Tapirira guianensis

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Como ler uma infocaixa de taxonomiaTapirira guianensis

Classificação científica
Reino: Plantae
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Sapindales
Família: Anacardiaceae
Género: Tapirira
Espécie: T. guianensis
Nome binomial
Tapirira guianensis

Tapirira guianensis, também conhecida no Brasil como pau-pombo e vários outros nomes, é uma árvore não endêmica do gênero Tapirira, de pequeno porte, com altura de 8 a 20 metros de altura, bastante encontrada em solos úmidos como várzeas e beiras de rios. É uma espécie importante para uso madeireiro, medicinal e pode ser empregada na recuperação de áreas degradadas e de matas ciliares.[1][2]

Características gerais[editar | editar código-fonte]

A Tapirira guianensis, pertencente da família Anacardiaceae, é encontrada principalmente na Mata Atlântica e no Cerrado. Sua distribuição geográfica se faz por todo território brasileiro ocorrendo geralmente em solos arenosos, extremamente ácidos e podres, sendo capaz de tolerar altos níveis de alumínio e adapta-se muito bem, principalmente, em terrenos úmidos, embora também possa ser encontrada em ambientes secos de encostas.[1] É uma árvore perenifólia ou persistente (mantém suas folhas durante todo o ano), heliófita (necessita de exposição ao sol) e parcialmente tolerante à sombra. Apresenta o tronco curto e um pouco tortuoso com cerca de 40 a 60 centímetros de diâmetro.[3]A casca cinza-escura ou marrom apresenta rugosidade e fissuras e, quando jovem, é espessa escamosa.[4] Após corte tangencial da árvore é possível observar que sua casca interna apresenta coloração em tons avermelhados, semelhante a chamas de fogo.[5]

A árvore é ótima para reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas e de matas ciliares.[3] É uma espécie que apresenta crescimento rápido e crescimento cespitoso, ou seja, uma mesma planta cresce lançando novos brotos ou caules de maneira aglomerada. É considera uma ochloespécie porquê exibe ao longo de sua distribuição geográfica uma unidade morfológica bem fixa, como presença de características ocasionadas por barreiras reprodutivas passadas em épocas secas e úmidas. [6] É considerada espécie de estágio sucessional avançado [7] e também é considerada uma secundária inicial-tardia. [8] Desse modo, Tapirira guianensis apresenta crescimento lento no início da vida, sendo tolerante a sombra. Em contrapartida, posteriormente acelera o crescimento em busca de luz no dossel das florestas.

Flores[editar | editar código-fonte]

Tapirira guianensis uma espécie dioica, ou seja, apresenta flores masculinas e flores femininas em indivíduos separados, porém ocorre ocasionalmente a presença de flores hermafroditas em matrizes femininas, indicando que a separação dos sexos ainda é incompleta e a espécie tem um suposto ancestral hermafrodita.[9] As flores são dispostas de forma alternada, sendo pequenas com 4 a 12 centímetros e de cor amarelo-esverdeado, além de apresentar cheiro ácido-adocicado por conta de glândulas presentes em suas cinco pétalas. Suas folhas ofertam pólen e néctar com bastante abundância aos seus polinizadores, que costumam serem pequenas abelhas sociais. A quantidade de pólen e néctar é mais concentrado nas flores masculinas e, por conta disso, atraem mais insetos do que as flores femininas, as quais o néctar é um forte atrativo.[10] Essa espécie é dependente de agentes polinizadores, visto que a produção de frutos em sua ausência é baixa por conta da apomixia.[9]

Tapirira guianensis, cupiúba, pau-pombo - Flickr - Tarciso Leão (13)

Espécies polinizadoras[editar | editar código-fonte]

As seguintes espécies polinizam a Tapirira guianensis[11]:

  1. Abelha-africanizada;
  2. Tiúba (Melipona compressipes fasciculata);
  3. Uruçu-amarela (Melipona rufiventris flavolineata);
  4. Uruçu-da-bunda-preta (Melipona melanoventer);
  5. Uruçu-boca-de-renda (Melipona seminigra);
  6. Mirim (Plebeia alvarengai);
  7. Abelha-cachorro (Trigona fulviventris);
  8. Trigona williana;
  9. Partamona;
  10. Borá (Tetragona clavipes);
  11. Exomalopsis aureopilosa.
Tapirira guianensis, cupiúba, pau-pombo - Flickr - Tarciso Leão (10)

Frutos[editar | editar código-fonte]

