Zaui ibne Ziri
Zaui ibne Ziri | |
---|---|
Rei da Taifa de Granada | |
Reinado | 1013 — 1019 |
Sucessor(a) | Habus Almuzafar |
Dados pessoais | |
Nascimento | Achir (Ifríquia) |
Morte | c. 1020, 1037 ou 1038 |
Dinastia | Zíridas |
Pai | Ziri ibne Manade |
Filho(s) | Bologuine ibne Zaui |
Almançor Zaui ibne Ziri ibne Manade (em árabe: المنصور زاوي بن زيري بن مناد; romaniz.: al-Manṣūr Zāwī ben Zīrī ben Manād; m. c. 1020, 1037 ou 1038), melhor conhecido apenas como Zaui ibne Ziri,[1] foi um líder berbere, fundador da dinastia zírida da Taifa de Granada, da qual foi o primeiro rei entre 1013 e 1019.[nt 1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Origens
[editar | editar código-fonte]Zaui era filho de Ziri ibne Manade, um oficial ao serviço dos califas fatímidas e nasceu em Achir, a cidade fundada pelo seu pai cerca de 130 km a sul de Argel.[nt 1] A família zírida pertencia à tribo talcata, da confederação berbere dos sanhajas.[nt 2]
Em 980, o seu irmão Bologuine empreende uma grande campanha militar no Magrebe em nome dos Fatímidas. Almançor, o todo-poderoso hájibe do califa omíada de Córdova Hixame II reúne em Ceuta um exército formado por Zenetas apoiantes da causa omíada. Diante desta força, Bologuine desiste da sua campanha e retira para Achir. Morre no caminho de volta, em maio de 984[2] e sucede-lhe o seu filho Almançor ibne Bologuine como governador do Magrebe e de Ifríquia. Almançor ibne Bologuine confia o posto de governador de Tierte (atualmente na comuna de Tagdemt) ao seu tio Abul Biar e o de governador de Achir ao seu irmão Ituefete. Os Zenetas e os seus aliados omíadas recuperam rapidamente os territórios perdidos para Bologuine, nomeadamente Fez e Sijilmassa.[3][nt 1]
Em 989, Abul Biar revolta-se contra seu sobrinho Almançor. Recusa a tutela dos Fatímidas, refugia-se na província de Tremecém e envia um dos seus sobrinhos à Península Ibérica a fim de pedir o apoio de Almançor. Este envia presentes e dinheiro ao dissidente, que se entretanto tinha ido para Fez, para junto do chefe magraua Ziri ibne Atia.[4] Durante o ano de 990, Abul Biar desentende-se com os seus aliados e volta para Cairuão, onde Almançor ibne Bologuine o recebe honrosamente e lhe devolve o governo de Tierte.[nt 1][5]
Em 996, Almançor ibne Bologuine morre e é sucedido pelo seu filho Badis, que atribui o governo de Achir ao seu tio Hamade ibne Bologuine e o de Tierte a Ituerfe.[nt 1][6]
Estadia no Alandalus
[editar | editar código-fonte]Os tios de Badis, Zaui e Macsane, rebelam-se contra ele. Com o seu apoio, o zeneta Ziri ibne Atia cerca Tierte e toma a cidade; seguidamente conquista também Tremecém, Tenés e Massila, onde proclama a soberania do califa Hixame e do seu vizir Almançor. Este último convida os revoltosos a irem para Córdova para servirem no seu exército.[7] Entretanto Badis contra-ataca e põe Ziri ibne Atia em fuga. Badis deixa em Achir os seus tios Hamade e Ituerfe e os seus tios-avôs, entre os quais Zaui, e volta a Cairuão. Em 999, Zaui e os seus irmãos levam a cabo uma rebelião contra Badis e deixam Hamade sozinho.[6] Em 1001, Hamade vence os rebeldes. Zaui é então forçado a refugiar-se nas montanhas perto de Miliana e foge para a Península Ibérica com a sua família. Almançor recebe estes refugiados com solicitude.[nt 1][8]
