Carlos Maria Gomes Machado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Carlos Maria Gomes Machado (c. 1885).

Carlos Maria Gomes Machado (Ponta Delgada, 4 de Novembro de 1828Ponta Delgada, 22 de Abril de 1901) foi um médico, naturalista, professor liceal, reitor do Liceu Nacional de Ponta Delgada e governador civil do Distrito de Ponta Delgada. Foi o fundador do Museu Açoreano, decano dos museus açorianos, instituição que desde 1914 se denomina, em sua homenagem, Museu Carlos Machado[1].

Biografia[editar | editar código-fonte]

Licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, mas nunca exerceria a profissão, optando pelo ensino e pela investigação botânica[2].

Terminado o seu curso integrou uma comissão encarregada de recolher espécimes botânicos para os herbários da Universidade de Coimbra, tendo nessas funções realizado diversas excursões em Portugal. Entre 1866 e 1869 publicou uma lista, embora incompleta, das espécies recolhidas[3].

Fixou-se em Coimbra, em cujo Liceu ensinou Matemática e Ciências da Natureza, aí permanecendo até 1873, ano em que conseguiu colocação no Liceu Nacional de Ponta Delgada. Fez toda a sua carreira profissional como professor de Ciências Naturais do ensino secundário naquele Liceu, do qual foi por diversas vezes reitor (1875-1879; 1881-1886; 1894; 1900).

Foi um professor inovador, procurando interessar os seus alunos pelo estudo da História Natural, razão pela qual criou no Liceu de Ponta Delgada um gabinete de História Natural com o qual fomentou o ensino experimental das ciências naturais e o ensino acompanhado por excursões a lugares com interesse geológico e botânico e a herborização, a taxidermia e a colecta de amostras de minerais e rochas. Com esse objectivo, organizou a partir de 1876 um pequeno museu junto do gabinete de Ciências Naturais, inaugurado em 1880, embrião das colecções de história natural do actual Museu Carlos Machado.

A sua acção como naturalista serviu de apoio local a múltiplas expedições científicas que visitaram os Açores e permitiu a permuta de exemplares com as principais instituições científicas e naturalistas da época[4]. Foi homenageado com a dedicatória de alguns nomes de espécies biológicas. Em Julho de 1877 foi eleito membro da Real Sociedad Española de Historia Natural, apresentado por Miguel Colmeiro e Penido[5].

Também se interessou pela naturalização de espécies e pela jardinagem, tendo colaborado com António Borges da Câmara Medeiros na construção do Jardim da Lombinha dos Cães, o actual Jardim António Borges da cidade de Ponta Delgada.

Também teve importante actividade política, sendo membro destacado do Partido Regenerador e um dos seus líderes na ilha de São Miguel. Desempenhou diversas funções políticas, com destaque para o cargo de governador civil do Distrito de Ponta Delgada (1890-1892) e para as funções de procurador à Junta Geral, a primeira do regime autonómico que se seguiu ao Decreto de 2 de Março de 1895, sendo eleito pela vila da Povoação (1896-1898).

Foi condecorado com a comenda da Ordem de São Tiago da Espada.

Casou com Matilde Eufémia Damásio de Freitas.

A criação do Museu Açoreano[editar | editar código-fonte]

Carlos Maria Gomes Machado, então reitor do Liceu Nacional de Ponta Delgada e professor da disciplina de Introdução à História Natural, teve um papel determinante na fundação de um Museu de História Natural na cidade de Ponta Delgada, a primeira iniciativa desta natureza a ser levada a cabo nos Açores. As primeiras colecções foram reunidas a partir de 1876, quando Carlos Machado decide criar, inicialmente para apoio à sua disciplina, um laboratório zoológico e mineralógico que servisse, também, de local de estudo e investigação das espécies açorianas.

Organizado ainda sob o espírito oitocentista de criação de gabinetes zoológicos, botânicos e mineralógicos, as colecções que deram origem ao actual departamento de História Natural do Museu Carlos Machado, ganharam foram progressivamente enriquecidas e aquele que inicialmente era um museu escolar foi-se progressivamente autonomizando e abrindo à ilha e à comunidade científica internacional.

