Saltar para o conteúdo

Santo Nome de Jesus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Santíssimo Nome)
 Nota: Para a festa litúrgica, veja Festa do Santíssimo Nome de Jesus.
 Nota: "Santíssimo Nome de Jesus" redireciona para este artigo. Para a freguesia da Ilha de Santiago, em Cabo Verde, veja Santíssimo Nome de Jesus (Santiago).
Cristograma IHS, uma das representações mais disseminadas do Santo Nome de Jesus. Vitral na Igreja de São Martinho, em Montmorency, na França.

Santo Nome de Jesus é a denominação dada ao uso teológico e devocional do nome de Jesus Cristo no cristianismo. A reverência e a afeição com que os cristãos tratam o Santo Nome de Jesus remontam aos primeiros anos do cristianismo.[1] Esta devoção se estende também ao cristograma IHS (um monograma do Santo Nome), derivado da palavra grega IESOUS (ΙΗΣΟΥΣ) para "Jesus" ou à frase latina Iesus Hominum Salvator ("Jesus salvador da humanidade").[2][3][4]

A devoção ao Santo Nome existe tanto no cristianismo ocidental quanto no oriental[5] e é festejado ou como a Festa do Santíssimo Nome de Jesus ou como a circuncisão de Jesus nas várias denominações cristãs. O Evangelho de Mateus traz significado e intenção específicos para o nome Jesus (como sendo aquele que "salva seu povo do pecado") e indica que ele foi escolhido com ajuda divina. Por séculos, os cristãos invocam o Santo Nome e acreditam que há um poder intrínseco nele.[6][7][2][3]

Referências bíblicas e teologia

[editar | editar código-fonte]

No Novo Testamento, em Lucas 1:31 um anjo pede a Maria que chame seu filho de Jesus e em Mateus 1:21 o anjo faz o mesmo pedido, mas a José. O Evangelho de Mateus dá ainda grande importância à origem do nome de Jesus, discutindo em Mateus 1:21–23 os nomes "Jesus" e "Emanuel".[6][8][9] A importância que o evangelista dá ao nome é reforçada ainda pela atenção que ele dá ao tema de sua escolha, maior do que ele dá ao próprio nascimento de Jesus.[8][9]

Em Mateus 1:21, a mensagem do anjo no primeiro sonho de José inclui a origem do nome Jesus e tem implicações soteriológicas quando o anjo instrui a José: " ...a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos pecados deles".[6][10] É este o único trecho do Novo Testamento onde "salvará seu povo" aparece junto de "pecados".[11] Este trecho também é o ponto de partida da cristologia do Nome de Jesus, realizando de partida dois importantes objetivos: primeiro afirmando Jesus como salvador e segundo, enfatizando que o nome não foi escolhido aleatoriamente e sim por um comando divino.[12] O nome Emanuel (que significa "Deus conosco") também aparece em Mateus 1:23 ("E ele será chamado Emanuel, que quer dizer, Deus conosco")[12] e não aparece em nenhum outro ponto do Novo Testamento. Porém, Mateus 28:20 ("Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo") indica que Jesus estará com os fiéis até o final dos tempos.[12]

A reverência ao Santo Nome é enfatizada por São Paulo de Tarso em Filipenses 2:10, onde ele afirma: "para que em o nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, na terra e debaixo da terra".[3] Em Romanos 10:13, Paulo reitera a natureza soteriológica do Santo Nome ao afirmar que "todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo".[13]

O poder do Nome de Jesus utilizado em petições é reforçada ainda em João 16:23 quando Jesus afirma: "...se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome." Por isso, muitas orações terminam com as palavras "Em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo".[3] Diversos episódios no Novo Testamento fazem referência ao poder das "invocações do Nome do Senhor". Em Marcos 9:38–39, demônios são expulsos pelo poder do Nome de Jesus; em Atos 2:38, batismos são feitos em Seu Nome e em Atos 3:6, Atos 4:7–11 e Atos 9:34, milagres se realizam.[2][3] Muitos cristãos ainda acreditam que, como em Atos 16:18, a invocação do Nome de Jesus é uma proteção eficaz contra o mal.[14]

