Trauma acústico: diferenças entre revisões

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== DEFINIÇÃO ==
Trauma Acústico
A exposição a ruído de forte intensidade pode resultar em [[perda auditiva]], seja ela temporária ou permanente. Ela pode ocorrer de duas maneiras:


* exposição prolongada a ruído ([[perda auditiva induzida por ruído]] - PAIR);
'''Trauma acústico é''' uma lesão que traz prejuízo para os mecanismos de audição no ouvido interno devido a um ruído muito alto . Seu alcance geralmente cobre ruídos altos com curta duração, como uma explosão, um tiro. Por um tempo prolongado, sons mais silenciosos que estão concentrados em uma frequência estreita também podem causar danos a receptores de frequência específicos. <ref>{{Citar jornal|titulo=A Former NASA Scientist Almost Lost His Hearing Because of a Toilet Lid|url=https://motherboard.vice.com/en_us/article/evqagp/deaf-from-a-toilet-seat-physics}}</ref> A faixa de gravidade pode variar de dor a perda auditiva. <ref>{{Citar web|url=http://www.webmd.com/healthy-aging/ss/slideshow-causes|titulo=Slideshow: Top Causes of Severe Hearing Loss|obra=webmd.com}}</ref>
* exposição de curta duração a ruído de forte intensidade ('''trauma acústico''').<ref>{{citar livro|título=Alterações auditivas: um manual para avaliação clínica|ultimo=Jerger / Jerger|primeiro=Susan / James|editora=Atheneu|ano=1989|local=São Paulo - SP|páginas=102|acessodata=11-10-2019}}</ref>


O trauma acústico consiste então, em uma [[perda auditiva]], temporária ou permanente, que ocorre a partir de um única exposição a um ruído de forte intensidade, como: uma explosão, disparos de arma de fogo, máquinas de grande impacto em que acontece a descompressão brusca e violenta. Esse trauma afeta diretamente a [[Ouvido interno|orelha interna]] ([[cóclea]]), podendo em alguns casos gerar lesões simultâneas da [[Ouvido médio|orelha média]], como ruptura da [[membrana timpânica]] e/ou desarticulação dos ossículos, assim como distúrbios vestibulares (vertigem e perturbações de equilíbrio). <ref name=":0">{{citar periódico|ultimo=|primeiro=|data=2000|titulo=Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair)|url=http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_perda_auditiva.pdf|jornal=Editora do Ministério da Saúde|acessodata=}}</ref>
O trauma acústico agudo pode ser tratado pela combinação da [[Medicina hiperbárica|oxigenoterapia hiperbárica]] (OHB) com [[Corticosteroide|corticosteróides]] . A exposição aguda ao ruído provoca inflamação e menor suprimento de oxigênio no ouvido interno. Os corticosteróides impedem a reação inflamatória e a oxigenoterapia hiperbárica fornece um suprimento adequado de oxigênio. Esta terapia mostrou-se eficaz quando iniciada dentro de três dias após o trauma acústico. Portanto, essa condição é considerada uma emergência otorrinolaringológica. <ref>{{Citar periódico|titulo=Effect of hyperbaric oxygen therapy and corticosteroid therapy in military personnel with acute acoustic trauma|jornal=Journal of the Royal Army Medical Corps|doi=10.1136/jramc-2018-001117}}</ref>


A ocorrência do trauma acústico, assim como da PAIR, depende do tipo, do tempo e da intensidade da exposição sonora, assim como da suscetibilidade individual. <ref name=":1">{{Citar periódico|ultimo=Puyuelo|primeiro=Miguel|data=2005|titulo=Tratado de Audiología|url=http://dx.doi.org/10.1016/s0214-4603(06)70097-3|jornal=Revista de Logopedia, Foniatría y Audiología|volume=26|numero=1|paginas=62|doi=10.1016/s0214-4603(06)70097-3|issn=0214-4603|acessodata=}}</ref>
Geralmente a perda auditiva é parcial,envolvendo sons de alta frequencia e zumbido associado.

