Preservação digital: diferenças entre revisões
Ajustes nas referências |
Inserção de informação traduzida do verbete wi.en e novas informações |
||
Linha 40: | Linha 40: | ||
=== Caracterização === |
=== Caracterização === |
||
A caracterização de materiais digitais é a identificação e descrição do que é um arquivo e de suas características técnicas definidoras <ref>[http://www.openplanetsfoundation.org/system/files/Digital%20Preservation%20Project%20Report%20-%20Testing%20Software%20Tools.pdf Testing Software Tools of Potential Interest for Digital Preservation Activities at the National Library of Australia] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20130114111844/http://www.openplanetsfoundation.org/system/files/Digital%20Preservation%20Project%20Report%20-%20Testing%20Software%20Tools.pdf|date=2013-01-14}}</ref> muitas vezes capturadas por metadados técnicos, que registram seus atributos técnicos como ambiente de criação ou produção.<ref>{{Citar web |url=http://www.library.illinois.edu/dcc/bestpractices/chapter_10_technicalmetadata.html |titulo=10.0 Best Practices for Technical Metadata |website=illinois.edu |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141009081725/http://www.library.illinois.edu/dcc/bestpractices/chapter_10_technicalmetadata.html |arquivodata=2014-10-9}}</ref> |
A caracterização de materiais digitais é a identificação e descrição do que é um arquivo e de suas características técnicas definidoras <ref>[http://www.openplanetsfoundation.org/system/files/Digital%20Preservation%20Project%20Report%20-%20Testing%20Software%20Tools.pdf Testing Software Tools of Potential Interest for Digital Preservation Activities at the National Library of Australia] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20130114111844/http://www.openplanetsfoundation.org/system/files/Digital%20Preservation%20Project%20Report%20-%20Testing%20Software%20Tools.pdf|date=2013-01-14}}</ref> muitas vezes capturadas por metadados técnicos, que registram seus atributos técnicos como ambiente de criação ou produção.<ref>{{Citar web |url=http://www.library.illinois.edu/dcc/bestpractices/chapter_10_technicalmetadata.html |titulo=10.0 Best Practices for Technical Metadata |website=illinois.edu |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141009081725/http://www.library.illinois.edu/dcc/bestpractices/chapter_10_technicalmetadata.html |arquivodata=2014-10-9}}</ref> |
||
=== Sustentabilidade === |
|||
A sustentabilidade digital abrange uma série de questões e preocupações que contribuem para a longevidade da informação digital.<ref>Bradley, K. (Summer 2007). Defining digital sustainability. Library Trends v. 56 no 1 p. 148-163.</ref> Ao contrário das estratégias tradicionais, temporárias e de soluções mais permanentes, a sustentabilidade digital implica um processo mais ativo e contínuo. A sustentabilidade digital se concentra menos na solução e tecnologia e mais na construção de uma infraestrutura e abordagem que seja flexível e que tenha ênfase na [[interoperabilidade]], manutenção e desenvolvimento contínuos.<ref>[http://www.tasi.ac.uk/advice/managing/sust.html Sustainability of Digital Resources. (2008). ''TASI: Technical Advisory Service for Images.''] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20080304023605/http://www.tasi.ac.uk/advice/managing/sust.html|date=March 4, 2008}}</ref> A sustentabilidade digital tem a preocupação de incorporar atividades que facilitarão o acesso e a disponibilidade dos documentos no futuro.<ref>[http://ijdc.net/index.php/ijdc/article/view/63 Towards a Theory of Digital Preservation. (2008). ''International Journal of Digital Curation''] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20130123060816/http://www.ijdc.net/index.php/ijdc/article/view/63|date=2013-01-23}}</ref> <ref>[http://wiki.lib.sun.ac.za/index.php/SUNScholar/Digital_Preservation/Electronic_Archives_Preservation_Policy ''Electronic Archives Preservation Policy''] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20130310105710/http://wiki.lib.sun.ac.za/index.php/SUNScholar/Digital_Preservation/Electronic_Archives_Preservation_Policy|date=March 10, 2013}}</ref> |
|||
=== Capacidade de renderização === |
|||
A capacidade de renderização se refere à disponibilização contínua para usar e acessar um objeto digital, assim como a mantutenção de suas propriedades inerentes significativas. <ref>{{Citar web |url=http://www.dlib.org/dlib/september12/vermaaten/09vermaaten.html |titulo=Identifying Threats to Successful Digital Preservation: the SPOT Model for Risk Assessment |website=dlib.org |arquivourl=https://web.archive.org/web/20150110194245/http://www.dlib.org/dlib/september12/vermaaten/09vermaaten.html |arquivodata=2015-01-10}}</ref> |
