Jogo de búzios

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jogo de búzios
Búzios
Búzio ou cowri, várias espécies

O jogo de búzios[1] é uma das artes divinatórias utilizado nas religiões tradicionais africanas e nas religiões da diáspora africana instaladas em vários países das Américas. Religiosamente, é conhecido como merindilogum (ou erindilogum), sendo, junto com a noz de cola (obì), o oráculo mais antigo dos Iorubás.

Existem muitos métodos de jogo, o mais comum consiste no arremesso de um conjunto de 8 ou 16 búzios sobre uma mesa previamente preparada, e na análise da configuração que os búzios adotam ao cair sobre ela. O adivinho, antes reza e saúda todos os Orixás e durante os arremessos, conversa com as divindades e faz-lhes perguntas. Considera-se que as divindades afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.

Búzios[editar | editar código-fonte]

Búzios são moluscos gastrópodes marinhos (conchas de praia) de vários tamanhos, em forma de fuso. Os búzios têm uma abertura natural fendada, a boca, e uma parte fechada ovalada, as costas. A maioria dos adornos e jogos de búzios são feitos com os búzios abertos, isto, após a retirada de sua parte fechada ovalada, as costas.

Alguns sacerdotes leem os búzios pela parte da fenda natural, e outros pela parte que se abre manualmente, o que gerou a expressão "buzio aberto". Existe muita discussão sobre o que é búzio aberto e búzio fechado. Na opinião de alguns, o lado aberto seria a abertura natural, e segundo outros, o lado aberto é o lado que se abre manualmente. Seja qual for o método, se pela fenda natural, ou pelo lado que se abriu manualmente, o lado considerado "aberto" será sempre positivo, e o lado considerado "fechado", será sempre negativo. Entretanto, as expressões "aberto" e "fechado" parecem ser muito mais da diáspora, do que dos próprios Iorubás.[2]

Na África os búzios (ou cowries) já foram usados como dinheiro, constituindo moeda corrente. Atualmente são utilizados, não apenas na África mas também no Brasil e outros países com presença de religiões afrodescendentes, em adornos aplicados nas roupas dos Orixás formando desenhos; em colares chamados de fio-de-contas onde são colocados como fecho ou como brajá, imitando as escamas de uma cobra; e no jogo de búzios, pelos patricantes das religiões Batuque, Candomblé, Omolocô, Tambor de Mina, Umbanda, Xambá, Xangô do Nordeste, como objetos de comunicação com os orixás e em consultas ao futuro.

A origem dos búzios é médio-oriental, mais precisamente da região da atual Turquia. Penetrou na África junto com as invasões daqueles povos aos africanos. Segundo outras fontes, a concha seria originária das Ilhas Maldivas, no Oceano Índico,[3] tendo sido introduzido na Africa Ocidental pelos portugueses, onde passou a funcionar como moeda de troca, em substituição à noz de cola.

Adotado pelas mulheres pelo fato de que o opelé-ifá e Opom-ifá (jogos divinatórios originalmente africano) é destinado somente aos homens.

O erindinlogum significa "dezesseis" e, a rigor, a palavra ioruba propriamente dita nada tem a ver com a concha marítima originária das Ilhas Maldivas. Antes da introdução das conchas pelos portugueses, o oráculo erindinlogum já era praticado pelos iorubas através da semente da Noz de Cola. As conchas, por serem mais duráveis, apenas substituíram a Noz de Cola. Por extensão, a palavra erindinlogum virou sinônimo das dezesseis conchas oraculares, mas cabe ressaltar que o método oracular já era praticado com a Noz de Cola.

Ao substituir a Noz de Cola, entrou na vida e na cultura iorubá e enraizou-se tão profundamente que hoje o merindilogum (jogo de búzios) é mais conhecido que o oráculo dos Babalaôs (o Opelé-ifá e Opom-ifá). É também o mais utilizado no Brasil.

