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'''''Muqaddimah''''' ([[Língua árabe|árabe]]: {{lang|ar|مقدّمة ابن خلدون}}, [[Línguas berberes|berbere]]: ''Tazwarit n Ibn Xeldun'', que significa "Introdução à história universal"), também conhecido como o '''''Muqaddimah de ibne Caldune''''' ou '''''Prolegomena''''' ([[Língua grega|grego]]: Προλεγόμενα), é um livro escrito pelo historiador [[Norte de África|norte-africano]] [[ibne Caldune]] em 1377, registando a visão de Caldune sobre a [[história universal]]. <ref>Gellner, Ernest (2 March 1992). [https://books.google.com/books?id=WwduQjFiB7kC Plough, Sword, and Book: The Structure of Human History.] University of Chicago Press. <nowiki>ISBN 978-0-226-28702-7</nowiki>.</ref>
'''''Muqaddimah''''' ([[Língua árabe|árabe]]: {{lang|ar|مقدّمة ابن خلدون}}, [[Línguas berberes|berbere]]: ''Tazwarit n Ibn Xeldun'', que significa "Introdução à história universal"), também conhecido como o '''''Muqaddimah de ibne Caldune''''' ou '''''Prolegomena''''' ([[Língua grega|grego]]: Προλεγόμενα), é um livro escrito pelo historiador [[Norte de África|norte-africano]] [[ibne Caldune]] em 1377, registando uma visão da época da [[história universal]]. Alguns pensadores modernos consideram-na como sendo a primeira obra a tratar da [[filosofia da história]],<ref name=Akhtar>Dr. S. W. Akhtar (1997). "The Islamic Concept of Knowledge", ''Al-Tawhid: A Quarterly Journal of Islamic Thought & Culture'' '''12''' (3).</ref> das [[ciências sociais]],<ref>Akbar Ahmed (2002). "Ibn Khaldun’s Understanding of Civilizations and the Dilemmas of Islam and the West Today", ''Middle East Journal'' '''56''' (1), p. 25.</ref> de [[Sociologia]]<ref name=Akhtar/><ref name=Mowlana/><ref name=Gates>{{citation|título=The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture|autor=Warren E. Gates|periódico=[[Journal of the History of Ideas]]|volume=28|número=3|data=julho–setembro de 1967|pages=415–422 [415]|publicado=[[University of Pennsylvania Press]]|url=http://www.jstor.org/stable/2708627|acessodata=25/03/2010|doi=10.2307/2708627|jstor=10.2307/2708627}}</ref><ref>{{citation|último=Alatas|primeiro=S. H.|título=The Autonomous, the Universal and the Future of Sociology|periódico=Current Sociology|ano=2006|volume=54|pages=7–23 [15]|doi=10.1177/0011392106058831}}</ref>, [[demografia]],<ref name=Mowlana>H. Mowlana (2001). "Information in the Arab World", ''Cooperation South Journal'' '''1'''.</ref> [[historiografia]],<ref name=Gates/><ref name="Salahuddin Ahmed 1999">Salahuddin Ahmed (1999). ''A Dictionary of Muslim Names''. C. Hurst & Co. Publishers. ISBN 1850653569.</ref> [[história cultural]]<ref name="Mohamad Abdalla 2007 p. 61-70">Mohamad Abdalla (Summer 2007. "Ibn Khaldun on the Fate of Islamic Science after the 11th Century", ''Islam & Science'' '''5''' (1), p. 61-70.</ref><ref>{{citation|título=The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture|autor=Warren E. Gates|periódico=[[Journal of the History of Ideas]]|volume=28|número=3|data=julho–setembro de 1967|pages=415–422 [416]|publicado=[[University of Pennsylvania Press]]|url=http://www.jstor.org/stable/2708627|acessodata=25/03/2010|doi=10.2307/2708627|jstor=10.2307/2708627}}</ref> e [[economia]].<ref name=Oweiss>I. M. Oweiss (1988), "Ibn Khaldun, the Father of Economics", ''Arab Civilization: Challenges and Responses'', [[New York University Press]], ISBN 0887066984.</ref><ref name="Jean David C 1971">Jean David C. Boulakia (1971), "Ibn Khaldun: A Fourteenth-Century Economist", ''The Journal of Political Economy'' '''79''' (5): 1105–1118.</ref> O ''Muqaddimah'' também trata sobre [[teologia islâmica]], [[Filosofia política|teoria política]] e das [[ciências naturais]] da [[biologia]] e da [[química]]. Ibne Caldune escreveu a obra em 1377 como o prefácio ou primeiro livro de sua planeada [[história do mundo]], ''kitab al-ibar'' (lit. ''Livro de conselhos''), mas já durante a sua vida foi considerado como um trabalho independente. A obra também foi um das pioneiras na condenação da [[corrupção]] praticada pela [[iniciativa privada]].<ref>Ibn Khaldun, Muqaddimah, : An Introduction to History [1377] translated by Franz Rosenthal (Princeton, 1967 [first ed. 1958]), pp. 377-379.</ref>


