Gabriela Leite

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Gabriela Leite
Gabriela Leite
Nascimento 22 de abril de 1951
São Paulo
Morte 10 de outubro de 2013
Cidadania Brasil
Ocupação prostituta
Causa da morte câncer

Gabriela Silva Leite (São Paulo, 22 de abril de 1951Rio de Janeiro, 10 de outubro de 2013) foi uma prostituta e ativista brasileira.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Oriunda de uma família de classe média, filha de uma dona de casa conservadora e de um crupiê. No final da década de 1970, cursava Filosofia na Universidade de São Paulo,[2] trabalhava num escritório e frequentava círculos da boêmia intelectual paulistana. Em busca de sua "revolução pessoal",[3] largou tudo e foi trabalhar com prostituição.[4]

Foi prostituta da Boca do Lixo em São Paulo, da zona boêmia em Belo Horizonte, e da Vila Mimosa no Rio de Janeiro.[5] Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, mas não chegou a concluir, começou a cursar em 1969.

Em 2009, lançou um livro intitulado Filha, mãe, avó e puta, pela editora Objetiva, em que conta sua história e trajetória na prostituição.[4] Morreu no Rio de Janeiro, aos 62 anos, vítima de câncer.[1]

Ativismo[editar | editar código-fonte]

Fundou a ONG Davida, que defende os direitos das prostitutas,[6] a regulamentação da profissão e é contra a ideia de vitimização, de tratar a prostituição apenas como falta de opção para mulheres em situação de pobreza.[7]

Em 1979, organizou a primeira manifestação de prostitutas do Brasil, contra a violência policial.[8][9] Em 1987 participou da organização do Primeiro Encontro Nacional de Prostitutas, junto com Lourdes Barreto,[8] e, desde então, passou a militar na defesa da categoria e regulamentação da profissão.[10] Em 2010 chegou a ser candidata a deputada federal pelo PV, com o slogan "uma puta deputada", mas não se elegeu.[11][12][13]

Foi também a idealizadora da grife Daspu, desenvolvida por prostitutas, e cujo nome é uma provocação à Daslu, a maior loja de artigos de luxo do Brasil, pertencente à empresária Eliana Tranchesi.[14][15]

Gabriela Leite ocupou um papel central na organização do combate à epidemia de AIDS no Brasil. No fim da década de 1980, foi convidada a participar do programa nacional de prevenção ao HIV PREVINA, com ênfase em prostitutas, usuários de drogas e prostitutas. Dois anos após o Primeiro Encontro Nacional de Prostitutas, organizou um segundo encontro nacional voltado à "AIDS e Prostituição".[8]

Legado[editar | editar código-fonte]

Rejeitava o termo “ex-prostituta” em suas apresentações. Isso encontrava razão pelo fato de que Gabriela estava muito ativa no movimento de defesa dos direitos das prostitutas, tendo fundando, inclusive, uma ONG em 1992, a Davida. Uma das principais conquistas que presenciou foi a inclusão, em 2002, da ocupação “trabalhador do sexo” na Classificação Brasileira das Ocupações (CBO), permitindo que prostitutas possam se registrar no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) como autônomas e garantir uma aposentadoria futura.[10]

Em 2014, sua neta, a jornalista Tatiany Leite, começou a produzir o documentário Filhas de Gabriela, junto com o jornalista Cléverton Santana e a Maquinna Produtora. O longa, irá contar com entrevistas de amigos, prostitutas, militantes, da cartunista Laerte Coutinho e do deputado Jean Wyllys, do PSOL-RJ.[16]

O deputado federal Jean Wyllys apresentou, em 2012, o projeto de Lei Gabriela Leite, visando à regulamentação da profissão de prostituta e à garantia dos direitos trabalhistas dessa categoria.[17] A Olimpíada do Rio de Janeiro trouxe à tona um debate sobre esse projeto, que enfrentou resistência no Congresso Nacional, predominantemente conservador.[18]

Referências

  1. a b «Morre Gabriela Leite, a criadora da Daspu». O Globo. 10 de outubro de 2013. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  2. «Gabriela Leite, fundadora da Daspu, morre no Rio». VEJA SÃO PAULO. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  3. «Gabriela Leite: Pioneira no ativismo pelos direitos das trabalhadoras sexuais» (em inglês). Site da NSWP (Rede Global de Projetos de Trabalhadores Sexuais). 15 de julho de 2023. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  4. a b «Ex-prostituta Gabriela Leite, fundadora da grife Daspu, lança livro de memórias». Extra Online 
  5. «Terra | Buscador». Terra. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  6. Davida.org.br (página consultada em 23 de janeiro de 2008)
  7. Ibase (página consultada em 23 de janeiro de 2008)
  8. a b c Simões, Soraya Silveira; Blanchette, Thaddeus Gregory; Murray, Laura; Paula da Silva, Ana (1 de janeiro de 2020). «The prostitute, the city, and the virus». Social Sciences & Humanities Open (1). 100078 páginas. ISSN 2590-2911. doi:10.1016/j.ssaho.2020.100078. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  9. «Gabriela Leite, fundadora da Daspu, morre no Rio». VEJA SÃO PAULO. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  10. a b http://revistaforum.com.br/blog/2013/10/morre-gabriela-leite-fundadora-da-daspu-e-defensora-das-prostitutas/
  11. «Gabriela Leite, de prostituta a candidata a deputada no Brasil». SIC Notícias. 26 de agosto de 2010. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  12. «Gabriela Leite - fundadora da DASPU e candidata a deputada federal pelo PV». www.terra.com.br. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  13. «Nem só de políticos profissionais são feitas as eleições». Exame. 10 de outubro de 2010. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  14. «Folha Online - Cotidiano - Daslu ameaça processar ONG da grife Daspu - 03/12/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 19 de agosto de 2023 
  15. Ibase (página consultada em 23 de janeiro de 2008)
  16. «'Neta da puta': Tatiany Leite retrata avó em documentário». Terra 
  17. Wyllys, Jean. «LEI GABRIELA LEITE». Consultado em 19 de agosto de 2023 
  18. M, M. (31 de julho de 2016). «Regulamentação da prostituição confronta prostitutas e feministas radicais». El País Brasil. Consultado em 19 de agosto de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]