Lança de arremesso: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Germanische framea.jpg|thumb|right]]A '''lança de arremesso''', é uma arma perfurante de arremesso, concebida para ser atirada à distância, seja num contexto bélico (guerra) ou venatório (caça), e abarca um largo rol de [[lanças]] diferentes, das quais se destaca, por antonomásia, o dardo, que além de arma, também é um objecto usado para fins desportivos.<ref>Publius Cornelius Tacitus: ''[[Germânia (Tácito)|De origine et situ Germanorum]]''. Kapitel 6.</ref>
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[[Ficheiro:Javeleer.png|miniaturadaimagem|Representação de um lanceiro jogando sua javelina.]]
Uma '''javelina''' é uma [[lança]] projetada principalmente para ser jogada a distância, historicamente como uma arma,<ref>Publius Cornelius Tacitus: ''[[Germânia (Tácito)|De origine et situ Germanorum]]''. Kapitel 6.</ref> mas hoje predominantemente para o esporte. A javelina foi quase sempre jogada a mão, ao contrário do [[arco e flecha]] e do [[estilingue]], que disparam projéteis de um mecanismo.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books/about/The_Civilization_of_the_Ancient_Egyptian.html?id=jvlAAAAAYAAJ|título=The Civilization of the Ancient Egyptians|último =Gosse|primeiro =A. Bothwell|data=1915|publicado=T.C. & E.C. Jack|ano=|isbn=|local=|páginas=24|língua=en}}</ref> No entanto, existem dispositivos para ajudar o acionador de dardo a alcançar uma maior distância, geralmente chamados de [[Propulsor (arma)|propulsor]]. Na [[Idade Média]], lançadores como [[espringale]]s e [[balista]]s foram usados para lançar javelinas muito pesadas ou muito longas para humanos.<ref>{{citar web|url=http://www.egyptiandiamond.com/ancient-egyptian-sports.php|título=EgyptianDiamond.com The Guide to the World of Ancient Egyptians|último =|primeiro =|data=|website=|arquivourl=|arquivodata=|urlmorta=|acessodata=}}</ref>


Ao contrário de outros tipos de implementos bélicos que disparam projécteis, servindo-se de mecanismos arremessadores, como por exemplo o [[arco e flecha]], a [[fisga]], os lança-dardos, a lança de arremesso é lançada à mão.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com/books/about/The_Civilization_of_the_Ancient_Egyptian.html?id=jvlAAAAAYAAJ|título=The Civilization of the Ancient Egyptians|último =Gosse|primeiro =A. Bothwell|data=1915|publicado=T.C. & E.C. Jack|ano=|isbn=|local=|páginas=24|língua=en}}</ref>

Na [[Idade Média]], lançadores como [[espringale]]s e [[balista]]s foram usados para lançar arremessões, que se assemelham a lanças de arremsso de grandes dimensões, por sinal demasiado pesadas ou muito longas para poderem ser lançadas à mão.<ref>{{citar web|url=http://www.egyptiandiamond.com/ancient-egyptian-sports.php|título=EgyptianDiamond.com The Guide to the World of Ancient Egyptians|último =|primeiro =|data=|website=|arquivourl=|arquivodata=|urlmorta=|acessodata=}}</ref>

Para lhes dar maior força de impulso e facilitar recuperá-las, os povos da Antiguidade, serviram-se de tiras de coiro, os amentos (em grego ankyle, latim amentum), que eram enroladas na haste e depois, ao lançar, em desenroladas, de forma a imprimir ao lançamento um movimento rotativo.