Alguns pensadores modernos consideram-na como sendo a primeira obra a tratar da [[filosofia da história]], das [[ciências sociais]], de [[Sociologia]]<ref name="Akhtar" /><ref name="Mowlana" /><ref name="Gates">{{citation|título=The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture|autor=Warren E. Gates|periódico=Journal of the History of Ideas|volume=28|número=3|data=julho–setembro de 1967|pages=415–422 [415]|publicado=University of Pennsylvania Press|url=http://www.jstor.org/stable/2708627|acessodata=25/03/2010|doi=10.2307/2708627|jstor=10.2307/2708627}}</ref>, [[demografia]], [[historiografia]],<ref name="Gates" /><ref name="Salahuddin Ahmed 1999">Salahuddin Ahmed (1999). ''A Dictionary of Muslim Names''. C. Hurst & Co. Publishers. ISBN 1850653569.</ref> [[história cultural]]<ref>{{citation|título=The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture|autor=Warren E. Gates|periódico=Journal of the History of Ideas|volume=28|número=3|data=julho–setembro de 1967|pages=415–422 [416]|publicado=University of Pennsylvania Press|url=http://www.jstor.org/stable/2708627|acessodata=25/03/2010|doi=10.2307/2708627|jstor=10.2307/2708627}}</ref> e [[economia]].<ref name="Oweiss">I. M. Oweiss (1988), "Ibn Khaldun, the Father of Economics", ''Arab Civilization: Challenges and Responses'', [[New York University Press]], ISBN 0887066984.</ref> Também trata sobre [[teologia islâmica]], [[Filosofia política|teoria política]] e das [[ciências naturais]] da [[biologia]], [[química]] e da ecologia<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=1gs0AAAAQBAJ&q=Ibn%20Khaldoun%20%22ecologist%22&pg=PT168|título=New Age Globalization: Meaning and Metaphors|ultimo=Ahmad|primeiro=A.|data=2013-07-03|editora=Springer|lingua=en}}</ref>. Também foi descrito como um precursor ou um representante inicial do darwinismo social<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=lxRFtZgFvFAC&q=Ibn+Khaldoun+darwinism&pg=PA74|título=Society, State, and Urbanism: Ibn Khaldun's Sociological Thought|ultimo=Baali|primeiro=Fuad|data=1988-01-01|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref> e do darwinismo. <ref>Leuprecht, Peter (2011). ''Reason, Justice and Dignity: A Journey to Some Unexplored Sources of Human Rights''. Martinus Nijhoff Publishers. ISBN <bdi>978-90-04-22046-1</bdi>.</ref>
{{referências}}

Ibne Caldune escreveu a obra em 1377 como o prefácio ou primeiro livro de sua planeada [[história do mundo]], ''kitab al-ibar''<ref>O título completo: ''Kitābu l-ʻibari wa Dīwāni l-Mubtada' wal- Ḥabar fī ayāmi l-ʻarab wal-ʿajam wal-barbar, waman ʻĀsarahum min Dhawī sh-Shalṭāni l-Akbār'' , ou seja: "Livro de Lições, Registro de Começos e Eventos na história dos árabes e estrangeiros e berberes e seus poderosos contemporâneos ").

