Rosa e Azul (Renoir)
Rosa e Azul (As Meninas Cahen d'Anvers) | |
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Autor | Renoir |
Data | 1881 |
Técnica | Óleo sobre tela |
Dimensões | 119 × 74 |
Localização | MASP, São Paulo |
Rosa e Azul (alternativamente intitulada As Meninas Cahen d’Anvers) é uma célebre pintura a óleo sobre tela do artista impressionista francês Pierre-Auguste Renoir. Produzida em Paris no ano de 1881, a obra retrata as irmãs Alice e Elisabeth, filhas do banqueiro judeu Louis Raphael Cahen d’Anvers. É considerada um dos mais populares ícones da coleção do Museu de Arte de São Paulo, onde se encontra conservada desde 1952.
Alice e Elisabeth Cahen d’Anvers
[editar | editar código-fonte]Renoir retratou as duas filhas do banqueiro Louis Raphael Cahen d’Anvers, a loira Elisabeth, nascida em dezembro de 1874, e a mais nova, Alice, em fevereiro de 1876, quando tinham respectivamente seis e cinco anos de idade. O artista realizou vários retratos para as famílias da comunidade judaica da época, e Louis Cahen d’Anvers, casado com a italiana Louise Morpurgo, de uma rica família de Trieste, era um dos mais abastados[1].
Renoir foi contratado para fazer vários retratos desta família, que conheceu por meio do colecionador Charles Ephrussi (amante oficial de Louise Morpurgo, mãe das meninas), diretor da Gazette des Beaux-Arts, e a ideia, a princípio, era fazer retratos individuais de cada filha. O pintor chegou a retratar a filha mais velha do casal, Irene, em obra hoje conservada na coleção E. G. Buhrle, em Zurique. Posteriormente, a família decidiu que as outras duas irmãs apareceriam juntas.
Teria havido várias sessões de pose das meninas, conforme relata Camesasca, até o final de fevereiro de 1881, após o que Renoir seguiu para Argel[2]. Ainda segundo o mesmo autor, citando agora Jullian, “decênios depois, a menor das modelos, então Lady por ter casado com o general Townsend of Kut, relembraria que o tédio das sessões era compensado pelo prazer de vestir o elegante vestido de renda”[3].
Alice viveu até os 89 anos e morreu em Nice, em 1965. Elisabeth teve um destino trágico. Divorciada do primeiro marido, o diplomata e conde Jean de Forceville, casou-se com Alfred Émile Denfert Rochereau, de quem também se divorciou. Em 1987, por ocasião da exposição de obras do MASP na Fondation Pierre Gianadda, em Martigny, Suíça, o sobrinho de Elisabeth, Jean de Monbrison, escreveu ao museu relatando seu triste fim: ela se convertera ainda jovem ao catolicismo, sendo mesmo assim enviada para Auschwitz, devido à sua origem judaica, e morreu a caminho do campo de concentração, em março de 1944, aos 69 anos[1].
O retrato
[editar | editar código-fonte]A obra foi realizada no número 66 da avenue Montaigne, em Paris, onde os Cahen d’Anvers habitavam desde 1873. Foram necessárias inúmeras sessões de minucioso trabalho até que o retrato estivesse completo. Em 4 de março de 1881, Renoir escreveria para Théodore Duret:
“ | Parti imediatamente após terminar o retrato das meninas Cahen, tão cansado que nem lhe sei dizer se a pintura é boa ou ruim. | ” |
Os dois retratos feitos das filhas do casal Cahen participaram do Salon de 1881. Mesmo assim, o retrato das meninas aparentemente não foi do agrado da família que, além de ter demorado quase um ano para pagar ao artista a soma relativamente módica de 1500 francos, relegou a obra à área da casa habitada pelos empregados[1]. No início do século XX, seguindo uma informação dada pelo próprio Renoir, os marchands Bernheim-Jeune descobriram a obra, aparentemente esquecida, no sexto andar de uma casa da avenida Foch, em Paris[5].
O título mais popular dessa obra, que se refere às cores dos vestidos das meninas, data de 1900, quando esteve exposta na galeria Bernheim-Jeune, na capital francesa, e, segundo Camesasca, "tem relação com a verdadeira natureza da obra, com a variação das duas cores em tom pastel, dispostas desde os vestidos até a carnação, que sobressaem pela opulenta coloração das cortinas e do tapete.[2]"
Nas palavras de Eugênia Gorini Esmeraldo, o retrato das meninas Cahen remete o espectador aos "imponentes retratos de corpo inteiro pintados por Van Dyck no século XVII, em que o artista transmite com as cores e a delicadeza de tonalidades todo o frescor e a candura da infância. As meninas quase se materializam diante do observador, a de azul com seu ar vaidoso, e a de rosa com um certo enfado, quase beirando as lágrimas.[1]"
"Em seu comentário do Salon de 1881, o crítico Henry Havard observou que Renoir 'tornara-se mais sábio' em seu retrato de Alice e de Elisabeth Cahen d'Anvers e apesar de não ser sugerido que o artista alterou seu estilo para agradar seus clientes, ele claramente assumiu uma estrutura formal barroca, calculada para agradar ao gosto mais convencional deles." |
Colin Bailey, em Renoir's Portraits: Impressions of an Age[6] |
Perfiladas um pouco nervosamente diante de uma pesada cortina de cor de vinho, aberta para revelar um interior opulento, as duas meninas, impecavelmente penteadas e vestidas, seguram a mão uma da outra para maior segurança. Usando vestidos de festa idênticos, com fitas, faixas e meias combinando e os cabelos escovados em franjas perfeitas, Alice, cinco anos de idade, à esquerda, olha para o espectador como se estivesse para se desmanchar em lágrimas, enquanto a irmã maior, Elisabeth, de seis anos, parece um pouco mais confortável enquanto posa.