|||
==== Obsolescência do formato ==== |
|||
Embora o uso de formatos de arquivo varie entre as instituições arquivísticas, há certo consenso que os formatos de arquivo escolhidos devem ser "abertos, padronizados, não proprietários e bem estabelecidos" para permitir o arquivamento a longo prazo. <ref name=":02">{{Citar web |ultimo=bradyh |url=https://siarchives.si.edu/what-we-do/digital-curation/recommended-preservation-formats-electronic-records |titulo=Recommended Preservation Formats for Electronic Records |data=2017-04-26 |acessodata=2019-04-29 |website=Smithsonian Institution Archives}}</ref> Os fatores que devem ser levados em consideração ao selecionar formatos de arquivo sustentáveis incluem: divulgação, adoção, transparência, autodocumentação, dependências externas, impacto de patentes e mecanismos de proteção técnica.<ref>{{Citar web |url=http://www.digitalpreservation.gov/formats/sustain/sustain.shtml |titulo=Sustainability Factors |website=digitalpreservation.gov |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141013230220/http://www.digitalpreservation.gov/formats/sustain/sustain.shtml |arquivodata=2014-10-13}}</ref> Outras considerações para a seleção de formatos de arquivo sustentáveis incluem "longevidade e maturidade do formato, utilização em comunidades profissionais relevantes, padrões de informação incorporados e acessibilidade de longo prazo de qualquer software necessário para sua visualização".<ref name=":02" /> Por exemplo, o [[Smithsonian Institution]] Archives considera os [[Tagged Image File Format|TIFFs]] não compactados como "um bom formato de preservação para imagens estáticas digitais e digitalizadas devido à sua maturidade, ampla aceitação em várias comunidades e documentação completa".<ref name=":02" /> |
|||
=== Autenticidade === |
|||
Os arquivos estão preocupados em manter registros analógicos ou digitais como representações confiáveis do documento que foi originalmente recebido. Autenticidade é definida como "a confiabilidade de um registro enquanto um registro", isto é, a sua capacidade de manter-se livre adulteração ou corrupção de dados.<ref>{{Citar web |url=http://www.interpares.org/ip2/ip2_terminology_db.cfm |titulo=InterPARES 2 Terminology Database - authenticity |acessodata=8 October 2014 |website=web site |ano=2007 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141007022207/http://www.interpares.org/ip2/ip2_terminology_db.cfm |arquivodata=7 October 2014}}</ref> Autenticidade não deve ser confundida com exatidão.<ref>{{Citar web |url=http://www2.archivists.org/glossary/terms/a/accuracy |titulo=Society of American Archivists Glossary - accuracy |acessodata=8 October 2014 |website=web site |ano=2014 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141012221951/http://www2.archivists.org/glossary/terms/a/accuracy |arquivodata=12 October 2014}}</ref> |
|||
=== Metadados de preservação === |
|||
Os metadados foram desenvolvidos enquanto um banco de dados para uso em arquivos "no contexto dos sistemas de banco de dados para descrever e controlar a gestão e o uso dos dados", principalmente em bibliotecas. Porém, "os metadados necessários para a gestão e para o uso de objetos digitais" precisam ser "mais diversificados e, na maioria dos casos, diferentes dos metadados usados para gestão de coleções de obras impressas e de outros materiais físicos". Assim surgem os [[metadados de preservação]].<ref>{{Citar periódico |url=http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/12528 |titulo=Uma outra face dos metadados: informações para a gestão da preservação digital |data=2010 |acessodata=2021-04-16 |jornal=Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação |ultimo=Sayão |primeiro=Luís Fernando |paginas=1–31 |doi=10.5007/1518-2924.2010v15n30p1}}</ref> |
|||
Os metadados de preservação são uma ferramenta chave para a preservação digital e incluem informações técnicas de objetos digitais, informações sobre seus componentes e ambiente de criação, bem como informações que documentam o processo de preservação e a base de direitos subjacentes. Ele permite que organizações ou indivíduos entendam a [[cadeia de custódia]]. O [[Metadados de preservação: estratégias de implementação|PREMIS (Preservation Metadata: Implementation Strategies)]] descreve os aspectos práticos de implementação de metadados de preservação essenciais para a maioria dos repositórios e instituições. Ele inclui diretrizes e recomendações de uso e estabelece vocabulários desenvolvidos em um dicionário de dados.<ref>PREMIS Data Dictionary (full document), Version 3.0 https://www.loc.gov/standards/premis/v3/premis-3-0-final.pdf</ref><ref>Dappert, Angela; Guenther, Rebecca Squire; Peyrard, Sébastien (2016). Digital Preservation Metadata for Practitioners. doi:10.1007/978-3-319-43763-7. {{ISBN|978-3-319-43761-3}}.</ref> |
