Saltar para o conteúdo

Não-dualismo: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Adicionadas informações traduzidas da Wikipedia-en
Linha 1: Linha 1:
[[Ficheiro:Taijiquan Symbol.png|miniaturadaimagem|[[Taijitu]]]]
'''Não-dualismo''',{{Nota de rodapé|{{Nota linguística/Não prefixal|não-dualismo|não dualismo}}}} também chamado de '''não-dualidade''',{{Nota de rodapé|{{Nota linguística/Não prefixal|não-dualidade|não dualidade}}}} é traduz o termo [[sânscrito]] ''[[advaita]]'', que é utilizado para definir várias vertentes de pensamento religioso e espiritual.{{HarvRef|Loy|1988}} É encontrado em uma variedade de tradições religiosas asiáticas{{HarvRef|Sarma|1996}} e na espiritualidade ocidental moderna, mas com uma variedade de significados e usos.{{HarvRef|Sarma|1996}}{{HarvRef|Loy|1988}}
'''Não-dualismo''',{{Nota de rodapé|{{Nota linguística/Não prefixal|não-dualismo|não dualismo}}}} também chamado de '''não-dualidade''',{{Nota de rodapé|{{Nota linguística/Não prefixal|não-dualidade|não dualidade}}}} significa "não dois" ou "um indivisível sem um segundo".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=qcoUFYOX0bEC|título=A Concise Dictionary of Indian Philosophy: Sanskrit Terms Defined in English|ultimo=John A. Grimes|data=1996|páginas=15|isbn=978-0-7914-3067-5|publicação=State University of New York Press}}</ref>{{HarvRef|Katz|2007}} É encontrado em uma variedade de tradições religiosas asiáticas{{HarvRef|Sarma|1996}} e na espiritualidade ocidental moderna, mas com uma variedade de significados e usos.{{HarvRef|Sarma|1996}}{{HarvRef|Loy|1988}} Não-dualismo na [[espiritualidade]] refere-se principalmente a um atribuído estado maduro de consciência, no qual a dicotomia do eu-outro seria "transcendida" e a consciência é descrita como "sem centro" e "sem dicotomias". Embora esse estado de consciência possa parecer espontâneo,{{Nota de rodapé|nota=Ver [[Consciência Cósmica]], de [[Richard Bucke]]}} geralmente segue uma preparação prolongada por meio de práticas ascéticas ou meditativas/contemplativas, que podem incluir injunções éticas. Embora o termo "não-dualismo" seja derivado do [[Advaita Vedânta|Advaita Vedanta]], as descrições da consciência não dual podem ser encontradas no [[Hinduísmo]] (''[[Turiya]], [[sahaja]]''), [[Budismo]] ([[Sunyata|vacuidade]], ''[[Iogacara|pariniṣpanna]]'', ''[[ Rigpa|rigpa]]'')[[, Islã]] ([[Metafísica sufi|Wahdat al Wujud]], [[Fana|Fanaa]] e [[Haqiqa|Haqiqah]]) e tradições ocidentais [[cristãs]] e [[Neoplatonismo|neoplatônicas]] ([[henosis]], [[Misticismo|união mística]]).


