Creamware

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Bule de Chá em creamware (1859)

Creamware é uma cerâmica refinada, de coloração creme com esmalte de chumbo vítreo brilhante. Original da Inglaterra, foi criado em 1762 por Josiah Wedgewood. As louças do tipo creamware eram muito usadas até a metade do século XVIII. Foram apelidadas de Queen's ware por um tempo. Mas com a criação, em 1779, de um novo tipo de louça de uma cerâmica refinada perolada, chamadas de pearlware, reduziu consideravelmente o uso de louças do tipo creamware. As louças creamware ainda são produzidas por fábricas europeias.[1][2]

Variações de creamware, conhecidas como "louça tortoiseshell" ou "louça de Whieldon", foram desenvolvidas pelo mestre oleiro Thomas Whieldon e tinham manchas coloridas sob o esmalte.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Origem[editar | editar código-fonte]

Josiah Wedgwood, ceramista inglês, na procura de imitar as cerâmicas chinesas. substituiu o sal marinho por chumbo nas fórmulas das faianças, o que acarretou a cor amarelada.[1] As primeiras peças fabricadas eram de uma coloração creme profunda. Após 1780, as peças creamware tiveram uma drástica diferença na coloração, passando para um creme pálido, mas nas fendas, a coloração eram mais amareladas ou esverdeadas.[2]

As cerâmicas creamware eram menos porosas e se mostraram muito boas para louças de mesa, não conseguiram se assemelhar as cerâmicas chinesas, mas seu baixo custo ajudou a ser muito popular internacionalmente.[4]

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Creamware foi produzido pela primeira um pouco antes de 1740. Nesse período o pó de chumbo ou galena era misturado com uma certa quantidade de pedra calcinada moída, espalhado na louça, que então recebia sua primeira e única queima. Esse método inicial era insatisfatório porque o pó de chumbo produzia envenenamento entre os oleiros e a trituração de pedras de sílex causava uma doença conhecida como podridão do oleiro.[5]

Por volta de 1740, um esmalte fluido no qual os ingredientes eram misturados e moídos em água foi inventado, possivelmente por Enoch Booth de Tunstall, Staffordshire. Essa informação é envolta em polêmicas.[5][6][7]

O principal pioneiro da creamware nas Olarias de Staffordshire foi Thomas Whieldon. Embora ele tenha sido vastamente associado à tortoiseshell ele também produzia uma grande variedade de creamware. Ele mencionou pela primeira vez 'Cream Color' em 1749.[5]

Prato decorado com o método tortoiseshell. Talvez da fábrica de Thomas Whieldon, mas não atribuível.

O jovem Josiah Wedgwood foi sócio de Thomas Whieldon de 1754 a 1759 e depois que Wedgwood partiu para se estabelecer de forma independente em Ivy House, ele direcionou seus esforços para o desenvolvimento de creamware.[8]

Wedgwood melhorou a creamware ao adicionar caulino no corpo e no esmalte da peça e, assim, foi capaz de produzir uma creamware de uma cor muito mais pálida e clara, além de uma peça mais forte e trabalhada de forma mais delicada, aperfeiçoando a técnica por volta de 1770. Sua creamware de qualidade superior, conhecida como "louça da rainha", foi fornecida à rainha Carlota e à Catarina, a Grande, e mais tarde tornou-se extremamente popular.[9]

Difusão[editar | editar código-fonte]

A creamware era conhecida na França como faïence fine,[10] na Holanda como Engels porselein e na Itália como terraglia inglese[11] ou creta all'uso inglese ("cerâmica à maneira inglesa"). Elas foram produzidos em muitas fábricas, inclusive na fábrica de porcelana de Capodimonte, em Nápoles.[12]

Declínio[editar | editar código-fonte]

O apogeu da creamware começou por volta de 1770 até o surgimento das pearlwares pintadas, das white wares e das stone chinas no período entre 1810 e 1825. Embora a creamware continuasse a ser produzida após as duas primeiras décadas do século XIX, ela não tinha mais destaque no mercado como antigamente.[13]

Produção[editar | editar código-fonte]

Prato de louça creamware

Fabricantes[editar | editar código-fonte]

Havia aproximadamente 130 olarias ao norte de Staffordshire durante a década de 1750, [14] aumentando para cerca de 150 em 1763.[15]

