Evidência anedótica

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Evidência anedótica, ou evidência anedotal refere-se a uma evidência informal na forma de anedota (conto, episódio, derivado do grego anékdota, significando 'coisas não publicadas'), ou de "ouvir falar". Quando utilizado em propaganda ou promoção de um produto, serviço ou idéia, a evidência anedótica é chamada de testemunho e é banida em algumas juridições norte-americanas. Também pode ser usada em contexto legal para certos testemunhos.

O termo é geralmente utilizado em contraste com evidência científica, especialmente na medicina baseada em evidências, que é uma evidência formal. A evidência anedótica freqüentemente não é considerada científica pois raramente pode ser analisada segundo o método científico. O mau uso de evidências anedóticas como evidências formais é considerada uma falácia (erro de argumentação lógica).

Outro problema relacionado ao uso de evidência anedotal é que, mesmo que real, não leva em consideração dados estatísticos, que poderiam evidenciar se a ocorrência estaria ou não dentro da variação prevista. A psicologia demonstrou que as pessoas tendem a se lembrar com mais facilidade de exemplos notáveis do que os ordinários, levando à falsa impressão de que estes ocorrem em uma freqüência mais alta do que a real. É por isso que casinos geralmente procuram chamar a atenção para os poucos que estão ganhando, pois levam à falsa impressão de que a probabilidade de ganhar é maior. Do mesmo modo, apesar dos acidentes aéreos serem muito mais raros do que os automobilísticos, não é incomum pessoas acharem que são muito comuns.

Contexto científico

Em Ciência, define-se evidência anedótica como:

  • "informação que não é baseada em fatos ou estudo cuidadoso" [1]
  • "observações ou estudos não científicos, que não provém provas mas podem assistir esforços de pesquisa" [2]
  • "descrições ou observações de observadores geralmente não científicos" [3]
  • "observações ou indicações casuais, ao invés de análise rigorosa ou científica" [4]
  • "informação transmitida boca-a-boca mas não documentada cientificamente"

Evidências anedóticas podem ter graus variados de formalidade. Por exemplo, em Medicina, evidência anedótica descrita e publicada cientificamente é chamada de relato de caso, que é um modo mais formal, cientificamente correto, sujeito a revisão por pares. [5] e invoca a realização de estudos científicos mais rigorosos sobre o fenômeno em questão [6]. Por exemplo, um estudo encontrou que 35 de 47 relatos anedóticos de efeitos colaterais foram mais tarde sustentados como "claramente corretos". [7]

Pesquisadores, portanto, podem utilizar evidências anedóticas para sugerir novas hipóteses científicas, mas nunca como evidência que as suporte.

Evidência anedótica e falha lógica

Evidências anedóticas são freqüentemente não científicas ou pseudocientíficas porque várias formas de vieses cognitivos podem afetar a colação ou a apresentação da evidência. Por exemplo, alguém que alega ter tido um encontro com um ser sobrenatural ou alienígena pode apresentar uma história vívida, mas isso não é falseável. Este fenômeno também pode acontecer com grande número de pessoas através de validação subjetiva.

A evidência anedótica também é freqüentemente mal interpretada pela disponibilidade eurística, que leva a uma superestimação da prevalência. Onde uma causa pode ser facilmente ligada a um efeito, as pessoas tendem a superestimar a probabilidade de que a causa leve àquele efeito. Em particular, episódios vividos e emocionalmente carregados parecem mais plausíveis e recebem maior importância. Episódios com menor carga emocional ou com relação causa-efeito menos evidente geralmente são menos relatados.

Um modo comum de tornar evidências anedóticas não científicas é através de falácias como post hoc ergo propter hoc (depois disto, logo causado por isto), a tendência humana de assumir que se um evento ocorre após outro, então o primeiro deve ser a causa do segundo. Outra falácia envolve a indução de raciocínio falho. Se uma evidência anedotal ilustra uma conclusão desejada ao invés de uma conclusão lógica, é considerada uma generalização apressada [8]. Por exemplo, aqui está uma evidência anedótica apresentada como prova de uma conclusão desejada:

"Há provas abundantes de que Deus existe e que continua produzindo milagres hoje. Na semana passada, li sobre uma menina que estava morrendo de câncer. Sua família inteira foi à igreja e rezou e ela se curou."