A perspectiva [[filosofia|filosófica]] ou [[religião|religiosa]] não-dual afirma que não há nenhuma distinção fundamental entre mente e [[matéria]], e que o mundo fenomenal é uma [[ilusão]]. Muitas tradições (geralmente da Ásia) afirmam que a verdadeira condição ou natureza da realidade é não-dual, e que as dicotomias são conveniências irrealistas ou imprecisas.
A perspectiva [[filosofia|filosófica]] ou [[religião|religiosa]] não dual geralmente afirma que não há nenhuma distinção fundamental entre mente e [[matéria]], considerando a divisão como artificial e, a maioria, que o mundo [[Fenómeno|fenomenal]] é uma [[ilusão]]. Muitas tradições (principalmente da Ásia) afirmam que a verdadeira condição ou natureza da realidade é não-dual, e que as dicotomias são conveniências irrealistas ou imprecisas. O não-dualismo ou não-dualidade é contrário ao conceito de [[dualismo]] ou dualidade, que é constituído pela manifestação de coisas na existência de dois princípios supremos, incriados, independentes, irredutíveis e antagônicos.
[[File:Indrasnet.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:Indrasnet.jpg|alt=|miniaturadaimagem|150x150px|Uma renderização 3D da [[Teia de Indra]], uma ilustração do conceito [[Huayan]] de interpenetração de todas as coisas.]]
A ideia asiática do não-dualismo é desenvolvida nas filosofias [[Vedas|védicas]] e pós-védicas [[ hindu|hindus]], bem como nas tradições [[Budismo|budistas]].{{HarvRef|Dasgupta|Mohanta|1998|p=362}} Os vestígios mais antigos do não-dualismo no pensamento indiano são encontrados nos [[Upanixade|Upanishads]] [[ hindu|hindus]] anteriores, como [[ Brihadaranyaka Upanishad|Brihadaranyaka Upanishad]], bem como em outros Upanishads pré-budistas, como o [[ Chandogya Upanishad|Chandogya Upanishad]], que enfatiza a unidade da alma individual chamada [[Atman]] e o Supremo chamado [[Brâman|Brahman]]. No hinduísmo, o não-dualismo é mais comumente associado à tradição Advaita Vedanta de [[Shânkara|Adi Shankara]].{{HarvRef|Raju|1992|p=177}} O [[siquismo]] comumente ensina a dualidade entre Deus e os homens, mas foi dada uma interpretação não dual por [[Bhai Vir Singh]].
[[Ficheiro:Chakrasamvara Vajravarahi.jpg|miniaturadaimagem|[[Chakrasamvara|Saṃvara]] com [[Vajravārāhī]] em [[Yab-Yum]]. Essas representações budistas tântricas da união amorosa simbolizam a união não dual de Compaixão ([[Karuna]]) e Sabedoria ([[Prajna]]).]]
Na [[Budismo|tradição budista]], a não-dualidade está associada aos ensinamentos da vacuidade (''[[Sunyata|śūnyatā]]'') e à [[ Doutrina das duas verdades|doutrina das duas verdades]], particularmente o ensino de [[Madhyamaka]] da não-dualidade da verdade absoluta e relativa{{HarvRef|Loy|1988|p=9-11}}, a noção [[Iogachara]] de "somente mente/pensamento" (''citta-matra'' ou "somente representação" (''[[ Yogacara|vijñaptimātra]]''){{HarvRef|Raju|1992|p=177}} e o ensino [[dzogchen]], que, em [[tibetano]], significa "não dois". Esses ensinamentos'','' juntamente com a doutrina da [[Natureza de Buda|natureza búdica]], foram conceitos influentes no desenvolvimento subsequente do [[Maaiana|budismo maaiana]], não apenas na Índia, mas também no [[Budismo da Ásia Oriental|budismo do leste asiático]] e [[Budismo tibetano|tibetano]], principalmente no [[Huayan]], [[Tiantai]], [[Zen|Chán (Zen)]] e [[Vajrayana]].


O [[taoísmo]] ensina a ideia de uma força universal sutil única ou poder criativo cósmico chamado [[Tao]] (literalmente "caminho").{{sfn|Renard|2010|p=98-99}} O conceito de [[Yin e Yang]], muitas vezes erroneamente concebido como um símbolo do dualismo, na verdade pretende transmitir a noção de que todos os opostos aparentes são partes complementares de um todo não-dual.<ref>Paul A. Erickson, Liam D. Murphy. ''A History of Anthropological Theory''. 2013. p. 486</ref> A polaridade das realidades absoluta e relativas são expressas no conceito de "[[essência-função]]" do [[budismo chinês]], influenciadas por uma interpretação ontológica das duas verdades e também pelas metafísicas taoísta e [[Confucionismo|confucionista]] nativas.
O não-dualismo ou não-dualidade é contrário ao conceito de [[dualismo]] ou dualidade, que é constituído pela manifestação de coisas na existência de dois princípios supremos, incriados, independentes, irredutíveis e antagônicos.