Existe ainda uma crença muito disseminada entre os cristãos de que o Nome de Jesus não é apenas uma sequência de símbolos e que ele tem um poder divino intrínseco. Assim, sempre que o nome d'Ele é dito ou representado, o poder de Jesus pode ser invocado para obter paz, santidade e como proteção contra o mal.[7][3][14]

Primeiras devoções

[editar | editar código-fonte]
Se você pensar no nome de Jesus continuamente e o mantiver, ele limpará seus pecados e acenderá seu coração.
 
Ricardo Rolle no século XIV[15].

A reverência e afeição que os cristãos demonstram em relação ao Santo Nome de Jesus remontam os primeiros anos do cristianismo, como demonstrado em Atos 4:10 e em Filipenses 2:10.[1] A devoção e a veneração do cristograma IHS também datam da mesma época, quando ele era colocado nos altares e nas vestes litúrgicas, nos ornamentos e em diversos outros objetos.[2]

As devoções medievais ao Santo Nome na Inglaterra foram patrocinadas por Santo Anselmo de Cantuária no início do século XII.[16] Na Europa continental, logo depois de Anselmo, a veneração do Santo Nome foi fortemente encorajado por São Bernardo de Claraval em seus sermões e obras. Os textos de Bernardo, como o "Sermão sobre os Cânticos", influenciou posteriormente outros como Ricardo Rolle, que expressou pontos de vista similares (como o de que o Santo Nome atua como "unguento curativo" para a alma).[17][18]

O reconhecimento oficial do Santo Nome foi dado pelo Papa Gregório X no Concílio de Lyon em 1274.[16][19] No século XIV, Henrique Suso, na Alemanha, e Ricardo Rolle na Inglaterra promoveram a devoção ao Santo Nome.[15] Rolle acreditava que o nome "Jesus" tinha um extraordinário poder intrínseco parecido com a reverência, no Antigo Testamento, ao YHWH.[15]

A tradição da devoção e a reverência ao Santo nome continuou por todo os séculos XIV e XV na Inglaterra conforme a crença em seus poderes se disseminou.[16] Neste período, as crenças populares no poder do Nome de Jesus coincidiam, por vezes, com a crença no poder do Santo Nome de Maria.[16] O poder do Santo Nome estava fortemente vinculado a um componente visual e o cristograma ("IHS") e as cenas da crucificação eram amplamente utilizados com ele.[16]

No século XV, o frade franciscano Bernardino de Siena promoveu ativamente a devoção ao Santo Nome. Ao final de seus sermões, ele geralmente mostrava o cristograma numa tábua em letras douradas[19] e então pedia que o público "adorasse o Redentor da humanidade". Como esta prática era algo heterodoxa, ele foi levado perante o Papa Martinho V que, ao invés de refutar Bernardino, encorajou a prática e se juntou a uma procissão do Santo Nome em Roma.[3] A devoção ao Santo Nome se tornou tão popular na Itália que o cristograma era frequentemente gravado acima da porta das casas dos fieis.[20] A tábua utilizada por Bernardino é atualmente venerada na basílica de Santa Maria in Aracoeli em Roma.[3]

Visão protestante e reformada

[editar | editar código-fonte]

João Calvino acreditava na reverência ao Santo Nome a encorajava os cristãos a "glorificar Seu Santo Nome com toda a nossa vida".[21] Martinho Lutero encorajava "a fé pura e a confiança, uma alegre meditação e a invocação do Santo Nome".[22]

Diversas comunidades dedicadas ao Santo Nome de Jesus foram fundadas desde a Idade Média, como a Sociedade do Santo Nome.[23][24] No século XVI, os jesuítas fizeram do cristograma o emblema de sua sociedade, adicionando uma cruz sobre o H e mostrando três pregos abaixo dele.[3]