Akhtar, S. W. (1997). "The Islamic Concept of Knowledge". ''Al-Tawhid: A Quarterly Journal of Islamic Thought & Culture''. '''12''' (3).</ref> (lit. ''Livro de conselhos''), mas já durante a sua vida foi considerado como um trabalho independente. A obra também foi um das pioneiras na condenação da [[corrupção]] praticada pela [[iniciativa privada]].

== Etimologia ==
''Muqaddimah'' (مقدمة) é uma palavra árabe usada para significar "Prólogo" ou "A Introdução", para introduzir uma obra maior. <ref>Mohamad Abdalla (Summer 2007. "Ibn Khaldun on the Fate of Islamic Science after the 11th Century", ''Islam & Science'' '''5''' (1), p. 61-70.</ref>

== Sociologia ==

=== Asabiyyah ===
Ver artigo principal: [[Asabiyyah]]

O conceito de "asabiyyah" (árabe : "tribalismo, clã, comunitarismo", ou em um contexto moderno, "[[nacionalismo]]", solidariedade social ou coesão social) é um dos aspectos mais conhecidos do ''Muqaddimah'' . À medida que esta "asabiyyah" declina, outro "asabiyyah" mais forte pode tomar seu lugar; assim, as civilizações surgem e caem, e a história descreve esses ciclos de "asabiyyah" conforme eles se desenrolam. <ref name=":0">Tibi, Bassam. ''Arab nationalism''. 1997, pg. 139.</ref>

Caldune argumenta que cada dinastia tem dentro de si as sementes de sua própria queda. Ele explica que as casas governantes tendem a surgir nas periferias dos grandes impérios e usam a unidade apresentada por essas áreas a seu favor para provocar uma mudança de liderança. À medida que os novos governantes se estabelecem no centro de seu império, tornam-se cada vez mais negligentes e mais preocupados em manter seus estilos de vida. Assim, uma nova dinastia pode surgir na periferia de seu controle e efetuar uma mudança de liderança, iniciando o ciclo novamente. <ref name=":0" />

== Economia ==
Caldune escreveu sobre teoria econômica e política no ''Muqaddimah'', relacionando seus pensamentos sobre asabiyyah (coesão social) à divisão do trabalho: quanto maior a coesão social, quanto mais complexa a divisão pode ser, maior o crescimento econômico<ref name=":1">Weiss, Dieter (1995). "Ibn Khaldun on Economic Transformation". ''International Journal of Middle East Studies''. '''27''' (1): 31–33. doi:10.1017/S0020743800061560.</ref>:<blockquote>Quando a civilização [população] aumenta, a mão de obra disponível aumenta novamente. Por sua vez, o luxo aumenta novamente em correspondência com o aumento do lucro, e os costumes e necessidades do luxo aumentam. O artesanato é criado para obter produtos de luxo. O valor obtido com eles aumenta e, como resultado, os lucros são novamente multiplicados na cidade. A produção lá está prosperando ainda mais do que antes. E assim vai com o segundo e terceiro aumento. Todo o trabalho adicional serve ao luxo e à riqueza, em contraste com o trabalho original que serviu à necessidade da vida. <ref name=":1" /></blockquote>Caldune observou que o crescimento e o desenvolvimento estimulam positivamente tanto a oferta quanto a demanda, e que as forças da [[oferta]] e da [[demanda]] são o que determinam os preços dos bens. Ele também observou as forças macroeconômicas do crescimento populacional, o desenvolvimento do capital humano e os efeitos do desenvolvimento tecnológico no desenvolvimento. Caldune sustentou que o crescimento populacional era uma função da riqueza. <ref name=":1" />

Ele entendia que o dinheiro servia como um padrão de valor, um meio de troca e um preservador de valor, embora não percebesse que o valor do ouro e da prata mudava com base nas forças da oferta e da demanda. <ref name=":1" /> 

