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Carmem Teixeira da Conceição (Tia Carmem do Xibuca)[editar | editar código-fonte]

Carmem Teixeira da Conceição, mais conhecida como Tia Carmem do Xibuca, nasceu em 1878 em Amaralina na Bahia. Era uma liderança religiosa e cultural de sua comunidade, adepta das religiões de matriz africana.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Ela nasceu na Bahia e foi para o Rio de Janeiro em 1888 com 10 anos de idade, indo morar na Rua Senador Pompeu, provavelmente na casa de santo de Perciliana. Frequentava a casa de Alabá e conviveu com Ciata, Donga, João da Baiana, entre outros. Carmem ganhou esse apelido porque casou com Manoel Teixeira, o Xibuca, que trabalhou na Guarda Nacional, mas ganhava a vida como marceneiro, consertando móveis. Foi mãe de 22 filhos, trabalhou anos a fio como vendedora de doces, em bairros como a Lapa, o Campo de Santana e a Praça Tiradentes.

Relatam-na como uma mulher muito festeira que saia em vários ranchos carnavalescos, cantando sempre nos sambas do quintal de sua casa e das casas das amigas, Tia Ciata e Tia Bebiana, por exemplo. Inventando junto a estas a tradição das tias sendo elas lideranças religiosas e culturais, em suas casas, mais especificamente nos quintais, ocorriam as cerimonias religiosas, as reuniões de samba, além de outras atividades culturais, fazendo deste lugar o grande esteio da comunidade negra no Rio. 

Uma de suas netas, Yara da Silva, autora do livro "Tia Carmem: negra tradição da Praça Onze", relembrou em 2009 os fatos que marcaram a sua convivência com a avó:

"Minha avó foi uma dessas mulheres baianas que mudaram a forma de pensar e de agir do povo escravo que veio para o Brasil em navios negreiros e, após a Lei do Ventre Livre e a própria Lei Áurea, manteve suas tradições, seus deuses e seus costumes em nosso país. Na sua simplicidade, ela manteve o axé na Praça Onze. Sua importância foi a excelente memória que Olorum preservou, para que ela passasse, para a minha geração e para as gerações que se seguiram, a natureza dos nossos cultos, a natureza da nossa origem, sem se transformar num espetáculo religioso, sem se transformar num moinho de produção de bens, coisa que esteve sempre afastada"

As Tias[editar | editar código-fonte]

As tias são mulheres mais velhas, em sua maioria, negras, e que se reconhecem e são reconhecidas por serem detentoras de um saber-fazer que remonta a herança africana na cidade. Existe no ser tia algo de místico e religioso, mas também de poder e político, que faz com que elas sejam legítimas ao ponto de, segundo citação anterior: “mudar a forma de pensar e de agir do povo escravo que veio para o Brasil em navios negreiros…”. Sendo elas lideranças religiosas e culturais de suas comunidades, era em suas casas, e mais especificamente nos seus quintais, que ocorriam as cerimonias religiosas seguidas das rodas de samba.

Progenitoras, líderes, rezadeiras, cozinheiras, sambistas, quituteiras, quitandeiras, organizadas, conscientizadas, mães de santo, estas tias manipulam tantos códigos que chegavam a concorrer com outras formas de organização na cidade. Responsáveis pela primeira geração de sambistas que nascia carioca, elas eram as chefas de famílias extensas. Muitos de nós já ouvimos falar ou até mesmo conhecemos, Donga, João da Baiana, Pixinguinha, mas não sabemos que todos são filhos das chamadas tias do samba. Elas prepararam o quintal para esta primeira geração e mesmo num ambiente hostil onde o samba era criminalizado, “duramente perseguido”, essas mulheres tinham um jogo de negociação com as esferas pública que acabavam respeitando e reconhecendo nelas um outro tipo de autoridade.

As origens das escolas de samba[editar | editar código-fonte]

A fundação das escolas de samba também estão ligadas as tias do samba. O Império Serrano foi fundado por iniciativa de trabalhadores da estiva, Mano Décio, Mano Elói e Mestre Fuleiro, dentre outros, que se reuniam na casa de Tia Eulália. Outro episódio foi a fundação da Portela, escola de samba em 1923, também no bairro de Madureira. Impulsionada pelo empenho das mães de santo conhecidas no local, foi na casa de tia Ester que era líder do “Quem fala de nós come mosca”, bloco tradicional que circulava pelos subúrbios e que tinha como integrantes do bloco os futuros fundadores da Portela, como Paulo da Portela, que ao rachar com este bloco, cria o “Baianinhas de Oswaldo Cruz” em 1922, passo mais próximo para o que seria a Portela, em 1923.

Havia também a Tia Neném, sambista do morro do Salgueiro, nascida ali em 1921. A tia Zezé, nascida em Três Rios em 1923, componente importante da Unidos da Tijuca e tantas outras tias provenientes de vários lugares e contribuindo com esta tradição em vários espaços e tempo. Podemos dizer que cada região de uma escola de samba tem como matriarcas das mesmas as tias fundadoras.

Sendo assim foi ganhando contornos nas ruas do Rio, mesmo de forma subalternizada, a formação de uma cultura popular baseada na tradição das tias que seria de extrema importância daquilo que seria o Rio de Janeiro e sua modernidade e da formação da família negra brasileira. Elas que mesmo com a ação do tempo e espaço partilham ainda hoje de um espaço privilegiado no reduto do samba, nas memórias afetivas de sua família, criando estilos de vida, festejando, sonhando e inspirando toda uma nova geração.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. De Almeida, Angelica (2018). "A tradição das tias na formação do samba no Rio de Janeiro", https://noticiapreta.com.br/a-tradicao-das-tias-na-formacao-do-samba-do-rio-de-janeiro/
  2. Sá Gonçalves , Renata (2013). "Eu sou o samba: sobre lugares, pessoas e pertencimento", https://issuu.com/marcelooreilly/docs/0455-renatadesagon__alves/6 (Artigo Publicado originalmente em: Sociedade e Cultura, Goiânia, vol. 16, n. 1, p. 269-276, jan./jun. 2013. - SOCIEDADE E CULTURA é a revista de pesquisas e debates em Ciências Sociais editada semestralmente pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federa)