Oracy Nogueira

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Oracy Nogueira
Nascimento 17 de novembro de 1917
Cunha, São Paulo, Brasil
Morte 16 de fevereiro de 1996 (78 anos)
Cunha, São Paulo, Brasil
Nacionalidade brasileiro
Ocupação sociólogo

Oracy Nogueira (Cunha, 17 de novembro de 1917Cunha, 16 de fevereiro de 1996) foi um sociólogo brasileiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Oracy Nogueira nasceu em Cunha, onde viveu até os dez anos de idade. A família se mudou para Catanduva em 1928, e logo para Botucatu em 1931/32, onde Oracy completou o ginásio. Em 1932, com quatorze anos, Oracy participou como voluntário da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Em 1933/34, trabalhou como repórter e redator no Correio de Botucatu, tendo filiado-se ao Partido Comunista Brasileiro, ao qual permaneceria vinculado até meados dos anos 1960. Em 1936/1937, com 19 anos, Oracy se isolou da família para tratamento de saúde em São José dos Campos.

Já aposentado Oracy ainda escreveria, entre outras coisas, a expressiva Introdução a seu livro "Tanto preto quanto branco" (1985), que re-edita seus artigos sobre relações raciais e a original biografia "Negro político, político negro" (1992) que mistura ficção à pesquisa histórica e sociológica na narrativa da trajetória pessoal e política do Dr. Alfredo Casemiro da Rocha, prefeito de Cunha na Primeira República.

Oracy Nogueira faleceu em Cunha, a 16 de fevereiro de 1996.

Vida Acadêmica[editar | editar código-fonte]

Ingressou em 1940 no curso de bacharelado da Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), em São Paulo, como estudante-bolsista de Donald Pierson, e lá conheceu Lisette Toledo Ribeiro que viria a tornar-se sua esposa, colaboradora e mãe de seus quatro filhos. Donald Pierson era professor de sociologia e antropologia, obtivera seu doutoramento em Chicago, sob a orientação de Robert Ezra Park. Pierson passou dezesseis anos em São Paulo como docente, e na opinião de Oracy, "verdadeiro diretor acadêmico da ELSP" . Na Escola, Oracy foi aluno de Radcliffe-Brown, Herbert Baldus, Sérgio Milliet e Emilio Willems, entre outros, permanecendo estreitamente vinculado à instituição e a Pierson, até o ano do retorno deste aos Estados Unidos em 1952.

Em 1942, Oracy concluiu o bacharelado. Em 1945, o mestrado com a dissertação "Vozes de Campos de Jordão". Experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar no Estado de São Paulo", publicada em 1950.

Ainda em 1945, por meio de um convênio firmado entre a ELSP e a Universidade de Chicago, seguiu para os Estados Unidos para a realização do doutoramento naquela Universidade. Lá permanece sob orientação de Everett Hughes, cumprindo créditos nos Departamentos de Sociologia e de Antropologia até 1947, tendo sido aluno de W. L. Warner, Robert Redfield, Louis Wirth, o próprio Hughes, entre outros. Retorna ao Brasil para confecção da tese, que entretanto não chega a ser defendida: sendo filiado ao Partido Comunista Brasileiro, em 1952, em pleno macartismo, seu visto para retorno aos Estados Unidos é negado.

Na ELSP, Oracy ensinou no curso de graduação desde 1943 e, a partir de 1947, no de pós-graduação, desenvolvendo simultaneamente atividades de pesquisa. Integrou também a direção da Revista Sociologia, de 1948 até 1958. Data dessa época também sua colaboração com a Comissão Paulista de Folclore, liderada por Rossini Tavares Lima e sua participação nos debates conceituais então travados pelo Movimento Folclórico.

Em 1952, no mesmo ano em que Pierson deixou o Brasil, Oracy aceitou o convite para a cadeira de Ciência da Administração na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP) e para o Instituto de Administração anexo. Em 1955, ele se efetiva como técnico do Instituto de Administração da USP (então dirigido por Mário Wagner Vieira da Cunha, que também passara pela ELSP), logo tornando-se chefe do Setor de Pesquisas Sociais.