<references group=""></references>
== FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO X TRAUMA ACÚSTICO ==
Uma onda sonora entra na [[Ouvido externo|orelha externa]] e viaja por meio do [[Canal auditivo|meato acústico externo]], chegando a [[membrana timpânica]]. <ref name=":5">{{Citar web|titulo=Noise-Induced Hearing Loss|url=https://www.nidcd.nih.gov/health/noise-induced-hearing-loss|obra=NIDCD|data=2015-08-18|acessodata=2019-10-18|lingua=en}}</ref> Essa membrana vibra com as ondas sonoras recebidas e envia essas vibrações para três ossículos na orelha média, chamados de martelo, bigorna e estribo.<ref name=":5" /> Os ossículos da orelha média transferem energia mecânica para a [[cóclea]] por meio da [[Ouvido médio|batida]] do [[Ouvido médio|estribo]] contra a janela oval. Uma vez que as vibrações causem ondulações no fluido dentro da cóclea ([[perilinfa]] e [[endolinfa]]), o movimento das células ciliadas acontecem (células sensoriais na cóclea) e um sinal elétrico é enviado ao nervo auditivo ([[Nervo vestibulococlear|NC VIII]]) para o sistema auditivo central dentro do cérebro e, assim o [[som]] é percebido. <ref name=":6">{{Citar periódico|ultimo=Berger|primeiro=Arthur|data=2002-11-28|titulo=Do We Hear What We Say We Hear?|url=http://dx.doi.org/10.1525/california/9780520232518.003.0014|publicado=University of California Press|paginas=161–172|isbn=9780520232518}}</ref>

Cada grupo de células ciliadas responde a uma frequência específica, e isto é chamado de tonotopia coclear. Células ciliadas na ou perto da base da cóclea são mais sensíveis a sons de alta frequência, enquanto aquelas no ápice são mais sensíveis a sons de baixa frequência. <ref name=":6" />

A maioria da perdas auditivas induzidas por ruído (PAIR), inclusive o trauma acústico, causam dano e eventual morte dessas células ciliadas ou à mielinização e regiões sinápticas dos nervos auditivos. <ref name=":5" />

== CARACTERÍSTICAS AUDITIVAS ==
Perda auditiva sensorioneural, imediata e permanente após à exposição ao evento. <ref name=":2">{{citar livro|título=Alterações auditivas|ultimo=|primeiro=|editora=Atheneu|ano=|local=|páginas=1-210|acessodata=14/10/19}}</ref>
[[Ficheiro:Example_of_Notched_Audiogram.jpg|ligação=https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Example_of_Notched_Audiogram.jpg|miniaturadaimagem|256x256px|'''Exemplo de audiograma de trauma acústico.''']]
Pode ser uni ou bilateral e acontecer em qualquer idade <ref name=":2" />. A curva audiométrica é, inicialmente, descendente, podendo haver entalhe amplo e profundo em 4 kHz quando novas exposições acontecem <ref name=":2" />. Além disso, a perda auditiva afeta principalmente as frequências altas, como 3, 4 e 6 kHz.

Na imitanciometria, são observados resultados de timpanometria normais (curva tipo A) quando não há comprometimento de orelha média (membrana timpânica e cadeia ossicular) e, reflexos acústicos presentes se não houver curvas abruptamente descendentes. <ref name=":2" />

Geralmente, os pacientes costumam relatar dificuldade para entender fala (especialmente em ambientes ruidosos ou com acústica desfavorável) e [[zumbido]]. <ref name=":1" />

É recomendável realizar a [[Audiometria|avaliação audiológica]] imediatamente depois de ocorrido o trauma, e, repeti-la em intervalos aumentados, até se observar a estabilização do quadro audiológico. <ref name=":0" />

== PREVENÇÃO ==
As perdas auditivas causadas por exposição a ruído intenso, seja no ambiente de trabalho, nas atividades de lazer e/ou nos afazeres cotidianos, tem se intensificado. É fundamental a prevenção por meio de ações educativas para trabalhadores, crianças e público no geral, além de explicar a importância de realizar [[Audiometria|exames audiológicos]] rotineiramente como qualquer outro exame e do uso de [[Protetor auricular|protetores auditivos]] quando for necessário. <ref name=":1" />

Ainda vale destacar que, a [[Perda auditiva induzida por ruído|PAIR]] é completamente evitável. Quando se entende os riscos do ruído e como praticar uma boa saúde auditiva, pode-se proteger a audição por toda a vida e adquirir bons hábitos, através de: saber quais ruídos podem causar danos (aqueles com 85 dBA ou mais); tentar reduzir o ruído ou se proteger dele; estar em alerta a ruídos perigosos no ambiente; proteger os ouvidos das crianças; informar a família, amigos e colegas sobre os riscos do ruído, entre outros. <ref name=":5" />