Anedotas como essa têm alto poder de persuasão, mas não provam nada do ponto de vista lógico [9] ou científico. A criança poderia melhorar de qualquer modo, o que poderia tornar esse exemplo válido de falácia regressiva. Evidências anedóticas não distinguem melhoras causadas ou não por efeito placebo [10], apenas estudos clínicos aleatórios duplo-cegos controlados com placebo podem fazer essa distinção.

(...)

Sites dirigidos a retórica [11] frequentemente dão explicações sobre estas linhas:

Evidências anedotais, por exemplo, são por definição menos estatísticas do que outra classe de evidências, e as explicações não são super valorizadas devido à autoridade. Quando ambas, a evidência anedotal e explicações podem afetar nossa compreensão de uma premissa, e portanto influenciar o nosso julgamento. A força relativa de uma explicação ou uma anedota é usualmente uma função de sua clareza e aplicabilidade à premissa que a sustenta. [1]

Por contraste, em ciência e lógica, a "relativa força de uma explicação" é baseada em sua capacidade de ser testada, provada como sendo devido a uma causa definida, e verificada sob condições naturais de forma que outros pesquisadores possam concordar que tenha sido claramente comprovada, e possa ser checada por eles.

Lei

O depoimento de testemunhas é uma forma comum de evidência em lei, e a lei possui mecanismos para testar a evidência do testemunho por veracidade e credibilidade. Processos legais para tomar uma assertividade como evidência são formalizados. Alguns testemunhos podem ser descritos como evidência anedotal, tais como histórias individuais de assédio ("harassment") como parte de um processo de ação coletiva. Contudo, testemunhos podem ser testados e avaliados quanto à confiabilidade. Exemplos de abordagens de teste e avaliação incluem o uso de interrogação, evidência de testemunhas corroboradoras, documentos, vídeo e evidência forense. Quando uma corte carece de meios para testar e validar relatos de uma testemunha específica, tais como a ausência de formas de corroboração e substantiação, pode qualificar esse testemunho como limitado ou sem peso ao produzir uma decisão sobre os fatos.

Evidência científica como evidência legal

Em certas situações, a evidência científica apresentada em júri devem atender aos requisitos legais para a evidência. Por exemplo, nos Estados Unidos, especialistas em testemunhas devem atender aos Padrões de Daubert. Esta regra define que antes de que uma evidência seja apresentada para a testemunha por especialistas, a metodologia deverá ser aceita entre os cientistas. Em algumas situações a "evidência anedotal" pode atingir este nível (tais como em certos relatos de fatos que podem corroborar ou refutar outras evidências).

Miller and Miller (2005) apresentam cinco padrões de provas, por nível de evidência [12]:

Tipo Níveis de Evidência Padrões
Regulatório, Legal "Princípio de Precaução"
Legal - Civil * Mais pareceido do que nunca
Legal - Civil ** Claro e convincente
Legal - Criminal *** Alem de uma dúvida razoável
Científico **** Irrefutável






Conhecimento Empírico (Níveis de Conhecimento)

Há uma concordância ou equivalência entre Conhecimento Empírico, Empirismo, Senso Comum e Evidência Anedótica ou Evidência Anedotal. Cervo e Bervian (2002), ao refletirem sobre os Níveis de Conhecimento, chamam de Conhecimento Empírico o que, neste artigo, é relatado como Evidência Anedótica.

Ver também

Referências

  1. Cambridge Advanced Learner's Dictionary
  2. Dictionary.com
  3. Merriam-Webster
  4. YourDictionary.com
  5. Jenicek M. "Clinical Case Reporting" in Evidence-Based Medicine. Oxford: Butterworth–Heinemann; 1999:117
  6. Vandenbroucke JP (2001). In Defense of Case Reports and Case Series. Annals of Internal Medicine. Vol. 134:4, 300-334
  7. Venning GR. Validity of anecdotal reports of suspected adverse drug reactions: the problem of false alarms. Br Med J (Clin Res Ed). 1982;284:249-52.
  8. Thompson B. Fallacies.
  9. Logic via infidels.org
  10. Lee D (2005). Evaluating Medications and Supplement Products. via MedicineNet
  11. Graham R. Anecdotes.
  12. Miller, DW Jr, Miller, CG. On evidence, medical and legal. Journal of American Physicians and Surgeons Volume 10 Número 3, Fall 2005, 70-75.

Bibliografia