Essa espécie de árvore apresenta grande produção de sementes em frutos pequenos, dispostos em cachos e serve de alimento para várias espécies de aves, o que garante à árvore sua dispersão.[1] Seus fruto são quase esféricos devido às suas dimensões com 10 a 13 milímetros de comprimento; 8 a 11 milímetros de largura e 6 a 11 milímetros de espessura.[12] Apresentam somente uma semente ovoide que contém o arilo branco e gelatinoso. Os frutos não contém endosperma, tem casca fina avermelhada, sendo roxo-escuro quando totalmente maduro e são bastante suculentos e avidamente procurados pela fauna em geral e, especialmente, por muitas espécies de aves.[12][4] A forma de cachos na qual os frutos são dispostos na árvore facilitam a alimentação das aves que pousam sobre elas pois conseguem ingerir uma quantidade maior de frutos a cada visita. Em contrapartida, aves que capturam o fruto em voo colhem apenas um fruto em cada investida.[13] O padrão de frutificação da espécie depende da região em que ela ocorre. [14]


Tapirira guianensis Aubl. (6829783835)

Folhas[editar | editar código-fonte]

As folhas são compostas e com forma de penas, terminando com um folíolo. A base das folhas é arredondada ou com forma de cunha e seu ápice termina em ponta curta.[12] Perde uma parte das folhas durante as estações secas, mas recompõe de forma rápida.

Sementes[editar | editar código-fonte]

Essa espécie é pouco recomendada para coleta de sementes devido à alta incidência de insetos e a presença de frutos danificados.[12] As sementes apresentam forma elipsoidal por conta de suas dimensões: 6,8 a 11,5 milímetros de comprimento; 4,4 a 7,5 milímetros de largura e 3,0 a 6,9 milímetros de espessura.[12] O tamanho das sementes está relacionado com as características reprodutivas dessa espécie de árvore, assim como as quantidades de reserva presentes e condições genéticas, visto que nas sementes que apresentam porte médio a grande, a síntese de compostos secundários essenciais para a germinação é rápida e apresenta maior capacidade de sobrevivência em condições desfavoráveis.[12] Por conta desse fator, há favorecimento do maior número de plântulas. Tais aspectos morfológicos são essenciais para auxiliar a seleção dos indivíduos dessa espécie para trabalhos em tecnologia de sementes, planejamento de coleta das semente e escolha das mais vigorosas e com mais chances de estabelecerem plãntulas.[15][16]

Plântula[editar | editar código-fonte]

O início da germinação, em condições de viveiro, ocorre um dia após a semeadura.[5] A germinação é fanerocotiledonar (cotilédones totalmente expostos) epígea, ou seja, acontece acima do nível do solo.[5] A primeira emergência ocorre quando a raiz primária rompe os restos do caroço e os cotilédones (folhas primárias no embrião ou na plântula) são de reserva em forma de vírgula, além de não apresentarem propriedades fotossintéticas.[5]

Tapirira guianensis, cupiúba, pau-pombo - Flickr - Tarciso Leão (4)

Madeira[editar | editar código-fonte]

A madeira da Tapirira guianensis é leve a modera mente pesada, com textura fina e a média e a sua superfície é lisa ao tato, além de ser considerada fácil para trabalhar. É moderadamente dura ao corte e pouco durável quando em contato com o solo e intempéries.[17] É de baixo valor comercial e seu tronco costuma ser perfurado por primatas, os quais se alimentam das bolotas de goma que se formam após a liberação da seiva. O tronco contém sapopemas (tipo de raízes que se desenvolvem junto com o tronco de várias outras árvores) e sua casca, juntamente com suas folhas, possuem uma série de constituintes químicos, os quais são utilizados na medicina popular contra dermatose e sífilis, apesar de serem considerados vesicantes e tóxicos. [18] Estudos do extrato das cascas de Tapirira guianensis permitiram a descoberta que tal extrato apresenta efeito estimulante uterino e atividade contra o câncer humano de próstata.[18]

Usos[editar | editar código-fonte]

A espécie é muito bem empregada nos reflorestamentos heterogêneos de áreas degradadas e de matas ciliares, assim como planejamento de parques e práticas de jardinagem ecológica por conta dos seus frutos serem muito procurados pela fauna.[13][1] É muito utilizada também na fabricação de cabos de vassoura, aglomerado celulose, móveis, brinquedos,cabos de ferramentas, pontes, artesanatos, painéis, compensados, saltos para calçados, contra placado, molduras, forros, caixotaria, urnas funerárias, lenha e carvão.[19] É muito utilizada na medicina popular como cura de várias doenças e problemas.