Ele também introduziu a teoria do valor-trabalho. Ele descreveu o trabalho como a fonte de valor, necessária para todos os ganhos e acumulação de capital, óbvio no caso do artesanato. Ele argumentou que mesmo que ganhar "resulta de algo diferente de um ofício, o valor do lucro resultante e adquirido (capital) deve (também) incluir o valor do trabalho pelo qual foi obtido. Sem trabalho, (o bem) não teria sido adquirido." <ref>I. M. Oweiss (1988), "Ibn Khaldun, the Father of Economics", ''Arab Civilization: Challenges and Responses'', New York University Press, <nowiki>ISBN 0-88706-698-4</nowiki>.</ref>

Caldune descreve uma teoria dos preços através de sua compreensão de que os preços resultam da [[Lei da oferta e da procura|lei da oferta e da demanda]]. Ele entendeu que quando um bem é escasso e tem demanda, seu preço é alto e quando o bem é abundante, seu preço é baixo. <ref>Boulakia, Jean David C. (1971). "Ibn Khaldûn: A Fourteenth-Century Economist". ''Journal of Political Economy''. '''79''' (5): 1111. ISSN 0022-3808. JSTOR 1830276.</ref><blockquote>Os habitantes de uma cidade têm mais comida do que precisam. Consequentemente, o preço dos alimentos é baixo, como regra, exceto quando ocorrem infortúnios devido a condições celestes que podem afetar o fornecimento de alimentos. <ref>Boulakia, Jean David C. (1971). "Ibn Khaldûn: A Fourteenth-Century Economist". ''Journal of Political Economy''. '''79''' (5): 1111. ISSN 0022-3808. JSTOR 1830276.</ref></blockquote>Sua teoria de asabiyyah (coesão social) tem sido frequentemente comparada à economia keynesiana moderna, com a teoria de Caldune contendo claramente o conceito de multiplicador. Uma diferença crucial, no entanto, é que enquanto para [[John Maynard Keynes]] é a maior propensão da classe média a poupar que é a culpada pela depressão econômica, para Caldune é a propensão governamental a poupar recursos nos momentos em que as oportunidades de investimento não preenchem o vazio que leva à [[demanda agregada]]. <ref>Gellner, Ernest (1983), ''Muslim Society'', Cambridge University Press, pp. 34–5, ISBN 978-0-521-27407-4</ref>

Outra teoria econômica moderna antecipada por Caldune é a economia do lado da oferta. <ref>{{Citar periódico |url=https://brill.com/view/journals/jaas/18/3-4/article-p154_2.xml |titulo=Journal of Asian and African Studies XVIII, 3-4 (1983) Introduction: Ibn Khaldun and Islamic Ideology |data=1983-01-01 |acessodata=2022-07-21 |jornal=Journal of Asian and African Studies |número=3-4 |ultimo=Lawrence |primeiro=Bruce B. |paginas=154–165 |lingua=en |doi=10.1163/156852183X00290 |issn=1568-5217}}</ref> Ele "argumentou que os altos impostos eram muitas vezes um fator para causar o colapso dos impérios, com o resultado de que as receitas mais baixas eram coletadas a partir de altas taxas". Ele escreveu: <ref name=":2">Bartlett, Bruce, "Supply-Side Economics: 'Voodoo Economics' or Lasting Contribution?" (PDF), ''Laffer Associates'' (November 11, 2003), retrieved 2008-11-17</ref> <blockquote>Deve-se saber que no início da dinastia, a tributação rende uma grande receita de pequenas contribuições. No final da dinastia, a tributação gera uma pequena receita de grandes contribuições. <ref name=":2" /></blockquote>