Em 1957, ele foi para o Rio de Janeiro trabalhar no Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos do Ministério da Educação, a convite de Darcy Ribeiro, seu ex-aluno na ELSP. Nesse contexto, Oracy publica "Família e Comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga" (1962). Resultado de pesquisa de 10 anos (1947-1956), o livro é um clássico na área dos estudos sobre família demonstrando a importância sociológica da organização familiar, uma vez que a história da comunidade se entrelaça com a de certas famílias. Oracy volta a São Paulo em 1961, como técnico do Instituto de Administração, desligando-se finalmente da ELSP. Em 1967, defendeu junto à cadeira de Sociologia II da Faculdade Municipal de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco sua tese de Livre Docência, um estudo também pioneiro: Contribuição ao estudo das profissões de nível universitário no Estado de São Paulo.

Em 1968, Oracy é integrado como docente na área de Sociologia da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da USP. Em 1970, transfere-se para o Departamento de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, como responsável pela cadeira de "Métodos e técnicas de pesquisa". Em 1978, volta à Faculdade de Economia e Administração através do concurso para professor titular de Sociologia aplicada à economia, onde permanece até a aposentadoria em 1983.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Oracy Nogueira integra uma geração cuja trajetória se entrelaça com a das ciências sociais no país, integrando a primeira turma de mestres em ciências sociais formadas no país pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Sua obra inovadora aborda decisivamente temas como o estigma e o preconceito, sendo ele o criador do importante conceito de Preconceito de marca para compreender a dinâmica própria do racismo brasileiro, em contraste com o Preconceito de origem que caracterizaria o racismo norte-americano. Outros temas estudados por ele são a familia e o parentesco, metodologia e técnicas de pesquisa, estudos de comunidade e sociologia das profissões. Sua presença ativa e discreta perpassa instituições e iniciativas relevantes em especial entre os anos 1940 e 1960, entre elas notadamente a Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, a Revista de Sociologia, o Setor de Pesquisa Social do Instituto de Administração da USP, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais no Rio de Janeiro.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Livros
  • Vozes de Campos do Jordão: experiências sociais e psíquicas de tuberculoso pulmonar no estado de São Paulo. Sociologia, São Paulo, out. 1950. Re-editado em 2009, pela Editora Fiocruz, Rio de Janeiro. Org. e introdução Maria Laura Cavalcanti.
  • Família e comunidade: um estudo sociológico em Itapetininga. Série Sociedade e Educação, Coleção Brasil Provinciano. Ministério de Educação e Cultura, Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Rio de Janeiro, 1962.
  • Pesquisas social: introdução às suas técnicas. 2° ed. São Paulo: Ed. Nacional, Ago. 1964.
  • Tanto preto, quanto branco: estudos de relações raciais no Brasil. São Paulo: T. A. Queiróz, 1983 Série 1 v.9. Biblioteca Básica de Ciências Sociais.
  • Negro político, político negro: A vida do Dr. Alfredo Casemiro da Rocha parlamentar da república velha. São Paulo: Edusp, 1992.
  • Preconceito de Marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo, EDUSP, 1998.(org. Cavalcanti, Maria Laura)
Artigos, tese e outros
  • Atitude desfavorável de alguns anunciantes de São Paulo em relação aos empregados de cor. São Paulo:Sociologia vol.4 nº4, 1942[Republicado em Tanto Preto, Quanto Branco: Estudo de Relações Raciais, p.95-124. São Paulo: T.A. Queiroz., 1985] .
  • A estratificação social de Itapetininga. In: Fernandes, Florestan (org.). Comunidade e sociedade no Brasil: leituras básicas de introdução ao estudo macro-sociológico do Brasil, pp169-179. São Paulo: USP, 1972.
  • “Distribuição residencial de operários de um estabelecimento industrial de São Paulo”. In Separata de Sociologia, Revista Didática e Científica, 1949, nº 1, vol XI. São Paulo. p.1-22.
  • Experiências Sociais e Psíquicas do Tuberculoso Pulmonar em São Paulo. In Separata da Revista Sociologia, vol. XI, nº 1. São Paulo, 1949.
  • Profissionalismo e Diletantismo em Sociologia. In Separata de Cultura, nº 2, 1949. Ministério da Educação e Saúde: Serviço de Documentação.
  • Estudos sociológicos de comunidades paulistas. Apostila usada no curso intensivo de sociologia da vida rural ministrado na escola de sociologia de São Paulo. São Paulo: FAPESP, 1951.
  • "Contribuição à História do Municipalismo no Brasil". Revista de Administração/ USP, ano VII, n. 25-26-27-28, pags 23-74.