O [[neoplatonismo]] ocidental é um elemento essencial da [[Contemplação (cristianismo)|contemplação]] e do [[misticismo]] cristãos, e do [[esoterismo ocidental]] e da [[Espiritualidade|espiritualidade moderna]] (como o [[movimento teosófico]] e [[Nova Era]]), especialmente o [[unitarismo]], o [[transcendentalismo]], o [[universalismo]] e o [[Filosofia perene|perenialismo]]. Influências clássicas de não-dualismo também são bastante presentes no [[sufismo]], [[cabala]] e [[judaísmo chassídico]].

== Etimologia ==
Quando se refere ao não-dualismo, o hinduísmo geralmente usa o termo sânscrito ''[[Advaita]],'' (literalmente, a-dual), que é utilizado para definir várias vertentes de pensamento religioso e espiritual,{{HarvRef|Loy|1988}} enquanto o budismo usa ''Advaya'' (tibetano: ''gNis-med,'' chinês: ''pu-erh,'' japonês: ''fu-ni'' )''.''<ref name=":0">Loy, David, Nonduality: A Study in Comparative Philosophy, Prometheus Books, 2012, p. 1.</ref>

"Advaita" (अद्वैत) é de raízes sânscritas ''a'', não; ''dvaita'', dual, e geralmente é traduzido como "não-dualismo", "não-dualidade" e "não-dual". O termo "não-dualismo" e o termo "''advaita''" do qual se origina são termos [[Lógica multivalorada|polivalentes]] . A origem [[Latim|latina]] da palavra é ''duo'', que significa "dois", prefixada com "não".

"Advaya" (अद्वय) também é uma palavra sânscrita que significa "identidade única, não dois, sem um segundo", e geralmente se refere à doutrina das duas verdades do [[Maaiana|budismo maaiana]], especialmente [[Madhyamaka]].

Um dos primeiros usos da palavra Advaita é encontrado no verso 4.3.32 do [[ Brihadaranyaka Upanishad|Brihadaranyaka Upanishad]] (~ 800 a.C.) e nos versos 7 e 12 do [[Mandukya Upanishad]] (datado de várias formas entre 500 a.C. e 200 EC).<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=tx-oj1dlojEC|título=A concordance to the principal Upanisads and Bhagavadgita|ultimo=George Adolphus Jacob|ano=1999|isbn=978-81-208-1281-9|publicação=Motilal Banarsidass}}</ref> O termo aparece no Brihadaranyaka Upanishad na seção com um discurso da unicidade de [[Atman]] (alma individual) e [[Brâman|Brahman]] (consciência universal), como segue:<ref>[https://archive.org/stream/thirteenprincipa028442mbp#page/n147/mode/2up Brihadaranyaka Upanishad] Robert Hume (Translator), Oxford University Press, pp. 127–147</ref> {{Quote|3=|Um oceano é aquele que vê, sem nenhuma dualidade [Advaita]; este é o mundo Brahma, o rei. Assim [[Yajnavalkya]] o ensinou. Este é o seu maior objetivo, este é o seu maior sucesso, este é o seu mundo mais alto, esta é a sua maior felicidade. Todas as outras criaturas vivem em uma pequena porção dessa felicidade.|''[[Brihadaranyaka Upanishad]]'' 4.3.32<ref>Max Muller, [https://archive.org/details/SacredBooksEastVariousOrientalScholarsWithIndex.50VolsMaxMuller Brihad Aranyaka Upanishad] The Sacred Books of the East, Volume 15, Oxford University Press, page 171</ref><ref>[https://archive.org/stream/thirteenprincipa028442mbp#page/n159/mode/2up Brihadaranyaka Upanishad] Robert Hume (Translator), Oxford University Press, page 138</ref><ref>Paul Deussen (1997), Sixty Upanishads of the Veda, Volume 1, Motilal Banarsidass, {{ISBN|978-8120814677}}, page 491; Sanskrit: ससलिले एकस् द्रष्टा '''अद्वैत'''स् भवति एष ब्रह्मलोकः (...)</ref>}}Termos equivalentes a "não-dual" também foram informados pelas primeiras traduções dos Upanishads em outros idiomas ocidentais que não o inglês desde 1775. Esses termos se popularizaram e entraram no idioma inglês a partir de representações literais de "[[Advaita Vedânta|advaita]]" subsequentes à primeira onda de traduções para os [[Upanixade|Upanishads]]. Essas traduções começaram em inglês com o trabalho de [[Max Müller|Müller]] (1823-1900), nos monumentais ''[[ Livros Sagrados do Oriente|Livros Sagrados do Oriente]]'' (1879).