|||
== Desafios == |
== Desafios == |
Revisão das 18h15min de 16 de abril de 2021
Preservação digital é o conjunto de atividades ou processos responsáveis por garantir o acesso contínuo a longo-prazo à informação e a todo patrimônio cultural existente em formatos digitais. A preservação digital consiste na capacidade de garantir que a informação digital permaneça acessível e com qualidades de autenticidade suficientes para que possa ser interpretada no futuro ao se recorrer a uma plataforma tecnológica diferente da utilizada no momento da sua criação.[1]
Contexto e importância
A necessidade de preservação da cultura é um preocupação que remete até mesmo à oralidade. Walter J. Ong mostra em seu livro Oralidade e cultura escrita: a tecnologização da palavra, que na oralidade primária havia milhares de linguagens faladas e muitas se perderam, por não serem registradas e não produzirem literatura. Dentre 3 mil línguas faladas apenas cerca de 78 tinham literatura.[2]
Desde a Antiguidade e Idade Moderna, as bibliotecas, os arquivos e os museus se estabeleceram como lugares de memória. E exercem a função de preservação da cultura através da preservação do suporte que se inicia com o papiro e pergaminho até o livro impresso através da prensa de tipo móveis surgida no século XV com a invenção atribuída a Johannes Gutenberg.[3]
O contexto de produção de informações e comunicação científica se manteve basicamente o mesmo até a utilização dos meios digitais e da Web para produção, armazenamento, disponibilização e acesso à informação e ao conhecimento no século XXI. A informação digital tem alcançado patamares muito elevados desde o surgimento da Internet, e reforça a importância da preservação digital já que o universo digital traduz o estado de desenvolvimento científico, tecnológico e cultural da humanidade atualmente. Corroborando com esse ponto de vista, Walter Ong afirma que não podemos viver sem a cultura escrita pois ela recupera a memória do homem e desta maneira ele pode atingir certa potencialidade e ser criativo, e por consequência a ciência, história, filosofia e tecnologia se desenvolvem. Portanto, são necessárias atividades práticas e constantes para evitar o risco de perdas de informações no mundo digital e os gastos na tentativa de recuperá-las.[2]
Surge o conceito de ciberespaço como o novo local onde são criadas, usadas e armazenadas as informações. Pierre Lévy já afirmava no fim do século XX que o ciberespaço seria "o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século"[4] e, por isso, deve, também, poder garantir a permanência dos conteúdos relevantes criados para as futuras gerações. Para tanto é necessária a adoção de parâmetros que determinem quais informações devem ser preservadas e como as instituições responsáveis devem realizar essa tarefa. A preocupação com a preservação digital é fundamental para as perspectivas futuras da sociedade, das pessoas e das instituições.[5]
É recorrente o uso de bibliotecas digitais e repositórios digitais para realização de tarefas de preservação do conhecimento em meio digital, como pode ser visto na literatura da área de Ciência da Informação.[6][7] Pessoas e instituições ao adotar práticas e políticas efetivas de preservação digital buscam evitar uma “amnésia digital” coletiva da produção intelectual, pois
“ | o outro lado da conveniência dos documentos digitais é sua facilidade de uso e a volatilidade e impermanência. Os suportes magnéticos e óticos de armazenamento de documentos digitais têm uma expectativa de vida limitada e estão sujeitos a danos e perdas de dados. Mesmo que o suporte se conserve íntegro, a obsolescência tecnológica de equipamentos e programas, necessários para manter a funcionalidade do documento, exige medidas adequadas de preservação (...) Essa fragilidade e impermanência do suporte digital tem levado muitas pessoas a temerem a perda da 'memória coletiva' na era digital (…). | ” |
Fundamentos
Avaliação
A avaliação documental ou seleção[9] refere-se ao processo de identificação de documentos e outros materiais a serem preservados, determinando seu valor permanente. Vários fatores geralmente são considerados antes de tomar essa decisão.[10] É um processo delicado e importante porque os documentos selecionados moldarão a compreensão dos pesquisadores sobre aquele fundo. A sequência de procedimentos para a avaliação documental para a preservação permanente é descrita no Cadeia de Preservação (CP)[11] criado pelo projeto InterPARES 2.[12]
