
  • Melancolia Programada, Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (Portugal, maio de 2020);[29]
  • Gabriel Abrantes. Animations, Salzburger Kunstverein (Áustria, julho de 2021).[30]

Receção[editar | editar código-fonte]

Audiência[editar | editar código-fonte]

Em 2020, aquando o lançamento da curta-metragem nas salas de cinema com a antologia Quatro Contos de Gabriel Abrantes, a obra totalizou apenas 638 espetadores em Portugal.

Crítica[editar | editar código-fonte]

Os Humores Artificiais foi geralmente bem recebido pela crítica especializada nacional e internacional. Paulo Portugal (Comunidade Cultura e Arte) descreve o filme como "uma pequena obra-prima".[12] Doreen Matthei, escrevendo para a publicação alemã Testkammer, elogia o modo como o realizador "maravilhosamente captura esse forte contraste" entre os avanços científicos e a vida natural dos povos indígenas "e mostra que as raízes do desenvolvimento não precisam de estar apenas nos padrões modernos".[31]

Premiações[editar | editar código-fonte]

Ano Premiação Categoria Trabalho Resultado Ref.
2017 Festival Internacional de Cinema de Berlim Melhor Curta-metragem Europeia Os Humores Artificiais, Gabriel Abrantes Indicado [32][15]
Curtas Vila do Conde Melhor Realizador Gabriel Abrantes Venceu
Festival International du Film de La Roche-sur-Yon Melhor Filme Os Humores Artificiais, Gabriel Abrantes Menção especial
Caminhos do Cinema Português Melhor Curta-metragem Os Humores Artificiais, Gabriel Abrantes Venceu
Verín International Short Film Festival Melhor Argumento Gabriel Abrantes Venceu
2018 Córtex - Festival de Curtas Metragens de Sintra Grande Prémio do Júri Os Humores Artificiais, Gabriel Abrantes Venceu [33]

Referências

  1. «Gabriel Abrantes - Reality is just another fiction». Consultado em 6 de novembro de 2021 
  2. «Os Humores Artificiais (The Artificial Humors)». Brussels Short Film Festival (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  3. Cinemas, Medeia Filmes. «Quatro Contos — Filmes». Medeia Filmes Cinemas. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  4. Ferreira, Tiago (23 de outubro de 2020). «Quatro Contos de Gabriel Abrantes estreia a 29 de outubro | Central Comics». Consultado em 6 de novembro de 2021 
  5. «Quatro Contros de Gabriel Abrantes». site.pt (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  6. «Birds - Video & Film - e-flux». www.e-flux.com (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  7. «Os Humores Artificiais | The Artificial Humors | Die Künstlichen Humore». www.berlinale.de (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  8. a b «Bienal: Filme/Debate Humores Artificiais, Gabriel Abrantes». www.sesc-sc.com.br. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  9. Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Os Humores Artificiais». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  10. «Cinema: Quatro Contos». Centro Cultural Malaposta. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  11. a b «Estátuas, tamboris, robôs e hipopótamos: Gabriel Abrantes demonstra a sua criatividade em Quatro Contos». Cinema Sétima Arte. 29 de outubro de 2020. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  12. a b Digital, Bismuto Labs-Web Design e Marketing (17 de abril de 2018). «Gabriel Abrantes: "'Diamantino' não é bem inspirado no Cristiano Ronaldo"». Comunidade Cultura e Arte. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  13. a b «GABRIEL ABRANTES Os Humores Artificiais». PROYECTOR / Plataforma de Videoarte (em espanhol). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  14. SUSCRIBIRME. «OS HUMORES ARTIFICIAIS». Alcine. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  15. a b «The Artificial Humors / Os Humores Artificiais». www.europeanfilmawards.eu (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  16. «The Artificial Humours – Loop Barcelona». loop-barcelona.com. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  17. «Filme». festival.curtas.pt. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  18. Rosa, Jorge Pereira (31 de outubro de 2020). «Gabriel Abrantes, azeitice pop». C7nema.net. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  19. «Gabriel Abrantes | Coughman's Lament». www.gabrielabrantes.com. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  20. Butler, Emily. «Gabriel Abrantes: The present unbounded». MAAT 
  21. «Alexandre Melo on Gabriel Abrantes». www.artforum.com (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  22. Paulo, Bienal São. «Gabriel Abrantes - 32nd Bienal». www.32bienal.org.br. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  23. CMP (2 de novembro de 2020). «Four short films by Gabriel Abrantes on screen at Campo Alegre». www.porto.pt. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  24. «Os Humores Artificiais/The Artificial Humours». Aspen Film (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  25. «Os Humores Artificiais». daysebarreto. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  26. «The Artificial Humors | Portugal Film - Portuguese Film Agency». www.portugalfilm.org. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  27. Paulo, Bienal São. «Gabriel Abrantes - 32ª Bienal». www.32bienal.org.br. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  28. Art, Monash University Museum of (5 de agosto de 2019). «The Humours». Monash University Museum of Art (em inglês). Consultado em 7 de novembro de 2021 
  29. «Gabriel Abrantes. Melancolia Programada | MAAT». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 7 de novembro de 2021 
  30. «Gabriel Abrantes. Animations». Salzburger Kunstverein (em inglês). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  31. Matthei, Doreen (11 de junho de 2018). «"Os Humores Artificiais" (2016)». Testkammer (em alemão). Consultado em 6 de novembro de 2021 
  32. «Filme de Gabriel Abrantes entre os 15 nomeados a melhor curta-metragem europeia». www.dn.pt. Consultado em 6 de novembro de 2021 
  33. Lusa. «Cinema de Gabriel Abrantes em retrospectiva no festival Córtex». PÚBLICO. Consultado em 6 de novembro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]