Zodíaco de Dendera

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O Zodíaco de Dendera, exibido no Museu do Louvre, na França.

O Zodíaco de Dendera, também conhecido como Zodíaco de Denderah, é um baixo-relevo do Antigo Egito, proveniente do teto de um pórtico (pronaos) da capela dedicada a Osíris, no Templo de Hathor, em Dendera.

Esta capela foi iniciada no final do período ptolemaico, mas seu pronaos foi adicionado pelo imperador Tibério. Isso levou Jean-François Champollion a datar o relevo do período greco-romano, mas a maioria de seus contemporâneos acreditava que fosse do Império Novo.

O relevo, considerado "o único mapa completo que temos de um céu antigo",[1] supõe-se ser a base sobre a qual os sistemas de astronomia posteriores foram elaborados.[2] Agora está em exibição no Museu do Louvre, em Paris, França.

Datas dos eclipses[editar | editar código-fonte]

Eclipse solar em 7 de março de 51 AEC.

Sylvie Cauville, do Centro de Pesquisa Egiptológica Auxiliada por Computador, da Universidade de Utrecht, e Éric Aubourg, dataram-no de 50 AEC, por meio de um exame da configuração dos cinco planetas conhecidos pelos egípcios, mostrados na peça (uma configuração que ocorre a cada mil anos) e da identificação de dois eclipses.[3]

O eclipse solar indica a data de 7 de março de 51 AEC, e é representado por um círculo que contém a deusa Ísis segurando um babuíno (o deus Thoth) pela cauda.

O eclipse lunar indica a data de 25 de setembro de 52 AEC, e é representado por um olho de hórus dentro de um círculo.

Eclipse lunar em 25 de setembro de 52 AEC

Descrição[editar | editar código-fonte]

O zodíaco é um planisfério ou mapa das estrelas em uma projeção plana, mostrando as doze constelações da banda zodiacal, formando 36 decans de dez dias cada, e os planetas. Esses decans são grupos de estrelas de primeira magnitude. Eles foram usados no antigo calendário egípcio, que se baseava em ciclos lunares de cerca de trinta dias e no nascer helíaco da estrela Sótis (Sirius).

Sua representação do zodíaco em forma circular é única na arte egípcia antiga. Mais típicos são os zodíacos retangulares, que decoram os pronaos do mesmo templo.

Zodíaco de Dendera com suas cores originais (reconstruído)

O arco celeste é representado por um disco sustentado por quatro pilares do céu, em forma de mulher, entre os quais se inserem espíritos com cabeça de falcão. No primeiro círculo 36 espíritos representam o 360 dias do ano egípcio.

Em um círculo interno, encontramos constelações, mostrando os signos do zodíaco. Alguns deles são representados nas formas iconográficas greco-romanas (por exemplo, Áries, Touro, Escorpião e Capricórnio, embora por vezes em orientações estranhas em comparação com as convenções da Grécia antiga e árabe-ocidentais), enquanto outros são mostrados de uma forma mais egípcia: Aquário é representado como o deus da inundação Hapi, segurando dois vasos que jorram água. Já se notou a semelhanças de sua iconologia incomum com as três tábuas sobreviventes de um zodíaco selêucida. Para outros, o Zodíaco de Dendera seria "uma cópia completa do zodíaco mesopotâmico".[4]

Zodíaco de Dendera com as 48 constelações de Cláudio Ptolemeu claramente identificadas dentre as 72   constelações presentes.

História[editar | editar código-fonte]

Durante a campanha napoleônica no Egito, Vivant Denon desenhou o zodíaco circular e os zodíacos retangulares. Em 1802, após a expedição napoleônica, Denon publicou gravuras do teto do templo em seu Voyage dans la Basse et la Haute Egypte.[5] Isso provocou uma controvérsia quanto à idade da representação do zodíaco, variando de dezenas de milhares a algumas centenas de anos, e se o zodíaco era um planisfério ou um mapa astrológico.[6] Sébastien Louis Saulnier, um negociante de antiguidades, contratou Claude Lelorrain para remover o zodíaco circular com serras, macacos, tesouras e pólvora.[7] O teto contendo o zodíaco foi movido em 1821, para a celebração da restauração francesa, e em 1822 foi instalado por Luís XVIII na Biblioteca Real (mais tarde chamada de Biblioteca Nacional da França). Em 1922 o zodíaco foi transferido para o Louvre.

O Affair Dendera[editar | editar código-fonte]

A controvérsia em torno do zodíaco, chamada de "Affair Dendera", envolveu pessoas como Joseph Fourier (que estimou que a sua idade era de 2500 AEC).[8] Champollion, entre outros, acreditava que o zodíaco tinha uso religioso, o datou do século IV AEC. Georges Cuvier o datou de 123 a 147 AEC.[9]

Referências

  1. John H. Rogers, "Origins of the ancient constellations: I. The Mesopotamian traditions", Journal of the British Astronomical Association 108 (1998) 9–28
  2. Zodiac of Dendera, epitome. (Exhibition, Leic. square). J. Haddon, 1825.
  3. Marchant. «Decoding the ancient Egyptians' stone sky map». New Scientist 
  4. Rogers (1998) p. 10.
  5. Abigail Harrison Moore, "Voyage: Dominique-Vivant Denon and the transference of images of Egypt", Art History 25.4 (2002:531–549).
  6. Zodiac of Dendera, epitome. (Exhib., Leicester Square). J. Haddon, 1825.
  7. Saulnier, Sébastien L. «Notice sur le voyage de M. Lelorrain en Egypte: et observations sur le zodiaque circulaire de Denderah». Chez l'auteur – via Google Books 
  8. Francis Lister Hawks, The monuments of Egypt: Or, Egypt a witness for the Bible. John Murray, 1850. 256 pp. p. 158.
  9. Georges Cuvier A Discourse on the Revolutions of the Surface of the Globe (1825) Arquivado em 2016-03-03 no Wayback Machine no capítulo "The astronomical monuments of the Ancients.", pp. 170 Arquivado em 2011-07-24 no Wayback Machine and 172 Arquivado em 2011-07-24 no Wayback Machine

Ligações externas[editar | editar código-fonte]