== História das lanças de arremesso ==

=== Pré-história ===
Há registos que comprovam que as lanças de arremesso já eram usadas na última fase do [[Paleolítico Inferior]]. Objectos semelhantes a lanças foram encontrados numa mina na [[Alemanha]] e a [[datação por carbono]] revelou que já tinham 400 000 anos<ref>{{cite journal|title=Electron microscopic characterization of cell wall degradation of the 400,000-year-old wooden Schöningen spears|journal=Holz Als Roh- und Werkstoff|volume=63|issue=2|pages=118–122|doi=10.1007/s00107-004-0542-6|year=2005|last1=Schmitt|first1=U.|last2=Singh|first2=A. P.|last3=Thieme|first3=H.|last4=Friedrich|first4=P.|last5=Hoffmann|first5=P.}}</ref>. As armas eram feitas de [[Picea]] e mediam entre 1.82 e 2.25 metros. O [[centro de gravidade]] na parte da frente das armas sugere que tenham sido utilizadas como dardos. Foram feitos estudos a [[omoplátas]] de rinocerontes fossilizados com feridas resultantes de um projéctil, datadas de 500 000 anos, ao que se descobriu que foram provocadas muito provavelmente por lanças de arremesso <ref>[http://humanorigins.si.edu/evidence/behavior/punctured-horse-shoulder-blade Punctured Horse Shoulder Blade | The Smithsonian Institution's Human Origins Program<!-- Bot generated title -->]</ref><ref>[http://www.ucl.ac.uk/prehistoric/past/past26.html The Prehistoric Society – Past No. 26<!-- Bot generated title -->]</ref><ref>[http://www.archaeology.org/9705/newsbriefs/spears.html World's Oldest Spears<!-- Bot generated title -->]</ref>.

=== Antiguidade Clássica ===
As lanças de arremesso neste período histórico foram utilizado por [[infantaria leve]] e [[cavalaria leve]] na [[Grécia antiga]], no [[Império Romano]], na Península Ibérica, entre outros locais, por inúmeros povos.

==== Grécia Antiga ====
[[Imagem:Peltast.PNG|thumb|Um [[peltaste|peltasta]] grego, empunhando um dardo.]]

Os [[peltaste]]s, normalmente servindo como linhas defensivas, eram armados com lanças de arremesso, concretamente dardo. Lançavam os dardos sobre as tropas pesadas, a falange [[hoplita]], de maneira a quebrar as suas linhas para os seus soldados hoplitas poderem destruir a formação inimiga enfraquecida.<ref name=":0">{{Cite book|url=https://play.google.com/books/reader?id=hE_OAAAAMAAJ&printsec=frontcover&output=reader&hl=en&pg=GBS.PA1|title=History of Ancient Egypt|last=Rawlinson|first=George|date=1882|publisher=S. E. Cassino|isbn=|location=|pages=474–475|language=en}}</ref>

==== Império Romano ====
Depois da Itália ter sido invadida pelos [[gauleses]] em 387, o exército romano e a sua formação táctica sofreram uma reforma.<ref>{{Citar web |url=https://www.forumancientcoins.com/numiswiki/ |titulo=NumisWiki - The Collaborative Numismatics Project - Thousands Of Online Numismatic Books, Articles And Pages. spiculum |acessodata=2020-11-15 |website=Forum Ancient Coins |lingua=en}}</ref> Passaram a adoptar a formação grega em [[Falange (infantaria)|falange]] num estilo mais livre de três linhas, armados com lanças ([[hastas]]) e escudos redondos ([[clípeo (escudo)|clípeo]]). Os [[hastado]]s ficavam na primeira linha, os príncipes na segunda e os [[triário]]s na terceira.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.pt/books?id=5HkBAAAAQAAJ&pg=PA234&lpg=PA234&dq=verutum+javelin&source=web&ots=MrhbfG_O4D&sig=ROxubD0jS82ggg2g15HhohQd_PA&redir_esc=y#v=onepage&q=verutum%20javelin&f=false|título=A Manual of Roman Antiquities|ultimo=Carr|primeiro=Thomas Swinburne|data=1836|editora=T. Cadell|lingua=en}}</ref>

====Ibéria====
A cavalaria ibera ligeira caracterizava-se por se servir da falcata e das lanças de arremesso. As tribos [[Cântabros|cantábrias]] inventaram uma táctica militar que consistia em combinar a velocidade dos cavalos, com a possibilidade de fazer ataques à distância proporcionada pelas lanças de arremesso.<ref name="peralta">{{Cita publicación|apellidos=Peralta Labrador|nombre=Eduardo|título=Los auxiliares cántabros del ejército romano y las maniobras de la caballería romana|fecha=2018|url=https://revistas.uva.es/index.php/hispaanti/article/download/2270/1801/|issn=0210-2943}}</ref>