[[Max Müller]] traduziu "advaita" como "[[monismo]]", como muitos estudiosos recentes.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=LDWSBgAAQBAJ|título=Indian Philosophy of Religion|ultimo=R.W. Perrett|ano=2012|isbn=978-94-009-2458-1|publicação=Springer Science}}</ref><ref>S Menon (2011), [http://www.iep.utm.edu/adv-veda/ Advaita Vedanta], IEP, Quote:"The essential philosophy of Advaita is an idealist monism, and is considered to be presented first in the Upaniṣads and consolidated in the Brahma Sūtra by this tradition."</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=g6FsB3psOTIC&pg=PA645|título=The Illustrated Encyclopedia of Hinduism: N-Z|ultimo=James G. Lochtefeld|data=2002|páginas=645–646|isbn=978-0-8239-3180-4|publicação=The Rosen Publishing Group}}</ref> No entanto, alguns estudiosos afirmam que "advaita" não é realmente monismo.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=SDDskenlLH8C&pg=PA227|título=The Depth of the Riches: A Trinitarian Theology of Religious Ends|ultimo=S. Mark Heim|ano=2001|páginas=227|isbn=978-0-8028-4758-4|publicação=Wm. B. Eerdmans Publishing}}</ref>


== Seguidores ==
== Seguidores ==
Linha 13: Linha 31:
* [[Plotino]]
* [[Plotino]]
* [[Meister Eckhart]]
* [[Meister Eckhart]]
*[[Juliana de Norwich]]


=== Filósofos ocidentais modernos ===
=== Filósofos ocidentais modernos ===
Linha 40: Linha 59:
*[[Ramana Maharshi]] (Índia, 1879-1950)
*[[Ramana Maharshi]] (Índia, 1879-1950)
*[[Meher Baba]] (Índia, 1894-1969)
*[[Meher Baba]] (Índia, 1894-1969)
*Paramahansa Yogananda (1893-1952)
*[[Paramahansa Yogananda]] (1893-1952)
*[[Krishnamurti]] (Índia, 1895-1986)
*[[Krishnamurti]] (Índia, 1895-1986)
*HVL Punsha (Índia, 1910-1997)
*HVL Punsha (Índia, 1910-1997)
Linha 51: Linha 70:
* [[Richard Bach]]
* [[Richard Bach]]
* [[Aldous Huxley]]
* [[Aldous Huxley]]
*[[Khalil Gibran|Kahlil Gibran]]
* Jalil Gibrán
* [[Alan Watts]]
* [[Alan Watts]]
* [[Neale Donald Walsch]]
* [[Neale Donald Walsch]]
Linha 61: Linha 80:
* [[Ken Wilber]] (Estados Unidos, 1949)
* [[Ken Wilber]] (Estados Unidos, 1949)
* Madhukar (Alemanha, 1957)
* Madhukar (Alemanha, 1957)

== Ver também ==
{{div col|colwidth=27em}}
* [[Monismo]]
* [[Absoluto]]
* [[Emanacionismo]]
* [[Henosis]] (União com o Absoluto)
* [[Holismo]]
* [[Maya]] (ilusão cósmica)
* [[Mônada]] (filosofia)
* [[Neoadvaita]]
* [[Parabrahman]]
* [[Individualismo aberto]]
* [[Panenteísmo]]
* [[Panteísmo]]
* [[Psicologia do processo]]
* [[O Tudo]]
'''Metáforas para não dualismos'''
* [[Teia de Indra|Rede de Joias de Indra]], ''[[Avatamsaka Sutra]]''
* [[Homens cegos e um elefante]]
* [[Eclipse]]
* [[Jardim do Éden]]
* [[Hermafrodita]], ex. [[Ardhanārīśvara]]
* [[Espelho]] e [[Reflexão (física)|reflexões]], como uma metáfora para o continuum de sujeito-objeto no espelho-a-mente e a interioridade da percepção e sua ilusão de exterioridade projetada
* [[Casamento sagrado]]
{{div col end}}


