Johann Christian Bach

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Johann Christian Bach
Johann Christian Bach
Johann Christian Bach, retratado por Thomas Gaingsborouhg em 1776.
Informação geral
Nome completo Johann Christian Bach
Nascimento 5 de setembro de 1735
Local de nascimento Leipzig
País  Alemanha
Local de morte Londres
Ocupação(ões) Compositor

Johann Christian Bach (Leipzig, 5 de setembro de 1735Londres, 1 de janeiro de 1782) foi um compositor alemão, o filho mais jovem de Johann Sebastian Bach.[1] Compôs numerosos trabalhos orquestrais e de câmara, além de várias óperas. Viveu um bom tempo de sua vida na Inglaterra, motivo pelo qual ficou conhecido como "Bach Londrino" ou o Bach Inglês.

Vida

Johann Christian Bach foi o último dos treze filhos de Johann Sebastian Bach com Anna Magdalena Wülken. Começou a estudar música com o pai e, provavelmente, com o primo do mesmo, Johann Elias Bach. Acredita-se também que o Livro II de O Cravo Bem Temperado[1], famosa composição de Johann Sebastian Bach, tenha sido escrito e utilizado na instrução do filho mais novo. Christian serviu como copista de J.S. Bach e após a morte do pai, em 1750, ele se tornou aluno de seu meio-irmão, Carl Philipp Emanuel Bach, na cidade de Berlim.[1]

Em 1754, foi à Itália, estudar contraponto com o padre Giovanni Battista Martini e de 1760 a 1762, trabalhou como organista na catedral de Milão. Lá, escreveu duas Missas, um Réquiem, um Te Deum, entre outras obras. Foi nesta época que J. C. Bach se converteu ao catolicismo.[1]

Foi o único dos filhos de J. S. Bach a escrever óperas em italiano, começando com árias inseridas em óperas de outros autores, prática conhecida como pasticci. Foi contratado pelo Teatro Regio em Turim, para compor uma ópera séria, Artaserse, que estreou em 1760. A apresentação foi um enorme sucesso: teatros de Veneza e de Londres fizeram ofertas para que compusesse outros trabalhos. Johann aceitou a oferta de Londres e partiu para a Inglaterra em 1762, fixando-se em Londres, onde ele passou o resto de sua vida, uma decisão bastante semelhante à que George Frideric Handel havia tomado 50 anos antes. A catedral de Milão manteve seu cargo em aberto na esperança de que ele voltasse para reassumi-lo.

Durante vinte anos, ele foi o músico mais popular da Inglaterra: obras dramáticas, levadas ao palco no King's Theatre foram muito bem recebidas pelo público.

A primeira dessas óperas, Orione, foi uma as primeiras poucas obras da época que utilizou a clarineta. Sua última ópera séria, La Clemenza di Scipione (1778), continuou popular entre seus ouvintes londrinos durante muitos anos e tem paralelos interessantes com a última obra de Mozart neste gênero, La Clemenza di Tito (1791).

Johann Christian foi designado Mestre de Música da Rainha e seus deveres incluíam ministrar aulas de música a ela e seus filhos e acompanhar o Rei Jorge III ao piano, enquanto o rei tocava flauta. Os concertos de Johann Christian promovidos em Hanover Square, em parceria com Karl Friedrich Abel logo se tornaram os mais populares dos entretenimentos públicos pagos. Os músicos mais famosos daquele período, como o violoncelista italiano Giovanni Battista Cirri, participaram desses concertos e muitas das obras de Haydn tiveram no mesmo local sua estreia na Inglaterra.

