Escravidão indígena no Brasil: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Indian Soldiers from the Coritiba Province Escorting Native Prisoners.jpg|350px|thumb|right|"Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos", tela de [[Jean-Baptiste Debret]]]]A '''escravidão indígena no Brasil''' existiu principalmente no começo da [[Brasil Colônia|colonização portuguesa]], minguando posteriormente pela preferência pelo [[Escravidão no Brasil|escravo]] negro, e por pressão dos lucros do [[tráfico negreiro]]. Ela existiu, apesar dos esforços dos [[Companhia de Jesus|jesuítas]] contra sua prática. A principal fonte de mão de obra indígena escrava eram as [[entradas e bandeiras]] de apresamento, facilitadas pelas desavenças e guerras intertribais dos [[Povos indígenas do Brasil|indígenas]]. Os locais onde se aprisionavam os indígenas eram chamados de "casas de preamento".
[[Imagem:Indian Soldiers from the Coritiba Province Escorting Native Prisoners.jpg|350px|thumb|right|"Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos", tela de [[Jean-Baptiste Debret]]]]
A '''escravidão indígena no Brasil''' existiu principalmente no começo da [[Brasil Colônia|colonização portuguesa]], minguando posteriormente pela preferência pelo [[Escravidão no Brasil|escravo]] negro, e por pressão dos lucros do [[tráfico negreiro]]. Ela existiu, apesar dos esforços dos [[Companhia de Jesus|jesuítas]] contra sua prática. A principal fonte de mão de obra indígena escrava eram as [[entradas e bandeiras]] de apresamento, facilitadas pelas desavenças e guerras intertribais dos [[Povos indígenas do Brasil|indígenas brasileiros]]. Os locais onde se aprisionavam os indígenas eram chamados de "casas de preamento".


===Escravidão entre os índios===
=== Escravidão entre os índios ===

Entre as tribos indígenas que não eram canibais mas praticavam a escravatura, os papanases não tinham costume de matar os que os ofendiam, mas faziam deles escravos. Os guaianás não comiam carne humana e faziam os prisioneiros escravos. Os [[tapuias]] também faziam os cativos escravos.<ref>Gabriel Soares de Sousa, Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), Leonardo Dantas Silva. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Fundação Joaquim Nabuco, 2000</ref> Relata [[Gabriel Soares de Sousa]] no [[Notícia do Brasil|Tratado descritivo do Brasil em 1587]]:
Entre as tribos indígenas que não eram [[canibais]] mas praticavam a escravatura, os [[papanases]] não tinham costume de matar os que os ofendiam, mas faziam deles escravos. Os [[guaianás]] não comiam carne humana e faziam os prisioneiros escravos. Os [[tapuias]] também faziam os cativos escravos.<ref>Gabriel Soares de Sousa, Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), Leonardo Dantas Silva. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Fundação Joaquim Nabuco, 2000</ref> Relata [[Gabriel Soares de Sousa]] no [[Notícia do Brasil|Tratado descritivo do Brasil em 1587]]:
::[...] não são os guaianases maliciosos, nem refalsados, antes simples e bem-acondicionados, e facílimos de crer em qualquer coisa. É gente de pouco trabalho, muito molar, não usam entre si lavoura, vivem de caça que matam e peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes flecheiros e inimigos de carne humana. Não matam aos que cativam, mas aceitam-nos por seus escravos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia[...].<ref>[http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf SOUSA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587]</ref>
:::[...] não são os [[guaianases]] maliciosos, nem refalsados, antes simples e bem-acondicionados, e facílimos de crer em qualquer coisa. É gente de pouco trabalho, muito molar, não usam entre si lavoura, vivem de [[caça]] que matam e peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes flecheiros e inimigos de carne humana. Não matam aos que cativam, mas aceitam-nos por seus escravos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia[...].<ref>[http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf SOUSA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587]</ref>


