Colar de Harmonia

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Colar de Harmonia, na mitologia grega, foi o colar dado como presente a Harmonia, filha de Ares e Afrodite, por ocasião de seu casamento com Cadmo. Em algumas lendas, o colar está associado a uma roupa, que também teria sido presente de casamento. O colar também era chamado de colar de Erífila.

Presente de casamento[editar | editar código-fonte]

Após servir a Ares por um ano, ou, segundo outras versões, por oito anos, Cadmo tornou-se rei de Tebas e Zeus casou-o com Harmonia, filha de Ares e Afrodite. Cadmo deu, como presente de casamento, um colar e uma roupa, que haviam sido feitos por Hefesto; segundo algumas versões, o próprio Hefesto havia dado estes presentes a Cadmo, ou, segundo Ferecides de Leros, quem entregou foi Europa, que havia recebido de Zeus.[1] Pausânias apenas menciona que Hefesto fez o colar, e que quem primeiro o recebeu como presente foi Harmonia.[2]

Colar em Argos[editar | editar código-fonte]

Quando Polinices foi expulso de Tebas por seu irmão Etéocles, levou o colar e a roupa de Harmonia para Argos.[3] Polinices, por sugestão de Iphis, filho de Alector, usou o colar para subornar Erífila, esposa de Anfiarau, e conseguir que ela convencesse o marido a participar da expedição contra Tebas (os Sete contra Tebas). Anfiarau, forçado a ir para a guerra, comandou seus filhos a matarem a própria mãe e marcharem contra Tebas.[4] Segundo Pausânias, a partir de então o colar passou a se chamar colar de Erífila.[2]

Colar em Psophis[editar | editar código-fonte]

Depois da segunda expedição contra Tebas (os Epígonos), Alcmeão, filho de Anfiarau, descobriu que sua mãe havia sido subornada, de novo, para que ele fosse à guerra, e matou Erífila.[5] Após ser purificado por Fegeu, rei de Psophis, Alcmeão casou-se com Arsínoe, filha de Fegeu, e deu a ela, de presente, o colar e a roupa de Harmonia.[5][6][Nota 1]

A terra, porém, ficou estéril por causa de Alcmeão e este, seguindo o oráculo, acabou parando nas terras banhadas pelo rio Aqueloo,[5][6] recebeu Calírroe, filha do deus-rio, como esposa,[5][7][Nota 2] e colonizou uma região nos meandros do rio.[5]

Alcmeão e Calírroe tiveram dois filhos, Anfótero e Acarnan, de quem deriva o nome da Acarnânia.[7] Porém, Calírroe desejou ter o colar e a roupa,[5][8][Nota 3] e disse que não viveria com Alcmeão se não os tivesse; Alcmeão voltou a Psophis e mentiu para Fegeu, dizendo que ele só ficaria livre da sua loucura [Nota 4] se levasse o colar a roupa a Delfos. Fegeu acreditou, mas um servo deixou escapar que Alcmeão estava levando o colar e a roupa para Calírroe.[5] Fegeu comandou seus filhos, e estes mataram Alcmeão, em seguida levaram Arsínoe, em um baú, para Tégea, para ser escrava de Agapenor, acusando-a de ter assassinado Alcmeão.[5] A versão da história, contada por Pausânias, diverge neste ponto: após assassinarem Alcmeão à traição, Têmeno e Axion, os filhos de Fegeu, dedicaram o colar ao deus de Delfos, e passaram a reinar na cidade chamada Phegia; eles não participaram da Guerra de Troia porque os líderes dos argivos eram seus inimigos, pelo parentesco com Alcmeão.[8]

Calírroe, por causa do fim de Alcmeão e sendo cortejada por Zeus, pediu ao deus que tornasse seus filhos adultos para que eles pudessem vingar a morte do pai. Anfótero e Acarnan, agora adultos, chegaram na casa de Agapenor no mesmo momento em que Pronous e Agenor, filhos de Fegeu, chegaram, em sua viagem para levar o colar e a roupa até Delfos. Os filhos de Alcmeão mataram os filhos de Fegeu, foram até Psophis, e mataram Fegeu e sua esposa, fugindo depois para Tégea, onde escaparam com ajuda dos habitantes da cidade e de alguns argivos.[9]

Colar em Delfos[editar | editar código-fonte]

Seguindo a orientação de Aqueloo, Anfótero e Acarnan foram até Delfos, e lá dedicaram o colar e a roupa. Em seguida, eles foram até o Epiro, reuniram colonos, e colonizaram a Acarnânia.[10]

Colar em Amathus no Chipre[editar | editar código-fonte]

O colar foi pilhado de Delfos pelos tiranos da Fócida;[Nota 5] na época de Pausânias, dizia-se que ele estava em um velho santuário de Adônis e Afrodite em Amathus, cidade do Chipre.[2] Pausânias, porém, não acredita que seja o mesmo colar, porque o colar em Amathus era feito de gemas verdes presas no ouro, enquanto o colar dado a Erífila seria, segundo Homero, inteiramente de ouro.[11]

Notas e referências

Notas

  1. Pausânias chama a filha de Fegeu de Alphesiboea, e não menciona, como presente de casamento, a roupa de Harmonia.
  2. Pausânias atribui a versão de que Calírroe era filha do rio Aqueloo aos acarnânios.
  3. Novamente, Pausânias menciona apenas o colar, sem mencionar a roupa.
  4. Alcmeão foi perturbado pelas Fúrias por ter matado a própria mãe.
  5. Nos eventos conhecidos como Terceira Guerra Sacra, que começou quando Filomelo, general da Fócida, pilhou o santuário de Delfos.

Referências

  1. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.4.2 [em linha]
  2. a b c Pausânias, Descrição da Grécia, 9.41.2 [em linha]
  3. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.6.1
  4. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.6.2
  5. a b c d e f g h Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.7.5
  6. a b Pausânias, Descrição da Grécia, 8.24.8 [em linha]
  7. a b Pausânias, Descrição da Grécia, 8.24.9
  8. a b Pausânias, Descrição da Grécia, 8.24.10
  9. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.7.6
  10. Pseudo-Apolodoro, Biblioteca Histórica, 3.7.7
  11. Pausânias, Descrição da Grécia, 9.41.3