O hájibe Almançor morre em 1002, sendo sucedido pelos seus descendentes, que continuam a ter o califa omíada Hixame II sob a sua tutela. O lugar de Almançor como governante de facto do califado ibérico começa por ser ocupado pelo filho Abedal Maleque Almuzafar, que depois é sucedido pelo irmão Abderramão Sanchuelo, que teria envenenado Almuzafar para tomar o seu lugar. Quando ascende ao poder, Sanchuelo junta ao título "Nácer Adaulá" ("defensor da dinastia") que já tinha o de Almamune ("em quem se confia").[9] Seguidamente faz-se designar como sucessor do trono califal por Hixame II.[10] Em 1009, um decreto de Hixame impõe o uso de turbante na corte de Córdova. Este decreto serve como pretexto aos oponentes do califa para o derrubarem. No dia seguinte ao incidente dos turbantes, Sanchuelo parte em campanha contra o rei Afonso V de Leão e Castela.[11] Os oponentes do califa aproveitam a ausência do vizir para destronarem Hixame e substituí-lo por Maomé II. Quando regressa à capital, Sanchuelo é preso e executado.[nt 1]
Pouco depois de subir ao trono, ainda em 1009, Maomé II é deposto por Solimão Almostaim. Os golpes de estado sucedem-se; em 1010 Maomé II volta ao poder por algum tempo com a ajuda dos Catalães. Quando estes partem, os Berberes e os Esclavões, que tinham colocado Maomé II no trono, voltam a dar o poder a Hixame II.[nt 1]
Em 1013, os Berberes, liderados por Zaui, cercam Córdova, derrubam Hixame e colocam novamente no trono Solimão com o título de Almostaim Bilá.[8] Durante o saque da cidade, Zaui remove a cabeça do seu pai Ziri do local onde o califa Aláqueme II a tinha colocado em 971.[nt 1][12]
Conquista de Granada
[editar | editar código-fonte]Em 1016, Solimão é derrubado pelo hamúdida Ali ibne Hamude Anácer, que já tinha o controlo de Málaga. Os Berberes dividem-se entre Zenetas e Zíridas, apoderando-se uns e outros de várias cidades. Zaui, que ocupava os campos em redor de Elvira, conquista esta cidade e faz dela a sua capital,[12] fundando a Taifa de Granada, da qual é o primeiro emir (rei).[nt 1] Segundo algumas fontes, Zaui teria tido intenções de voltar a África depois da queda de Solimão em 1010, mas foi instado a ficar pelos habitantes de Elvira, que lhe pediram proteção. Devido à hostilidade das gentes do Alandalus em relação aos Berberes e ao facto de Elvira se situar numa localização que tornava a sua defesa complicada, Zaui decide transferir a capital do seu reino para Medina Garnata, a atual Granada.[nt 3]
Em 1018, Ali ibne Hamude é derrubado por Abderramão IV "al-Murtada", da linhagem omíada, com a ajuda dos governadores de Valência e Saragoça. O novo califa tenta tomar Granada. Apesar da inferioridade numérica do seu exército, Zaui consegue uma vitória[nt 1] decisiva, para a qual contribuiu o abandono das hostes omíadas de Cairane, emir de Almeria e Alamundir ibne Iáia, emir de Saragoça.[nt 2] Depois disso, Abderramão é derrotado e morto por Alcacim ibne Hamude Almamune, irmão de Ali ibne Hamude.[nt 1][13]
Retorno a África
[editar | editar código-fonte]Em 1019 ou 1020[12] (ou 1025 segundo Lévi-Provençal),[14] Zaui decide voltar a Ifríquia, segundo ibne Caldune por lamentar os excessos levados a cabo pelos seus homens durante a guerra civil no Alandalus, que ele temia que atraíssem a vingança divina e levaria à ruína do império.[nt 1][12] Outras hipóteses avançadas para a partida de Zaui são a hostilidade que enfrentava no Alandalus e possíveis aspirações ao trono de Cairuão, onde reinava o neto do seu irmão Bologuine, Almuiz ibne Badis, então com apenas 11 anos de idade. Embarca em Almunacabe (Almunhecar)[nt 2] e é recebido honrosamente por Almuiz, que lhe oferece um dos seus mais belos palácios.