=== Dispositivos pessoais de redução de ruído ===
Os dispositivos pessoais de redução de ruído podem ser passivos, ativos ou uma combinação. Proteção auditiva passiva inclui protetores auditivos que podem bloquear o ruído até uma frequência específica. Protetores auditivos podem fornecer ao usuário de 10 a 40 dB de atenuação. <ref name=":3">{{Citar periódico|ultimo=Rajguru|primeiro=Renu|data=2013-12-01|titulo=Military Aircrew and Noise-Induced Hearing Loss: Prevention and Management|url=http://openurl.ingenta.com/content/xref?genre=article&issn=0095-6562&volume=84&issue=12&spage=1268|jornal=Aviation, Space, and Environmental Medicine|lingua=en|volume=84|numero=12|paginas=1268–1276|doi=10.3357/ASEM.3503.2013}}</ref>No entanto, o uso de protetores auditivos só é eficaz se os usuários tiverem sido instruídos e os usarem adequadamente; sem o uso adequado, a proteção fica muito abaixo das classificações do fabricante.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Chen|primeiro=Jong-Dar|ultimo2=Tsai|primeiro2=Jui-Yuan|data=2010|titulo=Hearing Loss among Workers at an Oil Refinery in Taiwan|url=http://www.tandfonline.com/doi/abs/10.3200/AEOH.58.1.55-58|jornal=Archives of Environmental Health: An International Journal|lingua=en|volume=58|numero=1|paginas=55–58|doi=10.3200/AEOH.58.1.55-58|issn=0003-9896|acessodata=}}</ref> Maior consistência de desempenho foi encontrada com protetores personalizados. Devido à facilidade de uso sem educação e facilidade de aplicação ou remoção, os protetores auditivos têm mais consistência com a conformidade e a atenuação do ruído. A proteção ativa da audição (dispositivos de proteção auditiva de passagem eletrônica ou EPHPs) filtra eletronicamente ruídos de frequências específicas ou decibéis, enquanto permite a passagem do ruído restante.<ref name=":3" />

=== Educação ===
A educação é essencial para que a prevenção aconteça de forma efetiva.

Muitos programas de proteção auditiva têm sido prejudicados por pessoas que não usam a proteção por várias razões, incluindo o desejo de conversar, dispositivos desconfortáveis, falta de preocupação com a necessidade de proteção e pressão social contra o uso de proteção. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Fausti|primeiro=Stephen A.|ultimo2=Wilmington|primeiro2=Debra J.|ultimo3=Helt|primeiro3=Patrick V.|ultimo4=Helt|primeiro4=Wendy J.|ultimo5=Konrad-Martin|primeiro5=Dawn|data=2005|titulo=Hearing health and care: The need for improved hearing loss prevention and hearing conservation practices|url=http://www.rehab.research.va.gov/jour/05/42/4suppl2/fausti.html|jornal=The Journal of Rehabilitation Research and Development|lingua=en|volume=42|numero=4s|paginas=45|doi=10.1682/JRRD.2005.02.0039|issn=0748-7711}}</ref>

Uma revisão sistemática da eficácia das intervenções para promover o uso de dispositivos de proteção auditiva, como protetores auriculares (tipo plugue e abafadores) entre os trabalhadores, descobriu que intervenções personalizadas melhoram o uso médio de tais dispositivos quando comparados com nenhuma intervenção.<ref name=":4">{{Citar periódico|ultimo=El Dib|primeiro=Regina P|ultimo2=Mathew|primeiro2=Joseph L|ultimo3=Martins|primeiro3=Regina HG|data=2012-04-18|editor-sobrenome=The Cochrane Collaboration|titulo=Interventions to promote the wearing of hearing protection|url=http://doi.wiley.com/10.1002/14651858.CD005234.pub5|lingua=en|local=Chichester, UK|publicado=John Wiley & Sons, Ltd|paginas=CD005234.pub5|doi=10.1002/14651858.cd005234.pub5}}</ref> Intervenções sob medida envolvem o uso de comunicação ou outros tipos de intervenções que são específicas para um indivíduo ou um grupo e têm como objetivo mudar o comportamento. <ref name=":4" /> Intervenções mistas, como correspondências, distribuição de dispositivos de proteção auditiva, avaliações de ruído e testes auditivos, também são mais eficazes para melhorar o uso de dispositivos de proteção auditiva em comparação com o teste de audição sozinho.<ref name=":4" />