== Fontes ==

* Akhtar, S. W. (1997). "The Islamic Concept of Knowledge". Al-Tawhid: A Quarterly Journal of Islamic Thought & Culture. 12 (3)..
* Gellner, Ernest (2 March 1992). [https://books.google.com/books?id=WwduQjFiB7kC Plough, Sword, and Book: The Structure of Human History.] University of Chicago Press. <nowiki>ISBN 978-0-226-28702-7</nowiki>.
* Leuprecht, Peter (2011). Reason, Justice and Dignity: A Journey to Some Unexplored Sources of Human Rights. <ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=fTYzAQAAQBAJ&pg=PA64|título=Reason, Justice and Dignity: A Journey to Some Unexplored Sources of Human Rights|ultimo=Leuprecht|primeiro=Peter|data=2011-12-23|editora=Martinus Nijhoff Publishers|lingua=en}}</ref>Martinus Nijhoff Publishers. <nowiki>ISBN 978-90-04-22046-1</nowiki>.
* Morelon, Régis; Rashed, Roshdi (1996), Encyclopedia of the History of Arabic Science, vol. 3, Routledge, ISBN 978-0-415-12410-2
* Rosenthal, Franz; Dawood, Nessim Yosef David (1969). [https://books.google.com/books?id=FlNZ5wmo5LAC The Muqaddimah : an introduction to history; in three volumes]. Vol. 1. Princeton University Press. <nowiki>ISBN 978-0-691-01754-9</nowiki>.
* Ter-Ghevondyan, Aram N. (1965), [http://serials.flib.sci.am/openreader/Hator_16_2005/book/Binder1.pdf Արաբական Ամիրայությունները Բագրատունյաց Հայաստանում] [The Arab Emirates in Bagratuni Armenia)] (in Armenian), Yerevan, Armenian SSR: Armenian National Academy of Sciences, p. 15
* Weiss, Dieter (2009). "Ibn Khaldun on Economic Transformation". International Journal of Middle East Studies. 27 (1): 29–37. [[doi:10.1017/S0020743800061560|doi:10.1017/S0020743800061560.]]

== Referências ==
<references />


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Revisão das 03h46min de 21 de julho de 2022

O Muqaddimah de ibne Caldune

Muqaddimah (árabe: مقدّمة ابن خلدون, berbere: Tazwarit n Ibn Xeldun, que significa "Introdução à história universal"), também conhecido como o Muqaddimah de ibne Caldune ou Prolegomena (grego: Προλεγόμενα), é um livro escrito pelo historiador norte-africano ibne Caldune em 1377, registando a visão de Caldune sobre a história universal. [1]

Alguns pensadores modernos consideram-na como sendo a primeira obra a tratar da filosofia da história, das ciências sociais, de Sociologia[2][3][4], demografia, historiografia,[4][5] história cultural[6] e economia.[7] Também trata sobre teologia islâmica, teoria política e das ciências naturais da biologia, química e da ecologia[8]. Também foi descrito como um precursor ou um representante inicial do darwinismo social[9] e do darwinismo. [10]

Ibne Caldune escreveu a obra em 1377 como o prefácio ou primeiro livro de sua planeada história do mundo, kitab al-ibar[11] (lit. Livro de conselhos), mas já durante a sua vida foi considerado como um trabalho independente. A obra também foi um das pioneiras na condenação da corrupção praticada pela iniciativa privada.

Etimologia

Muqaddimah (مقدمة) é uma palavra árabe usada para significar "Prólogo" ou "A Introdução", para introduzir uma obra maior. [12]

Sociologia

Asabiyyah

Ver artigo principal: Asabiyyah

O conceito de "asabiyyah" (árabe : "tribalismo, clã, comunitarismo", ou em um contexto moderno, "nacionalismo", solidariedade social ou coesão social) é um dos aspectos mais conhecidos do Muqaddimah . À medida que esta "asabiyyah" declina, outro "asabiyyah" mais forte pode tomar seu lugar; assim, as civilizações surgem e caem, e a história descreve esses ciclos de "asabiyyah" conforme eles se desenrolam. [13]