== Bibiografia ==
== Bibiografia ==

Revisão das 17h03min de 8 de novembro de 2019

Taijitu

Não-dualismo,[nota 1] também chamado de não-dualidade,[nota 2] significa "não dois" ou "um indivisível sem um segundo".[1][2] É encontrado em uma variedade de tradições religiosas asiáticas[3] e na espiritualidade ocidental moderna, mas com uma variedade de significados e usos.[3][4] Não-dualismo na espiritualidade refere-se principalmente a um atribuído estado maduro de consciência, no qual a dicotomia do eu-outro seria "transcendida" e a consciência é descrita como "sem centro" e "sem dicotomias". Embora esse estado de consciência possa parecer espontâneo,[nota 3] geralmente segue uma preparação prolongada por meio de práticas ascéticas ou meditativas/contemplativas, que podem incluir injunções éticas. Embora o termo "não-dualismo" seja derivado do Advaita Vedanta, as descrições da consciência não dual podem ser encontradas no Hinduísmo (Turiya, sahaja), Budismo (vacuidade, pariniṣpanna, rigpa), Islã (Wahdat al Wujud, Fanaa e Haqiqah) e tradições ocidentais cristãs e neoplatônicas (henosis, união mística).

A perspectiva filosófica ou religiosa não dual geralmente afirma que não há nenhuma distinção fundamental entre mente e matéria, considerando a divisão como artificial e, a maioria, que o mundo fenomenal é uma ilusão. Muitas tradições (principalmente da Ásia) afirmam que a verdadeira condição ou natureza da realidade é não-dual, e que as dicotomias são conveniências irrealistas ou imprecisas. O não-dualismo ou não-dualidade é contrário ao conceito de dualismo ou dualidade, que é constituído pela manifestação de coisas na existência de dois princípios supremos, incriados, independentes, irredutíveis e antagônicos.

Uma renderização 3D da Teia de Indra, uma ilustração do conceito Huayan de interpenetração de todas as coisas.

A ideia asiática do não-dualismo é desenvolvida nas filosofias védicas e pós-védicas hindus, bem como nas tradições budistas.[5] Os vestígios mais antigos do não-dualismo no pensamento indiano são encontrados nos Upanishads hindus anteriores, como Brihadaranyaka Upanishad, bem como em outros Upanishads pré-budistas, como o Chandogya Upanishad, que enfatiza a unidade da alma individual chamada Atman e o Supremo chamado Brahman. No hinduísmo, o não-dualismo é mais comumente associado à tradição Advaita Vedanta de Adi Shankara.[6] O siquismo comumente ensina a dualidade entre Deus e os homens, mas foi dada uma interpretação não dual por Bhai Vir Singh.

Saṃvara com Vajravārāhī em Yab-Yum. Essas representações budistas tântricas da união amorosa simbolizam a união não dual de Compaixão (Karuna) e Sabedoria (Prajna).

Na tradição budista, a não-dualidade está associada aos ensinamentos da vacuidade (śūnyatā) e à doutrina das duas verdades, particularmente o ensino de Madhyamaka da não-dualidade da verdade absoluta e relativa[7], a noção Iogachara de "somente mente/pensamento" (citta-matra ou "somente representação" (vijñaptimātra)[6] e o ensino dzogchen, que, em tibetano, significa "não dois". Esses ensinamentos, juntamente com a doutrina da natureza búdica, foram conceitos influentes no desenvolvimento subsequente do budismo maaiana, não apenas na Índia, mas também no budismo do leste asiático e tibetano, principalmente no Huayan, Tiantai, Chán (Zen) e Vajrayana.

O taoísmo ensina a ideia de uma força universal sutil única ou poder criativo cósmico chamado Tao (literalmente "caminho").[8] O conceito de Yin e Yang, muitas vezes erroneamente concebido como um símbolo do dualismo, na verdade pretende transmitir a noção de que todos os opostos aparentes são partes complementares de um todo não-dual.[9] A polaridade das realidades absoluta e relativas são expressas no conceito de "essência-função" do budismo chinês, influenciadas por uma interpretação ontológica das duas verdades e também pelas metafísicas taoísta e confucionista nativas.