=== Programas de Conservação Auditiva ===
Para trabalhadores da indústria em geral que estão expostos a níveis de ruído acima de 85 dBA é preconizada pela Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) a inclusão em um programa de conservação auditiva (PCA), que inclui medição de ruído, controle de ruído, audiometria periódica, proteção auditiva, educação dos trabalhadores e manutenção de registros. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Ivory|primeiro=Robert|ultimo2=Kane|primeiro2=Rebecca|ultimo3=Diaz|primeiro3=Rodney C.|data=2014|titulo=Noise-induced hearing loss: a recreational noise perspective|url=http://content.wkhealth.com/linkback/openurl?sid=WKPTLP:landingpage&an=00020840-201410000-00012|jornal=Current Opinion in Otolaryngology & Head and Neck Surgery|lingua=en|volume=22|numero=5|paginas=394–398|doi=10.1097/MOO.0000000000000085|issn=1068-9508|acessodata=}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Keppler|primeiro=Hannah|ultimo2=Ingeborg|primeiro2=Dhooge|ultimo3=Sofie|primeiro3=Degeest|ultimo4=Bart|primeiro4=Vinck|data=agosto de 2015|titulo=The effects of a hearing education program on recreational noise exposure, attitudes and beliefs toward noise, hearing loss, and hearing protector devices in young adults|url=http://www.noiseandhealth.org/text.asp?2015/17/78/253/165028|jornal=Noise and Health|lingua=en|volume=17|numero=78|paginas=253|doi=10.4103/1463-1741.165028|issn=1463-1741|pmc=PMC4900500|pmid=26356367|acessodata=}}</ref>

Intervenções para prevenir a PAIR geralmente têm muitos componentes. Uma revisão [[Colaboração Cochrane|Cochrane de]] 2017 descobriu que os PCAs revelaram que uma legislação mais rigorosa poderia reduzir os níveis de ruído. Dar aos trabalhadores informações sobre seus próprios níveis de exposição ao ruído não foi demonstrado para diminuir a exposição ao ruído. A proteção auricular, se usada corretamente, tem o potencial de reduzir o ruído a níveis mais seguros, mas não necessariamente previne a perda auditiva. Soluções externas, como a manutenção adequada do equipamento, podem levar à redução de ruído, mas é necessário um estudo mais aprofundado desse problema em condições da vida real. Outras soluções possíveis incluem melhor aplicação da legislação existente e melhor implementação de programas de prevenção bem concebidos, que ainda não foram provados conclusivamente para serem eficazes. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Tikka|primeiro=Christina|ultimo2=Verbeek|primeiro2=Jos H|ultimo3=Kateman|primeiro3=Erik|ultimo4=Morata|primeiro4=Thais C|ultimo5=Dreschler|primeiro5=Wouter A|ultimo6=Ferrite|primeiro6=Silvia|data=07/07/2017|editor-sobrenome=Cochrane Work Group|titulo=Interventions to prevent occupational noise-induced hearing loss|url=http://doi.wiley.com/10.1002/14651858.CD006396.pub4|jornal=Cochrane Database of Systematic Reviews|lingua=en|doi=10.1002/14651858.CD006396.pub4|pmc=PMC6353150|pmid=28685503|acessodata=}}</ref>

