António Bracinha Vieira

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António Manuel Bracinha Vieira (Lisboa, 1941) é um médico psiquiatra, antropólogo e professor universitário português. Trabalha entre a antropologia biológica e a antropologia fenomenológica e, sob o nome António Vieira, em literatura e filosofia.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em Lisboa no ano de 1941, onde estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, vindo a especializar-se em psiquiatria. Doutorou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, com a tese Psiquiatria e etologia: para um modelo bio-comportamental da psicopatologia em 1979, tendo, nesta instituição, feito a agregação e aí regeu a cadeira de Psicopatologia. Desde 1970, interessou-se por Etologia, cujos princípios tentou aplicar às Ciências humanas. Convidado pela Universidade Nova de Lisboa, começou a leccionar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas em regime de colaboração e, a partir de 1990, como professor do quadro. Tem ensinado, na área disciplinar da antropologia, comportamento e evolução humana, investigando nestes domínios: ensinou evolução, etologia animal e humana e paleoantropologia. É professor catedrático desde 1992. Regeu as cadeiras de antropologia biológica e participa no ensino pós-graduado. É membro integrado do CFCUL, faz parte das linhas de investigação de Filosofia das Ciências da Vida e Filosofia das Ciências Humanas e é colaborador do Projecto "A Imagem na Ciência e na Arte". Foi fundador da Sociedade Portuguesa de Etologia e seu primeiro presidente.[1][2][3][4][5]

Bracinha Vieira no Museu do Louvre, em 2010.

António Bracinha Vieira criou uma abordagem etológica na análise das patologias endógenas que se revela muito mais consistente e credível do que as explicações da psiquiatria comum, exposta sobretudo, no conjunto de ensaios Etologia e Ciências Humanas (1983), Lisboa: IN / CM., onde se analisam as patologias endógenas decorrentes do afastamento do território, com todas as suas nuances decorrentes do afastamento do centro do território, ou seja, habitualmente dos seres humanos em relação ao grupo doméstico, Parte I – Etologia e Ciências Humanas; Parte II – Um Modelo Etológico da Psicopatologia, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1983, 545 pp. A obra psiquiátrica de Antóno Bracinha Vieira, dispersa por dezenas de artigos científicos e vários livros, está ainda por compilar e editar de modo conveniente, para ser conhecida pelos profissionais de saúde e pelo grande público. Publicou também numerosos textos sobre biologia evolutiva, entre os quais os capítulos “Emoção/Motivação”, “Inato/Adquirido”, “Percepção” e “Cognição”, na versão portuguesa da Enciclopédia Einaudi (1996-2000, Imprensa Nacional).

As suas áreas académicas de interesse, na contemporaneidade, são: a Etologia, a Antropologia biológica, a Filosofia das Ciências Humanas e a Filosofia da Medicina.

Em paralelo com a actividade universitária trabalha em literatura. Recebeu influência da escrita de Proust, Kafka e Blanchot.[6][7] Publicou sobretudo livros de ensaio e ficção, assinando-os com o nome de António Vieira: Discurso da ruptura da Noite (1976); A fenomenologia da criação artística em Mário Botas (IN / CM, 1983); Doutor Fausto, romance (IN / CM, 1991); Ensaio sobre o termo da História (Hiena Editores, 1994); Metamorfose e jogo em Mário de Sá-Carneiro (& etc., 1997); Tunturi, novela (& etc., 1998); Dissonâncias, contos (& etc., 1999); O regresso de Penélope, romance (Colibri, Junho de 2000). Aventurou-se no teatro escrito em 2015, com o texto O Oráculo.

Bibliografia selectiva[editar | editar código-fonte]

TRABALHOS DE LITERATURA, ficção, romances[editar | editar código-fonte]

  • Doutor Fausto, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1991.
  • O regresso de Penélope, Lisboa, Colibri, 2000.
  • LOTHAR, Octave (pseudónimo). No impudor do olhar, São Paulo, W11/Francis, 2003.
  • Idem, El impudor de la mirada (traduzido para castelhano por MERLINO, Mario), Barcelona, Tusquets, 2003.
  • Ibid., Madrid, Círculo de Lectores, 2008.
  • Fim de império, Lisboa, ASA, 2009.
  • Doutor Fausto, Rio de Janeiro, Topbooks, 2013.
  • Idem, Lisboa, Fim de Século, 2014.
  • LOTHAR, Octávio. El impudor de la mirada, Madrid, suplemento do jornal El País, 2015.
  • Idem, No impudor do olhar, Lisboa, Maldoror, 2016.
Narrativas breves[editar | editar código-fonte]
  • O Oráculo (teatro), Lisboa, &etc, 2015.
  • Viagem pelo Brasil, 1999-2000. Diário de um escritor português, Lajes do Pico, Companhia das Ilhas, 2021.
  • Idem, Rio de Janeiro, 7Letras, 2022.