Fenologia[editar | editar código-fonte]

A floração da Tapirira guianensis é relacionada com fatores ambientais de cada região em que ela ocorre, assim como fatores inerentes à própria espécie, como filogenia, dispersão e atividade dos agentes polinizadores e dispersores de sementes.[20] Em ambientes tropicais, com uma estação seca e definida, a espécie floresce nessa época[21], já em regiões onde o clima é mais úmido e uniforme, como na Floresta Atlântica do Sudeste do Brasil, o pico de floração ocorre na estação úmida.[22]Populações de Tapirira guianensis possuem elevada sincronia no processo de floração, assim como de queda foliar e botação, porém, por conta da dioicia da espécie, há baixa sincronia na frutificação.[9] A fenologia vegetativa dessa espécie não apresenta padrão sazonal para queda foliar e a maior intensidade de desfolhamento ocorre na estação chuvosa, prolongando-se até a estação seca.[14] Vale salientar que Tapirira guianensis é uma árvore considerada perenifólia, pois não apresenta queda de folhas de maneira concentrada em determinada época do ano, produzindo continuamente pequena quantidade de folhas novas anualmente.[9]

Cultivo[editar | editar código-fonte]

É uma espécie de fácil cultivo, podendo ser plantada tanto no sol como na sombra, assim como em solo seco ou brejoso. A planta adulta suporta temperaturas de 6°C até 42°C, podem ser cultivada em lugares onde a temperatura media anual fique entre 10 e 30°C. Relacionando a quantidade de chuvas, pode ser cultivadas onde cai de 800 até 2700 milímetros anuais.[4]

Espécie afim[editar | editar código-fonte]

Tapirira guianensis guarda muitas afinidades com Tapirira obtusa, porém pode ser distinguida pelos seguintes fatores[4]:

  1. Predomina em ambientes associados a superfícies encharcadas;
  2. Possui ramos, folhas e inflorescências;
  3. Apresenta folíolos com nervuras terciárias e quartenárias pouco visíveis.

Nomes populares[editar | editar código-fonte]

A seguir está a lista de todos os nomes populares da Tapirira guianensis[23]