O neoplatonismo ocidental é um elemento essencial da contemplação e do misticismo cristãos, e do esoterismo ocidental e da espiritualidade moderna (como o movimento teosófico e Nova Era), especialmente o unitarismo, o transcendentalismo, o universalismo e o perenialismo. Influências clássicas de não-dualismo também são bastante presentes no sufismo, cabala e judaísmo chassídico.

Etimologia

Quando se refere ao não-dualismo, o hinduísmo geralmente usa o termo sânscrito Advaita, (literalmente, a-dual), que é utilizado para definir várias vertentes de pensamento religioso e espiritual,[4] enquanto o budismo usa Advaya (tibetano: gNis-med, chinês: pu-erh, japonês: fu-ni ).[10]

"Advaita" (अद्वैत) é de raízes sânscritas a, não; dvaita, dual, e geralmente é traduzido como "não-dualismo", "não-dualidade" e "não-dual". O termo "não-dualismo" e o termo "advaita" do qual se origina são termos polivalentes . A origem latina da palavra é duo, que significa "dois", prefixada com "não".

"Advaya" (अद्वय) também é uma palavra sânscrita que significa "identidade única, não dois, sem um segundo", e geralmente se refere à doutrina das duas verdades do budismo maaiana, especialmente Madhyamaka.

Um dos primeiros usos da palavra Advaita é encontrado no verso 4.3.32 do Brihadaranyaka Upanishad (~ 800 a.C.) e nos versos 7 e 12 do Mandukya Upanishad (datado de várias formas entre 500 a.C. e 200 EC).[11] O termo aparece no Brihadaranyaka Upanishad na seção com um discurso da unicidade de Atman (alma individual) e Brahman (consciência universal), como segue:[12]

Um oceano é aquele que vê, sem nenhuma dualidade [Advaita]; este é o mundo Brahma, o rei. Assim Yajnavalkya o ensinou. Este é o seu maior objetivo, este é o seu maior sucesso, este é o seu mundo mais alto, esta é a sua maior felicidade. Todas as outras criaturas vivem em uma pequena porção dessa felicidade.

Termos equivalentes a "não-dual" também foram informados pelas primeiras traduções dos Upanishads em outros idiomas ocidentais que não o inglês desde 1775. Esses termos se popularizaram e entraram no idioma inglês a partir de representações literais de "advaita" subsequentes à primeira onda de traduções para os Upanishads. Essas traduções começaram em inglês com o trabalho de Müller (1823-1900), nos monumentais Livros Sagrados do Oriente (1879).

Max Müller traduziu "advaita" como "monismo", como muitos estudiosos recentes.[16][17][18] No entanto, alguns estudiosos afirmam que "advaita" não é realmente monismo.[19]

Seguidores

O que se segue é uma lista de pensadores, filósofos, escritores e artistas, de diferentes tradições religiosas, políticas e culturais, cujas obras expressam um notável grau de não-dualidade.

Filósofos ocidentais antigos e medievais

Filósofos ocidentais modernos

Filósofos e professores asiáticos

Autores e músicos

Mestres contemporâneos

  • Namkhai Norbu (Tibete, 1938)
  • Byron Katie Mitchell (Estados Unidos, 1942)
  • Eckhart Tolle (Alemanha, 1948)
  • Ken Wilber (Estados Unidos, 1949)
  • Madhukar (Alemanha, 1957)