Este desenvolvimento reflectiu a mentalidade científica do século XIX e o grande interesse pelas ilhas então demonstrado pelos naturalistas, muito influenciado pela divulgação da teoria da evolução das espécies de Charles Darwin, a prova da qual colocava inicialmente grande ênfase no estudo da especiação em ambientes insulares isolados. Outros factores determinantes para o êxito do projecto foram as campanhas oceanográficas do príncipe Alberto I do Mónaco e do rei D. Carlos I de Portugal, que tiveram amplo eco local, associadas ao aparecimento de uma elite culta e endinheirada na ilha de São Miguel, resultante do próspero comércio da laranja.

Em resultado da iniciativa de Carlos Machado, a 10 de Junho de 1880, por ocasião das celebrações do tricentenário da morte de Camões, foi inaugurado o então denominado Museu Açoreano, expondo diversas colecções de Ciências Naturais, nomeadamente, Zoologia, Botânica, Geologia e Mineralogia, com espécimes maioritariamente oriundas do arquipélago dos Açores e hoje consideradas históricas. O Museu Açoriano ficou instalado no extinto Convento de Nossa Senhora da Graça, que também albergava o Liceu

O património inicial do Museu, essencialmente constituído pela colecção pessoal de Carlos Machado e por aquisições feitas para o Liceu, foi sendo enriquecido com o apoio de vários membros da elite micaelense, entre os quais António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa (1.º marquês da Praia e Monforte), o naturalista Francisco de Arruda Furtado, o Dr. Bruno Tavares Carreiro, o coronel Francisco Afonso Chaves e Jacinto da Silveira Gago da Câmara (2.º conde de Fonte Bela). Deve-se a este último a oferta da colecção de Etnografia Africana e o apoio financeiro que permitiu suportar as despesas com a deslocação de Manuel António de Vasconcelos a Lisboa, onde cursou taxidermia.

O Museu também conseguiu o apoio entusiástico de muitos naturalistas amadores de outras ilhas dos Açores e de vários membros destacados da comunidade científica internacional.

Ao longo dos seus anos iniciais a instituição viu aumentado o seu património, não apenas através de aquisições, mas também mediante importantes doações e legados. Em resultado, o espólio do museu foi distribuído por diversos espaços do Convento da Graça de Ponta Delgada, onde estava instalado o Liceu e se encontravam os exemplares de Zoologia e Etnografia, e um edifício da Alameda de D. Pedro IV, no Relvão, onde foram expostas as colecções de Pintura, Botânica, Mineralogia, Geologia e a Biblioteca.

O Museu Açoreano viveu até 1886 de um subsídio cedido pela Junta Geral do Distrito, e de outro anual doado por Jacinto Inácio Rodrigues da Silveira, o 1.º barão da Fonte Bela. A 25 de Outubro de 1890 o Museu passou a estar dependente do Município de Ponta Delgada, denominando-se a partir de 1914 Museu Carlos Machado, em homenagem ao seu fundador.

Notas

  1. Página oficial do Museu Carlos Machado.
  2. Urbano de Mendonça Dias, Literatos dos Açores. Vila Franca do Campo, Empresa Tipográfica Limitada, 1931.
  3. "Catálogo metódico das plantas observadas em Portugal". Jornal de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, Lisboa, 1866-1869.
  4. Ernesto Ferreira, "O arquipélago dos Açores na história das ciências". Petrus Nonius, 1: 13-14 (1937).
  5. Boletín de la Real Sociedad Española de Historia Natural, 6: 53, 1877.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • "Catálogo metódico das plantas observadas em Portugal". Jornal de Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, (1), 1, 1: 26-36 [1866]; 1, 2: 113-128 [1867]; 1, 4: 292-306 [1867]; 2, 5: 19-37 [1868]; 2, 6: 101-119 [1869].

Ligações externas[editar | editar código-fonte]