Os [[cadiueus]] viviam do tributo e do saque que faziam às tribos suas vizinhas. A sua sociedade era estratificada e a sua base era constituída por escravos, prisioneiros dos conflitos com as tribos vizinhas. Os [[terenas]], apesar de pagarem tributos aos cadiueus e serem seus subordinados, também tinham a sua sociedade estratificada e a sua base também era constituída por escravos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=6MZRNldDlnoC&pg=PA112&dq=indios+expedi%C3%A7%C3%A3o+escravos&hl=en&ei=uQs0TrOgDoWo8AOG3uGhDg&sa=X&oi=book_result&ct=result&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|titulo=Indios do Brasil|ultimo=Melatti|primeiro=Julio Cezar|data=2007-01-01|editora=EdUSP|ano=|local=|páginas=|lingua=pt|isbn=9788531410130|acessodata=|paginas=112}}</ref>
Os [[cadiueus]] viviam do tributo e do saque que faziam às tribos suas vizinhas. A sua sociedade era [[Estratificação social|estratificada]] e a sua base era constituída por escravos, prisioneiros dos conflitos com as tribos vizinhas. Os [[terenas]], apesar de pagarem tributos aos cadiueus e serem seus subordinados, também tinham a sua sociedade estratificada e a sua base também era constituída por escravos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=6MZRNldDlnoC&pg=PA112&dq=indios+expedi%C3%A7%C3%A3o+escravos&hl=en&ei=uQs0TrOgDoWo8AOG3uGhDg&sa=X&oi=book_result&ct=result&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false|titulo=Indios do Brasil|ultimo=Melatti|primeiro=Julio Cezar|data=2007-01-01|editora=EdUSP|ano=|local=|páginas=|lingua=pt|isbn=9788531410130|acessodata=|paginas=112}}</ref>
===Os índios como escravos dos colonizadores portugueses===
As constantes guerras intertribais entre os índios foram usadas pelos colonos portugueses no estabelecimento de alianças que favoreciam tanto os interesses dos colonos como os dos próprios índios. Os portugueses, com estas alianças, obtinham mão de obra através da tradição [[Tupis|tupi]] do [[cunhadismo]], adquirindo "índios de corda" e um exército aliado poderoso.<ref>[http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0034-83091994000100014&script=sci_arttext&tlng=pt De como se obter mão-de-obra indígena na Bahia entre os séculos XVI e XVIII.Revista de História]</ref><ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/ST07Elisa.pdf A construção de alianças entre os portugueses e os índios missioneiros durante as tentativas de demarcação do Tratado de Madri]</ref> [[Ulrich Schmidl]] relatou que [[João Ramalho]] "pode reunir 5 000 índios em um só dia". Os índios também viam, nos colonos, aliados poderosos que os ajudavam contra os seus inimigos. Segundo Russell-Wood, os portugueses construíram o seu império "com e não isoladamente contra os povos com os quais entraram em contato".<ref>[http://www.scielo.br/pdf/vh/v24n40/17.pdf Quando os índios escolhem os seus aliados: as relações de "amizade' entre os minuanos e os lusitanos no sul da América portuguesa (c.1750-1800]</ref>


=== Os índios como escravos dos colonizadores portugueses ===
"A guerra constante entre as tribos e a inimizade entre os principais grupos foram aproveitadas pelos europeus. Assim, os portugueses ficaram amigos dos [[tupiniquins]], que eram os grandes inimigos dos [[tamoios]] e dos [[tupinambás]], os quais se tornaram aliados dos franceses, que tentavam invadir o domínio dos portugueses. No sul do país, aconteceu a mesma coisa: os grupos tupis se associaram aos portugueses, e os [[guaranis]] aos espanhóis. Na época do descobrimento e colonização portugueses, a população indígena era calculada em 4,5 milhões no território brasileiro."<ref>[http://www.achetudoeregiao.com.br/sp/Itanhaem/Historia.htm História de Itanhaém SP]</ref>


As constantes guerras intertribais entre os índios foram usadas pelos colonos portugueses no estabelecimento de alianças que favoreciam tanto os interesses dos colonos como os dos próprios índios. Os portugueses, com estas alianças, obtinham mão de obra através da tradição [[Tupis|tupi]] do [[cunhadismo]], adquirindo "índios de corda" e um exército aliado poderoso.<ref>[http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0034-83091994000100014&script=sci_arttext&tlng=pt De como se obter mão-de-obra indígena na Bahia entre os séculos XVI e XVIII.Revista de História]</ref><ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Textos/ST07Elisa.pdf A construção de alianças entre os portugueses e os índios missioneiros durante as tentativas de demarcação do Tratado de Madri]</ref> [[Ulrich Schmidl]] relatou que [[João Ramalho]] "pode reunir 5 000 índios em um só dia". Os índios também viam, nos colonos, aliados poderosos que os ajudavam contra os seus inimigos. Segundo Russell-Wood, os portugueses construíram o [[Império Português|seu império]] "com e não isoladamente contra os povos com os quais entraram em contato".<ref>[http://www.scielo.br/pdf/vh/v24n40/17.pdf Quando os índios escolhem os seus aliados: as relações de "amizade' entre os minuanos e os lusitanos no sul da América portuguesa (c.1750-1800]</ref>
Os portugueses dividiam os índios em dois grupos: os "índios mansos" e os "índios bravos". Os índios "bravos" eram inimigos e faziam alianças com europeus inimigos: eram considerados estrangeiros, justificando as chamadas "guerras justas". Os índios "mansos" eram os aliados dos portugueses, eram fundamentais para o fortalecimento dos portugueses, eram vassalos do Rei de Portugal e defensores das fronteiras do Brasil português.<ref>[http://www.sbpcnet.org.br/livro/61ra/mesas_redondas/MR_JosePimenta.pdf "Povos indígenas, fronteiras amazônicas e soberania nacional. Algumas reflexões a partir dos Ashaninka do Acre"]</ref>

