Reflexões sobre a Vaidade dos Homens

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Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
ou discursos moraes sobre os effeitos da vaidade e Carta sobre a Fortuna
 (PT)
Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
Capa e gravura de Matias Aires
Autor(es) Matias Aires
Idioma português
País Brasil
Portugal
Assunto Filosofia
Vaidade
Amor humano
Virtudes
Linha temporal Entre 1752 e 1777
Lançamento 1755 (1.ª edição)
1761 (2.ª edição)
Páginas 248 [1]
Edição brasileira
ISBN 978-8533620537
Cronologia
Problema de arquitetura civil

Reflexões sobre a Vaidade dos Homens é um livro de Matias Aires. Publicado pela primeira vez em 1752, a obra conheceu mais três edições ainda na segunda metade do século XVIII (1761, 1778 e 1786). A obra apresenta inúmeros exemplos, em linguagem clara e fluente, em que os períodos compostos por subordinação raramente assumem estrutura labiríntica, o que parece decorrência da feição sentenciosa da sua frase: muitas orações ou períodos simples de Matias Aires são verdadeiras máximas.[2]


Apesar de tão notável êxito editorial, a obra mergulhou no ostracismo durante toda a centúria seguinte e os princípios da atual.[3] Até que Solidônio Leite (Clássicos Esquecidos, Rio de Janeiro, 1914) repôs Matias Aires no interesse público e dos estudiosos.[3]

Nestor Vítor, atendendo ao chamado de Solidônio Leite, publicou ao jornal carioca Correio da Manhã (janeiro de 1914) três artigos acerca do autor de Reflexões.[3] Uma edição fac-similar da obra veio completar a ressurreição do prosador paulista.[3] Outra edição, com ortografia atualizada e inteligentemente prefaciada por Tristão de Ataíde, dada à estampa em 1942, ao mesmo tempo que outros estudiosos lhe dedicavam atenção, principalmente no que tange à biografia, consegrou-o em definitivo.[3]

As Reflexões, em que se evidencia o impacto do Eclesiastes, de La Rochefoucauld, Pascal, La Bruyère, Bossuet e Massillon, compõem-se de 163 fragmentos subordinados ao tema geral da vaidade.[3] O moralista discute-o sob os mais variados pontos de vista, a saber: a vaidade é um vício, parece-se com o amor-próprio, a vaidade de ter juízo, de ter razão, de ter malícia, da solidão, a vaidade do medíocre, a vaidade do herói, da glória, da fortuna, do renome, do rei, da mulher, da beleza, etc.[3] [4]

Estudos[editar | editar código-fonte]

As vaidades podem, portanto, ser construtivas ou destrutivas; quando são construtivas, fundam-se no afeto, que em si mesmo é positivo, só se deturpandoo pela orientação vaidosa que recebe da inteligência; as vaidades destrutivas são as vaidades da inteligência orgulhosa, que levam o homem a uma pseudo-sabedoria e se reduzem a posturas pretensiosas. [5]

As múltiplas vaidades que Matias Aires enumera podem, ser reduzidas a modalidades das vaidades positiva ou negativa, e distribuídas do seguinte modo:


Vaidades positivas ou construtivas:

  • a) vaidade dos místicos: é a de se sentirem superiores aos outros por causa das boas obras que realizam. É construtiva, porque leva o homem a realizar benefícios aos outros e a si próprio;
  • b) vaidade da ascese: que Matias Aires distingue da vaidade dos místicos – é a recusa do consôlo e procura da solidão para obter a admiração do mundo. É construtiva porque pode conduzir a uma real ascese e porque apresenta um modêlo de santidade que, mesmo não sendo subjetivamente verdadeiro, o é, para todos os efeitos, aos olhos do não asceta, servindo-lhe de exemplo;
  • c) vaidade da honra: é a maior preocupação com a honra que com a vida: em conseqüência, maior preocupação com a opinião ou conceito que os outros têm da pessoa ou que a pessoa tem de si próprio que com a vida, dom maior, existência no ser. É construtiva na medida em que apresenta um código de conduta, orientado por certos valores morais, que serve para a grande maioria, permitindo, deste modo, a vida em sociedade;
  • d) vaidade da ação heróica: é o desejo de imortalidade, pelas ações valorosas. É uma vaidade inútil, porque, como diz Matias Aires, sempre houve combates e batalhas, vencidos e vencedores, na história no mundo. Pouco sabemos, no entanto, das maiores civilizações e seus heróis – no mundo tudo é fluxo, tudo está em contínua mudança, e os feitos se perdem num contorno nebuloso e pouco preciso. É uma vaidade construtiva, porque leva os homens a realizarem obra civilizadora;
  • e) vaidade do reconhecimento: é a daquêles que por confessarem o recebimento de um benefício, já consideram paga a dívida pela própria confissão. É construtiva, porque torna público o merecimento de alguém;
  • f) vaidade da origem: surgiu da distinção entre o sangue vil e o sangue nobre, fundada não no sangue, mas no dinheiro. A vaidade da nobreza é a vaidade do luxo, é uma superstição formada de muitas vaidades. O sangue de todos os homens é igual, e as distinções estabelecidas entre sangue vil e nobre são pura vaidade. A nobreza é vã enquanto se funda em mitos, brasões e só pode merecer respeito, diz Matias Aires, quando é uma nobreza resultante da nobreza das ações. Neste caso, é qualidade pessoal, não hereditária, e depende do heroísmo de cada um. A vaidade da origem é uma vaidade construtiva enquanto fôr uma primeira sugestão, através das lendas, brazões e mitos do passado heróico, para a nobreza fundada na virtude individual e no espírito, conquistada pouco a pouco em cada um;


Capa do livro biográfico sobre Matias Aires.

Referências

  1. Livro: Reflexões sobre a Vaidade dos Homens
  2. Garcia, Othon M. (Othon Moacyr), 1912-2002. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar/27.ed. – Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010. 548p. ISBN: 978-85-225-0831-0
  3. a b c d e f g Moisés, Massaud. A Língua Portuguesa através dos textos ,São Paulo, Editora Cultrix, 1ª Edição- 1968, pág.157
  4. Amazon. Livro: Sobre a vaidade dos homens
  5. CÉSAR MARCONDES, Constança (2015).; Olhares Luso-Brasileiros. pdf DG-EdiçõesMIL: Movimento Internacional Lusófono.
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