Caldune argumenta que cada dinastia tem dentro de si as sementes de sua própria queda. Ele explica que as casas governantes tendem a surgir nas periferias dos grandes impérios e usam a unidade apresentada por essas áreas a seu favor para provocar uma mudança de liderança. À medida que os novos governantes se estabelecem no centro de seu império, tornam-se cada vez mais negligentes e mais preocupados em manter seus estilos de vida. Assim, uma nova dinastia pode surgir na periferia de seu controle e efetuar uma mudança de liderança, iniciando o ciclo novamente. [13]

Economia

Caldune escreveu sobre teoria econômica e política no Muqaddimah, relacionando seus pensamentos sobre asabiyyah (coesão social) à divisão do trabalho: quanto maior a coesão social, quanto mais complexa a divisão pode ser, maior o crescimento econômico[14]:

Quando a civilização [população] aumenta, a mão de obra disponível aumenta novamente. Por sua vez, o luxo aumenta novamente em correspondência com o aumento do lucro, e os costumes e necessidades do luxo aumentam. O artesanato é criado para obter produtos de luxo. O valor obtido com eles aumenta e, como resultado, os lucros são novamente multiplicados na cidade. A produção lá está prosperando ainda mais do que antes. E assim vai com o segundo e terceiro aumento. Todo o trabalho adicional serve ao luxo e à riqueza, em contraste com o trabalho original que serviu à necessidade da vida. [14]

Caldune observou que o crescimento e o desenvolvimento estimulam positivamente tanto a oferta quanto a demanda, e que as forças da oferta e da demanda são o que determinam os preços dos bens. Ele também observou as forças macroeconômicas do crescimento populacional, o desenvolvimento do capital humano e os efeitos do desenvolvimento tecnológico no desenvolvimento. Caldune sustentou que o crescimento populacional era uma função da riqueza. [14]

Ele entendia que o dinheiro servia como um padrão de valor, um meio de troca e um preservador de valor, embora não percebesse que o valor do ouro e da prata mudava com base nas forças da oferta e da demanda. [14] 

Ele também introduziu a teoria do valor-trabalho. Ele descreveu o trabalho como a fonte de valor, necessária para todos os ganhos e acumulação de capital, óbvio no caso do artesanato. Ele argumentou que mesmo que ganhar "resulta de algo diferente de um ofício, o valor do lucro resultante e adquirido (capital) deve (também) incluir o valor do trabalho pelo qual foi obtido. Sem trabalho, (o bem) não teria sido adquirido." [15]

Caldune descreve uma teoria dos preços através de sua compreensão de que os preços resultam da lei da oferta e da demanda. Ele entendeu que quando um bem é escasso e tem demanda, seu preço é alto e quando o bem é abundante, seu preço é baixo. [16]

Os habitantes de uma cidade têm mais comida do que precisam. Consequentemente, o preço dos alimentos é baixo, como regra, exceto quando ocorrem infortúnios devido a condições celestes que podem afetar o fornecimento de alimentos. [17]

Sua teoria de asabiyyah (coesão social) tem sido frequentemente comparada à economia keynesiana moderna, com a teoria de Caldune contendo claramente o conceito de multiplicador. Uma diferença crucial, no entanto, é que enquanto para John Maynard Keynes é a maior propensão da classe média a poupar que é a culpada pela depressão econômica, para Caldune é a propensão governamental a poupar recursos nos momentos em que as oportunidades de investimento não preenchem o vazio que leva à demanda agregada. [18] Outra teoria econômica moderna antecipada por Caldune é a economia do lado da oferta. [19] Ele "argumentou que os altos impostos eram muitas vezes um fator para causar o colapso dos impérios, com o resultado de que as receitas mais baixas eram coletadas a partir de altas taxas". Ele escreveu: [20]

Deve-se saber que no início da dinastia, a tributação rende uma grande receita de pequenas contribuições. No final da dinastia, a tributação gera uma pequena receita de grandes contribuições. [20]