"A guerra constante entre as tribos e a inimizade entre os principais grupos foram aproveitadas pelos europeus. Assim, os portugueses ficaram amigos dos [[tupiniquins]], que eram os grandes inimigos dos [[tamoios]] e dos [[tupinambás]], os quais se tornaram aliados dos franceses, que tentavam [[França Equinocial|invadir o domínio dos portugueses]]. No sul do país, aconteceu a mesma coisa: os grupos tupis se associaram aos portugueses, e os [[guaranis]] aos espanhóis. Na [[História pré-cabralina do Brasil|época do descobrimento]] e colonização portugueses, a população indígena era calculada em 4,5 milhões no território brasileiro."<ref>[http://www.achetudoeregiao.com.br/sp/Itanhaem/Historia.htm História de Itanhaém SP]</ref>

Os portugueses dividiam os índios em dois grupos: os "índios mansos" e os "índios bravos". Os índios "bravos" eram inimigos e faziam alianças com europeus inimigos: eram considerados estrangeiros, justificando as chamadas "guerras justas". Os índios "mansos" eram os aliados dos portugueses, eram fundamentais para o fortalecimento dos portugueses, eram [[vassalo]]s do Rei de Portugal e defensores das fronteiras do Brasil português.<ref>[http://www.sbpcnet.org.br/livro/61ra/mesas_redondas/MR_JosePimenta.pdf "Povos indígenas, fronteiras amazônicas e soberania nacional. Algumas reflexões a partir dos Ashaninka do Acre"]</ref>
Os índios aldeados "[...]não apenas participaram dos combates, como forneceram as armas e a tática de guerra".<ref>[http://xa.yimg.com/kq/groups/24050672/157579220/name/OS+%C3%8DNDIOS+E+O+ATL%C3%82NTICOTRABALHOS+APROVADOS+ST+ANPUH+2011.docx XXVI SIMPÓSIO NACIONAL HISTÓRIA São Paulo, USP, 17 a 22 de julho de 2011]</ref> A metáfora dos "muros" e "baluarte" usada pelos portugueses para designar os índios aliados, significando proteção, foi repetida ao longo de toda época colonial.<ref>[http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/770/77003001/77003001.html Tapanhuns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas]</ref>
Os índios aldeados "[...]não apenas participaram dos combates, como forneceram as armas e a tática de guerra".<ref>[http://xa.yimg.com/kq/groups/24050672/157579220/name/OS+%C3%8DNDIOS+E+O+ATL%C3%82NTICOTRABALHOS+APROVADOS+ST+ANPUH+2011.docx XXVI SIMPÓSIO NACIONAL HISTÓRIA São Paulo, USP, 17 a 22 de julho de 2011]</ref> A metáfora dos "muros" e "baluarte" usada pelos portugueses para designar os índios aliados, significando proteção, foi repetida ao longo de toda época colonial.<ref>[http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/770/77003001/77003001.html Tapanhuns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas]</ref>


:::"Na verdade, como informa a própria legislação indigenista colonial, o sustento e a defesa da colônia viriam a depender dos índios aldeados e aliados, pois constituíam o grosso das tropas de guerra."<ref name="historia.uff.br">[http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2009_Rafael_Ale_Rocha-S.pdf Os oficiais índios na Amazônia Pombalina]</ref>
:::"Na verdade, como informa a própria legislação indigenista colonial, o sustento e a defesa da colônia viriam a depender dos índios aldeados e aliados, pois constituíam o grosso das tropas de guerra."<ref name="historia.uff.br">[http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2009_Rafael_Ale_Rocha-S.pdf Os oficiais índios na Amazônia Pombalina]</ref>
A Coroa portuguesa concedia vários benefícios e honrarias às lideranças indígenas suas aliadas, como a concessão de hábitos das [[Ordem militar|ordens militares]]. Com o hábito da ordem militar, o índio adquiria o título de "dom" e, frequentemente, uma [[tença]], um rendimento dado pelo rei, e, na hierarquia colonial, passava a ser um nobre vassalo do rei de Portugal.<ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoRicardoPM.pdf Concessão de Títulos Nobiliárquicos às Lideranças Indígenas na Luta contra Invasores Estrangeiros e Formação de uma Elite Militar nas Capitanias do Norte da América Portuguesa (sécs.XVII e XVIII)]</ref> A política indigenista levou à formação de uma elite colonial indígena com o intuito de fortalecer as alianças e lealdade dos índios e a considerar os índios aliados à semelhança dos colonos europeus.<ref name="historia.uff.br"/>
Os índios que se destacavam pela lealdade passavam a ocupar cargos oficiais, como o de juiz ou vereador, nas câmaras de algumas vilas e cidades do Brasil Colônia. Recebiam honras e privilégios que os destinguiam dos outros colonos e faziam parte da "nobreza da terra".<ref>[http://www.google.com/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBkQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.iict.pt%2Fpequenanobreza%2Farquivo%2FDoc%2Fres036-pt.pdf&rct=j&q=Quando%20as%20chefias%20ind%C3%ADgenas%20se%20fortalecem%20enquanto%20pequena%20nobreza%20nos%20sert%C3%B5es%20das%20Capitanias%20do%20Norte%20na%20segunda%20metade%20do%20s%C3%A9culo%20XVIII&ei=_f-ZTs3FAsWX8QPChZG4BQ&usg=AFQjCNF5NaF6bFkMiBUDOjIcV52a6fNyqA&cad=rja Quando as chefias indígenas se fortalecem enquanto pequena nobreza nos sertões das Capitanias do Norte na segunda metade do século XVIII]</ref>