Ver também

Metáforas para não dualismos

Bibiografia

  • Baleskar, Ramesh (1999). Who cares?
  • Castaneda, Carlos (1987). The Power of Silence. Nova Iorque: Simon and Schuster. ISBN 0-671-50067-8.
  • Cavallé, Mónica (2000): La sabiduria de la no dualidad. Barcelona: Kairos. ISBN 9788472456822.
  • Downing, Jerry N. (2000) Between Conviction and Uncertainty ISBN 0-79144-627-1.
  • Godman, David (Ed.) (1985). Be As You Are: The Teachings of Sri Ramana Maharshi. Londres: Arkana. ISBN 0-14-019062-7.
  • Hawkins, David R. (October 2006). Discovery of the Presence of God: Devotional Nonduality. Sedona (Arizona): Veritas Publishing. ISBN 0-9715007-6-2 (Capa mole); ISBN 0-9715007-7-0 (Capa dura)
  • Jeon, Arthur (2004): City dharma: keeping your cool in the chaos. ISBN 1-40004-908-3.
  • Katz, Jerry (Ed.) (2007). One: essential writings on nonduality. Boulder (Colorado): Sentient Publications. ISBN 1591810531.
  • Kent, John (1990): Richard Rose's psychology of the observer: the path to reality through the self (tese de doutorado).
  • Klein, Anne Carolyn (1995). Meeting the great bliss queen: buddhists, feminists, and the art of the self. Boston: Beacon Press. ISBN 0-8070-7306-7.
  • Kongtrül, Jamgön (1992). Cloudless Sky: the mahamudra path of the Tibetan buddhist Kagyü school. Boston: Shambhala Publications. ISBN 0-87773-694-4.
  • Lama, Dalai (2000). Dzogchen: the heart essence of the great perfection. Ithaca: Snow Lion Publications. ISBN 1-55939-157-X.
  • Norbu, Namkhai (1993). The crystal and the way of light: sutra, tantra and dzogchen. Londres: Arkana. ISBN 0-14-019314-6.
  • Schucman, Helen (1992) "A course in miracles". Foundation for Inner Peace, pág. 1. ISBN 0-9606388-9-X.
  • Trungpa, Chögyam (1987). Cutting through spiritual materialism. Boston: Shambhala Publications. ISBN 0-87773-050-4.

Notas

  1. Ver Consciência Cósmica, de Richard Bucke

Referências

  1. John A. Grimes (1996). A Concise Dictionary of Indian Philosophy: Sanskrit Terms Defined in English. State University of New York Press. [S.l.: s.n.] 15 páginas. ISBN 978-0-7914-3067-5 
  2. Katz 2007.
  3. a b Sarma 1996.
  4. a b Loy 1988.
  5. Dasgupta & Mohanta 1998, p. 362.
  6. a b Raju 1992, p. 177.
  7. Loy 1988, p. 9-11.
  8. Renard 2010, p. 98-99.
  9. Paul A. Erickson, Liam D. Murphy. A History of Anthropological Theory. 2013. p. 486
  10. Loy, David, Nonduality: A Study in Comparative Philosophy, Prometheus Books, 2012, p. 1.
  11. George Adolphus Jacob (1999). A concordance to the principal Upanisads and Bhagavadgita. Motilal Banarsidass. [S.l.: s.n.] ISBN 978-81-208-1281-9 
  12. Brihadaranyaka Upanishad Robert Hume (Translator), Oxford University Press, pp. 127–147
  13. Max Muller, Brihad Aranyaka Upanishad The Sacred Books of the East, Volume 15, Oxford University Press, page 171
  14. Brihadaranyaka Upanishad Robert Hume (Translator), Oxford University Press, page 138
  15. Paul Deussen (1997), Sixty Upanishads of the Veda, Volume 1, Motilal Banarsidass, ISBN 978-8120814677, page 491; Sanskrit: ससलिले एकस् द्रष्टा अद्वैतस् भवति एष ब्रह्मलोकः (...)
  16. R.W. Perrett (2012). Indian Philosophy of Religion. Springer Science. [S.l.: s.n.] ISBN 978-94-009-2458-1 
  17. S Menon (2011), Advaita Vedanta, IEP, Quote:"The essential philosophy of Advaita is an idealist monism, and is considered to be presented first in the Upaniṣads and consolidated in the Brahma Sūtra by this tradition."
  18. James G. Lochtefeld (2002). The Illustrated Encyclopedia of Hinduism: N-Z. The Rosen Publishing Group. [S.l.: s.n.] pp. 645–646. ISBN 978-0-8239-3180-4 
  19. S. Mark Heim (2001). The Depth of the Riches: A Trinitarian Theology of Religious Ends. Wm. B. Eerdmans Publishing. [S.l.: s.n.] 227 páginas. ISBN 978-0-8028-4758-4