=== Outras iniciativas ===
Há uma variedade de programas de conscientização pública disponíveis, bem como currículos para ensinar as mensagens de conscientização. Um desses programas é ''Dangerous Decibels'', cuja missão é "reduzir significativamente a prevalência de PAIR e zumbido através de exposições, educação e pesquisa. <ref>{{Citar periódico|ultimo=Willey|primeiro=Ronald R.|titulo=Optical Density and Decibels (dB)|url=http://dx.doi.org/10.1117/3.668269.p32|publicado=SPIE|isbn=9780819478221}}</ref>''We’re hEAR for You'' é uma pequena organização sem fins lucrativos que distribui informações e protetores auditivos em locais de concertos e festivais de música.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Kloda|primeiro=Lorie A.|data=2016-06-20|titulo=We Want You to Hear From Us, and We Want to Hear from You!|url=http://dx.doi.org/10.18438/b86g8g|jornal=Evidence Based Library and Information Practice|volume=11|numero=2|paginas=1|doi=10.18438/b86g8g|issn=1715-720X}}</ref> O programa ''Buy Quiet f''oi criado para combater as exposições ocupacionais ao ruído, promovendo a compra de ferramentas e equipamentos mais silenciosos e incentivando os fabricantes a projetarem esse tipo de equipamento.<ref>{{Citar periódico|data=2014-07-01|titulo=Buy quiet.|url=http://dx.doi.org/10.26616/nioshpub2014130}}</ref> O NIOSH fez uma parceria com a Associação Nacional de Conservação Auditiva em 2007 para estabelecer as premiações Safe-in-Sound de Excelência e Inovação em Prevenção de Perda Auditiva para reconhecer organizações que estão implementando com sucesso conceitos de prevenção de perda auditiva em suas rotinas diárias.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Morata|primeiro=Thais C.|ultimo2=Casto|primeiro2=Kristen L.|data=abril de 2018|titulo=Safe-in-Sound Award Recognizes Innovations in Hearing Loss Prevention|url=http://dx.doi.org/10.1097/01.hj.0000532397.83182.a4|jornal=The Hearing Journal|volume=71|numero=4|paginas=34|doi=10.1097/01.hj.0000532397.83182.a4|issn=0745-7472|acessodata=}}</ref>

== TRATAMENTO ==
Pode ser feito por meio da combinação da [[oxigenoterapia hiperbárica]] (OHB) com [[corticosteróides]], uma vez que a exposição aguda ao ruído provoca inflamação e menor suprimento de oxigênio na orelha interna. Assim, os corticosteróides impedem a reação inflamatória e a oxigenoterapia hiperbárica fornece um suprimento adequado de oxigênio, sendo eficaz quando iniciada dentro de três dias após o trauma acústico. Portanto, essa condição é considerada uma emergência otorrinolaringológica. <ref>{{Citar periódico|titulo=Effect of hyperbaric oxygen therapy and corticosteroid therapy in military personnel with acute acoustic trauma|jornal=Journal of the Royal Army Medical Corps|doi=10.1136/jramc-2018-001117}}</ref>

== REFERÊNCIAS ==
<references /><br /><references group=""></references>
[[Categoria:Doenças do ouvido e do processo mastoide]]
[[Categoria:Doenças do ouvido e do processo mastoide]]
[[Categoria:!Páginas com traduções não revistas]]
[[Categoria:!Páginas com traduções não revistas]]

Revisão das 22h31min de 4 de novembro de 2019

DEFINIÇÃO

A exposição a ruído de forte intensidade pode resultar em perda auditiva, seja ela temporária ou permanente. Ela pode ocorrer de duas maneiras:

O trauma acústico consiste então, em uma perda auditiva, temporária ou permanente, que ocorre a partir de um única exposição a um ruído de forte intensidade, como: uma explosão, disparos de arma de fogo, máquinas de grande impacto em que acontece a descompressão brusca e violenta. Esse trauma afeta diretamente a orelha interna (cóclea), podendo em alguns casos gerar lesões simultâneas da orelha média, como ruptura da membrana timpânica e/ou desarticulação dos ossículos, assim como distúrbios vestibulares (vertigem e perturbações de equilíbrio). [2]

A ocorrência do trauma acústico, assim como da PAIR, depende do tipo, do tempo e da intensidade da exposição sonora, assim como da suscetibilidade individual. [3]

FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO X TRAUMA ACÚSTICO

Uma onda sonora entra na orelha externa e viaja por meio do meato acústico externo, chegando a membrana timpânica. [4] Essa membrana vibra com as ondas sonoras recebidas e envia essas vibrações para três ossículos na orelha média, chamados de martelo, bigorna e estribo.[4] Os ossículos da orelha média transferem energia mecânica para a cóclea por meio da batida do estribo contra a janela oval. Uma vez que as vibrações causem ondulações no fluido dentro da cóclea (perilinfa e endolinfa), o movimento das células ciliadas acontecem (células sensoriais na cóclea) e um sinal elétrico é enviado ao nervo auditivo (NC VIII) para o sistema auditivo central dentro do cérebro e, assim o som é percebido. [5]