A Coroa portuguesa concedia vários benefícios e honrarias às lideranças indígenas suas aliadas, como a concessão de hábitos das [[Ordem militar|ordens militares]]. Com o hábito da ordem militar, o índio adquiria o título de "[[dom (título)|dom]]" e, frequentemente, uma [[tença]], um rendimento dado pelo rei, e, na hierarquia colonial, passava a ser um nobre vassalo do rei de Portugal.<ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoRicardoPM.pdf Concessão de Títulos Nobiliárquicos às Lideranças Indígenas na Luta contra Invasores Estrangeiros e Formação de uma Elite Militar nas Capitanias do Norte da América Portuguesa (sécs.XVII e XVIII)]</ref> A política indigenista levou à formação de uma elite colonial indígena com o intuito de fortalecer as alianças e lealdade dos índios e a considerar os índios aliados à semelhança dos colonos europeus.<ref name="historia.uff.br"/>
:::"Advertiu e persuadiu Sua Exa. a todos os moradores, que obedecem igualmente aos Juizes e veriadores Indios como aos Europeus, porque
Os índios que se destacavam pela lealdade passavam a ocupar cargos oficiais, como o de [[juiz]] ou [[vereador]], nas câmaras de algumas vilas e cidades do Brasil Colônia. Recebiam honras e privilégios que os destinguiam dos outros colonos e faziam parte da "nobreza da terra".<ref>[http://www.google.com/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBkQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.iict.pt%2Fpequenanobreza%2Farquivo%2FDoc%2Fres036-pt.pdf&rct=j&q=Quando%20as%20chefias%20ind%C3%ADgenas%20se%20fortalecem%20enquanto%20pequena%20nobreza%20nos%20sert%C3%B5es%20das%20Capitanias%20do%20Norte%20na%20segunda%20metade%20do%20s%C3%A9culo%20XVIII&ei=_f-ZTs3FAsWX8QPChZG4BQ&usg=AFQjCNF5NaF6bFkMiBUDOjIcV52a6fNyqA&cad=rja Quando as chefias indígenas se fortalecem enquanto pequena nobreza nos sertões das Capitanias do Norte na segunda metade do século XVIII]</ref>
:::tinham Jurisdição e Superioridade sobre todos os ditos moradores para lhes admenistrarem Justifsa e o prenderem quando delinqüirem."<ref>[https://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Rafael.pdf OS ÍNDIOS NAS CÂMARAS DAS VILAS DO ESTADO DO GRÃO-PARÁ E MARANHÃO: UMA POLÍTICA DO ESTADO PORTUGÊS]</ref>

:::"Advertiu e persuadiu Sua Exa. a todos os moradores, que obedecem igualmente aos Juizes e vereadores Indios como aos Europeus, porque tinham Jurisdição e Superioridade sobre todos os ditos moradores para lhes admenistrarem Justifsa e o prenderem quando delinqüirem."<ref>[https://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Rafael.pdf OS ÍNDIOS NAS CÂMARAS DAS VILAS DO ESTADO DO GRÃO-PARÁ E MARANHÃO: UMA POLÍTICA DO ESTADO PORTUGÊS]</ref>

O cargo de governador dos índios, primeiramente atribuído a [[Filipe Camarão]], um grande guerreiro e hábil estratega da tribo dos [[Potiguaras|potiguares]], tinha também, como função, organizar os aldeamentos indígenas e o recrutamento dos [[Terço (militar)|terços]] dos índios, onde tinha servido como [[capitão-mor]].<ref>[http://www.klepsidra.net/klepsidra22/felipecamarao.htm O Terço de Antônio Filipe Camarão: sua cooptação e evolução militar durante a invasão holandesa ]</ref><ref>[http://tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_5a.htm O Governador dos Índios. Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho]</ref><ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoJeanPaulGM.pdf O Governador dos Índios. RESSIGNIFICANDO A SAGA DO GOVERNADOR DOS ÍNDIOS ANTÔNIO DOMINGOS CAMARÃO – 1721-17321]</ref><ref>[http://www.ufpe.br/revistaanthropologicas/internas/volume16(2)/Artigo%205%20(Juliana%20Lopes).pdf A visibilidade do primeiro Camarão no processo de militarização indígena na capitania de Pernambuco no século XVII]</ref>