  • "A História-de-Vida como Técnica de Pesquisa". In Separata da Revista Sociologia, vol. XIV nº1, 1952.
  • "Observação Espontânea e Observação Sistemática". In: Separata da Revista Sociologia vol. XIV nº3, 1952.
  • “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem :sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil”. Anais do XXXI. Congresso Internacional dos Americanistas, realizado em São Paulo em Ago.1954 v.1, pp. 409-434. Também publicado em Revista Anhembi, abril/1955. São Paulo [Republicado em Tanto Preto, Quanto Branco: Estudo de Relações Raciais, p.67-93. São Paulo: T.A. Queiroz., 1985]
  • "Relações raciais no município de Itapetininga". In R. Bastide e F.Fernandes (orgs). Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo, pp. 362-554. São Paulo: UNESCO-ANHEMBI, 1955.
  • "Os Estudos de comunidade no Brasil". Separata da Revista de Antropologia, Dez. 1955, 95-104, vol. 3, nº 2. In Memórias do I painel Nipo-Brasileira. Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Estudos de Antropologia Teórica e Prática. São Paulo, nº 3-A, Agosto de 1956.
  • “Duas Experiências no Ensino de Sociologia”. In: Separata dos Anais do I Congresso Brasileiro de Sociologia, 1955.
  • "Projeto de instalação de uma área laboratório para pesquisas".Educação e Ciências Sociais, Abr. 1958, pp.123-130.
  • “Problema social e problema de investigação”. Educação e Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Ago. 1958, pp. 93-110.
  • “A Estratificação Social no Município de Itapetininga”. In: Separata da Revista de Sociologia, Agosto-1959, N.3, Vol.XXI.. São Paulo, pp.226-235.
  • "Os movimentos e partidos políticos em Itapetininga".In: Separata da Revista Brasileira de Estudos Políticos, Jun. 1961, pp. 222-247.
  • “Índices do desenvolvimento de São Paulo”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 1962. Vol.II, nº 2
  • “O desenvolvimento de São Paulo através de índices demográficos, demógrafo - sanitários e educacionias”. In Revista de Administração, São Paulo, nº 30, maio de 1963, pp. 1-140.
  • “O Desenvolvimento de São Paulo: Imigração Estrangeira e Nacional – Índices Demográficos, Demógrafo – Sanitários e Educacionais”. Comissão Interestadual da Bacia Paraná – Uruguai, 1964, pp.158.
  • Contribuição ao estudo das profissões de nível universitário noEstado de São Paulo. Tese de Livre-Docência, apresentada à Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas de Osasco. Osasco, 1967.
  • “ Ciência, Pesquisa, Método e Técnica”. In: Separata da Revista Ciências Econômicas e Sociais. Osasco, Jul.1968, Vol.3, N.1, pp.3-16.
  • “O Brasil e o Nordeste”. Bruxeles, Centre de Documentation sur L’Action des Églises dans le Monde, 1968 (mimeo), pp.543.
  • “A organização da família no município de Itapetininga”. In:Separata de Educação e Ciências Sociais, Rio Janeiro, Ago.1969, pp. 61-112.
  • “Donald Pierson e o desenvolvimento da sociologia no Brasil”. In Universitas. Salvador n.6-7, maio/dezembro 1970, 331-342.
  • “Apresentação da Edição Brasileira”. In: Nicolai, André. Comportamento Econômico e Estruturas Sociais. São Paulo: Nacional, 1973.
  • “Evocação de Roger Bastide”. Revista Brasileira de Estudos Brasileiros. São Paulo, n. 20, 1978, 141-145.
  • “O Objeto das Ciências Humanas”. In: Hirano, Sedi (org.). Pesquisa Social: Projeto e Planejamento. São Paulo: T.A.Queiroz, 1979.
  • “ Pesquisa social projeto e planejamento”. In Hirano Sedi (org.).São Paulo: T. A. Queiróz, 1979 Série 2 - textos v.1. Biblioteca Básica de Ciências Sociais.
  • “A Sociologia no Brasil”, in M. G. Ferre e S. Motoyama (orgs), História das ciências no Brasil, 3º vol, 1981.
  • “A Sociologia no Brasil: História e Situação Atual”. São Paulo: IPE e FINEP, Junho – 1982, Vol.I e II, pp.365.
  • “Morte e Faixa Etária: Os Anjinhos”. In: Martins, José de Souza (org.). A Morte e os Mortos na Sociedade Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1985, pp.223-227.
  • “Descendência de um Médico e Político Negro, Atuante no Final da Império e na Primeira República”. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1986 (cópia).
  • “A revolução constitucionalista de 1932: recordações de um voluntário”. Revista da Academia Paulista de História. São Paulo. n3, 9 de julho de 1992..
  • "Homenagem a José Albertino Rodrigues". Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, SP 4(1,2):199-203, 1992 (editado em 1994).
  • Depoimento Concedido à Prof. Mariza Corrêa em 1984. In: História, Ciências, Saúde. Manguinhos. Vol.II, N.2, pp.119-121, Julho – Outubro de 1995. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz.
  • “Color de Piel y Clase Social”. Havana, s.d.(1987?), pp.121-152.
  • “A Vida Religiosa e Recreativa num Município do Interior”. s.d., s.l., (apresentado com o pseudônimo de J. Sarutaiano).