Ensaios sobre literatura e arte[editar | editar código-fonte]

  • A fenomenologia da criação artística em Mário Botas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1983.
  • Metamorfose e jogo em Mário de Sá-Carneiro, Lisboa, &etc, 1998.
  • L’être au monde et l’œuvre de Mário de Sá-Carneiro, in Paris, Mário de Sá-Carneiro et les autres, Université Paris-Sorbonne, Éditions Hispaniques, 2017, pp. 69-77.
  • L’insoutenable discrétion de l’oubli, in Olvidar/Forgetting, Madrid, 2018, Brumaria, pp. 719-729.
  • Más allá de la imagen, ensayo sobre el livro ‘Invisualidad de la pintura’ (de VIDAL, Carlos) in Campo de relámpagos, Madrid, 27-01-2018.

Ensaios de/sobre filosofia[editar | editar código-fonte]

  • Ensaio sobre o termo da história, Lisboa, Hiena, 1994.
  • Improvisações sobre a ideia de Deus, Lisboa, &etc, 2005.
  • Ensaio sobre o termo da história, Lisboa, Fim de Século, 2009.
  • De l’homme-primate à l’homme-termite: essai sur l’affaiblissement du langage, in Vivre en Europe: philosophie, science et politique aujourd’hui, Paris, L’Harmattan, 2010.
  • Mito, ciência, literatura: a deriva dos continentes, in O lugar da Filosofia da Ciência, 2013, CFCUL (Universidade de Lisboa), pp. 215-235.
  • La quête de la liberté chez Jules Lequier (texto da conferência feita em 30-09-2014 na École Normale Supérieure), in Jules Lequier, une philosophie de la liberté, 2016, Les Perséides, pp. 105-118.
  • Improvisações sobre a ideia de Deus, Belo Horizonte, Ars et Vita, 2017.
  • Remarques sur les conditions de l’entrelacs et la substance du chiasme, in Corps et signes, MERCURY, J.-Y. et NABAIS, N., CFCUL (Universidade de Lisboa), pp. 15-26.
  • Propos sur Le visible et l’invisible, de Maurice Merleau-Ponty, in Sigila, nº 45, 2020, pp. 107-116.
  • O perceber do mundo. O Ser e o saber, Lisboa, Mariposa Azual, 2020.
  • Elogio da descrença, Lajes do Pico, Companhia das Ilhas, 2021.
  • Mito e razão no discurso do Protágoras, in Regresso ao Protágoras de Platão, Lisboa, Mariposa Azual, 2021, pp. 83-97.

PUBLICAÇÕES UNIVERSITÁRIAS DE ÍNDOLE CIENTÍFICA (com o nome A. BRACINHA VIEIRA)[editar | editar código-fonte]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • Etologia e ciências humanas, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1983.
  • Ensaios sobre a evolução do Homem e da linguagem, Lisboa, Fim de Século, 1995.
  • Evolução humana, Ethnologia nº 5 nova série, Departamento de Antropologia da FCSH, Lisboa, Cosmos, 1996.
  • A evolução do darwinismo, Lisboa, Fim de Século, 2009.
  • Idem, Rio de Janeiro, Vieira & Lent, 2009.

Artigos e capítulos de livros, biologia e ciências humanas: etologia e psicopatologia[editar | editar código-fonte]

  • Prefácio de Amor e Ódio, de EIBL-EIBESFELDT, Irenäus, Lisboa, Teorema, 1977.
  • Prefácio de O Gene Egoista, de DAWKINS, Richard, Lisboa, Gradiva, 1989.
  • Prefácio de Pré-Âmbulos, de COPPENS, Yves, Lisboa, Gradiva, 1990.