O cargo de governador dos índios, primeiramente atribuído a [[Filipe Camarão]], um grande guerreiro e hábil estratega da tribo dos [[Potiguaras|potiguares]], tinha também, como função, organizar os aldeamentos indígenas e o recrutamento dos [[Terço (militar)|terços]] dos índios, onde tinha servido como capitão-mor.<ref>[http://www.klepsidra.net/klepsidra22/felipecamarao.htm O Terço de Antônio Filipe Camarão: sua cooptação e evolução militar durante a invasão holandesa ]</ref><ref>[http://tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_5a.htm O Governador dos Índios. Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho]</ref><ref>[http://www.ifch.unicamp.br/ihb/SNH2011/TextoJeanPaulGM.pdf O Governador dos Índios. RESSIGNIFICANDO A SAGA DO GOVERNADOR DOS ÍNDIOS ANTÔNIO DOMINGOS CAMARÃO – 1721-17321]</ref><ref>[http://www.ufpe.br/revistaanthropologicas/internas/volume16(2)/Artigo%205%20(Juliana%20Lopes).pdf A visibilidade do primeiro Camarão no processo de militarização indígena na capitania de Pernambuco no século XVII]</ref>
:::"Essa situação é reveladora de uma "política indigenista" que era aplicada aos índios aldeados e aliados e outra aos considerados inimigos. Ambos foram importantes no projeto de colonização, fossem como mão de obra cativa ou como povoadora do território."<ref>[http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/378/287 A guerra justa contra os Payaguá (1ª metade do século XVIII)]</ref>
:::"Essa situação é reveladora de uma "política indigenista" que era aplicada aos índios aldeados e aliados e outra aos considerados inimigos. Ambos foram importantes no projeto de colonização, fossem como mão de obra cativa ou como povoadora do território."<ref>[http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/378/287 A guerra justa contra os Payaguá (1ª metade do século XVIII)]</ref>


Os índios não só guardavam as fronteiras como também controlavam os [[Escravidão africana|escravos africanos]], propensos a se insurgir ou fugir e se juntarem aos europeus inimigos dos portugueses. Por serem exímios em seguirem pistas, os índios eram também contratados pelos proprietários de engenhos para capturar e resgatar escravos fugidos dos engenhos e fazendas. Nesse processo também, auxiliavam os [[capitão do mato|capitães do mato]] (negros ou mulatos livres) na captura de escravos fugidos.<ref>[http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/770/77003001/77003001.html Apanhunns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas]</ref><ref>[http://www.escravidao.xpg.com.br/I%20Simp%F3sio/marciaamantino.pdf A convivência entre Índios e negros nas danças folclóricas brasileiras: uma análise histórico-antropológica]</ref>
Os índios não só guardavam as fronteiras como também controlavam os [[Escravidão africana|escravos africanos]], propensos a se insurgir ou fugir e se juntarem aos europeus inimigos dos portugueses. Por serem exímios em seguirem pistas, os índios eram também contratados pelos proprietários de [[engenho]]s para capturar e resgatar escravos fugidos dos engenhos e fazendas. Nesse processo também, auxiliavam os [[capitão do mato|capitães do mato]] ([[negro]]s ou [[mulato]]s livres) na captura de escravos fugidos.<ref>[http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/html/770/77003001/77003001.html Apanhunns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas]</ref><ref>[http://www.escravidao.xpg.com.br/I%20Simp%F3sio/marciaamantino.pdf A convivência entre Índios e negros nas danças folclóricas brasileiras: uma análise histórico-antropológica]</ref>
<ref>[http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap05.pdf Uma história do negro no Brasil, 2006 - Capítulo V. FUGAS, QUILOMBOS E REVOLTAS ESCRAVAS]</ref>
<ref>[http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap05.pdf Uma história do negro no Brasil, 2006 - Capítulo V. FUGAS, QUILOMBOS E REVOLTAS ESCRAVAS]</ref>


Além disso, a partir de um certo momento, a própria [[Igreja Católica]] passou, através principalmente dos jesuítas, a fazer um trabalho de [[catequização]] junto aos índios, dificultando, aos portugueses e seus filhos meio índios e tribos aliadas, a escravização dos índios aliados dos franceses. Esta posição foi defendida pelos [[Companhia de Jesus no Brasil|jesuítas no Brasil]], que, por seu lado, também tinham escravos, o que gerou conflitos com a população local interessada na escravatura, culminando em conflito, na chamada "[[A botada dos padres fora]]" em 1640.<ref>[http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=237&pagina=2 revista de historia, Biblioteca Nacional]</ref>
Além disso, a partir de um certo momento, a própria [[Igreja Católica]] passou, através principalmente dos jesuítas, a fazer um trabalho de [[catequização]] junto aos índios, dificultando, aos portugueses e seus filhos meio índios e tribos aliadas, a escravização dos índios aliados dos franceses. Esta posição foi defendida pelos [[Companhia de Jesus no Brasil|jesuítas no Brasil]], que, por seu lado, também tinham escravos, o que gerou conflitos com a população local interessada na escravatura, culminando em conflito, na chamada "[[A botada dos padres fora]]" em 1640.<ref>[http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=237&pagina=2 revista de historia, Biblioteca Nacional]</ref>


