Mestre Irineu
Mestre Irineu | |
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Nascimento | 15 de dezembro de 1892 São Vicente Férrer |
Morte | 6 de julho de 1971 Rio Branco |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | seringueiro |
Raimundo Irineu Serra (São Vicente Ferrer, 15 de dezembro de 1892 — Rio Branco, 6 de julho de 1971), mais conhecido como Mestre Irineu[1] ou Mestre Juramidam, foi um seringueiro e líder espiritual brasileiro, fundador da doutrina do Santo Daime.
No início do século XX migrou do Maranhão para o Acre, como muitos nordestinos que buscavam trabalho durante o ciclo da borracha. Nesse período atuou como soldado na fronteira entre Brasil e Peru. Foi em vivências na floresta amazônica que teve contato com a ayahuasca, bebida ritualística utilizada por indígenas da região. A partir desse encontro, e segundo ele, sob orientação espiritual da Virgem da Imaculada Conceição, Irineu desenvolveu um sistema doutrinário próprio, rebatizada por ele como "Daime", em referência à ordem recebida da Rainha da Floresta, ou Virgem Maria: "Dai-me luz, dai-me força, dai-me amor".
A prática do Santo Daime é centrada no cristianismo popular e incorpora elementos afro-brasileiros, indígenas e esotéricos. Seus rituais são marcados por cânticos denonimados hinários, que orientam os trabalhos espirituais e promovem o autoconhecimento e a transformação moral. O culto é cristocêntrico e mariano, reverenciando Deus, Jesus Cristo, Nossa Senhora da Conceição, São José e São João Batista, além dos Caboclos da Floresta, com destaque para a linha dos Caboclos do Tucum, ligada diretamente à missão de Mestre Irineu.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Mestre Irineu era filho do ex-escravizado Sancho Martino e Joana Assunção, chegou no ano de 1912 ao estado do Acre, com dezenove anos de idade, afro-brasileiro de alta estatura, integrando o movimento migratório da extração do látex em seringais.[2]
Em 1912 foi para Manaus, no Porto de Xapuri, onde residiu por dois anos, posteriormente trabalhando nos seringais da Brasiléia por três anos, e em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos.
De volta a Rio Branco, foi para a Guarda territorial, até chegar ao posto de Cabo, e em seguida participou e passou no concurso para integrar a Comissão de Limites, entidade do Governo Federal que delimitava as fronteiras entre Acre, Bolívia e Peru, órgão este, comandado pelo Marechal Rondon. E foi o próprio Rondon que nomeou Irineu Tesoureiro da Tropa, um cargo de confiança.
Posteriormente retornou à floresta, de volta ao seringal, conheceu Antonio Costa, de quem se tornou grande amigo.[2]
Faleceu em 6 de julho de 1971, aos 78 anos, em Rio Branco. Vestido com sua farda branca, foi velado na sede da doutrina, onde os principais hinários foram entoados durante todo o dia. A cerimônia contou com a presença da banda da Polícia Militar, que acompanhou o cortejo com marcha fúnebre.[3]
A doutrina do Daime
[editar | editar código-fonte]A experiência foi uma divulgação divina da Virgem Maria, aparecendo como a Rainha da Floresta. Irineu recebeu a tarefa de fundar uma doutrina espiritual, um sincretismo baseado na consagração da bebida consumida desde milhares anos, no contexto da cultura e simbolismo Cristão, utilizando ao mesmo tempo a sabedoria transcendental Indígena, Brasileira, Africana e Oriental. Fundou um centro comunitário em 1930, onde deu início a criação do culto do Daime. Assim, Mestre Irineu e sua doutrina passaram a sofrer preconceitos e perseguições devido a predominância de afro-descendentes entre seus seguidores e pelo medo que as elites de então possuíam relacionados à movimentos tradicionais de origem afro-indígena como o Daime. [4]
Em 1945, os companheiros do Mestre Irineu tiveram a oportunidade de dispor de um terreno e assim estabelecer uma comunidade, nomeada 'Alto Santo'. Irineu começou a canalizar mensagens da dimensão espiritual, sob forma de simples hinos, o princípio guiando da doutrina. Ficou conhecido ajudando o seu ambiente que era interessado na sua obra espiritual. Desenvolveu-se igualmente como curador espiritual, especialmente nas situações onde os medicamentos eram ineficazes e o sofrimento não levava à nada.
Mestre Império
[editar | editar código-fonte]O culto do Daime desenvolveu-se em redor do Mestre Irineu. Em 1971, ano de seu falecimento, já era conhecido sob o nome 'Mestre Império'. Com a morte de mestre Irineu, alguns de seus discípulos resolveram expandir a doutrina. Como não houve consenso, um grupo de daimistas, entre eles Sebastião Mota de Melo e Francisco Fernando Filho decidiram criar suas próprias igrejas, que se tornaram autônomas em relação ao Alto Santo.[5]
Sebastião Jaccoud, companheiro de Mestre Irineu,[6] relatou:
"Mestre Irineu, sendo ele Jesus Cristo, veio para reimplantar a Santa Doutrina" e que o Mestre Irineu "corrigiu orações como o Pai Nosso que ele havia ensinado como Jesus Cristo à humanidade, mas que foi alterado pelos diversos grupos religiosos que se proclamaram proprietários da palavra de Deus depois da crucificação."— Sebastião Jaccoud
Para alguns adeptos, o Mestre Irineu é tido como sendo o próprio Daime.[7]
Referências
- ↑ Daniel Scarcello (15 de agosto de 2013). «Moradores contam história e dificuldades do bairro Irineu Serra». G1 Acre. Consultado em 18 de Agosto de 2013
- ↑ a b Albuquerque, Maria Betânia B. «Pedagogia da Floresta: Um estudo sobre práticas educativas centradas no culto ao santo daime» (PDF). Universidade do Estado do Pará. Consultado em 18 de agosto de 2013[ligação inativa]
- ↑ Moreira; MacRae, Paulo; Edward (2011). «Os Últimos Dias do Mestre Raimundo Irineu» (PDF). Consultado em 17 de abril de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 18 de abril de 2025
- ↑ Martins, Samartony (7 de abril de 2012). «Livro revela detalhes da história do maranhense Irineu Serra». O Imparcial. Consultado em 18 de agosto de 2013. Arquivado do original em 14 de dezembro de 2014
- ↑ Araújo, Jussara Rezende (2002). Comunicação Exclusão: A Leitura dos Xamãs. [S.l.]: São Paulo: Arte e Ciência. 188 páginas. ISBN 85-88452-10-3
- ↑ «Relato: Sebastião Jaccoud»
- ↑ DOS SANTOS, Júlia Otero. «Diferentes contextos, múltiplos objetos: reflexões acerca do pedido de patrimonialização da Ayahuasca» (PDF). (PPGAS DAN-UnB/Brasília: 9 rodapé 11