A avaliação documental é realizada em todos os materiais arquivísticos, não apenas os digitais. Contudo, observa-se que é possível reter mais documentos digitais do que analógicos, principalmente devido a uma combinação entre o custo decrescente no armazenamento de dados e a utilização de ferramentas em documentos de baixa densidade de informação.[13] [14]
Frequentemente, as bibliotecas e, em menor medida, os arquivos, recebem os documentos em vários formatos digitais ou analógicos. Essas instituições selecionam o formato que consideram ter maior potencial para preservação do conteúdo a longo prazo. Nesse sentido, a Biblioteca do Congresso criou um conjunto de formatos recomendados para preservação a longo prazo.[15]
Identificação
Na preservação digital e gerenciamento de coleção, a descoberta e identificação de objetos é auxiliada pelo uso de identificadores e metadados descritivos precisos. Um identificador é um rótulo exclusivo usado para fazer referência a um objeto ou registro. Geralmente ele é um número ou sequência de números e letras. Como um elemento crucial que contém metadados a serem incluídos em um banco de dados ou inventário, ele é usado em conjunto com outros metadados descritivos para diferenciar objetos e suas várias instanciações.[16]
Metadados descritivos referem-se a informações sobre o conteúdo de um objeto, como título, criador, assunto, data e outros elementos.[17] A escolha dos elementos usados para descrever um objeto é facilitada pelo uso de um esquema de metadados. O amplo uso de metadados descritivos sobre um objeto digital ajuda a minimizar os riscos dele se tornar posteriormente inacessível.[18]
Outra forma comum de identificação de um arquivo é o seu nome. A implementação de um protocolo de nomenclatura de arquivos é essencial para manter a consistência e a recuperação eficiente de objetos dentro de uma coleção. Esse recurso é especialmente aplicável durante a digitalização de mídia analógica. Usar uma convenção de nomenclatura de arquivo, como o formato 8.3 ou o padrão warez, garante a compatibilidade com outros sistemas e facilita a migração de dados. Os nomes dos arquivos, geralmente determinados pelo tamanho e escopo de uma determinada coleção, podem seguir parâmetro descritivo (contendo palavras e números descritivos) ou não-descritivo (muitas vezes números gerados aleatoriamente).[19]
Integridade
A integridade de dados é a pedra angular da preservação digital. Ela refere-se à garantia de que os dados estão "completos e inalterados em todos os seus aspectos essenciais". Um programa projetado para manter a integridade visa "garantir que os dados sejam registrados exatamente como pretendido e, após sua recuperação, garantir que os dados sejam os mesmos de quando foram originalmente gravados". [20]
Fixidez
A fixidez do arquivo é a propriedade de um arquivo digital ser fixo ou inalterado. A verificação da fixidez do arquivo é o processo de validação que assegura que um arquivo não foi modificado ou alterado em relação ao estado anterior. [21]
Caracterização
A caracterização de materiais digitais é a identificação e descrição do que é um arquivo e de suas características técnicas definidoras [22] muitas vezes capturadas por metadados técnicos, que registram seus atributos técnicos como ambiente de criação ou produção.[23]
Sustentabilidade
A sustentabilidade digital abrange uma série de questões e preocupações que contribuem para a longevidade da informação digital.[24] Ao contrário das estratégias tradicionais, temporárias e de soluções mais permanentes, a sustentabilidade digital implica um processo mais ativo e contínuo. A sustentabilidade digital se concentra menos na solução e tecnologia e mais na construção de uma infraestrutura e abordagem que seja flexível e que tenha ênfase na interoperabilidade, manutenção e desenvolvimento contínuos.[25] A sustentabilidade digital tem a preocupação de incorporar atividades que facilitarão o acesso e a disponibilidade dos documentos no futuro.[26] [27]
Capacidade de renderização
A capacidade de renderização se refere à disponibilização contínua para usar e acessar um objeto digital, assim como a mantutenção de suas propriedades inerentes significativas. [28]
Obsolescência do formato