  • Apiriri;
  • Aroeirana;
  • Bom-Nome (Alagoas);
  • Cabatã-de-Leite;
  • Cabatã-de-rego;
  • Camboatá;
  • Canela-Pororoca;
  • Caneleira;
  • Capiúva;
  • Capiúva-Vermelha;
  • Cedro-novo;
  • Cedroí (região Norte);
  • Copiúba;
  • Copiúva;
  • Cupiúba;
  • Cupiúba-Branca;
  • Cupiúba-Vermelha;
  • Cupiúva;
  • Cupuba;
  • Cuajuru;
  • Cuapiruba;
  • Cuaruba;
  • Embiratã;
  • Embiriba;
  • Embira-Cana;
  • Estraladeira;
  • Fruta-de-Pombo;
  • Fruto-de-Pomba;
  • Jaguarana;
  • Jobo;
  • Lendroi;
  • Louro-Cheiroso;
  • Mangaba;
  • Munguba;
  • Murici;
  • Parapará;
  • Pau-de-Pomba;
  • Pau-de-Pombo;
  • Pau-Pombo;
  • Peito-de-Pombo (região Sul);
  • Pereiro;
  • Pindaíba;
  • Piriri;
  • Pombeiro;
  • Tabuvuca;
  • Sapucarana;
  • Tapira;
  • Tapirira;
  • Tapirirá;
  • Tapiriri;
  • Tatapirica;
  • Tatapiririca (Pará).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Harri Lorenzi (2002). Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil. [S.l.]: Nova Odessa: Instituto Plantarum. 368 páginas 
  2. Regina Helena Rosa Sambuichi; Marcelo Schramm Mielke; Carlos Eduardo Pereira (2009). NOSSAS ÁRVORES: Conservação, uso e manejo de árvores nativas no sul da Bahia (PDF). [S.l.]: Editus 
  3. a b Harri Lorenzi (1998). Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. [S.l.]: Nova Odessa. 368 páginas 
  4. a b c d «TAPIRIRA GUIANENSIS FAMILIA DAS ANACARDINACEAE». Consultado em 29 de junho de 2018 
  5. a b c d COSTA, C.C; GURGEL, E.S.C; GOMES, J.V; LUZ, C.L.S; CARVALHO, L.T; MARGALHO, L.F; SILVA, R.C.V.M; MACIEIRA, A.P; SOUZA, A.S(Dezembro,2014). Conhecendo Espécies de Plantas da Amazônia: Tatapiririca (Tapirira guianensis Aubl. – Anacardiaceae). Comunicado técnico.
  6. Baldoni, Raquel Negrão (2010). Distribuição de populações de Tapirira guianensis AUBL.(ANACARDIACEAE), em áreas de restinga e cerradão do estado de São Paulo (Dissertação de Mestrado) 
  7. BOERGER, M.R; ALVES, L.C; NEGRELLE, R.R.B.(1998) Variações morfo-anatômicas dos folíolos de Tapirira guianensis Aubl. em relação a diferentes estratos da floresta. Biotemas 11:27-38
  8. Silva, Carlos Rodrigues (2006). Fitossociologia e avaliação da chuva de sementes em uma área de floresta alta de restinga, em Ilha Comprida (PDF) (Dissertação de Mestrado) 
  9. a b c d Lenza, Eddie; Oliveira, Eugênio (2005). «Biologia reprodutiva de Tapirira guianensis Aubl. (Anacardiaceae), uma espécie dióica em mata de galeria do Triângulo Mineiro, Brasil». Revista Brasileira de Botânica. 28 (1). 12 páginas 
  10. VENTURIERI, G.C; FERNANDES, M.M.XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE APICULTURA. Congressos, Seminários e Encontros Brasileiros de Apicultura. Anais. 4. Ed. 2006.
  11. Fernandes, Marília Moreira; Venturieri, Giorgio Cristino; Jardim, Mário Augusto Gonçalves (2012). «Biologia, visitantes florais e potencial melífero de Tapirira guianensis (Anacardiaceae) na Amazônia Oriental». Revista de Ciências Agrárias. 55 (3). 9 páginas 
  12. a b c d e f Santana, Wilma Michele Santos; Silva-Mann, Renata; Ferreira, Robério Anastácio; Arrigoni-Blank, Maria de Fátima; Blank, Arie Fitzgerald; Poderoso, Júlio César Melo (2009). «Morfologia de flores, frutos e sementes de pau-pombo (Tapirira guianensis Aublet. - Anacardiaceae) na região de São Cristóvão, SE, Brasil» (PDF). Scientia Forestalis. 37 (81). 8 páginas 
  13. a b Guimarães, Marco Antonio (2003). «Frugivoria por aves em Tapirira guianensis (Anacardiaceae) na zona urbana do município de Araruama, estado do Rio de Janeiro, sudeste brasileiro.» (PDF). ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS (116). 12 páginas 
  14. a b Santos, Paula Luíza; Ferreira, Robério Anastácio (2013). «Fenologia de Tapirira guianensis AUBL. (Anacardiaceae) no município de São Cristóvão, Sergipe». Rev. Árvore. 37 (1) 
  15. Antunes, N.B.; Ribeiro, J.F.; Salomão, A.N (1998). «Caracterização de frutos e sementes de seis espécies vegetais em matas de galeria do Distrito Federal». Revista Brasileira de Sementes. 20 (1): 112-119 
  16. Ferreira, Robério Anastácio; Davide, Antonio Claudio; Tonetti, Olívia Alvina Oliveira (2001). «MORFOLOGIA DE SEMENTES E PLÂNTULAS DE PAU-TERRA (Qualea grandiflora Mart. - VOCHYSIACEAE)». Revista Brasileira de Sementes. 23 (1): 116-122 
  17. FEDALTO, L. C.; MENDES, I. da C. A.; CORADIM, V. T. R. Madeiras da Amazônia: Descrição do lenho de 40 espécies ocorrentes na Floresta Nacional do Tapajós. Brasília, DF: IBAMA, 1989. 156 p.
  18. a b Correira, Suzimone de J.; David, Juceni P.; David, Jorge M. (2003). «CONSTITUINTES DAS CASCAS DE Tapirira guianensis (ANACARDIACEAE)». Química Nova. 26 (1): 36-38 
  19. Carvalho, Paulo Ermani Ramalho (1994). Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. [S.l.]: Embrapa. p. 639 
  20. Reys, Paula; Galetti, Mauro; Morellato, Patrícia G.; Sabino, José (2005). «Fenologia reprodutiva e disponibilidade de frutos de espécies arbóreas em mata ciliar no rio Formoso, Mato Grosso do Sul». Biota Neotropica. 5 (2): 309-318 
  21. RICHARDS, P. W. The tropical rain forest. Cambridge: University Press, 1996. 575p.
  22. Bencke, Cinara S.C.; Morellato, Patrícia C. «Estudo comparativo da fenologia de nove espécies arbóreas em três tipos de floresta atlântica no sudeste do Brasil». Revista Brasileira de Botânica. 25 (2): 237-248 
  23. Camargo, José Arlete Alves (2001). Catálogo de Árvores do Brasil. Brasília: IBAMA. p. 896