A atribuição da confecção das peças a empresas específicas sempre foi difícil porque praticamente nenhuma louça creamware tinha os dados do fabricante antes de Josiah Wedgwood começar a produzir esse tipo de louça em Burslem. Na época, os fabricantes frequentemente forneciam mercadorias uns aos outros para complementar os estoques e as ideias eram frequentemente partilhadas ou copiadas.[16]

Colecionadores, negociantes e curadores, mesmo realizando um grande esforço para conseguir atribuir peças a fábricas específicas, não conseguiram precisar a origem delas.[17] [18] Escavações arqueológicas de sítios de cerâmica em Staffordshire e em outros lugares ajudaram a fornecer uma tipologia que permitiu algum progresso na atribuição de origem das peças.[19] [20]

Bule de café, atribuído a William Greatbatch, creamware com esmalte verde

Materiais[editar | editar código-fonte]

A creamware é feita de argila branca de Dorset e de Devonshire combinadas com uma quantidade de sílex calcinada. Esta combinação de elementos é o mesmo usado para grés esmaltado com sal, mas é queimado a uma temperatura mais baixa (cerca de 800 ° C em oposição a 1.100 a 1.200 ° C) e vitrificado com chumbo para formar uma faiança de cor creme[21] As argilas brancas garantiam um corpo fino ao objeto e a adição de sílex melhorava sua resistência ao choque térmico durante a queima, enquanto o sílex adicionado ao esmalte ajudava a evitar fissuras.[22]

Formas[editar | editar código-fonte]

Durante a parceria entre Thomas Whieldon e Josiah Wedgwood, que durou de 1754 a 1759, foi desenvolvida creamware moldada em uma grande variedade de formas, especialmente em colaboração com William Greatbatch, que produziu peças em cerâmica inspiradas em couve-flor, abacaxi, cesta de frutas entre outros elementos. Havia liberdade criativa considerável na composição das formas da louça e o uso de moldes para a sua fabricação permitia incorporar complexidade nas peças ao mesmo tempo que facilitava a produção em massa. Vários tipos de creamware usavam moldes produzidos originalmente para os produtos em grés esmaltado com sal. Combinada com técnicas decorativas cada vez mais sofisticadas, a creamware rapidamente se estabeleceu como a louça preferida para a mesa de jantar das classes média e alta.[23]

Decoração[editar | editar código-fonte]

Chumbo em pó[editar | editar código-fonte]

O processo inicial de usar chumbo em pó produziu um esmalte brilhante e transparente de uma rica cor creme. Pequenos motivos estampados semelhantes aos usados na época em louças de esmalte e redware às vezes eram aplicados às louças creamware para decoração. Cristais secos de óxidos metálicos, como cobre, ferro e manganês, eram então polvilhados sobre os utensílios para formar manchas de decoração coloridas durante o cozimento.[24]

Jarra, c. 1765, produzida pela Pont-aux-Choux, empresa perto de Paris, uma das primeiros e melhores fabricantes francesas de faïence fine, como era conhecida a creamware.

Método tortoiseshell[editar | editar código-fonte]

Incluir chumbo em pó no processo de fabricação da creamware levou ao desenvolvimento do método tortoiseshell e outros métodos que usavam esmalte fluidos coloridos. No método tortoiseshell em particular, manchas coloridas eram incluídas na louça com uma esponja ou pintadas na superfície do biscuit antes da aplicação do esmalte transparente e da queima da cerâmica.[25]

Impressão por transferência[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Impressão por transferência

A técnica de impressão por transferência na cerâmica foi desenvolvida na década de 1750.[26] A impressão por transferência era altamente especializada e geralmente terceirizada no início do século XVIII. Sadler & Green, de Liverpool, faziam esse serviço exclusivamente para Josiah Wedgwood em 1763, por exemplo.[27] [28] [29]

Esmaltagem[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Esmalte

Por volta de 1760, a louça creamware era frequentemente esmaltada para decoração, usando uma técnica antiga adotada na indústria da porcelana.[30] Primeiramente pintava-se sobre o vidrado da louça com pigmentos feitos de vidro colorido em pó fino e depois queimava-se novamente para fundir o esmalte na louça. As cores variadas do esmalte não se fundiam nas peças na mesma temperatura, então várias queimas geralmente eram necessárias, o que aumentava o custo de produção da creamware. [31]

Pearlware[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Pearlware

A pearlware é um tipo de cerâmica que teve um expressivo aumento de produção por volta de 1779. Pearlware é diferente de creamware por ter um esmalte tingido de azul produzido pelo uso de cobalto e o corpo da peça é também um pouco diferente a fim de produzir uma louça de aparência ligeiramente acinzentada. Pearlware foi desenvolvida para atender a demanda por substitutos para a porcelana chinesa entre a crescente classe média da época.[9] Por volta de 1808, uma versão mais branca de creamware (conhecida como White Ware) foi introduzida para atender às mudanças na demanda do mercado.[32]