"Nos séculos XVII e XVIII, a faixa esquerda do rio Amazonas transformou-se num espaço de captura de indígenas para serem vendidos dentro e fora das [[Guianas]] por traficantes que partiam de [[Caiena]]."<ref>[http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-83092003000200004&lng=pt&nrm=iso Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas, fugitivos e fronteiras no Grão-Pará e Guiana Francesa (Séculos XVII e XVIII)]</ref>
"Nos séculos XVII e XVIII, a faixa esquerda do [[rio Amazonas]] transformou-se num espaço de captura de indígenas para serem vendidos dentro e fora das [[Guianas]] por traficantes que partiam de [[Caiena]]."<ref>[http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-83092003000200004&lng=pt&nrm=iso Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas, fugitivos e fronteiras no Grão-Pará e Guiana Francesa (Séculos XVII e XVIII)]</ref>


===Escravidão indígena voluntária===
=== Escravidão indígena voluntária ===

Em 30 de julho de 1566, foi criada a lei que regulamentou pela primeira vez a escravidão voluntária dos índios. Segundo essa lei, baixada por uma junta convocada por [[Mem de Sá]], "os índios só poderiam vender-se a si mesmos em caso de extrema necessidade, sendo que todos os casos deveriam ser obrigatoriamente submetidos à autoridade para exame".<ref>[http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218704648R7vGO3gi9Rk66BF2.pdf "A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento político moderno"]</ref>
Em 30 de julho de 1566, foi criada a lei que regulamentou pela primeira vez a escravidão voluntária dos índios. Segundo essa lei, baixada por uma junta convocada por [[Mem de Sá]], "os índios só poderiam vender-se a si mesmos em caso de extrema necessidade, sendo que todos os casos deveriam ser obrigatoriamente submetidos à autoridade para exame".<ref>{{citar web|URL=http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218704648R7vGO3gi9Rk66BF2.pdf|título=A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento político moderno|autor=Eisenberg, José|data=|publicado=Análise Social, 2004|acessodata=29 de novembro de 2018}}</ref>

== Ver também ==

* [[Abolicionismo no Brasil]]
* [[Escravidão branca]]
* [[Escravidão no Brasil]]
* [[Genocídio dos povos indígenas]]
* [[História da escravidão]]

== Bibliografia ==


==Bibliografia==
{{Commons|Category:Slavery of Indigenous Peoples in Brazil}}
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*MONTEIRO, John Manuel. "Os Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas origens de São Paulo, no séc.XVI". São Paulo: Companhia das Letras, 1999
* MONTEIRO, John Manuel. <span class="plainlinks">[https://books.google.com.br/books?id=TggsAAAAYAAJ&q=inauthor:%22John+Manuel+Monteiro%22&dq=inauthor:%22John+Manuel+Monteiro%22&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjk04Ow3PneAhVDHZAKHYHQDKYQ6AEIKDAA "Os Negros da Terra: Índios e Bandeirantes nas origens de São Paulo."]</span> São Paulo: [[Companhia das Letras]], 1994.{{clr}}


{{Referências}}
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== Ligações externas ==

* {{citar web|url=https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/a-historia-dos-indios-levados-a-europa-para-serem-escravizados-ou-mostrados-como-seres-exoticos-6g5rorotno7szk4u7bppz0h0m/|titulo=A história dos índios levados à Europa para serem escravizados ou mostrados como 'seres exóticos'|data=14 de agosto de 2015|acessodata=29 de novembro de 2018|publicado=[[Gazeta do Povo]]|ultimo=Antonelli|primeiro=Diego}}
* Oliveira, Nara. [https://www.youtube.com/watch?v=_gbtTeEmy40 "Escravidão indígena no Brasil Colonial".] [[YouTube]]. Publicado em 19 de julho de 2015. Consultado em 29 de novembro de 2018.


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Revisão das 14h08min de 29 de novembro de 2018

"Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos", tela de Jean-Baptiste Debret

A escravidão indígena no Brasil existiu principalmente no começo da colonização portuguesa, minguando posteriormente pela preferência pelo escravo negro, e por pressão dos lucros do tráfico negreiro. Ela existiu, apesar dos esforços dos jesuítas contra sua prática. A principal fonte de mão de obra indígena escrava eram as entradas e bandeiras de apresamento, facilitadas pelas desavenças e guerras intertribais dos indígenas brasileiros. Os locais onde se aprisionavam os indígenas eram chamados de "casas de preamento".