Cada grupo de células ciliadas responde a uma frequência específica, e isto é chamado de tonotopia coclear. Células ciliadas na ou perto da base da cóclea são mais sensíveis a sons de alta frequência, enquanto aquelas no ápice são mais sensíveis a sons de baixa frequência. [5]

A maioria da perdas auditivas induzidas por ruído (PAIR), inclusive o trauma acústico, causam dano e eventual morte dessas células ciliadas ou à mielinização e regiões sinápticas dos nervos auditivos. [4]

CARACTERÍSTICAS AUDITIVAS

Perda auditiva sensorioneural, imediata e permanente após à exposição ao evento. [6]

Exemplo de audiograma de trauma acústico.

Pode ser uni ou bilateral e acontecer em qualquer idade [6]. A curva audiométrica é, inicialmente, descendente, podendo haver entalhe amplo e profundo em 4 kHz quando novas exposições acontecem [6]. Além disso, a perda auditiva afeta principalmente as frequências altas, como 3, 4 e 6 kHz.

Na imitanciometria, são observados resultados de timpanometria normais (curva tipo A) quando não há comprometimento de orelha média (membrana timpânica e cadeia ossicular) e, reflexos acústicos presentes se não houver curvas abruptamente descendentes. [6]

Geralmente, os pacientes costumam relatar dificuldade para entender fala (especialmente em ambientes ruidosos ou com acústica desfavorável) e zumbido. [3]

É recomendável realizar a avaliação audiológica imediatamente depois de ocorrido o trauma, e, repeti-la em intervalos aumentados, até se observar a estabilização do quadro audiológico. [2]

PREVENÇÃO

As perdas auditivas causadas por exposição a ruído intenso, seja no ambiente de trabalho, nas atividades de lazer e/ou nos afazeres cotidianos, tem se intensificado. É fundamental a prevenção por meio de ações educativas para trabalhadores, crianças e público no geral, além de explicar a importância de realizar exames audiológicos rotineiramente como qualquer outro exame e do uso de protetores auditivos quando for necessário. [3]

Ainda vale destacar que, a PAIR é completamente evitável. Quando se entende os riscos do ruído e como praticar uma boa saúde auditiva, pode-se proteger a audição por toda a vida e adquirir bons hábitos, através de: saber quais ruídos podem causar danos (aqueles com 85 dBA ou mais); tentar reduzir o ruído ou se proteger dele; estar em alerta a ruídos perigosos no ambiente; proteger os ouvidos das crianças; informar a família, amigos e colegas sobre os riscos do ruído, entre outros. [4]

Dispositivos pessoais de redução de ruído

Os dispositivos pessoais de redução de ruído podem ser passivos, ativos ou uma combinação. Proteção auditiva passiva inclui protetores auditivos que podem bloquear o ruído até uma frequência específica. Protetores auditivos podem fornecer ao usuário de 10 a 40 dB de atenuação. [7]No entanto, o uso de protetores auditivos só é eficaz se os usuários tiverem sido instruídos e os usarem adequadamente; sem o uso adequado, a proteção fica muito abaixo das classificações do fabricante.[8] Maior consistência de desempenho foi encontrada com protetores personalizados. Devido à facilidade de uso sem educação e facilidade de aplicação ou remoção, os protetores auditivos têm mais consistência com a conformidade e a atenuação do ruído. A proteção ativa da audição (dispositivos de proteção auditiva de passagem eletrônica ou EPHPs) filtra eletronicamente ruídos de frequências específicas ou decibéis, enquanto permite a passagem do ruído restante.[7]

Educação

A educação é essencial para que a prevenção aconteça de forma efetiva.