Nesta táctica, os cavaleiros circundavam as tropas inimigas, em galopes rápidos, enquanto se punham a atirar-lhes lanças sem parar. O alvo-ideal desta táctica eram a infantaria pesada, que tinha mais dificuldade em movimentar-se e, por conseguinte, em esquivar-se a estes cercos móveis que a cavalaria ibérica lhes montava. Esta manobra tinha a finalidade de acicatar e assediar o inimigo, de feição a quebrar-lhes as formações. Esta táctica foi crismada de [[círculo cantábrico]], tendo sido adoptada ulteriormente pelas tropas romanas, no final da República, quando as cavalarias auxiliares não-itálicas começara a pulular no exército romana, gozando a cavalaria hispana de grande fama.<ref name="collado">{{Cita publicación|apellidos=Collado Hinarejos|nombre=Benjamín|título=Guerreros de Iberia. La guerra antigua en la península ibérica|fecha=12 de junho de 2018|issn=}}</ref>
== Tipos ==
Desta feita, o termo javelina pode ser usado para descrever um largo rol de dardos rudimentares.

===Azagaia===
A [[azagaia]] é uma lança de arremesso que tem cerca de um metro e meio a 170 centímetros de comprimento, dos quais, a ponta mede 30 centímetros. Além da pértiga, que é a vara estreita que compõe a haste ou fusta da azagaia, conta com uma ponta de chifre de animal ou em ferro, que tanto pode resumir-se a um simples esporão perfurante ou espigar-se com farpas ou apresentar uma ponta cortante.<ref>[http://www.therionarms.com/reenact/therionarms_c1279.html Zulu 'Iklwa' war spear, therionarms.com]</ref>

A azagaia clássica [[bérbere]] (chamada az-zagaia)<ref>{{Citar web |url=http://aulete.com.br/azagaia |titulo=Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de azagaia |acessodata=2020-11-15 |website=aulete.com.br}}</ref>, foi ulteriormente empregue pelos arábes, os quais, por seu turno, a terão trazido para a Península Ibérica, por ocasião das conquistas mouras. Com efeito, os [[almogávares]] tinham como panóplia típica duas azagaias e uma espada curta.<ref name=":0" />

O termo azagaia, em sentido amplo, acabou por empregar-se para caracterizar um ror de lanças de arremesso rudimentares, usadas quer por culturas pré-históricas europeias, quer por povos africanos, como sendo as tribos [[Xhosa|xosa]], [[nguni]] da [[África do Sul]], que têm as suas próprias variedades características de azagaia.<ref>{{cite book|url=https://archive.org/details/zuluwar00mcbr_0|title=The Zulu War|author=McBride, Angus|primeiro=|editora=|ano=|local=|página=|páginas=|authorlink=Angus McBride|year=1976|pages=[https://archive.org/details/zuluwar00mcbr_0/page/9 9]|publisher=Osprey Publishing|url-access=}}</ref>

=== Chuço ===
Um chuço é uma lança de arremesso, simples, que consiste numa haste de madeira armada de um ferro arredondado que se vai afunilando progressivamente até desembocar na ponta da lança.<ref name=":0" />

A palavra chuço, embora de origem obscura, poderá ter como origem etimológica a corruptela da palavra "suíço", talvez por alusão aos piques suíços, com os quais o chuço se assemelha, sendo uma versão mais pequena daqueles.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://aulete.com.br/chu%C3%A7o |titulo=Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de chuço |data= |acessodata=2020-11-15 |website=aulete.com.br |publicado=}}</ref> Durante séculos as tripulações das embarcações de guerra serviram-se de chuços especiais, chamados "chuços de abordagem" (boarding pike em inglês), para repelir tentativas de abordagem. O seu uso persistiu até quase ao final do século XIX.<ref name=":0" />

Este tipo de chuço marcava-se por ter na base um anel que encastrava na madeira da haste o metal não danificar o convés.