Escravidão entre os índios

Entre as tribos indígenas que não eram canibais mas praticavam a escravatura, os papanases não tinham costume de matar os que os ofendiam, mas faziam deles escravos. Os guaianás não comiam carne humana e faziam os prisioneiros escravos. Os tapuias também faziam os cativos escravos.[1] Relata Gabriel Soares de Sousa no Tratado descritivo do Brasil em 1587:

[...] não são os guaianases maliciosos, nem refalsados, antes simples e bem-acondicionados, e facílimos de crer em qualquer coisa. É gente de pouco trabalho, muito molar, não usam entre si lavoura, vivem de caça que matam e peixe que tomam nos rios, e das frutas silvestres que o mato dá; são grandes flecheiros e inimigos de carne humana. Não matam aos que cativam, mas aceitam-nos por seus escravos; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia[...].[2]

Os cadiueus viviam do tributo e do saque que faziam às tribos suas vizinhas. A sua sociedade era estratificada e a sua base era constituída por escravos, prisioneiros dos conflitos com as tribos vizinhas. Os terenas, apesar de pagarem tributos aos cadiueus e serem seus subordinados, também tinham a sua sociedade estratificada e a sua base também era constituída por escravos.[3]

Os índios como escravos dos colonizadores portugueses

As constantes guerras intertribais entre os índios foram usadas pelos colonos portugueses no estabelecimento de alianças que favoreciam tanto os interesses dos colonos como os dos próprios índios. Os portugueses, com estas alianças, obtinham mão de obra através da tradição tupi do cunhadismo, adquirindo "índios de corda" e um exército aliado poderoso.[4][5] Ulrich Schmidl relatou que João Ramalho "pode reunir 5 000 índios em um só dia". Os índios também viam, nos colonos, aliados poderosos que os ajudavam contra os seus inimigos. Segundo Russell-Wood, os portugueses construíram o seu império "com e não isoladamente contra os povos com os quais entraram em contato".[6]

"A guerra constante entre as tribos e a inimizade entre os principais grupos foram aproveitadas pelos europeus. Assim, os portugueses ficaram amigos dos tupiniquins, que eram os grandes inimigos dos tamoios e dos tupinambás, os quais se tornaram aliados dos franceses, que tentavam invadir o domínio dos portugueses. No sul do país, aconteceu a mesma coisa: os grupos tupis se associaram aos portugueses, e os guaranis aos espanhóis. Na época do descobrimento e colonização portugueses, a população indígena era calculada em 4,5 milhões no território brasileiro."[7]

Os portugueses dividiam os índios em dois grupos: os "índios mansos" e os "índios bravos". Os índios "bravos" eram inimigos e faziam alianças com europeus inimigos: eram considerados estrangeiros, justificando as chamadas "guerras justas". Os índios "mansos" eram os aliados dos portugueses, eram fundamentais para o fortalecimento dos portugueses, eram vassalos do Rei de Portugal e defensores das fronteiras do Brasil português.[8] Os índios aldeados "[...]não apenas participaram dos combates, como forneceram as armas e a tática de guerra".[9] A metáfora dos "muros" e "baluarte" usada pelos portugueses para designar os índios aliados, significando proteção, foi repetida ao longo de toda época colonial.[10]

"Na verdade, como informa a própria legislação indigenista colonial, o sustento e a defesa da colônia viriam a depender dos índios aldeados e aliados, pois constituíam o grosso das tropas de guerra."[11]

A Coroa portuguesa concedia vários benefícios e honrarias às lideranças indígenas suas aliadas, como a concessão de hábitos das ordens militares. Com o hábito da ordem militar, o índio adquiria o título de "dom" e, frequentemente, uma tença, um rendimento dado pelo rei, e, na hierarquia colonial, passava a ser um nobre vassalo do rei de Portugal.[12] A política indigenista levou à formação de uma elite colonial indígena com o intuito de fortalecer as alianças e lealdade dos índios e a considerar os índios aliados à semelhança dos colonos europeus.[11] Os índios que se destacavam pela lealdade passavam a ocupar cargos oficiais, como o de juiz ou vereador, nas câmaras de algumas vilas e cidades do Brasil Colônia. Recebiam honras e privilégios que os destinguiam dos outros colonos e faziam parte da "nobreza da terra".[13]

"Advertiu e persuadiu Sua Exa. a todos os moradores, que obedecem igualmente aos Juizes e vereadores Indios como aos Europeus, porque tinham Jurisdição e Superioridade sobre todos os ditos moradores para lhes admenistrarem Justifsa e o prenderem quando delinqüirem."[14]

O cargo de governador dos índios, primeiramente atribuído a Filipe Camarão, um grande guerreiro e hábil estratega da tribo dos potiguares, tinha também, como função, organizar os aldeamentos indígenas e o recrutamento dos terços dos índios, onde tinha servido como capitão-mor.[15][16][17][18]

"Essa situação é reveladora de uma "política indigenista" que era aplicada aos índios aldeados e aliados e outra aos considerados inimigos. Ambos foram importantes no projeto de colonização, fossem como mão de obra cativa ou como povoadora do território."[19]