Fontes

Referências

  1. Gellner, Ernest (2 March 1992). Plough, Sword, and Book: The Structure of Human History. University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-28702-7.
  2. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Akhtar
  3. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Mowlana
  4. a b Warren E. Gates (julho–setembro de 1967), «The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture», University of Pennsylvania Press, Journal of the History of Ideas, 28 (3): 415–422 [415], JSTOR 10.2307/2708627, doi:10.2307/2708627, consultado em 25 de março de 2010 
  5. Salahuddin Ahmed (1999). A Dictionary of Muslim Names. C. Hurst & Co. Publishers. ISBN 1850653569.
  6. Warren E. Gates (julho–setembro de 1967), «The Spread of Ibn Khaldun's Ideas on Climate and Culture», University of Pennsylvania Press, Journal of the History of Ideas, 28 (3): 415–422 [416], JSTOR 10.2307/2708627, doi:10.2307/2708627, consultado em 25 de março de 2010 
  7. I. M. Oweiss (1988), "Ibn Khaldun, the Father of Economics", Arab Civilization: Challenges and Responses, New York University Press, ISBN 0887066984.
  8. Ahmad, A. (3 de julho de 2013). New Age Globalization: Meaning and Metaphors (em inglês). [S.l.]: Springer 
  9. Baali, Fuad (1 de janeiro de 1988). Society, State, and Urbanism: Ibn Khaldun's Sociological Thought (em inglês). [S.l.]: SUNY Press 
  10. Leuprecht, Peter (2011). Reason, Justice and Dignity: A Journey to Some Unexplored Sources of Human Rights. Martinus Nijhoff Publishers. ISBN 978-90-04-22046-1.
  11. O título completo: Kitābu l-ʻibari wa Dīwāni l-Mubtada' wal- Ḥabar fī ayāmi l-ʻarab wal-ʿajam wal-barbar, waman ʻĀsarahum min Dhawī sh-Shalṭāni l-Akbār , ou seja: "Livro de Lições, Registro de Começos e Eventos na história dos árabes e estrangeiros e berberes e seus poderosos contemporâneos "). Akhtar, S. W. (1997). "The Islamic Concept of Knowledge". Al-Tawhid: A Quarterly Journal of Islamic Thought & Culture. 12 (3).
  12. Mohamad Abdalla (Summer 2007. "Ibn Khaldun on the Fate of Islamic Science after the 11th Century", Islam & Science 5 (1), p. 61-70.
  13. a b Tibi, Bassam. Arab nationalism. 1997, pg. 139.
  14. a b c d Weiss, Dieter (1995). "Ibn Khaldun on Economic Transformation". International Journal of Middle East Studies. 27 (1): 31–33. doi:10.1017/S0020743800061560.
  15. I. M. Oweiss (1988), "Ibn Khaldun, the Father of Economics", Arab Civilization: Challenges and Responses, New York University Press, ISBN 0-88706-698-4.
  16. Boulakia, Jean David C. (1971). "Ibn Khaldûn: A Fourteenth-Century Economist". Journal of Political Economy. 79 (5): 1111. ISSN 0022-3808. JSTOR 1830276.
  17. Boulakia, Jean David C. (1971). "Ibn Khaldûn: A Fourteenth-Century Economist". Journal of Political Economy. 79 (5): 1111. ISSN 0022-3808. JSTOR 1830276.
  18. Gellner, Ernest (1983), Muslim Society, Cambridge University Press, pp. 34–5, ISBN 978-0-521-27407-4
  19. Lawrence, Bruce B. (1 de janeiro de 1983). «Journal of Asian and African Studies XVIII, 3-4 (1983) Introduction: Ibn Khaldun and Islamic Ideology». Journal of Asian and African Studies (em inglês) (3-4): 154–165. ISSN 1568-5217. doi:10.1163/156852183X00290. Consultado em 21 de julho de 2022 
  20. a b Bartlett, Bruce, "Supply-Side Economics: 'Voodoo Economics' or Lasting Contribution?" (PDF), Laffer Associates (November 11, 2003), retrieved 2008-11-17
  21. Leuprecht, Peter (23 de dezembro de 2011). Reason, Justice and Dignity: A Journey to Some Unexplored Sources of Human Rights (em inglês). [S.l.]: Martinus Nijhoff Publishers 
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