De acordo com o estudioso brasileiro António Luíz Costa, a marinha brasileira do tempo do Império, regulamentava o uso de chuços por um sexto das tripulações dos navios e um manual mais tardio especificava que os porta-cartuchos (serventes dos canhões que transportavam a munição) seriam armados com eles, em caso de abordagem.<ref>{{citar livro|título=Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao {{séc|XXI}}|ultimo=M. C. Costa|primeiro=António Luiz|editora=Draco|ano=2015|local=São Paulo|página=111|páginas=176}}</ref>

=== Pilo ===
O pilo<ref name=Aule /><ref name=Micha /><ref name=Prib /> ({{langx|la|''pillum''}}; pl. ''pilla'') era uma das [[arma]]s padrão da [[legião romana]].
Tratava-se duma lança de arremesso inventada pelos samnitas, povo itálico que as legiões romanas defrontaram por ora das Guerras Samnitas (343-304 a.C.), acabando ulteriormente por inseri-la na sua panóplia, em substituição das antigas hastas, lanças de estocada, que antes usavam. <ref>Zhmodikov, Alexander, 2000, "Roman Republican Heavy Infantrymen in Battle (IV-II Centuries B.C.)," in ''Historia: Zeitschrift für Alte Geschichte'', vol. 49 no. 1.</ref>
Era uma lança composta de uma parte de [[ferro]], mais fina e pontiaguda, e outra de [[madeira (material)|madeira]], maior e mais pesada. Essas duas partes eram unidas de tal maneira que quando o pilo atingisse seu alvo, a junção das duas partes entortaria, e tornaria difícil para, por exemplo, um adversário arrancar a lança se ela tivesse cravado no seu [[escudo]] ou para o inimigo tentar reutilizá-la.<ref name="Cowan2003">{{cite book|last=Cowan|first=Ross |title=Roman legionary: 58 BC - AD 69|chapter-url=https://books.google.com/books?id=0TKO7lOzuxMC&pg=PA25|accessdate=8 February 2012|year=2003|publisher=Osprey Publishing|isbn=978-1-84176-600-3|pages=25–26|chapter=Equipment}}</ref>

Tinha à volta de dois metros de comprimento, dos quais fazia parte uma pértiga de madeira de quase metro e meio e cerca de 22 a 28 milímetros de diâmetro, adjungida por um pino ou soquete a uma haste de ferro que poderia medir à volta de 60 centímetros, com 7 milímetros de diâmetro e ponta piramidal farpada.
Tal como a dory grega, o pilo tinha uma contraponta metálica que contrapesava com a ponta metálica desta lança e que tanto podia ser usada para apoiar a ao alto, cravando-se no chão, como podia servir de arma de recurso, caso a ponta partisse ou a pértiga rachasse.<ref name=":0">{{citar livro|título=Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao {{séc|XXI}}|ultimo=M. C. Costa|primeiro=António Luiz|editora=Draco|ano=2015|local=São Paulo|página=137|páginas=176}}</ref>

=== Dardo ===
Dardo (do germânico: ''darothuz'') é uma arma de arremesso, com ponta de cobre, bronze, ferro ou pedra talhada, semelhante a uma lança. Foi utilizado por muitos povos em eras diferentes e como tal é natural que o seu tamanho e peso variem. Actualmente o dardo utilizado em competições tem de comprimento 2,60m a 2,70m, de diâmetro de 2,5 a 3 cm e pesa 800g.<ref>{{Citar livro|url=http://archive.org/details/journalofhelleni27sociuoft|título=The journal of Hellenic studies|ultimo=Society for the Promotion of Hellenic Studies (London|primeiro=England)|editora=London : Published by the Council of the Society}}</ref><ref name=":0" />

=== Venábulo ===
Também dito venablo, trata-se de uma lança de arremesso de curtas dimensões utilizada tradicionalmente no âmbito da caça, especialmente de montaria, daí o seu nome, vem do latim ''venabulum,'' étimo associado à caça, tendo relação com termos como venação (caça), venador (caçador) e veado. <ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://aulete.com.br/ven%C3%A1bulo |titulo=Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de venábulo |data= |acessodata=2020-11-15 |website=aulete.com.br |publicado=}}</ref>

Consiste num dardo com ponta de ferro em farpão, sem penas ou adornos na ponta.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=https://web.archive.org/web/20120621090716/http://www.atapuerca.org/DiariodeAtapuerca19.pdf |titulo=Wayback Machine |data=21/06/2012 |acessodata=2020-11-15 |website=web.archive.org |publicado=}}</ref>