Os índios não só guardavam as fronteiras como também controlavam os escravos africanos, propensos a se insurgir ou fugir e se juntarem aos europeus inimigos dos portugueses. Por serem exímios em seguirem pistas, os índios eram também contratados pelos proprietários de engenhos para capturar e resgatar escravos fugidos dos engenhos e fazendas. Nesse processo também, auxiliavam os capitães do mato (negros ou mulatos livres) na captura de escravos fugidos.[20][21] [22]

Além disso, a partir de um certo momento, a própria Igreja Católica passou, através principalmente dos jesuítas, a fazer um trabalho de catequização junto aos índios, dificultando, aos portugueses e seus filhos meio índios e tribos aliadas, a escravização dos índios aliados dos franceses. Esta posição foi defendida pelos jesuítas no Brasil, que, por seu lado, também tinham escravos, o que gerou conflitos com a população local interessada na escravatura, culminando em conflito, na chamada "A botada dos padres fora" em 1640.[23]

"Nos séculos XVII e XVIII, a faixa esquerda do rio Amazonas transformou-se num espaço de captura de indígenas para serem vendidos dentro e fora das Guianas por traficantes que partiam de Caiena."[24]

Escravidão indígena voluntária

Em 30 de julho de 1566, foi criada a lei que regulamentou pela primeira vez a escravidão voluntária dos índios. Segundo essa lei, baixada por uma junta convocada por Mem de Sá, "os índios só poderiam vender-se a si mesmos em caso de extrema necessidade, sendo que todos os casos deveriam ser obrigatoriamente submetidos à autoridade para exame".[25]

Ver também

Bibliografia

Commons
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O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Escravidão indígena no Brasil

Referências

  1. Gabriel Soares de Sousa, Francisco Adolfo de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), Leonardo Dantas Silva. Tratado descritivo do Brasil em 1587. Fundação Joaquim Nabuco, 2000
  2. SOUSA, Gabriel Soares. Tratado Descritivo do Brasil em 1587
  3. Melatti, Julio Cezar (1 de janeiro de 2007). Indios do Brasil. [S.l.]: EdUSP. 112 páginas. ISBN 9788531410130 
  4. De como se obter mão-de-obra indígena na Bahia entre os séculos XVI e XVIII.Revista de História
  5. A construção de alianças entre os portugueses e os índios missioneiros durante as tentativas de demarcação do Tratado de Madri
  6. Quando os índios escolhem os seus aliados: as relações de "amizade' entre os minuanos e os lusitanos no sul da América portuguesa (c.1750-1800
  7. História de Itanhaém SP
  8. "Povos indígenas, fronteiras amazônicas e soberania nacional. Algumas reflexões a partir dos Ashaninka do Acre"
  9. XXVI SIMPÓSIO NACIONAL HISTÓRIA São Paulo, USP, 17 a 22 de julho de 2011
  10. Tapanhuns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas
  11. a b Os oficiais índios na Amazônia Pombalina
  12. Concessão de Títulos Nobiliárquicos às Lideranças Indígenas na Luta contra Invasores Estrangeiros e Formação de uma Elite Militar nas Capitanias do Norte da América Portuguesa (sécs.XVII e XVIII)
  13. Quando as chefias indígenas se fortalecem enquanto pequena nobreza nos sertões das Capitanias do Norte na segunda metade do século XVIII
  14. OS ÍNDIOS NAS CÂMARAS DAS VILAS DO ESTADO DO GRÃO-PARÁ E MARANHÃO: UMA POLÍTICA DO ESTADO PORTUGÊS
  15. O Terço de Antônio Filipe Camarão: sua cooptação e evolução militar durante a invasão holandesa
  16. O Governador dos Índios. Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho
  17. O Governador dos Índios. RESSIGNIFICANDO A SAGA DO GOVERNADOR DOS ÍNDIOS ANTÔNIO DOMINGOS CAMARÃO – 1721-17321
  18. A visibilidade do primeiro Camarão no processo de militarização indígena na capitania de Pernambuco no século XVII
  19. A guerra justa contra os Payaguá (1ª metade do século XVIII)
  20. Apanhunns, negros da terra e curibocas: causas comuns e confrontos entre negros e indígenas
  21. A convivência entre Índios e negros nas danças folclóricas brasileiras: uma análise histórico-antropológica
  22. Uma história do negro no Brasil, 2006 - Capítulo V. FUGAS, QUILOMBOS E REVOLTAS ESCRAVAS
  23. revista de historia, Biblioteca Nacional
  24. Reconfigurações coloniais: tráfico de indígenas, fugitivos e fronteiras no Grão-Pará e Guiana Francesa (Séculos XVII e XVIII)
  25. Eisenberg, José. «A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento político moderno» (PDF). Análise Social, 2004. Consultado em 29 de novembro de 2018 

Ligações externas