Embora o uso de formatos de arquivo varie entre as instituições arquivísticas, há certo consenso que os formatos de arquivo escolhidos devem ser "abertos, padronizados, não proprietários e bem estabelecidos" para permitir o arquivamento a longo prazo. [29] Os fatores que devem ser levados em consideração ao selecionar formatos de arquivo sustentáveis incluem: divulgação, adoção, transparência, autodocumentação, dependências externas, impacto de patentes e mecanismos de proteção técnica.[30] Outras considerações para a seleção de formatos de arquivo sustentáveis incluem "longevidade e maturidade do formato, utilização em comunidades profissionais relevantes, padrões de informação incorporados e acessibilidade de longo prazo de qualquer software necessário para sua visualização".[29] Por exemplo, o Smithsonian Institution Archives considera os TIFFs não compactados como "um bom formato de preservação para imagens estáticas digitais e digitalizadas devido à sua maturidade, ampla aceitação em várias comunidades e documentação completa".[29]
Autenticidade
Os arquivos estão preocupados em manter registros analógicos ou digitais como representações confiáveis do documento que foi originalmente recebido. Autenticidade é definida como "a confiabilidade de um registro enquanto um registro", isto é, a sua capacidade de manter-se livre adulteração ou corrupção de dados.[31] Autenticidade não deve ser confundida com exatidão.[32]
Metadados de preservação
Os metadados foram desenvolvidos enquanto um banco de dados para uso em arquivos "no contexto dos sistemas de banco de dados para descrever e controlar a gestão e o uso dos dados", principalmente em bibliotecas. Porém, "os metadados necessários para a gestão e para o uso de objetos digitais" precisam ser "mais diversificados e, na maioria dos casos, diferentes dos metadados usados para gestão de coleções de obras impressas e de outros materiais físicos". Assim surgem os metadados de preservação.[33]
Os metadados de preservação são uma ferramenta chave para a preservação digital e incluem informações técnicas de objetos digitais, informações sobre seus componentes e ambiente de criação, bem como informações que documentam o processo de preservação e a base de direitos subjacentes. Ele permite que organizações ou indivíduos entendam a cadeia de custódia. O PREMIS (Preservation Metadata: Implementation Strategies) descreve os aspectos práticos de implementação de metadados de preservação essenciais para a maioria dos repositórios e instituições. Ele inclui diretrizes e recomendações de uso e estabelece vocabulários desenvolvidos em um dicionário de dados.[34][35]
Desafios
A preservação digital envolve desafios técnicos e políticos de longo prazo para as instituições que se propõem a realizar atividades de preservação digital dos materiais que criam e armazenam (como arquivos, bibliotecas, museus, editoras, instituições governamentais e etc). Entre os principais desafios técnicos estão aqueles decorrentes da dependência do aparato tecnológico (hardware, software, mídias e formatos digitais) utilizado para criar e utilizar os documentos digitais. Existe a inerente fragilidade e rápida degradação física sofrida por esses materiais, além do progressivo aumento da obsolescência dos suportes, sistemas, mídias e formatos, que se devem principalmente pela alta competitividade característica do mercado dos produtos e serviços da tecnologia da informação. Tornando os ciclos de renovação tecnológica cada vez menores e a consequente necessidade de desenvolvimento e aplicação de estratégias de preservação digital.
Desafios políticos envolvem questões relacionadas à aquisição e alocação de recursos, estabelecimento de parcerias para compartilhamento de experiências e equipamentos entre instituições, e adoção de soluções de natureza interdisciplinar, envolvendo, além dos profissionais de informação (bibliotecários, arquivistas e museólogos), profissionais e pesquisadores das áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação, Direito, História, e etc.
Outro grande desafio da preservação digital é a garantia da autenticidade do documento. Segundo Walter Benjamin até na melhor reprodução, um elemento fica ausente que é a existência única da obra. Não é através da reprodução que se desdobra a história, e sim, pela obras-primas pois só através delas podem se fazer análises químicas ou físicas, irrealizáveis na reprodução. "Os vestígios das segundas são o objeto de uma tradição, cuja reconstituição precisa partir do lugar em que se achava original."[36]
Requisitos mínimos para a preservação de documentos digitais
Os métodos de preservação digital devem se preocupar, basicamente, com a preservação física, lógica e intelectual dos objetos digitais. A preservação física relaciona-se com a manutenção das mídias e transferência ou rejuvenescimento das mesmas, caso necessário. A preservação lógica preocupa-se com os formatos, sua interpretação por hardwares e softwares e a necessidade de atualização para a continuidade da leitura e interpretação da cadeia de bits. E a preservação intelectual refere-se ao conteúdo intelectual e as mecanismos que assegurem a integridade e autenticidade.