[nt 1][12] Uma parte da corte de Cairuão via com bons olhos a presença de Zaui, que consideravam poder governar o reino em segurança durante a menoridade de Almuiz, mas havia uma facção que se lhe opunha. Segundo algumas fontes, Zaui teria morrido envenenado,[nt 2] talvez em Argel, pelo governador local, o também zírida Mádia.[nt 3][carece de fontes] O historiador andalusino ibne Haiane (987–1075) refere que morreu de peste, mas não diz quando. Para alguns autores não pode ter sido muito longe de 1020,[nt 2] enquanto que outros colocam a data da morte em 1037 ou 1038.[nt 1]
Ao deixar Granada, Zaui deixou o seu filho Bologuine ibne Zaui como governador. Este torna-se tão impopular que os habitantes se revoltam contra ele e fazem vir para a cidade o primo Habus Almuzafar e o colocam no trono. Ibne Caldune refere-se a Habus como o fundador da nova dinastia zírida em Granada.[nt 1][12]
Notas
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p A maior parte do texto foi inicialmente baseado no artigo «Zawi ibn Ziri» na Wikipédia em francês (acessado nesta versão).
- ↑ a b c d e Trechos baseados no artigo «Zawi ibn Ziri» na Wikipédia em catalão (acessado nesta versão).
- ↑ a b Trechos baseados no artigo «Zawi ben Ziri» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão).
Referências
- ↑ Coelho 1989, p. 38.
- ↑ Julien 1994, p. 407.
- ↑ ibne Caldune 1854, p. 13, vol. 2
- ↑ ibne Caldune 1856, p. 220, vol. 3
- ↑ ibne Caldune 1854, p. 16, vol. 2
- ↑ a b «Histoire de la dynastie sanhadjienne, fondée à Grenade par Habbous-ibn-Makcen-ibn-Zîri» ibne Caldune 1854, p. 59, vol. 2
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 271.
- ↑ a b «Histoire de la dynastie sanhadjienne, fondée à Grenade par Habbous-ibn-Makcen-ibn-Zîri» ibne Caldune 1854, p. 60, vol. 2
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 291-292.
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 294.
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 296-297.
- ↑ a b c d e f «Histoire de la dynastie sanhadjienne, fondée à Grenade par Habbous-ibn-Makcen-ibn-Zîri» ibne Caldune 1854, p. 61, vol. 2
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 329-330.
- ↑ Lévi-Provençal 1999, p. 231, nota 1.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Bosworth, Clifford Edmund (1996), The New Islamic Dynasties: A Chronological and Genealogical Manual, ISBN 9780748621378 (em inglês), p. 35-36, consultado em 16 de fevereiro de 2013
- Coelho, António Borges (1989). Portugal na Espanha Arabe: História. Lisboa: Editorial Caminho. ISBN 9722104209
- Julien, Charles-André (1994). «Les souverains zirides». Histoire de l'Afrique du Nord. Des origines à 1830 2 ed. Paris: Payot. 866 páginas. ISBN 978-222888789-2
- Khaldun, Ibn (1854), Mac Guckin de Slane, William, ed., Histoire des Berbères et des dynasties musulmanes de l'Afrique septentrionale (em francês), 2, século XIV, Argel: Imprimerie du Gouvernement, consultado em 16 de fevereiro de 2013
- Khaldun, Ibn (1856), Mac Guckin de Slane, William, ed., Histoire des Berbères et des dynasties musulmanes de l'Afrique septentrionale (em francês), 3, século XIV, Argel: Imprimerie du Gouvernement, consultado em 16 de fevereiro de 2013
- Lévi-Provençal, Évariste (1999), Histoire de l'Espagne musulmane: Le califat umaiyade de Cordoue, 912-1031, ISBN 9782706813870 (em francês), Maisonneuve & Larose
Precedido por — |
Reis zíridas de Granada 1013—1019 |
Sucedido por Habus Almuzafar |