Referências

  1. a b Souza, Rafael de Abreu e (Dezembro de 2012). «A epidemia do branco e a assepsia das louças na São Paulo da Belle Époque». História, Ciências, Saúde-Manguinhos (4): 1139–1153. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/S0104-59702012000400003. Consultado em 11 de abril de 2021 
  2. a b «Creamware | Department of Anthropology | Saint Mary's University». www.smu.ca. (Em inglês). Consultado em 11 de abril de 2021 
  3. Osborne, Harold (ed), The Oxford Companion to the Decorative Arts, 1975, OUP, ISBN 0198661134, p. 140
  4. Quadros, Renata Jardim. Os aparatos de mesa e o consumo do chá no cotidiano doméstico do Rio de Janeiro oitocentista (1800-1840). Anais do Encontro Internacional e XVIII Encontro de História da Anpuh-Rio: Histórias e Parcerias. ISBN 9788565957106
  5. a b c Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 20
  6. Simeon Shaw, History of the Staffordshire Potteries, Hanley, Printed for the author (1829), p 18
  7. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 82
  8. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 80
  9. a b Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 21
  10. Tamara Préaud, curator. 1997.The Sėvres Porcelain Manufactory: Alexandre Brongniart and the Triumph of Art and Industry (Bard Graduate Center, New York), Glossary, s.v. "Creamware: "In France it was known as faïence fine.
  11. Osborne, 140
  12. Hess, Catherine, with Marietta Cambereri on this entry, Italian Ceramics: Catalogue of the J. Paul Getty Museum Collections, 2003, p. 244, note 1Getty Publications, ISBN 0892366702, 9780892366705, google books
  13. Terrence A Lockett, "The Later Creamwares and Pearlwares," in Creamware and Pearlware. The Fifth Exhibition from the Northern Ceramic Society. Stoke-on-Trent City Museum & Art Gallery (1986). ISBN 0 905080 64 5 pp. 44-51
  14. L. Weatherill, The Pottery Trade and North Staffordshire 1660 – 1760. Manchester University Press (1971), p. 5
  15. Robin Reilly, Josiah Wedgwood, 1730-1795. London: Macmillan (1992) ISBN 0 333 51041 0 p. 46
  16. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 21
  17. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 22
  18. Terrence A Lockett, "Problems of Attribution," in Creamware and Pearlware. The Fifth Exhibition from the Northern Ceramic Society. Stoke-on-Trent City Museum & Art Gallery (1986). ISBN 0 905080 64 5 pp. 52-58
  19. A R Mountford, "Thomas Whieldon's Manufactory at Fenton Vivian," Transactions of the English Ceramic Circle, Vol. 8 pt. 2 (1972)
  20. David Barker and Pat Halfpenny, Unearthing Staffordshire, Stoke-on-Trent: City Museum & Art Gallery ISBN 0 905080 89 0 (1990)
  21. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 19
  22. Gordon Elliot, "The Technical Characteristics of Creamware and Pearl-Glazed Earthenware," in Creamware and Pearlware. The Fifth Exhibition from the Northern Ceramic Society. Stoke-on-Trent City Museum & Art Gallery (1986). ISBN 0 905080 64 5 pp. 9-13.
  23. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) pp. 91-93
  24. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 20
  25. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 20
  26. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 227
  27. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 86
  28. P Holdway, "Techniques of Transfer-printing on Cream Coloured Earthenware," in Creamware and Pearlware. The Fifth Exhibition from the Northern Ceramic Society. Stoke-on-Trent City Museum & Art Gallery (1986). ISBN 0 905080 64 5 pp. 20-23
  29. N Stretton, "On-glaze Transfer-printing on Creamware: The first fifty Years," Creamware and Pearlware. The Fifth Exhibition from the Northern Ceramic Society. Stoke-on-Trent City Museum & Art Gallery (1986). ISBN 0 905080 64 5, pp. 24-29.
  30. Donald Towner, Creamware, London: Faber & Faber (1978) ISBN 0 571 04964 8, p. 20
  31. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 224
  32. Robin Hildyard, English Pottery 1620 – 1840, London: Victoria & Albert Museum (2005) p. 88

Link externo[editar | editar código-fonte]