Hans Asperger

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Hans Asperger
Hans Asperger
Nascimento Johann Hans Friedrich Karl Asperger
18 de fevereiro de 1906
Viena
Morte 21 de outubro de 1980 (74 anos)
Viena
Sepultamento Neustifter Friedhof
Cidadania Áustria
Alma mater
Ocupação psiquiatra, professor universitário
Prêmios
Empregador(a) Universidade de Viena

Johann "Hans" Friedrich Karl Asperger (pronuncia-se em português ashpêrguerpronúncia em alemão: [hans ˈaspɛʁɡɐ]) (Viena, 18 de fevereiro de 1906 – Viena, 21 de outubro de 1980) foi um psiquiatra e pesquisador austríaco. A Síndrome de Asperger deve seu nome a ele.[1]

A nomeação da Síndrome de Asperger em sua homenagem vem gerando grandes controvérsias após descobertas de que Hans Asperger esteve fortemente envolvido no regime Nazista e enviou pelo menos duas crianças com deficiência para a "clínica Spiegelgrund", sabendo que seriam utilizadas em experiências cruéis e provável eutanásia sob o programa eugenista nazista nomeado "Aktion T4".[2][3]

Vida[editar | editar código-fonte]

Nascido em uma fazenda nos arredores de Viena, Asperger era o mais velho de três irmãos.[4] Ainda muito novo, mostrou talentos especiais com a linguagem e, nos primeiros anos de escola, era conhecido por recitar o poeta austríaco Franz Grillparzer. Tinha dificuldade em fazer amigos e era considerado "distante" mas, na juventude, nos anos 1920, formou amizades que duraram sua vida toda. Formou-se em Medicina em 1931 e assumiu a direção da estação ludo-pedagógica na clínica infantil da universidade em Viena, em 1932. Casou-se em 1935 e teve cinco filhos. Desde 1934 esteve envolvido com a clínica psiquiátrica, em Leipzig. No final da II Guerra Mundial, Asperger serviu como soldado na Croácia e em 1934 se juntou à Frente Patriótica Austrofacista.[2]

Ele foi contratado como professor na Universidade de Viena em 1944 e se tornou diretor da clínica infantil em 1946. Veio a se tornar professor na clínica infantil da universidade - a Universitäts-Kinderklinik, em Innsbruck, 1957 e, desde 1962, manteve a mesma posição em Viena. Em 1964 encabeçou o posto médico das SOS-Kinderdörfer (Aldeias SOS Infantis) em Hinterbrühl. Tornou-se professor emérito em 1977. Trabalhou até o fim, ministrando aulas até seis dias antes de morrer, em 21 de Outubro de 1980.

Asperger tinha especial interesse em crianças "fisicamente anormais". Submeteu em, o artigo 'Die 'Autistischen Psychopathen' im Kindesalter (A psicopatia autista na infância), à revista científica Archiv für Psychiatrie und Nervenkrankheiten, que o publicou no ano seguinte, no seu número 117, páginas 76-136. Seu trabalho baseou-se em estudos que envolveram mais de 400 crianças.

Observou que o padrão de comportamento e habilidades que descreveu ocorria preferencialmente em meninos; denominou-o de psicopatia autista, uma desordem da personalidade que incluía: falta de empatia, baixa capacidade de formar amizades, conversação unilateral, intenso foco em um assunto de interesse especial e movimentos descoordenados.

Futuramente descobriu-se que o interesse nas crianças "fisicamente anormais" devia-se ao fato de que o regime nazista, do qual Hans fez parte, considerava que elas eram geneticamente inferiores, pela sua inconformidade social. O regime nazista foi responsável pela morte dessas crianças através de injeção letal, fome e outros fatores como pneumonia.[5][3] Publicou 359 trabalhos, a maioria sobre dois temas: psicopatia autista e morte.