=== Falárica ===
Tratava-se de uma arma de arremesso [[Ibéria|ibérica]] semelhante ao pilo, amiúde utilizada como arma incendiária. A ponta metálica, aguçada e afilada, mediria à volta de 90 centímetros e a haste, tradicionalmente em madeira de teixo, teria perto do mesmo comprimento.<ref>{{citar livro|título=Feuerpfeile und Feuerbolzen. In: Die Macht des Feuers - ernstes Feuerwerk des 15. – 17. Jahrhunderts im Spiegel seiner sächlichen Überlieferung.|ultimo=Geibig|primeiro=Alfred|editora=Kunstsammlungen der Veste Coburg|ano=2012|local=Coburg|página=|páginas=11–30}}</ref> Tinha óptimo potencial enquanto arma perfurante, para fazer frente a tropas couraçadas.<ref>{{Citar web |url=https://web.archive.org/web/20070110191658/http://www.ffil.uam.es/equus/warmas/tipolog/fig29.html |titulo=tipos de armas |data=2007-01-10 |acessodata=2020-11-15 |website=web.archive.org}}</ref>

Os iberos, amiúde, enrolavam-nas em material inflamável, geralmente estopa embebida em pez, na ponta, que depois ateavam, tornando-a num projéctil incendiário, que era depois atirado a escudos, construções militares ou fortificações inimigas para as incendiar.<ref>{{Citar web |ultimo= |primeiro= |url=http://aulete.com.br/fal%C3%A1rica |titulo=Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de falárica |data= |acessodata=2020-11-15 |website=aulete.com.br |publicado=}}</ref>

===Javelina===
A javelina, mais comummente designada por lança de arremesso [[Celtiberos|celtibera]], mediria entre um metro a metro e meio de comprimento. Este tipo de lanças foram encontradas amiúde em sepulturas de guerreiros celtíberos. Na [[tapeçaria de Bayeux]] há uma representação de javelinas atiradas ao ar contra um exército inimigo.<ref>https://www.academia.edu/43469329/Gli_obblighi_militari_nel_marchesato_di_Monferrato_ai_tempi_di_Teodoro_II</ref>.

Etimologicamente, o termo "javelina" trata-se de um galicismo, com origem no termo francês ''javelot'' (de origem galo-latina, com étimo na palavra gabalus)<ref>{{Citar web |ultimo=Larousse |primeiro=Éditions |url=https://www.larousse.fr/dictionnaires/francais/javelot/44827 |titulo=Définitions : javelot - Dictionnaire de français Larousse |acessodata=2020-11-15 |website=www.larousse.fr |lingua=fr}}</ref>, que terá começado a ser empregue erroneamente em língua portuguesa como um termo genérico para designar este tipo de lança.
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[[Categoria:Armas Antigas]]
[[Categoria:Armas de arremesso]]
[[Categoria:Armas de arremesso]]
[[Categoria:Armas de projéteis]]
[[Categoria:Projéteis]]
[[Categoria:Armas de Haste]]

Revisão das 17h14min de 15 de novembro de 2020

A lança de arremesso, é uma arma perfurante de arremesso, concebida para ser atirada à distância, seja num contexto bélico (guerra) ou venatório (caça), e abarca um largo rol de lanças diferentes, das quais se destaca, por antonomásia, o dardo, que além de arma, também é um objecto usado para fins desportivos.[1]

Ao contrário de outros tipos de implementos bélicos que disparam projécteis, servindo-se de mecanismos arremessadores, como por exemplo o arco e flecha, a fisga, os lança-dardos, a lança de arremesso é lançada à mão.[2]

Na Idade Média, lançadores como espringales e balistas foram usados para lançar arremessões, que se assemelham a lanças de arremsso de grandes dimensões, por sinal demasiado pesadas ou muito longas para poderem ser lançadas à mão.[3]

Para lhes dar maior força de impulso e facilitar recuperá-las, os povos da Antiguidade, serviram-se de tiras de coiro, os amentos (em grego ankyle, latim amentum), que eram enroladas na haste e depois, ao lançar, em desenroladas, de forma a imprimir ao lançamento um movimento rotativo.


