Gianni Vattimo

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Gianni Vattimo
Gianni Vattimo
Vattimo em Como, 1999
Nascimento 4 de janeiro de 1936
Turim
Morte 19 de setembro de 2023 (87 anos)
Ocupação filósofo, político

Gianteresio "Gianni" Vattimo (Turim, 4 de janeiro de 193619 de setembro de 2023) foi um filósofo e político italiano, um dos expoentes do pós-modernismo europeu.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Discípulo de Luigi Pareyson, graduou-se em Filosofia, na cidade de Turim, em 1959. Especializou-se em Heidelberg, Alemanha, com Karl Löwith e Hans-Georg Gadamer, cujo pensamento introduziu na Itália. Em 1964, tornou-se professor de Estética na Universidade de Turim e, a partir de 1982, de Filosofia Teorética. Ensinou, na condição de professor visitante, em vários universidades dos Estados Unidos.

Na década de 1950, trabalhou em programas culturais da RAI. É diretor da Rivista di estetica, membro de comissões científicas de vários periódicos italianos e estrangeiros e sócio-correspondente da Academia de Ciência de Turim.

Escreveu para o semanário L'Espresso, para o diário La Repubblica e sobretudo para La Stampa, onde produz editoriais com reflexões críticas sobre política e cultura.

Recebeu o título de Doutor Honoris Causa das Universidades de La Plata, Palermo e Madrid.

Vattimo morreu em 19 de setembro de 2023, aos 87 anos.[1]

Trajetória intelectual[editar | editar código-fonte]

Vattimo se ocupou da ontologia hermenêutica contemporânea, acentuando sua ligação com o niilismo - entendido como enfraquecimento das categorias ontológicas. Assim, contrapõe o pensamento fraco, uma forma particular de niilismo, às diversas formas de pensamento forte, isto é, aquelas baseadas na revelação cristã, no marxismo e outros sistemas ideológicos.

Segundo Vattimo, a partir das filosofias de Nietzsche e principalmente de Heidegger, instaura-se uma crise irreversível nas bases cartesianas e racionalistas do pensamento moderno.

Propõe uma filosofia baseada no enfraquecimento do ser como chave de leitura da pós-modernidade, e numa "apologia do niilismo" de cunho nietzschiano[2] visando a uma progressiva redução da violência que se concretizaria nos ideais de pluralismo e tolerância, como impulso à emancipação humana e à superação das diferenças sociais.

Sua proposta filosófica é uma resposta à crise das grandes correntes filosóficas dos séculos XIX e XX: o hegelianismo com sua dialética, o marxismo, a fenomenologia, a psicanálise, o estruturalismo.

O pensamento fraco é uma atitude pós-moderna que aceita o peso do "erro", ou seja, do efêmero de tudo o que é histórico e humano. É a noção de verdade que se deve adequar à dimensão humana, e não vice-versa. Assim, a verdade é criação, jogo, retórica.

Em suas obras mais recentes, como Acreditar em acreditar, reivindica para o seu próprio pensamento a qualidade de autêntica filosofia cristã da pós-modernidade. Valendo-se da visão cristã do mestre Pareyson e do teólogo Sergio Quinzio, recusa a identificação de Deus com o ser racional, tal como concebido pela tradição filosófica ocidental.

Em 2004 abandonou o partido dos Democratici di Sinistra (Democratas de Esquerda) e abraçou o marxismo, reavaliando positivamente a autenticidade e validade dos princípios do projeto marxista e prognosticando um "retorno" ao pensamento do filósofo de Trier e a um comunismo depurado dos desenvolvimentos das equivocadas políticas públicas soviéticas, a serem superados dialeticamente. Vattimo falou de um "Marx enfraquecido" ou de uma base ideológica capaz de ilustrar a verdadeira natureza do comunismo e apta, na prática política, a superar qualquer pudor liberal. A chegada ao marxismo se configura portanto como uma etapa do desenvolvimento do pensamento fraco, enriquecido na práxis de uma perspectiva política concreta.

Atividade política[editar | editar código-fonte]

Exerceu atividade política em diversas linhas: primeiro, no Partido Radical; depois, na Alleanza per Torino ("Aliança por Turim") e, na sequência, nos Democratici di Sinistra , partido ligado à tradição político-cultural do Partido Comunista Italiano e ligado à social-democracia, pelo qual Vattimo foi eleito para o Parlamento Europeu. Abandona o partido em 2004.