Artigos

  • De la noogénèse de la catatonie, in L’Évolution psychiatrique, 37 (4), 1972, pp. 675-692.
  • Éthologie et psychiatrie : phylogenèse des comportements et structure des psychoses, in L’Évolution psychiatrique, 47 (4), 1982, pp. 999-1017.
  • Éthologie et subversion. Agressologie, 22 (1), 1982, pp. 1-13.
  • Essai sur les mémoires du vivant, in Controvérsias científicas e filosóficas, GIL, F. (org.), Lisboa, 1985, pp. 145-157.
  • Les modèles éthologiques animaux et psychopathologie humaine, in LEROY, Claude, Comportements et communication, Encyclopédie de Santé Publique, New York, MEDSI/McGraw-Hill, 1989, pp. 91-99.
  • Biologia do comportamento, in Colóquio Ciências, 89 (6), Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1989, pp. 55-71.
  • Pour un modèle éthologique des psychoses endogènes, in Acta psychiatrica belgica, 91 (4-5): Bruxelles, Société Royale de Médecine Mentale de Belgique, 1991, pp. 232-242.
  • Art. Emoção/Motivação, in Enciclopédia Einaudi, volume nº 27, Cérebro-Máquina, Lisboa, 1996, pp. 56-73.
  • Art. Inato/Adquirido, in Idem, volume nº 34, Comunicação-Cognição, Lisboa, 2000, pp. 205-225.
  • Art. Percepção, in Ibid., Lisboa, 2000, pp. 277-295.
  • Art. Cognição, in Ibid., Lisboa, 2000, pp. 296-313.
  • Éthologie et psychopathologie: convergence et synthèse dans les années 1970, in Adaptation. Essai collectif à partir des paradigmes éthologiques et évolutionnistes, Paris, 2016, pp. 13-28.

Paleoantropologia e antropologia pré-histórica[editar | editar código-fonte]

  • Datação paleoecológica das gravuras do Côa, in Dossier Côa, Porto, 1996, pp. 441-452.
  • Mythe et magie dans l’art pariétal: la logique de la caverne, in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, nº36, Porto, Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1996, pp. 169-191.
  • Racismo e teoria, in Ethnologia, nº 3-4, Lisboa,1996, pp. 23-38.
  • Para uma epistemologia transdisciplinar, in Trieb, 2 (1), Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Psicanálise, 2003, pp. 9-19.
  • Modelos evolutivos e ideologia. O caso Teilhard de Chardin, in Actas do colóquio Teilhard de Chardin, FCSH, 2005, pp. 13-28.
  • O que é o Homem? Anotações sobre a fronteira e os limites da humanidade, in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, nº49 (1-4), 2009, pp. 9-17.
  • Imagens parietais paleolíticas e religiões da Pré-história, in As Imagens com que a ciência se faz, POMBO, O. e DI MARCO, Lisboa, 2010, pp. 21-43.

Origem e evolução da linguagem[editar | editar código-fonte]

  • Reflexão sobre o problema da técnica a partir da primeira indústria lítica, in Revista de Filosofia e Epistemologia, nº5, Lisboa, 1984, pp. 137-163.
  • Utensílios líticos e organismos animais: analogias evolutivas, in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, nº30, Porto, Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1990, pp. 139-149.
  • Ferramentas líticas e origem da linguagem: um modelo evolutivo, in Ethnologia, nº1-2, Lisboa, 1994, pp. 109-126.
  • Linguagem e selecção natural, in Revista da FCSH, nº 13, Lisboa, 2000, pp. 277-295.
  • Grammatical Equivalents of Palaeolithic Tools: a Hypothesis, in Theory in Biosciences, nº129 (2-3), 2009, pp. 203-210.
  • Origem e evolução da linguagem: dados e hipóteses, in Cadernos de darwinismo, vol. IV, Lisboa, 2015, pp. 127-146.

Referências

  1. «António Bracinha Vieira – CFCUL». cfcul.ciencias.ulisboa.pt (em inglês). Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  2. «SPE - Sociedade Portuguesa de Etologia». webpages.icav.up.pt. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  3. «António Bracinha Vieira | Bertrand Livreiros - livraria Online». www.bertrand.pt. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  4. McGregor, Peter; Oliveira, Rui F. (1 de junho de 2014). «Then and now: a brief history of acta ethologica». acta ethologica (em inglês) (2): 67–68. ISSN 1437-9546. doi:10.1007/s10211-014-0184-6. Consultado em 9 de dezembro de 2022 
  5. Yumpu.com. «1.2 Verão 2013». yumpu.com. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  6. «Colóquio/Letras 177». Fundação Calouste Gulbenkian. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  7. Dorneles, Marcos Rogerio Heck (1 de janeiro de 2017). «INTERFACES ENTRE CETICISMO E FICÇÃO EM CONTOS DE ANTÓNIO VIEIRA.». Consultado em 8 de dezembro de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]