Faleceu em Londres em 1 de janeiro de 1782. Encontra-se sepultado na St Pancras Old Church Churchyard, no distrito de St Pancras (área central da Grande Londres).[2]

Dados adicionais e a amizade com Mozart

Em Londres, em 1764, J. C. Bach fez amizade com o jovem Wolfgang Amadeus Mozart, que estava visitando a cidade como parte do roteiro de infindáveis apresentações arranjadas por seu pai, Leopold Mozart, realizadas com o objetivo de exibir a criança prodígio. Muitos especialistas consideram que J. C. Bach foi uma das mais importantes influências sobre Mozart, que com ele aprendeu a utilizar em sua música uma brilhante e atraente textura.[1] Esta influência pode ser percebida na abertura da sonata para piano em si bemol, KV 315c de 1783–1784, que está muito próxima de duas sonatas de J. C. Bach que Mozart conhecia e indiretamente, de uma tentativa anterior numa sonata de J. C. Bach (sonata para piano em Dó menor, Op. 5 nº 6) para combinar o estilo galante de seus dias com a música fugal.

Johann Christian Bach faleceu pobre, no primeiro dia de 1782, e foi enterrado numa sepultura para indigentes, não identificada, na Igreja St Pancras Old. No registro do enterro, seu sobrenome estava grafado 'Back'.

Mozart, numa carta a seu pai, disse que "foi uma perda para o mundo da música". Quando Mozart e J. C. Bach se encontraram pela primeira vez, Leopold relatou que os dois eram "inseparáveis". Ambos sentavam-se ao órgão, Mozart no colo de Johann Christian, ambos tocando durante várias horas. Os especialistas com freqüência apontam que Mozart foi fortemente influenciado por Johann Christian. Isto explica por que, já quando adulto, Mozart abraçaria a música do Bach mais "velho" (Johann Sebastian). Influências de Johann Christian também podem ser encontradas nas sinfonias e concertos para piano do jovem Mozart. O clima e o som das músicas compostas pelo jovem Mozart são bastante similares aos das composições de Johann Christian.[1] Na ocasião em que Johann Christian faleceu, Mozart estava compondo seu "Concerto para Piano nº 12, em Lá maior, K 414, o Andante do segundo movimento tem um tema semelhante ao encontrado na abertura da ópera La calamità del cuore de J. C. Bach.

Avaliação póstuma

Embora a fama de J. C. Bach tivesse declinado nas décadas após sua morte, sua música ainda era apresentada nos concertos de Londres com alguma regularidade, frequentemente junto com as obras de Haydn . O século XIX viu nascer a pesquisa acadêmica sobre a obra e a vida do pai de Johann Christian, mas frequentemente isso levou à exaltação da música de J. S. Bach em prejuízo da de seus filhos. Phillip Spitta escreveu, no fim da biografia de sua autoria a respeito de J. S. Bach, que foi especialmente nos filhos de Bach que vemos os sinais da decadência daquele poder que culminou em Sebastian depois de séculos de desenvolvimento. (Spitta, Vol. 3, página 278). E o primeiro biógrafo de J. S. Bach, Johann Nikolaus Forkel, escreveu especificamente sobre Christian que: O espírito original de Bach … não pode ser encontrado em nenhuma de suas obras (New Bach Reader, página 458). Apenas no século XX foi que os eruditos e o mundo musical começaram a entender que os filhos de Bach tinham o direito de compor num estilo diferente do de seu pai sem que, com isso, seus idiomas musicais fossem inferiores ou sem qualidade, e que compositores como Johann Christian passaram a ser vistos com um interesse renovado.

Johann Christian foi um dos primeiros compositores a dar preferência ao recém desenvolvido pianoforte em detrimento dos antigos instrumentos de teclas, como o cravo. As primeiras músicas criadas por Johann Christiam trazem a influência de seu irmão mais velho, Carl Philipp Emanuel Bach, enquanto que seu período intermediário, passado na Itália, foi influenciado por Giuseppe Sammartini.

Os estilos contrastantes de J. S. Bach e J. C. Bach

O pai de Johann Christian faleceu quando ele tinha apenas 15 anos e esta pode ser a razão por que é tão difícil encontrar traços de comparação óbvios entre Johann Sebastian e Johann Christian. As sonatas para piano de Carl Philipp, seu irmão, às vezes invocam certos elementos de seu pai e seu uso do contraponto se equipara ao de Johann Sebastian, o que é tão somente lógico se se considerar que J. S. Bach morreu quando Carl tinha 36 anos, tendo portanto exercido sobre ele uma influência maior do que sobre Johann Christian.