História das lanças de arremesso

Pré-história

Há registos que comprovam que as lanças de arremesso já eram usadas na última fase do Paleolítico Inferior. Objectos semelhantes a lanças foram encontrados numa mina na Alemanha e a datação por carbono revelou que já tinham 400 000 anos[4]. As armas eram feitas de Picea e mediam entre 1.82 e 2.25 metros. O centro de gravidade na parte da frente das armas sugere que tenham sido utilizadas como dardos. Foram feitos estudos a omoplátas de rinocerontes fossilizados com feridas resultantes de um projéctil, datadas de 500 000 anos, ao que se descobriu que foram provocadas muito provavelmente por lanças de arremesso [5][6][7].

Antiguidade Clássica

As lanças de arremesso neste período histórico foram utilizado por infantaria leve e cavalaria leve na Grécia antiga, no Império Romano, na Península Ibérica, entre outros locais, por inúmeros povos.

Grécia Antiga

Um peltasta grego, empunhando um dardo.

Os peltastes, normalmente servindo como linhas defensivas, eram armados com lanças de arremesso, concretamente dardo. Lançavam os dardos sobre as tropas pesadas, a falange hoplita, de maneira a quebrar as suas linhas para os seus soldados hoplitas poderem destruir a formação inimiga enfraquecida.[8]

Império Romano

Depois da Itália ter sido invadida pelos gauleses em 387, o exército romano e a sua formação táctica sofreram uma reforma.[9] Passaram a adoptar a formação grega em falange num estilo mais livre de três linhas, armados com lanças (hastas) e escudos redondos (clípeo). Os hastados ficavam na primeira linha, os príncipes na segunda e os triários na terceira.[10]

Ibéria

A cavalaria ibera ligeira caracterizava-se por se servir da falcata e das lanças de arremesso. As tribos cantábrias inventaram uma táctica militar que consistia em combinar a velocidade dos cavalos, com a possibilidade de fazer ataques à distância proporcionada pelas lanças de arremesso.[11]

Nesta táctica, os cavaleiros circundavam as tropas inimigas, em galopes rápidos, enquanto se punham a atirar-lhes lanças sem parar. O alvo-ideal desta táctica eram a infantaria pesada, que tinha mais dificuldade em movimentar-se e, por conseguinte, em esquivar-se a estes cercos móveis que a cavalaria ibérica lhes montava. Esta manobra tinha a finalidade de acicatar e assediar o inimigo, de feição a quebrar-lhes as formações. Esta táctica foi crismada de círculo cantábrico, tendo sido adoptada ulteriormente pelas tropas romanas, no final da República, quando as cavalarias auxiliares não-itálicas começara a pulular no exército romana, gozando a cavalaria hispana de grande fama.[12]

Tipos

Desta feita, o termo javelina pode ser usado para descrever um largo rol de dardos rudimentares.

Azagaia

A azagaia é uma lança de arremesso que tem cerca de um metro e meio a 170 centímetros de comprimento, dos quais, a ponta mede 30 centímetros. Além da pértiga, que é a vara estreita que compõe a haste ou fusta da azagaia, conta com uma ponta de chifre de animal ou em ferro, que tanto pode resumir-se a um simples esporão perfurante ou espigar-se com farpas ou apresentar uma ponta cortante.[13]

A azagaia clássica bérbere (chamada az-zagaia)[14], foi ulteriormente empregue pelos arábes, os quais, por seu turno, a terão trazido para a Península Ibérica, por ocasião das conquistas mouras. Com efeito, os almogávares tinham como panóplia típica duas azagaias e uma espada curta.[8]

O termo azagaia, em sentido amplo, acabou por empregar-se para caracterizar um ror de lanças de arremesso rudimentares, usadas quer por culturas pré-históricas europeias, quer por povos africanos, como sendo as tribos xosa, nguni da África do Sul, que têm as suas próprias variedades características de azagaia.[15]

Chuço

Um chuço é uma lança de arremesso, simples, que consiste numa haste de madeira armada de um ferro arredondado que se vai afunilando progressivamente até desembocar na ponta da lança.[8]

A palavra chuço, embora de origem obscura, poderá ter como origem etimológica a corruptela da palavra "suíço", talvez por alusão aos piques suíços, com os quais o chuço se assemelha, sendo uma versão mais pequena daqueles.[16] Durante séculos as tripulações das embarcações de guerra serviram-se de chuços especiais, chamados "chuços de abordagem" (boarding pike em inglês), para repelir tentativas de abordagem. O seu uso persistiu até quase ao final do século XIX.[8]

Este tipo de chuço marcava-se por ter na base um anel que encastrava na madeira da haste o metal não danificar o convés.