Desta forma, autores como Miguel Arellano,[37] Kátia Thomaz e Antônio José Soares,[38] citam Alison Bullock[39] como responsável por enumerar um conjunto de requisitos mínimos para a preservação de documentos digitais, ou seja, os elementos indispensáveis que devem ser pensados e mantidos em um documento digital. São eles:
- fixar os limites do objeto a ser preservado;
- preservar a presença física;
- preservar o conteúdo;
- preservar a apresentação;
- preservar a funcionalidade;
- preservar a autenticidade;
- localizar e rastrear o objeto digital;
- preservar a proveniência;
- preservar o contexto.
Estratégias
As estratégias podem ser divididas em estruturais e operacionais. As estruturais relacionam-se às ações de planejamento, implementação e investimentos incluídos no processo de preservação adotados por uma instituição que pretenda se envolver na questão da preservação digital. E as operacionais são as atividades práticas realizadas com esse intuito.
Estratégias estruturais
São estratégias estruturais:
- adoção de padrões;
- elaboração de normas e manuais;
- metadados de preservação digital;
- montagem de infraestrutura;
- formação de consórcios e parcerias.
Estratégias operacionais
E as estratégias operacionais são:
- migração;
- emulação;
- conservação da tecnologia;
- encapsulamento.
Modelos e projetos internacionais de preservação digital
Com a crescente transferência da criação, uso e armazenamento da informação para o ambiente virtual e consequentemente, o armazenamento em bibliotecas e repositórios digitais, surge a necessidade de criar políticas e normas que desenvolvam padrões de interoperabilidade entre os sistemas, preservação e acesso ao conteúdo informacional desses ambientes.
Existem diversas iniciativas que visam formular modelos, assim como projetos que buscam oferecer subsídios para ações práticas de preservação. Alguns dos principais são:
Open Archival Information System (OAIS)
O Open Archival Information System (OAIS) - em português Sistema Aberto para Arquivamento de Informação (SAAI) - é um modelo para repositórios de metadados de preservação publicado pelo Consultive Committee for Space Data Systems (CCSDS) em 2003. Também é uma iniciativa ISO (International Organization for Standardization), que desde junho 2003 define um alto nível de modelo de referência para arquivos que precisem de uma preservação de longo prazo, criando a ISO 14721[40]. E pode ser definido como um “esquema conceitual que disciplina e orienta um sistema para a preservação e manutenção do acesso à informação digital por longo prazo”.[41]
O objetivo do OAIS é propagar a compreensão dos conceitos para a preservação de objetos digitais, ampliar o consenso sobre os elementos e os processos relacionados à preservação e acesso à informação digital, além de criar um esquema para orientar a identificação e o desenvolvimento de padrões para tornar a informação preservada e disponível em qualquer repositório, pois um caráter genérico e que pode ser aplicado em diversos tipos de ambientes e documentos.
Projeto InterPARES
Projeto InterPARES (International Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems) - Pesquisa Internacional sobre Documentos Arquivísticos Autênticos Permanentes em Sistemas Eletrônicos – sediado na Universidade de British Columbia, no Canadá, e coordenado pela pesquisadora Luciana Duranti. O Projeto busca desenvolver conhecimento teórico-metodológico essencial para a preservação de longo prazo de documentos digitais e foi dividido em três etapas.[42] O Projeto InterPARES 1 (1999-2001) teve como objetivo identificar requisitos conceituais para avaliar e manter a autenticidade dos documentos digitais "tradicionais" produzidos no curso das atividades administrativas e legais. O Projeto InterPARES 2 (2002-2006) teve por foco os documentos arquivísticos digitais gerados no contexto de atividades artísticas, científicas e governamentais, em sistemas experimentais, interativos e dinâmicos. E o InterPARES 3 (2007-2012) visa capacitar programas e organizações responsáveis pela produção e manutenção de documentos arquivísticos digitais a desenvolver estratégias de preservação e acesso de longo prazo a esses documentos. E terá como base o conhecimento teórico-metodológico desenvolvido nas duas primeiras fases do Projeto. No Brasil a instituição escolhida para receber a capacitação para a preservação de documentos digitais foi o Arquivo Nacional.