Diversas orações cristãs fazem referência ao Santo Nome. A Oração de Jesus, que possivelmente remonta ao século IV, é amplamente utilizada na Igreja Ortodoxa (vide hesicasmo). A litania do Santo Nome utilizada na igreja ocidental data do final do século VI.[25]

A devoção ao Santo Nome continuaram também na Igreja Ortodoxa nos séculos XIX e XX. São Teófano, o Recluso, considerava a Oração de Jesus mais poderosa que todas as outras orações por causa do poder do Santo Nome e São João de Kronstadt afirmou: "O Nome do Senhor é o próprio Senhor".[26]

Referências

  1. a b Outlines of dogmatic theology, Volume 2 by Sylvester Hunter 2010 ISBN 1-146-98633-5 page 443
  2. a b c d Christian sacrament and devotion by Servus Gieben 1997 ISBN 90-04-06247-5 page 18
  3. a b c d e f g h i "Holy Name of Jesus" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  4. The Continuum encyclopedia of symbols by Udo Becker 2000 ISBN 0-8264-1221-1 page 54
  5. Jesus: the complete guide by Leslie Houlden 2006 ISBN 0-8264-8011-X page 426
  6. a b c Bible explorer's guide by John Phillips 2002 ISBN 0-8254-3483-1 page 147
  7. a b Theology of the New Testament by Georg Strecker, Friedrich Wilhelm Horn 2000 ISBN 0-664-22336-2 page 89
  8. a b Matthew by Thomas G. Long 1997 ISBN 0-664-25257-5 pages 14-15
  9. a b The Gospel of Matthew by Rudolf Schnackenburg 2002 ISBN 0-8028-4438-3 page 9
  10. All the Doctrines of the Bible by Herbert Lockyer 1988 ISBN 0-310-28051-6 page 159
  11. The Westminster theological wordbook of the Bible 2003 by Donald E. Gowan ISBN 0-664-22394-X page 453
  12. a b c Who do you say that I am?: essays on Christology by Jack Dean Kingsbury, Mark Allan Powell, David R. Bauer 1999 ISBN 0-664-25752-6 page 17
  13. Christology and the New Testament by Christopher Mark Tuckett 2001 ISBN 0-664-22431-8 pages 58-59
  14. a b Spiritual theology by Jordan Aumann 1980 ISBN 0-7220-8518-4 page 411
  15. a b c English spirituality: from earliest times to 1700 by Gordon Mursell 2001 ISBN 0-664-22504-7 page 191
  16. a b c d e Reading in the Wilderness: Private Devotion and Public Performance in Late Medieval England by Jessica Brantley 2007 ISBN 0-226-07132-4 pages 178-193
  17. Richard Rolle, the English writings by Richard Rolle (of Hampole), Rosamund Allen 1988 ISBN 0-8091-3008-4 page 55
  18. Medieval English lyrics: a critical anthology by Reginald Thorne Davies 1972 ISBN 0-8369-6386-5 page 322
  19. a b The Jesus Prayer by Lev Gillet 1987 ISBN 0-88141-013-6 page 112
  20. Saints and feasts of the liturgical year by Joseph N. Tylenda 2003 ISBN 0-87840-399-X page 6
  21. Writings on pastoral piety by Jean Calvin, Elsie Anne McKee 2002 ISBN 0-8091-0541-1 page 136
  22. A Treatise on Good Works by Martin Luther 2009 ISBN 1-60450-609-1 page 47
  23. "Society of the Holy Name" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  24. "Religious Communities of the Name of Jesus" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  25. "Litany of the Holy Name" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  26. On the Prayer of Jesus by Ignatius Brianchaninov, Kallistos Ware 2006 ISBN 1-59030-278-8 page xxiii-xxiv

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Santo Nome de Jesus