Integrou o PdCI - Partido dei Comunisti Italiani ("Partido dos Comunistas Italianos"), cuja proposta é a de retomar o comunismo, na sua variante italiana, conforme elaborada por Antonio Gramsci, Palmiro Togliatti, Luigi Longo e Enrico Berlinguer.

Em 2005, Vattimo candidatou-se a Prefeito de uma pequena cidade calabresa, San Giovanni in Fiore, para combater a "degeneração intelectual" que afligia o país. Encabeçava o movimento "Vattimo pela cidade", contraposto aos dois grupos tradicionais, mas sobretudo em polêmica com a esquerda florentina. Recebeu 11% dos votos, sendo eleito conselheiro comunal e provocando, em consequência, a realização de segundo turno, finalmente vencido pelo candidato centro-esquerdista. Depois dessa experiência, Vattimo provocou um forte impulso político e cultural na Calábria, de onde é originário.

Vattimo foi até hoje o único parlamentar italiano a declarar-se homossexual.

Na juventude, aderiu à Ação Católica. Posteriormente abandonou o Catolicismo e aproximou-se da Igreja Evangélica Valdense[1].

Selecção de obras em italiano[editar | editar código-fonte]

Vattimo em Lima, Peru em 2010
  • Il concetto di fare in Aristotele, Giappichelli, Torino, 1961
  • Essere, storia e linguaggio in Heidegger, Filosofia, Torino, 1963
  • Ipotesi su Nietzsche, Giappichelli, Torino, 1967
  • Poesia e ontologia, Mursia, Milano 1968
  • Schleiermacher, filosofo dell'interpretazione, Mursia, Milano, 1968
  • Introduzione ad Heidegger, Laterza, Roma-Bari, 1971
  • Il soggetto e la maschera, Bompiani, Milano, 1974
  • Le avventure della differenza, Garzanti, Milano, 1980
  • Al di là del soggetto, Feltrinelli, Milano, 1981
  • Il pensiero debole, Feltrinelli, Milano, 1983 (a cura di G. Vattimo e P. A. Rovatti)
  • La fine della modernità, Garzanti, Milano, 1985
  • Introduzione a Nietzsche, Laterza, Roma-Bari, 1985
  • La società trasparente, Garzanti, Milano, 1989
  • Etica dell'interpretazione, Rosenberg & Sellier, Torino, 1989
  • Filosofia al presente, Garzanti, Milano, 1990
  • Oltre l'interpretazione, Laterza, Roma-Bari, 1994
  • Credere di credere, Garzanti, Milano, 1996
  • Vocazione e responsabilità del filosofo, Il Melangolo, Genova, 2000
  • Dialogo con Nietzsche. Saggi 1961-2000, Garzanti, Milano, 2001
  • Tecnica ed esistenza. Una mappa filosofica del Novecento, Bruno Mondadori, Milano, 2002
  • Dopo la cristianità. Per un cristianesimo non religioso, Garzanti, Milano, 2002
  • Nichilismo ed emancipazione. Etica, politica e diritto, a cura di S. Zabala, Garzanti, Milano, 2003
  • Il socialismo ossia l'Europa, Trauben, 2004
  • Il Futuro della Religione, con Richard Rorty. A cura di S. Zabala, Garzanti, Milano, 2005
  • Verità o fede debole? Dialogo su cristianesimo e relativismo, con René Girard. A cura di P. Antonello, Transeuropa Edizioni, Massa, 2006
  • Non essere Dio. Un'autobiografia a quattro mani, con Piergiorgio Paterlini, Aliberti editore, Reggio Emilia, 2006
  • Ecce comu. Come si ri-diventa ciò che si era, Fazi, Roma, 2007
  • Addio alla Verità, Meltemi, 2009
  • Introduzione all'estetica, Edizioni ETS, Pisa 2010.

Publicações[editar | editar código-fonte]

  • A Sociedade Transparente (1989);
  • A Tentação do Realismo
  • Depois da Cristandade
  • Introdução a Heidegger
  • O Futuro da Religião (dividindo autoria com Richard Rorty)
  • Diálogo com Nietzsche

Referências

  1. Carioti, Antonio (19 de setembro de 2023). «È morto Gianni Vattimo, il filosofo aveva 87 anni». Corriere della Sera (em italiano). Consultado em 19 de setembro de 2023 
  2. Rossano Pecoraro (2005). Niilismo e Póis-modernidade. Introdução ao pensamento fraco de Gianni Vattimo. São Paulo: Loyola 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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