Envolvimento Nazista[editar | editar código-fonte]

Edith Scheffer, historiadora européia, escreveu em 2018 que Asperger cooperou com o regime Nazista e enviou crianças ao programa de eutanásia. Sua tese foi escrita no livro Crianças de Asperger: As origens do autismo na Viena nazista (Asperger's Children: The Origins of Autism in Nazi Vienna), 2018.[2][6]

Herwig Czech, historiador da Universidade de Medicina de Vienna, publicou em 2018 seu artigo Hans Asperger, National Socialism, and "race hygiene" in Nazi-era Vienna, na revista Molecular Autism a seguinte conclusão:

Asperger conseguiu se acomodar ao regime nazista e foi recompensado por suas afirmações de lealdade com oportunidades de carreira. Ele se juntou a várias organizações afiliadas ao NSDAP (embora não seja ao próprio partido nazista), políticas de higiene racial legitimadas publicamente, incluindo esterilizações forçadas e, em várias ocasiões, cooperaram ativamente com o programa de eutanásia infantil.[7] (Tradução livre, no original se lê Asperger managed to accommodate himself to the Nazi regime and was rewarded for his affirmations of loyalty with career opportunities. He joined several organizations affiliated with the NSDAP (although not the Nazi party itself), publicly legitimized race hygiene policies including forced sterilizations and, on several occasions, actively cooperated with the child ‘euthanasia' program.).[7]

As alegações de Herwig Czech foram questionadas por Dean Falk, antropólogo americano da Florida State University em dois artigos publicados no Journal of Autism and Developmental Disorders. As respostas de Czech aos questionamentos estão publicadas no mesmo periódico. Ketil Slagstrad, médico e historiador Norueguês, escreveu em 2019 um artigo intitulado "Asperger, the Nazis and the children - the history of the birth of a diagnosis",[8] no qual oferece uma possível explicação alternativa para o envolvimento de Asperger com o nazismo: cita os desafios da guerra, o desejo de proteger sua carreira e proteger as crianças que estavam sob sua tutela. Por outro lado, Slagstrad critica que:

Hans Asperger foi retratado como um oponente do regime nazista sob o qual ele serviu. Pesquisas históricas mostraram agora que ele era uma engrenagem bem adaptada na máquina de um regime mortal. Ele deliberadamente encaminhou crianças deficientes para a clínica Am Spiegelgrund, onde sabia que elas corriam o risco de serem mortas.[8](Tradução livre, no original: Hans Asperger has been portrayed as an opponent of the Nazi regime under which he served. Historical research has now shown that he was instead a well-adapted cog in the machine of a deadly regime. He deliberately referred disabled children to the clinic Am Spiegelgrund, where he knew that they were at risk of being killed.)[8]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Hans Asperger, National Socialism, and “race hygiene” in Nazi-era Vienna
  2. a b c «Hans Asperger». Wikipedia (em inglês). 17 de março de 2020 
  3. a b Baron-Cohen, Simon (8 de maio de 2018). «The truth about Hans Asperger's Nazi collusion». Nature (em inglês). 557: 305–306. doi:10.1038/d41586-018-05112-1 
  4. Lyons, Viktoria; Fitzgerald, Michael (5 de outubro de 2007). «Letter to the Editor: Did Hans Asperger (1906–1980) have Asperger Syndrome?». Springer Science+Business Media. Journal of Autism and Developmental Disorders. 37 (10): 2020–2021. PMID 17917805. doi:10.1007/s10803-007-0382-4. Consultado em 1 de janeiro de 2016 
  5. «Hans Asperger aided and supported Nazi programme, study says | World news | The Guardian». 24 de maio de 2019 
  6. «O autismo na Viena nazista». 10 de outubro de 2019 
  7. a b «Molecular Autism» (em inglês) 
  8. a b c Slagstad, Ketil (24 de maio de 2019). «Asperger, the Nazis and the children – the history of the birth of a diagnosis». Tidsskrift for Den norske legeforening (em inglês). ISSN 0029-2001. doi:10.4045/tidsskr.18.0932 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]