com outros autores:

  • Nogueira, Oracy; Tavares de Lima, Rossini e Nogueira Lizete Toledo Ribeiro - “Características do fato folclórico” [comunicação apresentada ao Congresso Internacional de Folclore de São Paulo ], 5 de março de 1955. Doc. n. 309 da Comissão Nacional de *Folclore. Bblioteca Amadeu Amaral. Coordenação de Folclore e Cultura Popular/ FUNARTE.
  • Nogueira, Oracy e Camargo, Procópio. “L’Action de L’Eglise Catholique dans le Developpement Rural du Nord-Est du Bresil: Le Mouvement de Natal.” ISS-FERES, 1968.
  • Nogueira, Oracy e Ribeiro, Mario A. Carneiro Leão, “Curso de Artes Industriais: Uma Pesquisa entre Ex-Alunos.” São Paulo: SESI, 1968.
  • Fernandes, Florestan e Borges, João Batista. Questão racial brasileira vista por três professores. USP, 1971, Escola de Comunicação Cultural.
  • Nogueira, Oracy; Caron, Dalcio; Molina, Alair. “O Empresário Industrial Paulista Frente à Federação e ao Centro das Indústrias do Estado de São Paulo”. São Paulo: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – FIPE, 1975.

Bibliografia sobre Oracy Nogueira[editar | editar código-fonte]

  • Depoimento concedido à profa. Mariza Corrêa em 1984. Publicado em História, Ciências, Saúde. Manguinhos. Vol II, número 2, pp. 119-121, julho-outubro de 1995.
  • Bonelli, Maria da Glória e Donatoni, Silvana - "Os estudos sobre as profissões nas ciências sociais brasileiras". In Boletim Informativo Bibliográfico, n.41, 1° semestre de 1996, pp.109-142.
  • Cavalcanti, Maria Laura V. C. - "Oracy Nogueira e a Antropologia no Brasil: o estudo do estigma e do preconceito racial". In Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 31, ano 11, p. 5-28, junho de 1996. ANPOCS.
  • "Apresentação", p. 13-19. Preconceito de Marca: as relações raciais em Itapetininga. São Paulo, EDUSP, 1998.