Em um aposento banhado pela luz natural, Renoir aborda de perto suas jovens modelos, a mais velha em ligeiro contraposto, animando uma representação que, de outra maneira, poderia parecer estática. Seu manejo da pintura, sempre virtuosístico e seguro, cria uma variedade de superfícies, acompanhando os materiais retratados. Assim, o toque de Renoir é suave e lustroso ao pintar o cabelo, faixas e meias, é incrustado, como uma jóia, nos franzidos e dobras dos vestidos de cetim, cujas rendas brancas são construídas com uma certa quantia de amarelo e assume um aspecto de porcelana na construção das faces e das mãos das meninas, desenhadas, segundo Bailey, "com extraordinário cuidado, mas nem por isso menos animadas"[6].
Proveniência
[editar | editar código-fonte]A obra, produzida por encomenda de Louis-Raphael Cahen d'Anvers, pertenceu à coleção particular de sua família, em Paris. Foi redescoberta, aparentemente abandonada, em um apartamento na capital francesa, no ano de 1900, pelos marchands Bernheim-Jeune, passando a compor o acervo da Galeria Bernheim-Jeune et Fils, também em Paris. Em seguida, a obra integraria a coleção privada de Gaston Bernheim de Villers, na cidade de Monte Carlo, em Mônaco. Posteriormente, o retrato foi vendido ao colecionador norte-americano Sam Salz Daber, que o manteve em sua residência em Nova York. Posta em leilão na Galeria Wildenstein de Nova York em 1952, a obra foi adquirida em 7 de julho deste mesmo ano pelo Museu de Arte de São Paulo, com recursos doados pelo fundador do museu, Assis Chateaubriand[1].
Exposições
[editar | editar código-fonte]Considerado por alguns historiadores como um dos mais emblemáticos retratos produzidos por Renoir[6], Rosa e Azul esteve presente em um grande número de exposições ao longo do século XX. Além de sua já mencionada participação no Salon de Paris de 1881 e de sua exibição pública na galeria parisiense Bernheim-Jeune entre os anos de 1900 e 1913, Rosa e Azul figurou na mostra itinerante Art français du XIX siècle, sediada no Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, em 1939, e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e Museo Nacional de Bellas Artes de Santiago, em 1940. Após sua aquisição pelo MASP, a obra participou de diversas mostras em instituições européias, asiáticas e norte-americanas, como a Tate Gallery de Londres (1954), o Grand Palais em Paris (1985), o Museu de Belas Artes de Boston (1985), o Rijksmuseum de Amsterdam (1989), e o Museu Nacional de Arte Ocidental, em Tóquio (1990), além de uma série de apresentações em galerias particulares da Alemanha, Itália e Reino Unido.
Representações na cultura popular
[editar | editar código-fonte]Em 1989, o quadrinista Maurício de Sousa também fez uma reinterpretação de As Meninas Cahen d’Anvers, intitulada Magali e Mônica de Rosa e Azul, onde as populares personagens dos quadrinhos infantis aparecem ocupando o lugar de Alice e Elisabeth na pintura. A ideia seria futuramente aprimorada e ampliada por Maurício de Sousa, resultando em uma exposição e na publicação do livro História em Quadrões, com paródias de diversas obras famosas.[7]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Marques, Luiz (1998). Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Arte Francesa e Escola de Paris. São Paulo: Prêmio. pp. 124–141 * Bailey, Colin (1997). Renoir's Portraits. Impressions of an Age. New Haven: Yale University Press. pp. 181–182
Referências
- ↑ a b c d e Marques, Luiz (org). Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand: Arte Francesa e Escola de Paris. São Paulo: Prêmio, 1998, 124-141 p.
- ↑ a b Bardi, Pietro Maria & Camesasca, Ettore. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Catálogo – I França e Escola de Paris. São Paulo: MASP, 1979, 82 p.
- ↑ Julian, Ph. Rose’ de Renoir retrouvé. In: Le Figaro littéraire. Paris, 1962, 22 p.
- ↑ Duret, Théodore. Histoire des peintres impressionnistes. Paris: L’Espirit nouveau II, 1922, 138 p.
- ↑ Exposition A. Renoir. Catálogo da Exposição. Paris: Galeries Bernheim-Jeune et Fils, 1900, n. 15.
- ↑ a b c Bailey, Colin. Renoir's Portraits: Impressions of an Age. New Haven: Yale University Press, 1997, 181-182 p.
- ↑ MARTINS, Simone R.; IMBROISI, Margaret H. (4 de novembro de 2017). «Os quadrões de Mauricio de Sousa». História das Artes. Consultado em 20 de agosto de 2019
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Galeria de Pintores Impressionistas Clássicos - As Meninas Cahen d'Anvers
- Saber Cultural - As Meninas Cahen d'Anvers
- Blog do Noblat - Rosa e Azul