Soluções de repositórios digitais
Vários softwares de código aberto foram desenvolvidos para auxiliar na preservação digital, incluindo o Archivematica, o DSpace, o Fedora Commons, o OPUS, o SobekCM e o EPrints. O setor comercial também oferece ferramentas de software de preservação digital, como a Rosetta, da Ex Libris Ltd., Cloud, Standard and Enterprise Editions da Preservica, CONTENTdm, Digital Commons, Equella, intraLibrary, Open Repository e Vital.[43]
Ver também
Referências
- ↑ FERREIRA, Miguel. Introdução à preservação digital: conceitos, estratégias e actuais consensos. Guimarães: Escola de Engenharia da Universidade do Minho, 2006. p. 20. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/5820/1/livro.pdf. Acesso em: 26 jan. 2013
- ↑ a b ONG, Walter. A oralidade da linguagem, A escrita reestrutura a consciência e Memória oral, enredo e caracterização. In: __________. Oralidade e cultura impressa. Campinas, SP: Papirus, 1998. p. 15.
- ↑ Benkendorf, Shyrlei Karyna Jagielski; Momm, Christiane Fabíola; Silva, Franciéle Carneiro Garcês da (2018). Fundamentos da biblioteconomia e ciência da informação. Indaial: Uniasselvi. 246 páginas
- ↑ LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.
- ↑ «Carta para Preservação de Patrimônio Arquivístico Digital» (PDF). Conselho Nacional de Arquivos. 2005. Consultado em 10 de dezembro de 2019
- ↑ MÁRDERO ARELLANO, Miguel Angel. Preservação de documentos digitais. Ciência da Informação, Brasília, v.33, n.2, mai./ago. 2004. Disponível em:<http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/305 Arquivado em 30 de outubro de 2015, no Wayback Machine.>. Acesso em: 27 jan. 2013.
- ↑ ARELLANO, Miguel A. M.; ANDRADE, Ricardo Sodré. Preservação digital e os profissionais da informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v.7, n.5, out. 2006.Disponível em:<http://www.dgz.org.br/out06/Art_05.htm Arquivado em 11 de novembro de 2010, no Wayback Machine.>. Acesso em: 27 jan. 2013.
- ↑ TAMMARO, Anna Maria; SALARELLI, Alberto. A biblioteca digital. Brasília, DF: Briquet de Lemos, 2008. p.195
- ↑ «Society of American Archivists Glossary - selection». web site. 2014. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2014
- ↑ «Society of American Archivists Glossary - appraisal». web site. 2014. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 12 de outubro de 2014
- ↑ «InterPARES 2 Chain of Preservation Model». web site. 2007. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 24 de setembro de 2015
- ↑ «InterPARES 2 Project». web site. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 2 de outubro de 2014
- ↑ Bigelow, Sue; Dingwall, Glenn; Mumma, Courtney C. (2011). «A First Look at the Acquisition and Appraisal of the 2010 Olympic and Paralympic Winter Games Fonds: or, SELECT * FROM VANOC_Records AS Archives WHERE Value="true";». Archivaria. 72: 114–117. ISSN 1923-6409. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2014
- ↑ «Paradigm (Personal Archives Accessible in Digital Media): Appraising digital records: a worthwhile exercise?». web site. 2008. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 1 de fevereiro de 2015
- ↑ «Library of Congress Recommended Format Specifications». web site. 2014. Consultado em 8 de outubro de 2014. Cópia arquivada em 14 de outubro de 2014
- ↑ Greenberg, Jane. "Understanding Metadata and Metadata Schemes Arquivado em 2014-11-07 no Wayback Machine." Cataloging & Classification Quarterly 40.3-4 (2005): 17-36. National Information Standards Organization.
- ↑ Greenberg, Jane. "Understanding Metadata and Metadata Schemes Arquivado em 2014-11-07 no Wayback Machine." Cataloging & Classification Quarterly 40.3-4 (2005): 17-36. National Information Standards Organization.
- ↑ McDonough, Jerome; Jimenez, Mona (2006). «Video Preservation and Digital Reformatting: Pain and Possibility.». Journal of Archival Organization. 4: 167–191. doi:10.1300/J201v04n01_09
- ↑ "Managing" Arquivado em 2014-10-13 no Wayback Machine. Jisc Digital Media. 08 Oct. 2014.
- ↑ "Integrity[ligação inativa]". Glossary. Consortium of European Social Science Data Archives (CESSDA). cessda.net. Retrieved 2016-11-02.