De acordo com o estudioso brasileiro António Luíz Costa, a marinha brasileira do tempo do Império, regulamentava o uso de chuços por um sexto das tripulações dos navios e um manual mais tardio especificava que os porta-cartuchos (serventes dos canhões que transportavam a munição) seriam armados com eles, em caso de abordagem.[17]

Pilo

O pilo[18][19][20] (em latim: pillum; pl. pilla) era uma das armas padrão da legião romana. Tratava-se duma lança de arremesso inventada pelos samnitas, povo itálico que as legiões romanas defrontaram por ora das Guerras Samnitas (343-304 a.C.), acabando ulteriormente por inseri-la na sua panóplia, em substituição das antigas hastas, lanças de estocada, que antes usavam. [21] Era uma lança composta de uma parte de ferro, mais fina e pontiaguda, e outra de madeira, maior e mais pesada. Essas duas partes eram unidas de tal maneira que quando o pilo atingisse seu alvo, a junção das duas partes entortaria, e tornaria difícil para, por exemplo, um adversário arrancar a lança se ela tivesse cravado no seu escudo ou para o inimigo tentar reutilizá-la.[22]

Tinha à volta de dois metros de comprimento, dos quais fazia parte uma pértiga de madeira de quase metro e meio e cerca de 22 a 28 milímetros de diâmetro, adjungida por um pino ou soquete a uma haste de ferro que poderia medir à volta de 60 centímetros, com 7 milímetros de diâmetro e ponta piramidal farpada. Tal como a dory grega, o pilo tinha uma contraponta metálica que contrapesava com a ponta metálica desta lança e que tanto podia ser usada para apoiar a ao alto, cravando-se no chão, como podia servir de arma de recurso, caso a ponta partisse ou a pértiga rachasse.[8]

Dardo

Dardo (do germânico: darothuz) é uma arma de arremesso, com ponta de cobre, bronze, ferro ou pedra talhada, semelhante a uma lança. Foi utilizado por muitos povos em eras diferentes e como tal é natural que o seu tamanho e peso variem. Actualmente o dardo utilizado em competições tem de comprimento 2,60m a 2,70m, de diâmetro de 2,5 a 3 cm e pesa 800g.[23][8]

Venábulo

Também dito venablo, trata-se de uma lança de arremesso de curtas dimensões utilizada tradicionalmente no âmbito da caça, especialmente de montaria, daí o seu nome, vem do latim venabulum, étimo associado à caça, tendo relação com termos como venação (caça), venador (caçador) e veado. [24]

Consiste num dardo com ponta de ferro em farpão, sem penas ou adornos na ponta.[25]

Falárica

Tratava-se de uma arma de arremesso ibérica semelhante ao pilo, amiúde utilizada como arma incendiária. A ponta metálica, aguçada e afilada, mediria à volta de 90 centímetros e a haste, tradicionalmente em madeira de teixo, teria perto do mesmo comprimento.[26] Tinha óptimo potencial enquanto arma perfurante, para fazer frente a tropas couraçadas.[27]

Os iberos, amiúde, enrolavam-nas em material inflamável, geralmente estopa embebida em pez, na ponta, que depois ateavam, tornando-a num projéctil incendiário, que era depois atirado a escudos, construções militares ou fortificações inimigas para as incendiar.[28]

Javelina

A javelina, mais comummente designada por lança de arremesso celtibera, mediria entre um metro a metro e meio de comprimento. Este tipo de lanças foram encontradas amiúde em sepulturas de guerreiros celtíberos. Na tapeçaria de Bayeux há uma representação de javelinas atiradas ao ar contra um exército inimigo.[29].

Etimologicamente, o termo "javelina" trata-se de um galicismo, com origem no termo francês javelot (de origem galo-latina, com étimo na palavra gabalus)[30], que terá começado a ser empregue erroneamente em língua portuguesa como um termo genérico para designar este tipo de lança.

Referências

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  2. Gosse, A. Bothwell (1915). The Civilization of the Ancient Egyptians (em inglês). [S.l.]: T.C. & E.C. Jack. 24 páginas 
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