Muitos programas de proteção auditiva têm sido prejudicados por pessoas que não usam a proteção por várias razões, incluindo o desejo de conversar, dispositivos desconfortáveis, falta de preocupação com a necessidade de proteção e pressão social contra o uso de proteção. [9]

Uma revisão sistemática da eficácia das intervenções para promover o uso de dispositivos de proteção auditiva, como protetores auriculares (tipo plugue e abafadores) entre os trabalhadores, descobriu que intervenções personalizadas melhoram o uso médio de tais dispositivos quando comparados com nenhuma intervenção.[10] Intervenções sob medida envolvem o uso de comunicação ou outros tipos de intervenções que são específicas para um indivíduo ou um grupo e têm como objetivo mudar o comportamento. [10] Intervenções mistas, como correspondências, distribuição de dispositivos de proteção auditiva, avaliações de ruído e testes auditivos, também são mais eficazes para melhorar o uso de dispositivos de proteção auditiva em comparação com o teste de audição sozinho.[10]

Programas de Conservação Auditiva

Para trabalhadores da indústria em geral que estão expostos a níveis de ruído acima de 85 dBA é preconizada pela Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) a inclusão em um programa de conservação auditiva (PCA), que inclui medição de ruído, controle de ruído, audiometria periódica, proteção auditiva, educação dos trabalhadores e manutenção de registros. [11][12]

Intervenções para prevenir a PAIR geralmente têm muitos componentes. Uma revisão Cochrane de 2017 descobriu que os PCAs revelaram que uma legislação mais rigorosa poderia reduzir os níveis de ruído. Dar aos trabalhadores informações sobre seus próprios níveis de exposição ao ruído não foi demonstrado para diminuir a exposição ao ruído. A proteção auricular, se usada corretamente, tem o potencial de reduzir o ruído a níveis mais seguros, mas não necessariamente previne a perda auditiva. Soluções externas, como a manutenção adequada do equipamento, podem levar à redução de ruído, mas é necessário um estudo mais aprofundado desse problema em condições da vida real. Outras soluções possíveis incluem melhor aplicação da legislação existente e melhor implementação de programas de prevenção bem concebidos, que ainda não foram provados conclusivamente para serem eficazes. [13]

Outras iniciativas

Há uma variedade de programas de conscientização pública disponíveis, bem como currículos para ensinar as mensagens de conscientização. Um desses programas é Dangerous Decibels, cuja missão é "reduzir significativamente a prevalência de PAIR e zumbido através de exposições, educação e pesquisa. [14]We’re hEAR for You é uma pequena organização sem fins lucrativos que distribui informações e protetores auditivos em locais de concertos e festivais de música.[15] O programa Buy Quiet foi criado para combater as exposições ocupacionais ao ruído, promovendo a compra de ferramentas e equipamentos mais silenciosos e incentivando os fabricantes a projetarem esse tipo de equipamento.[16] O NIOSH fez uma parceria com a Associação Nacional de Conservação Auditiva em 2007 para estabelecer as premiações Safe-in-Sound de Excelência e Inovação em Prevenção de Perda Auditiva para reconhecer organizações que estão implementando com sucesso conceitos de prevenção de perda auditiva em suas rotinas diárias.[17]

TRATAMENTO

Pode ser feito por meio da combinação da oxigenoterapia hiperbárica (OHB) com corticosteróides, uma vez que a exposição aguda ao ruído provoca inflamação e menor suprimento de oxigênio na orelha interna. Assim, os corticosteróides impedem a reação inflamatória e a oxigenoterapia hiperbárica fornece um suprimento adequado de oxigênio, sendo eficaz quando iniciada dentro de três dias após o trauma acústico. Portanto, essa condição é considerada uma emergência otorrinolaringológica. [18]

REFERÊNCIAS

  1. Jerger / Jerger, Susan / James (1989). Alterações auditivas: um manual para avaliação clínica. São Paulo - SP: Atheneu. 102 páginas 
  2. a b «Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair)» (PDF). Editora do Ministério da Saúde. 2000 
  3. a b c Puyuelo, Miguel (2005). «Tratado de Audiología». Revista de Logopedia, Foniatría y Audiología. 26 (1). 62 páginas. ISSN 0214-4603. doi:10.1016/s0214-4603(06)70097-3 
  4. a b c d «Noise-Induced Hearing Loss». NIDCD (em inglês). 18 de agosto de 2015. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  5. a b Berger, Arthur (28 de novembro de 2002). «Do We Hear What We Say We Hear?». University of California Press: 161–172. ISBN 9780520232518 
  6. a b c d Alterações auditivas. [S.l.]: Atheneu. pp. 1–210 
  7. a b Rajguru, Renu (1 de dezembro de 2013). «Military Aircrew and Noise-Induced Hearing Loss: Prevention and Management». Aviation, Space, and Environmental Medicine (em inglês). 84 (12): 1268–1276. doi:10.3357/ASEM.3503.2013 
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