- ↑ «Preservation Events Concept: fixity check». loc.gov. Cópia arquivada em 14 de outubro de 2014
- ↑ Testing Software Tools of Potential Interest for Digital Preservation Activities at the National Library of Australia Arquivado em 2013-01-14 no Wayback Machine
- ↑ «10.0 Best Practices for Technical Metadata». illinois.edu. Cópia arquivada em 9 de outubro de 2014
- ↑ Bradley, K. (Summer 2007). Defining digital sustainability. Library Trends v. 56 no 1 p. 148-163.
- ↑ Sustainability of Digital Resources. (2008). TASI: Technical Advisory Service for Images. Arquivado em março 4, 2008, no Wayback Machine
- ↑ Towards a Theory of Digital Preservation. (2008). International Journal of Digital Curation Arquivado em 2013-01-23 no Wayback Machine
- ↑ Electronic Archives Preservation Policy Arquivado em março 10, 2013, no Wayback Machine
- ↑ «Identifying Threats to Successful Digital Preservation: the SPOT Model for Risk Assessment». dlib.org. Cópia arquivada em 10 de janeiro de 2015
- ↑ a b c bradyh (26 de abril de 2017). «Recommended Preservation Formats for Electronic Records». Smithsonian Institution Archives. Consultado em 29 de abril de 2019
- ↑ «Sustainability Factors». digitalpreservation.gov. Cópia arquivada em 13 de outubro de 2014
- ↑ «InterPARES 2 Terminology Database - authenticity». web site. 2007. Consultado em 8 October 2014. Cópia arquivada em 7 October 2014 Verifique data em:
|acessodata=, |arquivodata=
(ajuda) - ↑ «Society of American Archivists Glossary - accuracy». web site. 2014. Consultado em 8 October 2014. Cópia arquivada em 12 October 2014 Verifique data em:
|acessodata=, |arquivodata=
(ajuda) - ↑ Sayão, Luís Fernando (2010). «Uma outra face dos metadados: informações para a gestão da preservação digital». Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação: 1–31. doi:10.5007/1518-2924.2010v15n30p1. Consultado em 16 de abril de 2021
- ↑ PREMIS Data Dictionary (full document), Version 3.0 https://www.loc.gov/standards/premis/v3/premis-3-0-final.pdf
- ↑ Dappert, Angela; Guenther, Rebecca Squire; Peyrard, Sébastien (2016). Digital Preservation Metadata for Practitioners. doi:10.1007/978-3-319-43763-7. ISBN 978-3-319-43761-3.
- ↑ BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e historia da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985. 253p. (Obras escolhidas; v.1)
- ↑ MÁRDERO ARELLANO, Miguel Angel. Preservação de documentos digitais. Ciência da Informação, Brasília, v.33, n.2, mai./ago. 2004. p. 18. Disponível em:<http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1043>. Acesso em: 27 jan. 2013.
- ↑ THOMAZ, Katia P.; SOARES, Antonio José. A preservação digital e o modelo de referência Open Archival Information System (OAIS). DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v.5, n.1, fev. 2004.Disponível em:<http://www.dgz.org.br/fev04/F_I_aut.htm Arquivado em 13 de novembro de 2010, no Wayback Machine.>. Acesso em: 28 jan. 2013.
- ↑ Bullock, Alison (22 de abril de 1999). «Preservation of Digital Information: Issues and Current Status». Network Notes. Consultado em 15 de abril de 2021
- ↑ MÁRDERO ARELLANO, Miguel Angel. Preservação de documentos digitais. Ciência da Informação, Brasília, v.33, n.2, mai./ago. 2004. p. 18. Disponível em:<http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/305 Arquivado em 30 de outubro de 2015, no Wayback Machine.>. Acesso em: 27 jan. 2013.
- ↑ THOMAZ, Katia P.; SOARES, Antonio José. A preservação digital e o modelo de referência Open Archival Information System (OAIS). DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v.5, n.1, fev. 2004.Disponível em:<http://www.dgz.org.br/fev04/F_I_aut.htm Arquivado em 13 de novembro de 2010, no Wayback Machine.>. Acesso em: 28 jan. 2013.
- ↑ http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=328&sid=42
- ↑ Fojtu, Andrea (18 de julho de 2011). «Open Source versus Commercial Solutions for a Long-term Preservation in Digital Repositories» (PDF). CASLIN 2009. Institutional Online Repositories and Open Access. University of West Bohemia. Consultado em 30 de maio de 2019
Ligações externas
- Página oficial do Projeto Interpares
- Página do Arquivo Nacional do Brasil com diversas publicações do InterPARES em português.
- Site do CCSDS (Consultative Committee for Space Data Systems), criador do modelo OAIS.