No entanto, segundo algumas correntes e crenças, nem todas as pessoas podem ler búzios. Esta prática está destinada apenas a pessoas com uma forte espiritualidade. De forma geral a prática é predestinada às Mães, Pais, ou Filhos de Santo após a obrigação de sete anos e o recebimento dos direitos, autorização e ensinamentos dado pela Mãe ou Pai de santo.

Métodos de jogo[editar | editar código-fonte]

Além dos búzios pode-se utilizar outros objetos para consulta dos Orixás: Obí, Orobô, Alobaçá (cebola), atarê (pimenta da costa), ossos, vísceras, e outros.

O jogo com quatro búzios, mais utilizado nos rituais para perguntas, normalmente as caídas correspondem às caídas do jogo de Obi

A quantidade de búzios pode variar de acordo com a nação, o mais comum é composto de 16 ou 17 búzios, mas o jogo com 21 búzios também é muito comum. Na tradição do Batuque proveniente do Rio Grande do Sul o mais usual é a utilização de 8 búzios.

Alguns métodos, não se baseiam em caídas por odu como no merindilogum, usam outras configurações e combinações de búzios abertos e fechados dividindo-os em quatro grupos de quatro búzios (que chamam de barracão) e analisam as quatro caídas e a disposição que elas se encontram, nesse tipo de Oráculo não se fala em odu.

Um outro método de jogo é feito com as víceras dos animais oferecidos aos Orixás, e um outro jogo que utiliza ossos de animais unicamente ou em combinação com búzios, em ambos casos também não são orientados por caídas de odu.

Em alguns métodos o olhador (adivinho) senta-se no chão e joga na própria terra, sem toalhas e enfeites como era feito no passado, é um jogo mais simples e rústico.

Podem ser jogados apenas em uma toalha branca numa mesa, ou num círculo formado por fio-de-contas (colares) com vários objetos representativos dos orixás ou numa peneira também com fio-de-contas e objetos. Existem mesas de jogo simples ou sofisticadas, dependendo das posses podem conter até sinetas e objetos de ouro. Jamais deve ser jogado em cima do Opom-Ifá, instrumento próprio do babalaô.

É diferente do (Opelé-Ifá), (Opom-Ifá) que são orientados por caídas de odu, são apenas utilizados pelos Babalaôs sacerdotes de Orunmilá.

A consideração entre aberto e fechado do búzio também pode variar, a grande maioria dos Babalorixás utiliza a abertura natural do búzio como sendo o lado "aberto", mas várias mulheres no culto do Candomblé, principalmente na Nação de Queto, acostumaram a jogar como "aberto" o lado em que elas "abriam" o búzio, assim a fenda natural sendo o lado "fechado", afirmando que o verdadeiro segredo em um búzio fica guardado em seu estado natural, este é revelado apenas após sua abertura cerimonial arrancando-se esta parte até então fechada, assim vários Babalorixás e Ialorixás que aprenderam por este método fazem esta forma "invertida" de leitura, ao apresentado nas imagens.

A grande verdade é que ao sagrar um formato onde seja considerado aberto/fechado, este sacerdote não mais o inverte e passa aos seus filhos o conhecimento desta forma, assim sendo particular de cada casa o cenário de leitura.

Existe também o método que é dado um significado para cada búzio, sendo a um deles, normalmente o maio, atribuída a qualidade de representante de Deus, e recebe o nome de Oxalá. Os outros falam através dele. Um exemplo: Depois de lançar as pedras do jogo, o bico do búzio maior (Oxalá) vai verificar qual os búzios que caíram em sua direção. Esses que caíram na linha deste búzio que falam no jogo de acordo com a sua característica. Os que caíram atrás do búzio, ou seja, que não estão na frente do bico do búzio, falam pelo passado.

Referências

  1. Beniste, José (1999). Jogo de búzios: um encontro com o desconhecido 11 ed. [S.l.]: Bertrand Brasil. ISBN 9788528607741 
  2. Bascom, William (1993). Sixteen Cowries (1980). Indiana, USA: Indiana University Press. 5 páginas 
  3. Bascom, William (1991). Ifa Divination (1969). Indiana, USA: Indiana University Press. 64 páginas 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]