A música de Johann Christian, entretanto se afasta completamente dos estilos dos dois Bach. Sua música é altamente melódica e estruturada de forma brilhante. Ele compôs segundo a estética galante, um estilo que incorpora frases balanceadas, com ênfase na melodia e no acompanhamento, sem muita ênfase na complexidade contrapontística. O movimento galante posicionou-se contra as intrincadas linhas da música do barroco, e em seu lugar focou a importância em melodias fluentes e em frases com períodos. Precedeu o estilo do classicismo, que fundiu a estética galante com o interesse renovado pelo contraponto.

Johann Christian Bach e a sinfonia

As sinfonias listadas na Relação de Obras de J. C. Bach, no New Grove Bach Family, chegam ser em número de noventa e uma obras. Pouco mais da metade dessas, isto é, 48 peças, são consideradas autênticas, enquanto que as demais 43 são de autoria duvidosa ou espúrias.

Apenas a título de comparação, o compositor às vezes identificado como "o pai da sinfonia", Joseph Haydn, compôs pouco mais de cem. A maioria dessas não podem ser comparadas com as obras de Johann Christian Bach nessa categoria, pois a maioria de suas obras são mais próximas ao estilo italiano de sinfonia do que ao modelo sinfônico do classicismo tardio no seu desenvolvimento mais pleno, como encontrado nos últimos trabalhos de Haydn e de Mozart. Usando o tempo de execução como um meio grosseiro de comparação, considere-se por exemplo, a execução de uma das melhores sinfonais de Johann Christian, a Sinfonia em Sol menor, Op. 6, nº 6 que leva de 12 a 14 minutos enquanto que a Sinfonia nº 94, Surpresa, de Haydn pode durar até mais de 24 minutos.

É claro que o ouvinte das sinfonias de J. C. Bach deve chegar a elas com uma perspectiva diferente da que provavelmente tem para com as sinfonias de Haydn ou Mozart. De uma maneira geral, as salas de concerto estão sempre repletas da música de Haydn e raramente, se é que alguma vez, se escuta J. C. Bach, o que talvez tenha menos que ver com a qualidade relativa, uma vez que a música do passado é completa em si mesma e digna de ser escutada, do que com as posições históricas relativas para com a sinfonia do classicismo. Mas a música de J. C. Bach tem sido cada vez mais reconhecida por sua alta qualidade e valor. Aos poucos as gravadoras comerciais vão redescobrindo esse compositor. Atualmente já existem diversas gravações de algumas de suas obras e uma gravação integral, composta de 22 CDs, para o selo CPO da obra orquestral de Johann Christian Bach além da publicação de suas obras.[3]

Ver também

Generalidades

  • Um relato completo da carreira de J. C. Bach é fornecido no quarto volume de History of Music de Charles Burney.
  • Na árvore da família Bach existem mais dois Johann Christian Bach, mas nenhum deles foi compositor.

Leitura complementar

  • WOLFF, Christoph et. al., The New Grove Bach Family, New York: Norton, 1983 (ISBN 0-393-30088-9), pp. 315ff..
  • SPITTA, Philipp, Johann Sebastian Bach, tradução Bell Clara & Fuller-Maitland, J.A., NY: Dover, 1951 (reimpressão da edição de 1889).
  • Wolff, Christoph, The New Bach Reader, New York: Norton, 1998.

Referências

  1. a b c d e f «Johann Christian Bach - Biography». Britannica Concise Encyclopedia (em inglês). Answers.com. Consultado em 05 de setembro de 2012  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  2. Johann Christian Bach (em inglês) no Find a Grave
  3. Ver o verbete,em inglês Obras Reunidas de Johann Christian Bach (N.T.)

Ligações externas